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19/12/2014

Ev. Coment. L. esp. (Amigos de Deus)

Advento III Semana

Evangelho: Lc 1 5-25

5 Houve no tempo de Herodes, rei da Judeia, um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias; a sua mulher era da descendência de Aarão e chamava-se Isabel. 6 Ambos eram justos diante de Deus, caminhando irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 Não tinham filhos, porque Isabel era estéril e ambos se achavam em idade avançada. 8 Sucedeu que, exercendo Zacarias as funções de sacerdote diante de Deus na ordem do seu turno, 9 segundo o costume sacerdotal, tocou-lhe por sorte entrar no templo do Senhor a oferecer o incenso. 10 Toda a multidão do povo estava a fazer oração da parte de fora, à hora do incenso. 11 Apareceu-lhe um anjo do Senhor, de pé ao lado direito do altar do incenso. 12 Zacarias, ao vê-lo, ficou perturbado e o temor o assaltou. 13 Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração; tua mulher Isabel dar-te-á um filho, ao qual porás o nome de João. 14 Será para ti motivo de júbilo e de alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento; 15 porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho nem outra bebida inebriante; será cheio do Espírito Santo desde o ventre da sua mãe; 16 e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17 Irá adiante de Deus com o espírito e a fortaleza de Elias, “a fim de reconduzir os corações dos pais para os filhos”, e os rebeldes à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto». 18 Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso? Porque eu sou velho e a minha mulher está avançada em anos». 19 O anjo respondeu-lhe: «Eu sou Gabriel que estou diante de Deus; fui enviado para te falar e te dar esta boa nova. 20 Eis que ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas sucedam, visto que não acreditaste nas minhas palavras, que se hão-de cumprir a seu tempo». 21 Entretanto, o povo esperava Zacarias e admirava-se de ver que ele se demorava tanto no templo. 22 Quando saiu, não lhes podia falar, e compreenderam que tinha tido alguma visão no templo, o que lhes dava a entender por acenos; e ficou mudo. 23 Aconteceu que, depois de terem acabado os dias do seu ministério, retirou-se para a sua casa. 24 Alguns dias depois, Isabel, sua mulher, concebeu, e durante cinco meses esteve escondida, dizendo: 25 «Isto é uma graça que me fez o Senhor nos dias em que me olhou para tirar o meu opróbrio de entre os homens».

Comentário:

Zacarias é um Sacerdote a prestar serviço no Templo, um homem que deveria conhecer as Escrituras profundamente e, portanto, admira-se e estranha a mensagem de São Gabriel que, tanto quanto lhe é dado conhecer, não constava, pelo menos de modo claro, nas mesmas Escrituras.
Este facto aliado à sua condição física de homem idoso, tal como a de sua mulher, contribuem para uma surpresa e desconfiança.
Não julguemos Zacarias, afinal terá reagido como qualquer homem colocado perante um assunto tão delicado e inexplicável.

(ama, comentário sobre Lc 1, 5-25, 2013.12.19)


Leitura espiritual



São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 115 a 122

115         
Senhorio do cristão

Corações generosos, com desprendimento verdadeiro, pede o Senhor. Consegui-lo-emos, se soltarmos com valentia as amarras ou os fios subtis que nos prendem ao nosso eu. Não vos escondo que esta determinação exige uma luta constante, uma sobreposição ao entendimento e à vontade própria, em poucas palavras, uma renúncia mais árdua que o abandono dos bens materiais mais desejados.

Esse desprendimento que o Mestre pregou e que espera de todos os cristãos implica também necessariamente manifestações externas. Jesus Cristo coepit facere et docere: antes de anunciar a sua doutrina com a palavra, anunciou-a com as obras. Vemo-lo nascer num estábulo, na carência mais absoluta, e dormir os seus primeiros sonos na terra deitado sobre as palhas de uma manjedoura. Depois, durante os anos das suas andanças apostólicas, entre muitos outros exemplos, recordamos a sua clara advertência a um dos que se ofereceram para o acompanhar como discípulo: as raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. E não deixemos de contemplar aquela cena que o Evangelho recolhe, em que os apóstolos, para matar a fome, num sábado, arrancam pelo caminho umas espigas de trigo.

116         
Pode-se dizer que Nosso Senhor, perante a missão recebida do Pai, vive o dia-a-dia, tal como aconselhava num dos ensinamentos mais sugestivos que saíram da sua boca divina: não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir, pois a vida é mais que o alimento e o corpo mais que o vestuário. Reparai nos corvos: não semeiam nem colhem, não têm despensa nem celeiro, e Deus sustenta-os. Quanto mais valeis vós do que as aves!... Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam. Pois eu digo-vos: nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé ?

Se vivêssemos mais confiados na Providência divina, seguros - com fé firme - desta protecção diária que nunca nos falta, quantas preocupações ou inquietações pouparíamos a nós próprios. Desapareceriam muitos desassossegos que, segundo palavras de Jesus, são próprios dos pagãos, dos homens do mundo, das pessoas que carecem de sentido sobrenatural. Quereria, em confidência de amigo, de sacerdote, de pai, trazer-vos à memória em cada circunstância, que nós, pela misericórdia de Deus, somos filhos desse Pai Nosso, todo-poderoso, que está nos Céus e, ao mesmo tempo, na intimidade dos nossos corações. Quereria gravar a fogo nas vossas mentes que temos todos os motivos para caminhar com optimismo nesta terra, com a alma bem desprendida dessas coisas que parecem imprescindíveis, pois bem sabe o vosso Pai que tendes necessidade delas. E Ele providenciará. Crede que só assim nos portaremos como senhores da Criação e evitaremos a triste escravidão em que tantos caem, porque esquecem a sua condição de filhos de Deus, preocupados com um amanhã ou um depois que talvez nem sequer cheguem a ver.

117         
Permiti que, mais uma vez, vos manifeste uma pequena parte da minha experiência pessoal. Abro-vos a minha alma na presença de Deus, com a certeza mais absoluta de que não sou modelo de nada, de que sou um farrapo, um pobre instrumento - surdo e inapto - que o Senhor utilizou para que se comprove, com mais evidência, que Ele escreve perfeitamente com a perna de uma mesa. Portanto, ao falar-vos de mim, não me passa pela cabeça, nem de longe, o pensamento de que na minha actuação haja algum mérito meu; e muito menos pretendo impor-vos o caminho por onde o Senhor me levou, até porque pode suceder muito bem que o Mestre não vos peça o que tanto me ajudou a trabalhar sem impedimento nesta Obra de Deus a que dediquei toda a minha existência.

Asseguro-vos - toquei-o com as minhas mãos, contemplei-o com os meus olhos - que, se confiardes na divina Providência, se vos abandonardes nos seus braços omnipotentes, nunca vos faltarão os meios para servir a Deus, à Santa Igreja, às almas, sem descuidar nenhum dos vossos deveres. E, além disso, gozareis de uma alegria e de uma paz que mundus dare non potest, que a posse de todos os bens da terra não pode dar.

Desde os começos do Opus Dei, em 1928, além de que não contava com nenhum recurso humano, nunca utilizei pessoalmente um cêntimo sequer. Tão-pouco intervim directamente nos assuntos económicos que logicamente surgem ao realizar qualquer tarefa em que participam criaturas - homens de carne e osso, e não anjos - que precisam de instrumentos materiais para desenvolver eficazmente o seu trabalho apostólico.

O Opus Dei precisou e penso que precisará sempre, até ao fim dos tempos, da colaboração generosa de muitos para sustentar as obras apostólicas: por um lado, porque essas actividades nunca são rentáveis; por outro, porque ainda que aumentem o número dos que cooperam e o trabalho dos meus filhos, se há amor de Deus, o apostolado desenvolve-se e as necessidades multiplicam-se. Por isso, em mais de uma ocasião, fiz rir os meus filhos, pois enquanto os impulsionava com fortaleza a corresponderem fielmente à graça de Deus, animava-os a dirigirem-se descaradamente ao Senhor, pedindo-lhe mais graça e o dinheiro, de contado, que nos faltava.

Nos primeiros anos, faltava-nos até o mais indispensável. Atraídos pelo fogo de Deus, vinham ter comigo operários, mecânicos, universitários... que ignoravam o aperto e a indigência em que nos encontrávamos, porque no Opus Dei, com o auxílio do Céu, sempre procurámos trabalhar de maneira que o sacrifício e a oração fossem abundantes e escondidos. Ao rememorar agora aquela época, brota do coração uma acção de graças rendida. Que segurança havia nas nossas almas! Sabíamos que, procurando o reino de Deus e a sua justiça, o resto ser-nos-ia concedido por acréscimo . E posso garantir-vos que não deixou de realizar-se nenhuma iniciativa apostólica por falta de recursos materiais. No momento preciso, de uma forma ou doutra, o nosso Pai Deus com a sua Providência ordinária facilitava-nos o que era necessário, para que víssemos que Ele é sempre bom pagador.

118         
Se quereis actuar sempre como senhores de vós próprios, aconselho-vos a pordes um empenho muito grande em estar desprendidos de tudo, sem medo, sem temores nem receios. Depois, ao cuidar de cumprir as vossas obrigações pessoais, familiares..., empregai os meios terrenos honestos com rectidão, pensando no serviço a Deus, à Igreja, aos vossos, ao vosso trabalho profissional, ao vosso país, à humanidade inteira. Reparai que o importante não se concretiza na materialidade de possuir isto ou de carecer daquilo, mas sim em nos conduzirmos de acordo com a verdade que a nossa fé cristã nos ensina: os bens criados são apenas meios. Portanto, afastai a ilusão de considerá-los como algo definitivo: não acumuleis tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os corroem e os ladrões os desenterram e furtam. Acumulai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os corroem e onde os ladrões não os descobrem nem furtam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração .

Quando alguém centra a sua felicidade exclusivamente nas coisas terrenas - fui testemunha de verdadeiras tragédias - perverte o seu uso razoável e destrói a ordem sabiamente disposta pelo Criador. O coração fica então triste e insatisfeito; mete-se por caminhos de um eterno descontentamento e acaba escravizado já na terra, vítima desses mesmos bens, que talvez tenham sido conseguidos à custa de renúncias e esforços sem conta. Mas, sobretudo, recomendo-vos que não esqueçais que Deus não cabe, não habita num coração enlameado por um amor desordenado, grosseiro, vão. Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Prendamos, pois, o coração no amor capaz de nos fazer felizes... Desejemos os tesouros do céu.

119         
Não te estou a induzir a um abandono no cumprimento dos teus deveres ou na exigência dos teus direitos. Pelo contrário, para cada um de nós, habitualmente, uma retirada nessa frente equivale a desertarmos cobardemente da luta para sermos santos, à qual Deus nos chamou. Por isso, com segurança de consciência, hás-de pôr empenho - especialmente no teu trabalho - para que nem a ti nem aos teus falte o conveniente para viver com dignidade cristã. Se em algum momento, experimentares na tua carne o peso da indigência, não te entristeças nem te revoltes; mas, insisto, procura empregar todos os recursos nobres para superar essa situação, porque actuar de outra maneira seria tentar a Deus. E enquanto lutas, lembra-te de que omnia in bonum!, tudo - também a escassez, a pobreza - coopera para o bem dos que amam o Senhor. Habitua-te, desde já, a enfrentar com alegria as pequenas limitações, as incomodidades, o frio, o calor, a privação de algo que consideras imprescindível, o facto de não poderes descansar quando e como queres, a fome, a solidão, a ingratidão, a incompreensão, a desonra...

120         
Pai... não os tires do mundo

Somos homens da rua, cristãos correntes, metidos na corrente circulatória da sociedade e o Senhor quer-nos santos, apostólicos, precisamente no nosso trabalho profissional, isto é, santificando-nos nesse trabalho, santificando esse trabalho e ajudando os outros a santificarem--se com esse trabalho. Convencei-vos de que Deus vos espera nesse ambiente, com solicitude de Pai, de Amigo. Pensai que com a vossa actividade profissional realizada com responsabilidade, além de vos sustentardes economicamente, prestais um serviço directíssimo ao desenvolvimento da sociedade, aliviais as cargas dos outros e ajudais a manter muitas obras assistenciais - a nível local e universal - em prol dos indivíduos e dos povos mais desfavorecidos.

121         
Ao comportarmo-nos com normalidade - como os nossos semelhantes - e com sentido sobrenatural, não fazemos mais que seguir o exemplo de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Reparai que toda a sua vida está cheia de naturalidade. Passa trinta anos oculto, sem chamar a atenção, como qualquer outro trabalhador e conhecem-no na sua aldeia como o filho do carpinteiro. Ao longo da sua vida pública, também não se nota nada que destoe, que pareça estranho ou excêntrico. Rodeava-se de amigos, como qualquer dos seus concidadãos, e no seu porte não se diferenciava deles. De tal maneira que Judas, para o denunciar, precisa de combinar um sinal: aquele a quem eu beijar, é esse. Não havia em Jesus nenhum indício extravagante. A mim, emociona-me esta norma de conduta do nosso Mestre, que passa como mais um entre os homens.

João Baptista - seguindo um chamamento especial - vestia pele de camelo e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. O Salvador usava uma túnica de uma só peça, comia e bebia como os outros, enchia-se de alegria com a felicidade alheia, comovia-se ante a dor do próximo, não recusava os momentos de descanso que lhe ofereciam os seus amigos e a ninguém escondia que tinha ganho o seu sustento, durante muitos anos, trabalhando com as suas próprias mãos junto a José, o artesão. Assim temos nós de comportar-nos neste mundo: como Nosso Senhor. Dir-te-ia, em poucas palavras, que temos de andar com a roupa limpa, com o corpo limpo e, principalmente, com a alma limpa.

Inclusivamente - porque não notá-lo? - o Senhor, que prega um tão maravilhoso desprendimento dos bens terrenos, mostra ao mesmo tempo um cuidado admirável em não os desperdiçar. Depois daquele milagre da multiplicação dos pães, com que tão generosamente saciou mais de cinco mil homens, ordenou aos seus discípulos: recolhei os pedaços que sobraram, para que não se percam. Recolheram-nos e encheram doze cestos. Se meditardes atentamente toda esta cena, aprendereis a nunca ser preguiçosos, mas bons administradores dos talentos e meios materiais que Deus vos conceder.

122         
O desprendimento que prego, depois de olhar o nosso modelo, é domínio e não miséria clamorosa que chame a atenção, disfarce da preguiça e do desmazelo. Deves andar vestido de acordo com o que é próprio da tua condição, do teu ambiente, da tua família, do teu trabalho..., como os teus companheiros, mas por Deus, com o afã de dar uma imagem autêntica e atraente da verdadeira vida cristã. Com naturalidade, sem extravagâncias, asseguro-vos que é preferível que pequeis por excesso do que por defeito. Como imaginas tu o porte de Nosso Senhor? Já pensaste com que dignidade vestiria aquela túnica inconsútil, que provavelmente terá sido tecida pelas mãos de Santa Maria? Não te lembras de como em casa de Simão se lamenta por não lhe haverem oferecido água para se lavar, antes de se sentar à mesa? Com certeza que o Senhor trouxe à baila essa falta de urbanidade, para realçar com tal facto o ensinamento de que é nos pormenores que se mostra o amor. Mas procura também deixar claro que se atém aos usos sociais do ambiente. Portanto, tu e eu esforçar-nos-emos por estar desapegados dos bens e das comodidades da terra, mas sem destoar e sem fazer coisas estranhas.

Para mim, uma manifestação de que nos sentimos senhores do mundo, administradores fiéis de Deus, é cuidar das coisas que usamos, com interesse em conservá-las, em fazê-las durar, em mantê-las impecáveis e em fazê-las servir o mais tempo possível para o seu fim, de maneira a não haver desperdício. Nos centros do Opus Dei, encontrais uma decoração simples, acolhedora e, sobretudo, limpa, porque não tem que se confundir uma casa pobre com o mau gosto ou com a sujidade. No entanto, compreendo que tu, de acordo com as tuas possibilidades e as tuas obrigações familiares e sociais, possuas objectos de valor e cuides deles com espírito de mortificação, com desprendimento.

(cont)






Temas para meditar - 129


Confiança em Deus



Se Deus vos mandar caminhar sobre as ondas da adversidade, não duvideis nem vos assusteis; Deus está convosco; nada temais, e sereis livres.

(S. francisco de salesPensamentos consoladores, Livro II, Cap. I, I)  

“ANUNCIAÇÃO AOS PECADORES”

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Ao reflectir no Evangelho da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, veio ao meu coração o seguinte texto, pegando na referida e tão conhecida passagem do Evangelho de São Lucas.

Estava o homem entretido na sua vida, quando apareceu um Anjo de Deus e lhe dirigiu as seguintes palavras:
Salvé, filho de Deus, o Senhor ama-te com amor infinito.

O homem ficou perturbado e questionou-se acerca do que é que ali se estava a passar.

O Anjo continuou:
O Senhor escolheu-te para seres santo, para caminhares o caminho da santidade.

O homem disse ao Anjo:
Como pode ser isso se eu sou um pecador?

O Anjo respondeu-lhe:
O Espírito Santo derramar-se-á em ti, iluminar-te-á e dar-te-á forças para caminhares o caminho da santidade.

E continuou:
Também Pedro negou três vezes o Senhor, também Madalena muito pecou, também Agostinho levou uma vida dissoluta, e no entanto são Santos, como tantos outros, para que saibas que a Deus nada é impossível, desde que o homem se deixe tocar por Ele.

O homem baixou a cabeça e disse:
Faça-se então a vontade do Senhor, e que eu saiba sempre recorrer a Ele quando me faltar o discernimento e a força para viver o caminho da santidade.



Marinha Grande, 9 de Dezembro de 2014
Joaquim Mexia Alves


Nota:

Este texto foi-me inspirado pela homilia de ontem do Padre Patrício Oliveira, Vigário da Paróquia da Marinha Grande.
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A vida matrimonial, um caminhar divino pela Terra

Vê quantos motivos para venerar S. José e para aprender da sua vida: foi um varão forte na fé...; sustentou a sua família – Jesus e Maria – com o seu trabalho esforçado...; guardou a pureza da Virgem, que era sua Esposa...; e respeitou – amou! – a liberdade de Deus que fez a escolha, não só da Virgem como Mãe, mas também dele como Esposo de Santa Maria. (Forja, 552)

Ao pensar nos lares cristãos, gosto de imaginá-los luminosos e alegres, como foi o da Sagrada Família. A mensagem de Natal ressoa com toda a força: Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade. Que a Paz de Cristo triunfe nos vossos corações, escreve o Apóstolo. Paz por nos sabermos amados pelo nosso Pai, Deus, incorporados em Cristo, protegidos pela Virgem Santa Maria, amparados por S. José. Esta é a grande luz que ilumina as nossas vidas e que, perante as dificuldades e misérias pessoais, nos impele a seguir animosamente para diante. Cada lar cristão deveria ser um remanso de serenidade, em que se notassem, por cima das pequenas contrariedades diárias, um carinho e uma tranquilidade, profundos e sinceros, fruto de uma fé real e vivida.


Para o cristão o matrimónio não é uma simples instituição social e menos ainda um remédio para as fraquezas humanas: é uma autêntica vocação sobrenatural. Sacramento grande em Cristo e na Igreja, como diz S. Paulo, é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, contrato que um homem e uma mulher fazem para sempre, pois, quer queiramos quer não, o matrimónio instituído por Jesus Cristo é indissolúvel, sinal sagrado que santifica, acção de Jesus, que invade a alma dos que se casam e os convida a segui-Lo, transformando toda a vida matrimonial num caminhar divino pela Terra. (Cristo que passa, nn. 22–23)

Tratado do verbo encarnado 64

Questão 8: Da graça de Cristo, enquanto Ele é a cabeça da Igreja

Art. 5 — Se a graça pela qual Cristo é a cabeça da Igreja é idêntica à que tinha como um homem particular.

O quinto discute-se assim. — Parece que a graça pela qual Cristo é a cabeça da Igreja não é idêntica à que tinha como um homem particular.

1. — Pois, diz o Apóstolo: Se pelo pecado de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça dum só homem, que é Jesus Cristo, abundou sobre muitos. Ora, um é o pecado actual de Adão e outro, o pecado original, que transmitiu aos pósteros. Logo, uma é a graça pessoal, própria de Cristo e outra, a sua graça enquanto cabeça da Igreja, que dele deriva para nós outros,

2. Demais. — Os hábitos distinguem-se pelos actos. Ora, a um acto se ordena a graça pessoal de Cristo, a saber, à santificação da sua alma, e a outro, a sua graça como cabeça, isto é, à santificação dos outros. Logo, uma é a graça pessoal de Cristo, é outra a sua graça como cabeça da Igreja.

3. Demais. — Como se disse, em Cristo distingue-se uma tríplice graça: a da união, a de cabeça e a que tem como um homem particular. Ora, a graça de Cristo é diferente da graça de união. Logo, também o é da graça de cabeça.

Mas, em contrário, o Evangelho: Todos nós participamos da sua plenitude. Ora, ele é nosso chefe pelo que dele participamos. Logo, é nosso chefe ou cabeça porque tinha a plenitude da graça. Mas, a plenitude da graça ele teve-a porque perfeitamente teve a graça pessoal, como se disse. Logo, por essa graça pessoal é que é a nossa cabeça. E portanto, a graça de cabeça não é diferente da graça pessoal.

Todo o ser age enquanto actual. Donde e necessariamente, é em virtude do mesmo acto que o agente existe actualmente e age, assim, pelo mesmo calor o fogo é quente e aquece. Mas, nem todo o acto pelo qual um agente é actual basta para que seja princípio de secção sobre outros seres. Pois, sendo o agente superior ao paciente, como diz Agostinho e o Filósofo, é necessário que o ser agente sobre outros tenha o seu acto segundo uma certa eminência. Ora, como dissemos, a alma de Cristo recebeu a graça segundo uma eminência máxima. Por isso, pela eminência da graça que recebeu, compete-lhe distribuir essa graça aos outros, o que se inclui na ideia de chefia. E portanto, a graça pessoal que justifica a alma de Cristo é essencialmente a mesma pela qual é a cabeça da Igreja, que justifica os outros, embora desta difira racionalmente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O pecado original em Adão, que é um pecado de natureza, derivou do pecado actual do mesmo, que foi um pecado pessoal. Porque nele a pessoa corrompeu a natureza, mediante a qual corrupção, o pecado do primeiro homem derivou para os pósteros, porque a natureza corrupta corrompe a pessoa. Mas, a graça não deriva de Cristo para nós mediante a natureza humana, mas pela só acção pessoal do próprio Cristo. Donde, não devemos distinguir em Cristo dupla graça, das quais uma responda à natureza e outra, à pessoa, como em Adão se distingue o pecado ela natureza e o da pessoa.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Actos diversos, dos quais um é a razão e a causa do outro, não diversificam o hábito. Ora, o acto pessoal da graça, que torna santo quem formalmente a tem, é a razão da justificação dos outros, a qual pertence à graça de chefe. Donde vem que tal diferença não diversifica a essência do hábito.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A graça pessoal e a graça de chefe ordena-se a algum acto, ao passo que a graça de união não se ordena ao acto mas, ao ser pessoal. Donde, a graça pessoal e a graça de cabeça convêm na essência do hábito, mas não a graça de união. — Embora a graça pessoal possa de certo modo chamar-se graça de união, enquanto produtora de uma certa aptidão para a união. E, assim sendo, a graça de união, a de chefe e a da pessoa particular, são uma mesma graça, só diferentes pela razão.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Jesus Cristo e a Igreja - 47

Jesus quis realmente fundar uma Igreja?

A pregação de Jesus dirigia-se em primeiro lugar a Israel, como ele mesmo o disse aos que o seguiam: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15, 24). Desde o começo da sua actividade convidava a todos à conversão: “Completou-se o tempo e aproxima-se o Reino de Deus; arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15).
Mas essa chamada à conversão pessoal não se percebe num contexto individualista, mas tem como objectivo reunir continuamente a humanidade dispersa para constituir o Povo de Deus que tinha vindo salvar.
Um sinal evidente de que Jesus tinha a intenção de reunir o povo da Aliança, incluindo a humanidade inteira, para cumprir das promessas feitas ao seu povo, é a instituição dos doze apóstolos, à frente dos quais coloca Pedro: “Os nomes dos doze Apóstolos são estes: O primeiro é Simão, também chamado Pedro, depois André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu e Tadeu; Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou” (Mt 10, 2-4; cf. Mc 3, 13-16; Lc 6, 12-16) (veja-se a pergunta (Quem foram os doze Apóstolos). O número doze faz referência às doze tribos de Israel e manifesta o significado desta iniciativa de congregar o povo santo de Deus, a ekkesia Theou eles são os alicerces da nova Jerusalém (cf. Ap 21, 12-14).

Um novo sinal dessa intenção de Jesus foi ter-lhes confiado na Última Ceia o poder de celebrar a Eucaristia que instituiu naquele momento (veja-se a pergunta (O que aconteceu na Última Ceia?) Deste modo, transmitiu a toda a Igreja, na pessoa daqueles Doze que estão à frente dela, a responsabilidade de ser sinal e instrumento da reunião começada por Ele e que devia dar-se nos últimos tempos. Com efeito, a sua entrega na Cruz, antecipada sacramentalmente nessa Ceia, e actualizada cada vez que a Igreja celebra a Eucaristia, cria uma comunidade unida na comunhão com Ele mesmo, chamada a ser sinal e instrumento da tarefa por Ele iniciada. A Igreja nasce, pois, da doação total de Cristo pela nossa salvação, antecipada na instituição da Eucaristia e consumada na Cruz.
Os doze Apóstolos são o sinal mais evidente da vontade de Jesus sobre a existência e a missão da sua Igreja, garantia de que entre Cristo e a Igreja não há contraposição: são inseparáveis, apesar dos pecados dos homens que compõem a Igreja.
Os Apóstolos eram conscientes, porque assim o tinham recebido de Jesus, de que a sua missão se haveria de perpetuar. Por isso se preocuparam em encontrar sucessores, para que a missão que lhes tinha sido confiada continuasse depois da sua morte – tal como testemunha o livro dos Actos dos Apóstolos.
Deixaram uma comunidade estruturada através do ministério apostólico e guiada pelos pastores legítimos, que a edificam e a sustentam na comunhão com Cristo e com o Espírito Santo, na qual todos os homens estão chamados a experimentar a salvação oferecida pelo Pai.
Nas cartas de São Paulo consideram-se, portanto, os membros da Igreja como “ concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo pedra angular o próprio Cristo Jesus” (Ef 2, 19-20).
Não é possível encontrar Jesus quando se prescinde da realidade que Ele criou e na qual se comunica. Entre Jesus e a sua Igreja há uma continuidade profunda, inseparável e misteriosa, em virtude da qual Cristo se faz presente hoje no seu povo.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.


Pequena agenda do cristão




Sexta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:
Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?