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29/12/2014

Tudo pode e deve levar-nos a Deus

É urgente difundir a luz da doutrina de Cristo. Entesoura formação, enche-te de clareza de ideias, de plenitude da mensagem cristã, para poder depois transmiti-la aos outros. Não esperes umas iluminações de Deus, que não tem porque dá-las, já que dispões de meios humanos concretos: o estudo, o trabalho. (Forja, 841)

O cristão precisa de ter fome de saber. Desde o estudo dos saberes mais abstractos até à habilidade do artesão, tudo pode e deve conduzir a Deus. Efectivamente não há tarefa humana que não seja santificável, motivo para a nossa própria santificação e oportunidade para colaborar com Deus na santificação dos que nos rodeiam. A luz dos seguidores de Jesus Cristo não deve estar no fundo do vale, mas no cume da montanha para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.

Trabalhar assim é oração. Estudar assim é oração. Investigar assim é oração. Nunca saímos afinal do mesmo: tudo é oração, tudo pode e deve levar-nos a Deus, alimentar a nossa intimidade contínua com Ele, da manhã à noite. Todo o trabalho honrado pode ser oração e todo o trabalho que é oração é apostolado. Deste modo, a alma fortalece-se numa unidade de vida simples e forte.


Vimos a realidade da vocação cristã, ou seja, como o Senhor confiou em nós para levar as almas à santidade, para as aproximar d'Ele, para as unir à Igreja e estender o reino de Deus a todos os corações. O Senhor quer-nos entregues, fiéis, dedicados, com amor. Quer-nos santos, muito seus. (Cristo que passa, nn. 10–11)

Ev. Coment. L. esp. (Amigos de Deus)

Oitava do Natal

Evangelho: Lc 2 22-35

22 Depois que se completaram os dias da purificação de Maria, segundo a Lei de Moisés, levaram-n'O a Jerusalém para O apresentar ao Senhor 23 segundo o que está escrito na Lei do Senhor: “Todo o varão primogénito será consagrado ao Senhor”, 24 e para oferecerem em sacrifício, conforme o que também está escrito na Lei do Senhor: “Um par de rolas ou dois pombinhos”. 25 Havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem era justo e piedoso; esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. 26 Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte sem ver primeiro o Cristo do Senhor. 27 Foi ao templo conduzido pelo Espírito. E, levando os pais o Menino Jesus, para cumprirem as prescrições usuais da Lei a Seu respeito, 28 ele tomou-O nos braços e louvou a Deus, dizendo: 29 «Agora, Senhor, podes deixar o teu servo partir em paz segundo a Tua palavra; 30 porque os meus olhos viram a Tua salvação, 31 que preparaste em favor de todos os povos; 32 luz para iluminar as nações, e glória de Israel, Teu povo». 33 O Seu pai e a Sua mãe estavam admirados das coisas que d'Ele se diziam. 34 Simeão abençoou-os e disse a Maria, Sua mãe: «Eis que este Menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel e para ser sinal de contradição. 35 E uma espada trespassará a tua alma. Assim se descobrirão os pensamentos escondidos nos corações de muitos».

Comentário

Aqui estou eu na tua igreja da Lapa para assistir à Santa Missa e, hoje dia muito especial para ti, Mãe; já és “oficialmente” mulher limpa e pura depois da cerimónia no templo.
E, eu que me debato tanto com a minha importância, a minha posição, o meu estatuto, tenho de entender estas lições de humildade.

Humildade tão grande que torna imensamente grande quem a pratica.
A mãe de Deus!
Ali está ela simplesmente com o Filho nos braços, o Filho de Deus e, no entanto está, como outra vulgar criança a ser apresentada no templo.
Bem hajas senhora, por seres assim e nos dares esta grande lição.

(ama, meditação sobre, Lc 2, 22-40 2013.02.03)


Leitura espiritual



São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 200 a 208

200         
Procuremos que aumente a nossa humildade. Porque só uma fé humilde permite que tenhamos visão sobrenatural. Não existe outra alternativa. Só são possíveis dois modos de viver na terra: ou se vive vida sobrenatural ou vida animal. E tu e eu não podemos viver senão a vida de Deus, a vida sobrenatural. Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma. Que proveito terá para o homem tudo o que existe na terra, todas as ambições da inteligência e da vontade? Que vale tudo isto, se tudo se acaba, se tudo se desfaz, se são bambolinas de teatro todas as riquezas deste mundo terreno, se depois é a eternidade para sempre, para sempre, para sempre?

Este advérbio - sempre - tornou grande Teresa de Jesus. Quando ela - em criança - saía pela porta do rio Adaja, atravessando as muralhas da cidade acompanhada por seu irmão Rodrigo, com o intuito de chegar a terras de moiros, para que os decapitassem por amor de Cristo, ia segredando ao irmão que já dava mostras de cansaço: para sempre, para sempre, para sempre.

Mentem os homens ao dizer para sempre em coisas temporais. Só é verdade, com uma verdade total, o para sempre em relação a Deus. E assim hás-de viver tu, com uma fé que te ajude a sentir sabor de mel, doçura de céu, ao pensares na eternidade, que é, de verdade, para sempre.

201         
Vida corrente e contemplação

Voltemos ao Santo Evangelho e detenhamo-nos no que refere S. Mateus, no capítulo vigésimo primeiro. Conta-nos que Jesus, quando voltava para a cidade, teve fome. Vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela. Que alegria, Senhor, ver-te com fome, ver-te também sedento, junto do poço de Sicar!. Contemplo-te perfectus Deus, perfectus homo: verdadeiro Deus, mas também verdadeiro homem, com carne como a minha. Aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, para que eu nunca mais duvidasse de que Ele me compreende e me ama.

Teve fome. Sempre que nos cansemos - no trabalho, no estudo, na tarefa apostólica - sempre que no horizonte haja trevas, então é preciso olhar Cristo: Jesus bom, Jesus cansado, Jesus faminto e sedento. Como te fazes compreender bem, Senhor! Como te fazes amar! Mostras-te igual a nós em tudo, excepto no pecado, para que sintamos que contigo poderemos vencer as nossas más inclinações e as nossas culpas. Efectivamente, não têm importância o cansaço, a fome, a sede, as lágrimas... Cristo cansou-se, passou fome, teve sede, chorou. O que importa é a luta - uma luta amável, porque o Senhor permanece sempre a nosso lado - para cumprir a vontade do Pai que está nos céus.

202         
Aproxima-se da figueira: aproxima-se de ti e aproxima-se de mim. Jesus tem fome e sede de almas. Do alto da cruz clamou: sítio!, tenho sede. Sede de nós, do nosso amor, das nossas almas e de todas as almas que lhe devemos levar pelo caminho da Cruz, que é o caminho da imortalidade e da glória do Céu.

Abeirou-se da figueira, mas não encontrou senão folhas . É lamentável. Não acontecerá assim também na nossa vida? Não haverá nela, infelizmente, falta de fé e de vibração de humildade, ausência de sacrifícios e de obras? Não será que apresentamos um cristianismo só de fachada e sem frutos? É terrível, porque Jesus ordena: Nunca mais nasça fruto de ti. E, imediatamente, secou a figueira. Entristece-nos esta passagem da Sagrada Escritura, ao mesmo tempo que, por outro lado, nos anima a avivar a fé, a viver conformes à fé, para que Cristo receba sempre algum lucro da nossa parte.

Não nos enganemos. Nosso Senhor não depende nunca das nossas construções humanas. Os projectos mais ambiciosos são, para Ele, brincadeiras de crianças. Ele quer almas, quer amor. Quer que todos venham gozar do seu Reino, por toda a eternidade. Temos de trabalhar muito na terra e temos de trabalhar bem, porque essa ocupação corrente é a que devemos santificar. Mas nunca nos esqueçamos de a realizar por Deus. Se trabalhássemos por nós mesmos, isto é, por orgulho, só conseguiríamos produzir folhas e nem Deus nem os homens poderiam saborear, numa árvore tão frondosa, a doçura dos frutos.

203         
Então, ao olharem para a figueira seca, os discípulos admiraram-se, dizendo: como secou a figueira imediatamente?. Aqueles primeiros doze, que tinham presenciado tantos milagres de Cristo, ficam estupefactos mais uma vez, porque a sua fé ainda não era ardente. Por isso o Senhor afirma: Na verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a este monte: sai daí e lança-te ao mar, assim se fará. Jesus Cristo estabelece esta condição: que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover montanhas. E há tantas coisas a remover... no mundo e, antes de mais, no nosso coração. Tantos obstáculos à graça! Tenhamos, pois, fé. Fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade. Na realidade, a fé converte-nos em criaturas omnipotentes: E tudo o que pedirdes com fé na oração o recebereis.

O homem de fé sabe julgar bem as questões terrenas, sabe que a vida terrena é, no dizer de Santa Teresa, uma má noite numa má pousada. Renova a sua convicção de que a nossa existência na terra é tempo de trabalho e de luta, tempo de purificação para saldar a dívida para com a justiça divina, pelos nossos pecados. Sabe também que os bens temporais são meios e usa-os generosamente, heroicamente.

204         
A fé não serve só para ser pregada, mas especialmente para ser posta em prática. Talvez nos faltem as forças com frequência. Nesses momentos - e de novo nos socorremos do Santo Evangelho - comportai-vos como aquele pai do rapaz lunático. Deseja a salvação do filho, espera que Cristo o cure, mas não acaba de acreditar em tamanha felicidade. Por isso Jesus, que sempre pede fé, conhecendo as perplexidades daquela alma, antecipa-se: se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. Tudo é possível: omnipotentes! Mas com fé. Aquele homem sente que a sua fé vacila, teme que essa escassez de confiança impeça que o seu filho recupere a saúde. E chora. Que não nos envergonhemos deste pranto: é fruto do amor de Deus, da oração contrita, da humildade. E o pai do menino, banhado em lágrimas, exclamou: eu creio, Senhor, mas ajuda a minha incredulidade .

Ao terminar agora esta nossa meditação, digamos-lhe com as mesmas palavras: Senhor, eu creio! Eduquei-me na tua fé, decidi seguir-te de perto. Ao longo da minha vida, implorei insistentemente a tua misericórdia. E, repetidas vezes também, pareceu-me impossível que pudesses fazer tantas maravilhas no coração dos teus filhos. Senhor, creio! Mas ajuda-me, para que eu creia mais e melhor!

Dirigimos igualmente uma súplica a Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, Mestra de fé: Bem-aventurada tu que creste, porque se hão-de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas.

205         
Há já bastantes anos, com uma convicção que crescia de dia para dia, escrevi: Espera tudo de Jesus; tu nada tens, nada vales, nada podes. - Ele agirá, se n'Ele te abandonares. Passou o tempo e aquela minha convicção tornou-se ainda mais forte, mais profunda. Tenho visto, em muitas vidas, que a esperança em Deus acende maravilhosas fogueiras de amor, com um fogo que mantém palpitante o coração, sem desânimos, sem desfalecimentos, embora ao longo do caminho se sofra e, às vezes, se sofra deveras.

Enquanto lia o texto da Epístola da Missa, comovi-me e imagino que vos aconteceu o mesmo. Compreendia que Deus nos ajudava, com as palavras do Apóstolo, a contemplar a teia divina das três virtudes teologais, que compõem o fundo sobre o qual se tece a existência autêntica do homem cristão, da mulher cristã.

Ouvi de novo S. Paulo: Justificados pela fé, tenhamos paz com Deus, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem temos acesso pela fé a esta graça, na qual permanecemos firmes e nos gloriamos na esperança da glória dos filhos de Deus. Mas não nos gloriamos somente nisto; alegramo-nos também nas tribulações, sabendo que a tribulação exercita a paciência, a paciência a prova e a prova a esperança; esperança que não engana, porque a caridade de Deus foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo.

206         
Aqui, na presença de Deus, que nos está a presidir do sacrário - como fortalece esta proximidade real de Jesus! - vamos meditar hoje esse suave dom de Deus, a esperança, que enche de alegria as nossas almas, spe gaudentes, jubilosos, porque - se formos fiéis - nos aguarda o Amor infinito.

Não esqueçamos jamais que para todos - para cada um de nós, portanto - só há dois modos de estar no mundo: ou se vive vida divina, lutando para agradar a Deus, ou se vive vida animal, mais ou menos humanamente ilustrada, quando se prescinde d'Ele. Nunca concedi demasiado peso aos santões que fazem alarde de não serem crentes: quero-lhes realmente muito, como a todos os homens, meus irmãos; admiro a sua boa vontade, que em determinados aspectos pode mostrar-se heróica, mas tenho pena deles, porque têm a enorme desgraça de lhes faltar a luz e o calor de Deus e a inefável alegria da esperança teologal.

Um cristão sincero, coerente com a sua fé, não actua senão com os olhos em Deus, com visão sobrenatural; trabalha neste mundo, que ama apaixonadamente, metido nos afãs da terra, com o olhar no Céu. É S. Paulo quem o confirma: quæ sursum sunt quærite; buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus; saboreai as coisas do Céu, não as da terra. Porque estais mortos - para as coisas terrenas, pelo Baptismo - e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.

207         
Esperança terrena e esperança cristã

Com monótona cadência sai da boca de muitos o ritornello já tão vulgar, de que a esperança é a última coisa que se perde; como se a esperança fosse um apoio para continuarmos a deambular sem complicações, sem inquietações de consciência; ou como se fosse um expediente que permite adiar sine die a oportuna rectificação do procedimento, a luta para alcançar metas nobres e, sobretudo, o fim supremo de nos unirmos com Deus.

Eu diria que esse é o caminho para confundir a esperança com a comodidade. No fundo, não há ânsias de conseguir um verdadeiro bem, nem espiritual, nem material legítimo; a mais alta pretensão de alguns reduz-se a evitar o que poderia alterar a tranquilidade - aparente - de uma existência medíocre. Com uma alma tímida, acanhada, preguiçosa, a criatura enche-se de egoísmos subtis e conforma-se com o facto de os dias, os anos decorrerem sine spe nec metu, sem aspirações que exijam esforço, sem os perigos da peleja: o que importa é evitar o risco do desaire e das lágrimas. Que longe se está de obter uma coisa, se se malogrou o desejo de a possuir, por temor das exigências que a sua conquista comporta!

Também não falta a atitude superficial dos que - inclusive com visos de afectada cultura ou de ciência - compõem poesia fácil com a esperança. Incapazes de se enfrentarem sinceramente com a sua intimidade e de se decidirem pelo bem, limitam a esperança a uma ilusão, a um sonho utópico, ao simples consolo ante as angústias de uma vida difícil. A esperança - falsa esperança! - transforma-se para estes numa frívola veleidade que a nada conduz.

208         
Mas se abundam os temerosos e os frívolos, nesta nossa terra muitos homens rectos, impelidos por um nobre ideal - ainda que sem motivo sobrenatural, por filantropia - afrontam toda a espécie de privações e consomem-se generosamente a servir os outros, a ajudá-los nos seus sofrimentos ou nas suas dificuldades. Sinto-me sempre levado a respeitar, e mesmo a admirar a tenacidade de quem trabalha decididamente por um ideal limpo. No entanto, considero minha obrigação recordar que tudo o que iniciamos aqui, se é empresa exclusivamente nossa, nasce com o selo da caducidade. Meditai as palavras da Escritura: contemplei tudo o que as minhas mãos tinham feito e as canseiras que tive ao fazê-lo e vi que tudo era vaidade e vento que passa e que nada havia de proveitoso debaixo do sol.

Esta precariedade não sufoca a esperança. Pelo contrário, quando reconhecemos a pequenez e a contingência das iniciativas terrenas, o trabalho abre-se à autêntica esperança que eleva toda a actividade humana e a converte em lugar de encontro com Deus. Essa tarefa é assim iluminada com uma luz perene, que afasta as trevas das desilusões. Mas se transformarmos os projectos temporais em metas absolutas, suprimindo do horizonte a morada eterna e o fim para que fomos criados - amar e louvar o Senhor e possuí-lo depois no Céu - os intentos mais brilhantes transformam-se em traições e inclusive em instrumento para envilecer as criaturas. Recordai a sincera e famosa exclamação de Santo Agostinho, que tinha experimentado tantas amarguras enquanto não conhecia Deus e procurava fora d'Ele a felicidade: fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansa em Ti!. Talvez não exista nada mais trágico na vida dos homens do que os enganos padecidos pela corrupção ou pela falsificação da esperança, apresentada com uma perspectiva que não tem como objecto o amor que sacia sem saciar.

A mim, e desejo que a vós suceda o mesmo, a segurança de me sentir - de me saber - filho de Deus enche-me de verdadeira esperança que, por ser virtude sobrenatural, ao ser infundida nas criaturas, se acomoda à nossa natureza e é também virtude muito humana. Sou feliz com a certeza do Céu que alcançaremos, se permanecermos fiéis até ao fim; com a felicidade que nos chegará, quoniam bonus, porque o meu Deus é bom e é infinita a sua misericórdia. Esta convicção incita-me a compreender que só o que está marcado com o selo de Deus revela o sinal indelével da eternidade e tem um valor imperecível. Por isso, a esperança não me separa das coisas desta terra, antes me aproxima dessas realidades de um modo novo, cristão, que procura descobrir em tudo a relação da natureza, caída, com Deus Criador e com Deus Redentor.

(cont)





Temas para meditar - 318


Tristeza

A tristeza move-nos à ira e à repulsa; e assim reparamos que, quando estamos tristes, facilmente nos aborrecemos e irritamos contra qualquer coisa; e para além disto, a tristeza torna o homem impaciente nas coisas que faz, fá-lo suspicaz e malicioso. E algumas vezes a tristeza transforma de tal maneira o homem que parece tirar-lhe o bom senso e põe-no 
fora de si.


(são gregorio magno, Moralia I, 31, 31) 

Tratado do verbo encarnado 74

Questão 10: Da ciência da bem-aventurança da alma de Cristo

Art. 3 — Se a alma de Cristo pode conhecer infinitas coisas no Verbo.

O terceiro discute-se assim. — Parece que a alma de Cristo não pode conhecer infinitas coisas no Verbo.

1 — Pois, repugna à noção do infinito o ser ele conhecido, assim, como diz Aristóteles, infinita é a quantidade a que sempre se lhe pode acrescentar. Ora, é impossível separar a definição, do definido, porque então seria contraditório o existirem simultaneamente. Logo, é impossível a alma de Cristo conhecer coisas infinitas.

2. Demais. — A ciência de coisas infinitas é infinita. Ora, a ciência da alma de Cristo não pode ser infinita, pois, sendo criatura, a sua capacidade é finita. Logo, a alma de Cristo não pode conhecer coisas infinitas.

3. Demais. — Nada pode ser maior que o infinito. Ora, a ciência divina, absolutamente falando, abrange mais coisas que a da alma de Cristo, como se disse. Logo, a alma de Cristo não conhece coisas infinitas.

Mas, em contrário. — A alma de Cristo conhece todo o seu poder e tudo o a que ele se estende. Ora, pode ela purificar de pecados infinitos, segundo o Evangelho: Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. Logo, a alma de Cristo conhece coisas infinitas.

A ciência só pode ter por objecto o ser, porque o ser e a verdade se convertem. Ora, um ente pode ser considerado a dupla luz: absolutamente, quando actual, ou relativamente, quando potencial. E como um ser é conhecido enquanto actual e não enquanto potencial, segundo o ensina Aristóteles, a ciência tem por objecto primário e principal o ser actual e secundariamente, o ser potencial, não cognoscível em si mesmo, mas na medida em que o é o ser em cuja potência existe. Ora, quanto à primeira modalidade da ciência, a alma de Cristo não conhece coisas infinitas. Pois, não são infinitas em acto, em qualquer tempo, porque a estado de geração e de corrupção não, dura infinitamente. Donde, é certo o número tão só dos seres não sujeitos à geração e a corrupção, como dos susceptíveis de uma e de outra. — Mas, quanto à segunda modalidade da ciência, a alma de Cristo conhece coisas infinitas no Verbo. Pois, sabe, como se disse, tudo o que está na potência da criatura. Ora, como na potência da criatura então coisas infinitas, deste modo conhece coisas infinitas, quase por uma certa ciência de simples inteligência, não porém pela de visão.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O infinito, como dissemos na primeira Parte, é susceptível de dupla acepção. — Primeiro, em razão da forma. E então o infinito o é negativamente, isto é, é a forma ou o acto não limitado pela matéria ou por um sujeito em que ela seja recebida. E esse infinito, é, em si mesmo, cognoscível por excelência, por causa da perfeição do acto, embora não seja compreensível pela potência finita da criatura, e diremos, nesse sentido que e Deus é infinito. Ora, tal infinito a alma de Cristo conhece, embora não o compreenda. — Noutro sentido, o infinito é-o em razão da matéria. E esse é o chamado infinito privativo, isto é, por não ter a forma que lhe era natural que tivesse. E tal é o infinito quantitativo, desconhecido por natureza, por ser quase a matéria privada da forma, como diz Aristóteles, ora, todo conhecimento é pela forma ou pelo acto. Donde, se esse infinito devesse ser conhecido ao modo do objecto conhecido seria impossível conhecê-lo. Pois, o seu modo é serem consideradas as suas partes, uma depois da outra, como diz Aristóteles. E, neste sentido, é verdade que quem lhe enumera as partes, isto é, tomando uma depois de outra, sempre lhe poderá acrescentar outra. Ora, como as coisas materiais podem ser consideradas pelo intelecto imaterialmente, e as coisas múltiplas, unificadamente, assim também coisas infinitas o intelecto pode concebê-las, não como infinitas, mas como finitas, de modo que, coisas em si mesmas infinitas sejam finitas para o intelecto que a conhece. E, deste modo, a alma de Cristo conhece coisas infinitas, isto é, enquanto as conhece, não as considerando uma por uma mas numa certa unidade, por exemplo, numa criatura, em cuja potência existem em número infinito, é principalmente no Verbo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Nada impede que o infinito seja, a uma luz, finito, a outra, como se, na ordem da quantidade, imaginemos uma superfície infinita em comprimento e finita em largura. Assim, pois, se existissem infinitos homens, em número, teriam certamente a infinidade, de algum modo, isto é, quanto à multidão, mas não a teriam quanto a ideia da essência, porque toda essência seria limitada pela ideia de uma só espécie. Mas, o ser absolutamente infinito, pela sua própria essência, é Deus, como demonstramos na Primeira Parte. Ora, o objecto próprio do intelecto é a quididade, como diz Aristóteles, na qual se inclui a ideia de espécie. Assim, portanto, a alma de Cristo, por ter uma capacidade finita, atinge certamente o infinito absoluta e essencialmente, que é Deus, mas não o compreende, como dissemos. Mas o infinito potencial das criaturas a alma de Cristo pode compreendê-lo, por se lhe referir pela ideia de essência por onde não tem infinidade. Pois, também o nosso intelecto intelige o universal, isto é, a natureza genérica e específica que tem de certo modo infinidade, por poder ser predicado de infinitos seres.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O infinito a todas as luzes não pode ser senão único. Donde o dizer o Filósofo que, tendo o corpo dimensão em todos os sentidos, é impossível haver varias corpos infinitos. Mas, se um corpo fosse infinito num só sentido, nada impediria que existissem vários corpos infinitos, assim, se concebêssemos várias linhas infinitas em comprimento, tiradas ao longo de uma superfície finita em largura. Ora, não sendo o infinito nenhuma substância, mas um acidente das coisas chamadas infinitas, como diz Aristóteles, assim como o infinito se multiplica conforme a diversidade dos seus sujeitos, assim há de a propriedade do infinito necessariamente multiplicar-se, de modo a convir em particular a cada um desses sujeitos. Ora, uma propriedade do infinito é a de ser maior que qualquer ser. Assim, pois, considerada uma linha como infinita, nada nela é maior que a sua infinidade, semelhantemente, se considerarmos qualquer das outras linhas infinitas, é claro que de cada uma delas são as partes infinitas. Logo e necessariamente, em todos esses infinitos nada há de maior, numa das referidas linhas, contudo, na outra linha e na terceira, haverá várias partes também infinitas, além destas, O que também vemos se dar com os números, pois, as espécies dos números pares são infinitas e, semelhantemente, as dos números ímpares, e contudo os números pares e os ímpares são mais que os pares. Donde devemos concluir, que nada há maior que o infinito em absoluto e a todos os respeitos, mas, quanto ao infinito determinado segundo certo ponto de vista, nada há maior que ele na sua ordem, mas, podemos conceber algo maior que ele, fora dessa ordem. E assim, deste modo, infinitas coisas estão no poder da criatura, contudo, mais estão no poder de Deus que no da criatura. Semelhantemente, a alma de Cristo conhece coisas infinitas pela ciência de simples inteligência, Deus porém conhece mais coisas por esse modo de inteligir.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Bento VXI – Pensamentos espirituais 31


Fidelidade


A perseverança no bem, mesmo quando incompreendida e contestada, acaba sempre por conduzir no final à luz, à fecundidade e à paz.


Catequese da audiência geral (17.Ago.05)

(In “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)


Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?