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24/02/2015

Não tenhas pena de seres nada

Não te apoquentes por verem as tuas faltas. A ofensa a Deus e a desedificação que podes ocasionar, isso é que te deve doer. – De resto, que saibam como és e te desprezem. – Não tenhas pena de seres nada, porque assim Jesus tem que pôr tudo em ti. (Caminho, 596)


Escreve o evangelista S. João: ninguém jamais viu Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai é que o deu a conhecer, comparecendo ante o olhar atónito dos homens: primeiro, como um recém-nascido, em Belém; depois, como um menino igual aos outros; mais tarde, no Templo, como um adolescente, inteligente e vivo; e, por fim, com aquela figura amável e atraente do Mestre que movia os corações das multidões que o acompanhavam entusiasmadas.

Bastam algumas provas do Amor de Deus que se encarna para que a sua generosidade nos toque a alma, nos incendeie, nos mova com suavidade a uma dor contrita pelo nosso comportamento, em tantas ocasiões mesquinho e egoísta. Jesus não tem inconveniente em rebaixar-se, para nos elevar da miséria à dignidade de filhos de Deus, de irmãos seus. Pelo contrário, tu e eu muitas vezes enchemo-nos nesciamente de orgulho pelos dons e talentos recebidos, até ao ponto de os converter em pedestal para nos impormos aos outros, como se o mérito de algumas acções, acabadas com relativa perfeição, dependesse exclusivamente de nós: Que possuis tu que não tenhas recebido de Deus? E se o recebeste, porque te glorias como se o não tivesses recebido?


Ao considerar a entrega de Deus e o seu aniquilamento – falo para que o meditemos, pensando cada um em si mesmo–, a vanglória, a presunção do soberbo revela-se um pecado horrendo, precisamente porque coloca a pessoa no extremo oposto ao modelo que Jesus nos assinalou com a sua conduta. Pensai nisto devagar: Ele humilhou-se, sendo Deus. O homem, cheio do seu próprio eu, pretende enaltecer-se a todo o custo, sem reconhecer que está feito de barro e barro de má qualidade. (Amigos de Deus, nn. 111–112)

Evangelho, coment. L espirit. (Santíssima Virgem)

Quaresma I Semana

Evangelho: Mt 6 7-15

7 Nas vossas orações não useis muitas palavras como os gentios, os quais julgam que serão ouvidos à força de palavras. 8 Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós Lho peçais. 9 «Vós, pois, orai assim: Pai-nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome. 10 «Venha o Teu reino. Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu. 11 O pão nosso supersubstancial nos dá hoje. 12 Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 «Porque, se vós perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. 15 Mas, se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas.

Comentário

Deveríamos examinar a nossa oração!

Será que quando rezamos é principalmente para pedir algo?
E está certo, porque o Senhor quer que Lhe peçamos o que julgamos fazer-nos falta.
Mas a nossa oração não pode ficar-se por aqui!
Quando conversamos com o nosso Pai não nos limitamos a pedir-lhe coisas, mas, também, em estabelecer um diálogo de amor entre Pai e filho que se amam e se querem.

E o que se diz nessas conversas?
Tudo absolutamente!

(ama comentário sobre Mt 6, 7-15, 2014.06.19)


Leitura espiritual



Santíssima Virgem
Vida de Maria (XIII)

Os anos de Nazaré

Depois de ter narrado o encontro do Menino Jesus entre os doutores do Templo, o Evangelho continua: desceu com eles e foi para Nazaré; e era-lhes submisso. A Sua Mãe guardava todas estas coisas no seu coração. Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens[i].

Em dois versículos do evangelho resumem-se dezoito anos da vida de Jesus e de Maria. Anos em que a Sagrada Família leva uma existência como a dos outros habitantes de Nazaré, mas repleta de amor. Anos decisivos na epopeia da Redenção, que o Verbo encarnado estava já a levar a cabo por meio da obediência e do trabalho, no contexto de uma vida normal.

Depressa ficou para trás aquele acontecimento do Templo, mas as palavras que Jesus lhes disse nessa altura ofereceram a José e a Maria constante tema de meditação. Perceberam, com uma luz nova, o sentido da vida de Jesus na terra, toda voltada para o cumprimento da missão que o Pai celestial lhe tinha confiado. E, embora deva ter deixado uma profunda marca nas suas almas, a vida em Nazaré prosseguiu como habitualmente.

Cada dia tinha as suas próprias ocupações. As tarefas de Maria eram as próprias de uma dona de casa: caminhadas à única fonte da aldeia para encher o cântaro de água fresca; amassar a farinha e levá-la ao forno para fazer o pão da semana; manter a casa limpa e agradável, servindo-se talvez também de flores simples que dessem  cor e aroma ao ambiente; fiar a lã macia e o linho suave e tecer depois os panos necessários; ocupar-se das compras imprescindíveis quando chegava à aldeia um vendedor ambulante apregoando as suas mercadorias... Mil tarefas domésticas que Maria realizava como as outras mulheres da aldeia, mas com um imenso amor.

Quando o Menino era ainda pequeno, acompanharia a Sua Mãe nas tarefas caseiras ou nas suas deslocações pela aldeia. À medida que foi crescendo, passaria mais tempo com José. Durante os anos que agora nos ocupam, começaria a ajudá-lo no seu trabalho, que era abundante. A oficina de José era como as outras existentes naquele tempo na Palestina. Talvez fosse a única de Nazaré, uma aldeia pequena. Cheirava a madeira e a limpo. Os trabalhos que se realizavam eram os próprios do ofício de artesão, como o designa o Evangelho, em que se fazia um pouco de tudo: fazer uma viga, fabricar um armário simples, arranjar uma mesa ou um telhado, passar a plaina numa porta que não encaixava bem... Jesus, primeiro adolescente e depois jovem, aprendeu de José a trabalhar bem, com cuidado nos detalhes, com um sorriso acolhedor para o cliente, cobrando o justo, embora concedendo facilidades de pagamento a quem estivesse a passar uma temporada de apuros económicos.

A VIDA DE MARIA NÃO CHAMAVA A ATENÇÃO DOS PARENTES E VIZINHOS.
NEM SEQUER A SUA DOÇURA E A SUA DELICADEZA, QUE A TODOS ATRAÍA.
PORQUE ERA COMO O ORVALHO, QUE DÁ FRESCURA E COR AOS CAMPOS E MAL SE CHEGA A VER.

Um dia José morreu. Jesus tinha crescido, já se podia encarregar da casa e cuidar da Sua Mãe. Maria e Jesus devem ter chorado ao enfrentar esse transe, enquanto o Santo Patriarca, acompanhado muito de perto pelos seus dois grandes amores, expirava em paz. Tinha cumprido a sua missão.

Com a morte do Patriarca, a Mãe e o Filho estreitaram ainda mais a sua intimidade. Quantas vezes o recordariam nas suas conversas a sós, ou com outros membros da família, nas longas veladas do inverno, ao calor da lareira! E iriam desfiando tantos detalhes do esquecimento de si próprio, do serviço aos outros, que constituíam o quadro da vida de José, o artesão.

Na tranquila paz daquela casa, Maria continuou as suas tarefas de sempre: cozinhar e lavar louça; moer e amassar a farinha; coser as vestes de Jesus e as suas; receber com um gesto amável as pessoas que a iam visitar... Cada vez com mais amor, pois tinha perto, muito perto, ao seu lado, Aquele que é a Fonte do Amor. No entanto, a sua vida não chamava a atenção dos parentes e vizinhos. Nem sequer a sua doçura e delicadeza, que atraía a todos e fazia com que todos se sentissem bem  ao seu lado. Porque era como o orvalho, que dá frescura e cor aos campos e mal se chega a ver.

E enquanto Jesus crescia e trabalhava, a Virgem guardava todas estas coisas no seu coração[ii], ponderando-as e meditando-as, fazendo de cada uma ocasião e tema do seu diálogo ininterrupto com Deus.

j.a. loarte

A VOZ DO MAGISTÉRIO

«Em Maria, a consciência de cumprir uma tarefa que Deus lhe tinha confiado atribuía um significado mais excelso à sua vida quotidiana. Os afazeres simples e humildes de cada dia assumiam, aos seus olhos, um valor singular, já que eram vividos por Ela como serviço à missão de Cristo.

O exemplo de Maria ilumina e encoraja a experiência de inúmeras mulheres, que realizam o seu trabalho quotidiano exclusivamente entre as paredes domésticas. Trata-se de um empenho humilde, oculto, repetitivo e, muitas vezes, não apreciado de modo suficiente. Contudo, os longos anos, vividos por Maria na casa de Nazaré, revelam as suas enormes potencialidades de amor autêntico e, portanto, de salvação. Com efeito, a simplicidade da vida de tantas donas de casa, sentida como missão de serviço e de amor, contém um valor extraordinário aos olhos do Senhor.

E pode-se até dizer que a vida de Nazaré, para Maria, não era dominada pela monotonia. Em contacto com Jesus que crescia, Ela esforçava-se por penetrar o mistério do seu Filho, contemplando e adorando. São Lucas diz: «Maria conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração»[iii].

«Todas estas coisas»: são os acontecimentos de que Ela foi, ao mesmo tempo, protagonista e espectadora, a começar pela Anunciação; mas, sobretudo, é a vida do Menino. Cada dia de intimidade com Ele constitui um convite a conhecê-l’O melhor, a descobrir mais profundamente o significado da Sua presença e o mistério da Sua pessoa.

Poder-se-ia pensar que para Maria era fácil acreditar, dado que Ela vivia quotidianamente em contacto com Jesus. A respeito disso, porém, é preciso recordar que os aspectos singulares da personalidade do Filho permaneciam habitualmente ocultos; embora o Seu modo de agir fosse exemplar, Ele vivia uma vida semelhante à de tantos dos Seus coetâneos.

Durante os trinta anos da permanência em Nazaré, Jesus não manifesta as Suas qualidades sobrenaturais nem realiza gestos prodigiosos. Às primeiras manifestações extraordinárias da Sua personalidade, ligadas ao início da pregação, os Seus familiares (chamados no Evangelho «irmãos») assumem — segundo uma interpretação — a responsabilidade de O reconduzir a casa, porque julgam que o Seu modo de Se comportar não é normal[iv].

Na digna e laboriosa atmosfera de Nazaré, Maria esforçava-se por compreender a trama providencial da missão do Filho. Nesse sentido, para a Mãe foi certamente objecto de particular reflexão a frase que Jesus pronunciara no Templo de Jerusalém, quando tinha doze anos: «Não sabíeis que devia estar em casa de Meu Pai»[v]. Ao meditar sobre isto, Maria podia entender melhor o sentido da filiação divina de Jesus e o da sua maternidade, empenhando-se em divisar, no comportamento do Filho, os traços reveladores da Sua semelhança com Aquele a Quem Ele chamava «Meu Pai».

A comunhão de vida com Jesus, na casa de Nazaré, levou Maria a progredir não só «na peregrinação da fé»[vi], mas também na esperança. Essa virtude, alimentada e sustentada pela lembrança da Anunciação e das palavras de Simeão, abrange toda a Sua existência terrena, mas é de modo particular exercida nos trinta anos de silêncio e ocultamento passados em Nazaré.

Entre as paredes domésticas a Virgem vive a esperança de forma excelsa; sabe que não ficará desiludida, ainda que não conheça os tempos e os modos com que Deus realizará a Sua promessa. Na obscuridade da fé e na ausência de sinais extraordinários, que anunciem o início da missão messiânica do Filho, Ela espera, para além de qualquer prova, aguardando de Deus o cumprimento da promessa.

Ambiente de crescimento da fé e da esperança, a casa de Nazaré torna-se um lugar de sublime testemunho da caridade. O amor que Cristo desejava infundir no mundo acende-se e arde, antes de tudo, no coração da Mãe: é precisamente no lar que se prepara o anúncio do Evangelho da caridade divina.

Olhando para Nazaré, contemplando o mistério da vida oculta de Jesus e da Virgem, somos convidados a reflectir sobre o mistério da nossa própria existência, que — recorda São Paulo — «está escondida com Cristo em Deus»[vii].

Trata-se, com frequência, de uma existência humilde e obscura aos olhos do mundo; porém, de uma existência que na escola de Maria pode manifestar inesperadas potencialidades de salvação, irradiando o amor e a paz de Cristo.»

são joão paulo ii ( século XX), Discurso na audiência geral, 29-I-1997.

«Nazaré recorda-nos o dever de reconhecer e de respeitar a dignidade e a missão conferidas por Deus às mulheres, assim como os seus carismas e talentos especiais. Seja como mães de família, como uma presença vital no mercado de trabalho e nas instituições da sociedade, seja na vocação particular a seguir o Senhor mediante os conselhos evangélicos da castidade, pobreza e obediência, as mulheres desempenham um papel indispensável na criação daquela "ecologia humana"[viii], de que o mundo e também esta terra têm tão urgente necessidade: um ambiente em que as crianças aprendam a amar e a estimar os outros, a ser honestos e respeitadores para com todos, a praticar as virtudes da misericórdia e do perdão.

Aqui pensamos também em São José, o homem justo que Deus colocou à frente da sua casa. Do exemplo forte e paterno de José, Jesus aprendeu as virtudes da piedade viril, da fidelidade à palavra dada, da integridade e do trabalho duro. No carpinteiro de Nazaré, pôde ver como a autoridade posta ao serviço do amor é infinitamente mais fecunda do que o poder que procura dominar. Quanta necessidade tem o nosso mundo do exemplo, da orientação e da força calma de homens como José!

Enfim, ao contemplar a Sagrada Família de Nazaré, dirijamos o nosso olhar ao Menino Jesus, que na casa de Maria e de José cresceu em sabedoria e conhecimento, até ao dia em que deu início ao seu ministério público. Gostaria de transmitir um pensamento particular aos jovens aqui presentes. O Concílio Vaticano II ensina que as crianças desempenham um papel especial para fazer crescer os seus pais em santidade[ix]. Peço-vos que reflectis sobre isto, permitindo que o exemplo de Jesus vos oriente não apenas na manifestação do respeito aos vossos pais, mas também ajudando-os a descobrir mais plenamente o amor que confere à vossa vida o sentido mais completo. Na Sagrada Família de Nazaré, Jesus ensinou a Maria e José um pouco da grandeza do amor de Deus, seu Pai celeste, fonte última de todo o amor, o Pai do qual toda a paternidade no céu e na terra adquire o seu nome[x]

bento xvi (Século XXI), Alocução em Nazaré, 14-V-2009.

***

A VOZ DOS PADRES E ESCRITORES ANTIGOS

«Aprendamos, filhos, a estar submetidos aos nossos pais. Aqui o maior submete-se ao mais pequeno. Com efeito, vendo que José é maior do que Ele, Jesus honra-o com o respeito que se deve a um pai, dando a todos os filhos um exemplo de submissão aos pais ou, se são órfãos, àqueles que têm a autoridade paterna.

Mas porque é que falo dos pais e dos filhos? Se Jesus, o Filho de Deus, se submete a José e a Maria, não deverei eu submeter-me ao Bispo que Deus me deu por pai? Não deverei estar sujeito ao sacerdote que o Senhor me mandou?

Penso que José compreendia bem que Jesus era superior a ele, embora lhe estivesse submetido; e, sabendo isto, dava-lhe ordens com prudência e moderação. Reflicta cada um sobre este facto. Ocorre com frequência que um homem de pouco valor esteja colocado acima de outros melhores do que ele e às vezes sucede que o inferior vale mais do que o superior que governa. Se quem está investido de uma elevada dignidade compreende estas coisas, não se encherá de orgulho por causa da sua mais elevada categoria, mas estará consciente de que o inferior pode ser melhor do que ele, do mesmo modo que Jesus estava submetido a José».

orígenes (século III), Homilias sobre São Lucas 20, 5

A VOZ DOS SANTOS E AUTORES ESPIRITUAIS

«Não nos esqueçamos de que a quase totalidade dos dias que Nossa Senhora passou na Terra decorreram de forma muito semelhante à vida diária de muitos milhões de mulheres, ocupadas em cuidar da sua família, em educar os seus filhos, em levar a cabo as tarefas do lar. Maria santifica as mais pequenas coisas, aquilo que muitos consideram erradamente como não transcendente e sem valor: o trabalho de cada dia, os pormenores de atenção com as pessoas queridas, as conversas e as visitas por motivo de parentesco ou de amizade... Bendita normalidade, que pode estar cheia de tanto amor de Deus!

Na verdade, é isso o que explica a vida de Maria: o amor. Um amor levado até ao extremo, até ao esquecimento completo de si mesma, contente por estar onde Deus quer que esteja e cumprindo com esmero a vontade divina. Isso é o que faz com que o mais pequeno dos seus gestos nunca seja banal, mas cheio de significado. Maria, nossa Mãe, é para nós exemplo e caminho. Havemos de procurar ser como Ela nas circunstâncias concretas em que Deus quis que vivêssemos.

Procedendo deste modo, daremos aos que nos cercam o testemunho de uma vida simples e normal, com as limitações e com os defeitos próprios da nossa condição humana, mas coerente. E assim, vendo-vos iguais a eles em tudo, os outros serão levados a perguntar-nos: como se explica a vossa alegria? Donde tirais forças para vencer o egoísmo e o comodismo? Quem vos ensina a viver a compreensão, o espírito de convivência, a entrega, o serviço dos demais?»

são josemaria (século XX), Cristo que passa, n. 148.

«A Virgem Maria conservava no seu coração, com suma diligência, tudo o que tinha ouvido dizer do Senhor e tudo quanto Ele próprio dizia e fazia. Confiava tudo à memória, para que, quando chegasse a altura de pregar ou de escrever acerca da Sua encarnação, pudesse relatar com exactidão todas as coisas, tal como tinham sucedido.

Imitemos, irmãos, a Santa Mãe do Senhor. Também nós conservemos zelosamente no coração as palavras e as obras do nosso Salvador; meditemo-las de dia e de noite, afastando os incómodos assaltos dos desejos vãos e perversos. Porque, se efectivamente desejamos habitar na casa do Senhor e louvá-Lo por toda a eternidade, na bem-aventurança celestial, é muito necessário que já nesta vida demonstremos claramente o que desejamos para a vida futura: não só indo à igreja cantar os louvores do Senhor, mas testemunhando também com as palavras e com as obras, em qualquer lugar do Seu reino, tudo o que redunde em glória e louvor do nosso Criador».

são beda o venerável (séculos VII-VIII), Homilias , 1, 19.









[i] Lc 2, 51-52
[ii] Lc 2, 51
[iii] 2, 19; cf. 2, 51
[iv] cf. Mc . 3, 21
[v] Lc 2, 49
[vi] LG, 58
[vii] Col 3, 3
[viii] cf. Centesimus annus, 39
[ix] cf. Gaudium et spes, 48
[x] cf. Ef 3, 14-15

Memória

Aniversário o nono da partida da minha querida Mãe para o Céu.

Aqui neste Convento de Monte Real de que era madrinha, comemoro da melhor forma esta data tão feliz.

Sim... feliz porque a minha querida Mãe faleceu com o Terço nas mãos.

A Senhora de Fátima de quem foi Servita durante mais de sessenta anos - uma das primeiras - seguramente a acolheu nos seus braços e a  conduziu à presença do seu Filho. 

E como nada acontece por acaso - não acredito em acasos - a Igreja celebra hoje 20 Fev a memória dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto.

(Lembro-me tão bem dos seus pais a Ti Olímpia e o Ti Marto em casa de quem lanchei tantas vezes pão e queijo de ovelha; aliás o Ti Marto costumava aparecer na nossa casa em Fátima ao final da tarde com o seu barrete e varapau e ficava ali sentado num dos bancos de pedra que rodeavam as oliveiras, a conversar sempre muito bem disposto.)

Perguntei uma vez à minha Mãe porque estava sempre com o Terço nas mãos. 

Respondeu-me: 'Já vês... com uma família tão grande como a minha - nove filhos, sessenta e tal netos e bisnetos - não me sobra muito tempo para rezar um terço por cada um'!

Minha querida Mãe! Peço-te que do Céu continues a interceder por nós.

Monte Real, Convento, 2015.02.20

Tratado do verbo encarnado 130

Questão 21: Da oração de Cristo

Art. 2 — Se a Cristo, considerado na sua sensibilidade, convinha orar.

O segundo discute-se assim. — Parece que a Cristo, considerado na sua sensibilidade, convinha orar.

1. — Pois, diz a Escritura, da pessoa de Cristo: O meu coração e a minha carne se regozijaram no Deus vivo. Ora, a sensibilidade significa um desejo da carne. Logo, a sensibilidade de Cristo podia ascender para o Deus vivo, regozijando-se e, pela mesma razão, orando.

2. Demais. — Reza quem deseja o que pede. Mas, Cristo pediu o que desejava a sua sensibilidade, quando disse – Passe de mim este cálice, como se lê no Evangelho. Logo Cristo, na sua sensibilidade, orou.

3. Demais. — É mais unir-se a Deus em pessoa, que ascender a ele pela oração. Ora, a sensibilidade foi assumida por Deus na unidade de pessoa, assim como qualquer outra parte da natureza humana. Logo, com maior razão, podia ascender a Deus pela oração.

Mas, em contrário, o Apóstolo diz que o Filho de Deus, pela natureza que assumiu, fez-se semelhante aos homens. Ora, os outros homens não oram pela sensibilidade. Logo, também Cristo não orou pela sensibilidade.

Orar, mediante a sensibilidade, podemos entendê-la de dois modos.

Primeiro, de modo que a própria oração seja um acto sensível. E deste modo, Cristo não orou sensivelmente, pois, a sua sensibilidade foi da mesma natureza e da mesma espécie que a nossa. Ora, em nós a sensibilidade não pode orar, por duas razões. — Primeiro, porque o movimento da sensibilidade não pode transcender o sensível, e portanto, não pode subir até Deus, como o exige a oração. — Segundo, porque a oração implica uma certa ordem consistente em desejarmos alguma coisa, como devendo ser realizada por Deus, o que é próprio só da razão. Donde, a oração é um acto de razão.

Noutro sentido, dizemos que alguém ora mediante a sensibilidade, porque quando faz a sua oração propõe a Deus o objecto do desejo da sua sensibilidade. E neste sentido Cristo orou mediante a sua sensibilidade: enquanto a sua oração exprimia o afecto da sensibilidade, como se fosse advogado desta. E para assim nos dar uma tríplice instrução. Primeiro, para mostrar que assumiu verdadeiramente a natureza humana, com todos os seus afectos naturais. Segundo, para mostrar que é lícito ao homem, pelo seu afecto natural, querer o que Deus não quer. Terceiro, para mostrar que o homem deve sujeitar o seu afecto próprio à vontade divina. Donde o dizer Agostinho: Cristo, enquanto homem, mostra uma certa vontade particularmente humana, quando diz — Passe de mim este cálice, pois, essa era uma vontade humana, a querer uma causa propriamente particular. Mas como quer, com coração recto, ser homem e ser dirigido para Deus, acrescenta — Contudo, não se faça a minha vontade, senão a tua, como se dissesse — considera-te em mim pois, posso querer algo como próprio, embora Deus queira de outro modo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A carne regozija-se em Deus vivo, não pelo acto pelo qual ascende para o Deus vivo, mas pelo redundar nela o coração, isto é, enquanto o apetite sensitivo segue o movimento racional.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora a sensibilidade quisesse o que a razão pedia, pedi-lo, contudo, nas suas orações, não era próprio da sensibilidade, mas, da razão.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A união, na pessoa, funda-se no ser pessoal, implicado em qualquer parte da natureza humana. Mas, a ascensão da oração é mediante um acto só próprio da razão, como se disse. Logo, a comparação não colhe.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

Temas para meditar - 375

Benignidade de Deus



Todos podemos desfrutar do mesmo céu e do mesmo ar, dos mesmos dias e das mesmas noites e, embora uns sejam bons e outros maus, uns justos e outros injustos, Deus, no entanto, é generoso e benigno com todos.


(são leão magnoSermões, XII, II PL 54, 170)

Pequena agenda do cristão

TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

Bento VXI – Pensamentos espirituais 39


Buscar e encontrar


A fé não é simplesmente a adesão a um conjunto de dogmas, já de si completo, destinado a matar a sede de Deus que existe no espírito do homem. Pelo contrário, ela projecta o homem que caminha no tempo na direcção de um Deus que Se renova constantemente na sua infinitude. Por isso, o cristão é simultaneamente alguém que busca e alguém que encontra.



Angelus (28.Ago.05)

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)