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15/12/2014

Acabar bem as tarefas

A santidade compõe-se de heroísmos. Por isso, no trabalho pede-se-nos o heroísmo de rematar bem as tarefas que nos cabem, dia após dia, embora se repitam as mesmas ocupações. Se não, não queremos ser santos! (Sulco, 529)

Perguntaste-me o que podes oferecer ao Senhor. Não necessito de pensar na resposta: as mesmas coisas de sempre, mas mais bem acabadas, com um remate de amor, que te leve a pensar mais n'Ele e menos em ti. (Sulco, 495)

Ao retomar as tuas ocupações normais, escapou-te uma espécie de grito de protesto: sempre a mesma coisa!

E eu disse-te: – Sim, sempre a mesma coisa. Mas essa actividade vulgar, igual à dos teus companheiros de profissão, há-de ser para ti uma oração contínua, com as mesmas palavras íntimas, mas cada dia com música diferente.

É missão muito nossa transformar a prosa desta vida em decassílabos, em poesia heróica. (Sulco, 500)

Coloca na tua mesa de trabalho, no teu quarto, na tua carteira... uma imagem de Nossa Senhora, e dirige-Lhe o olhar ao começar as tuas tarefas, enquanto as realizas, e ao terminá-las. Ela te alcançará – eu to garanto – a força necessária para fazeres da tua ocupação um diálogo amoroso com Deus. (Sulco, 531)


Ev. Coment. L. esp. (Amigos de Deus)

Advento III Semana

Evangelho: Mt 21 23-27

23 Tendo ido ao templo, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se d'Ele, quando estava a ensinar, e disseram-Lhe: «Com que autoridade fazes estas coisas? E quem Te deu tal direito?». 24 Jesus respondeu-lhes: «Também Eu vos farei uma pergunta; se Me responderdes, Eu vos direi com que direito faço estas coisas. 25 Donde era o baptismo de João? Do céu ou dos homens?». Mas eles reflectiam consigo: 26 «Se Lhe dissermos que é do céu, Ele dirá: “Então porque não crestes nele?”. Se Lhe dissermos que é dos homens, tememos o povo»; porque todos tinham João como um profeta. 27 Portanto, responderam a Jesus: «Não sabemos». Ele disse-lhes também: «Pois então nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas».

Comentário

Toda a pergunta merece resposta?
Evidentemente… sim!
Só que a resposta tem de estar de acordo com duas coisas principais:
A primeira é se a pergunta tem razão de ser, isto é, se justifica por não haver informação suficiente sobre o que se quer saber;
A segunda é se quem pergunta merece credibilidade na intenção com que pergunta.

(ama, comentário sobre Mt 21, 23-27, 2013.12.16)


Leitura espiritual



São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 73 a 83
  
73          
Conta S. Lucas, no capítulo sétimo: Um fariseu pediu-lhe que fosse comer com ele. E tendo entrado em casa do fariseu, pôs-se à mesa. Chega então uma mulher da cidade, conhecida publicamente como pecadora, e aproxima-se para lavar os pés de Jesus, que, segundo o uso da época, comia reclinado. As lágrimas são a água deste comovedor lavabo; e os cabelos, a toalha. Com bálsamo trazido num rico frasco de alabastro, unge os pés do Mestre e beija-os.

O fariseu pensa mal do que vê. Não lhe cabe na cabeça que Jesus seja capaz de albergar tanta misericórdia no seu coração. Se este fosse profeta - vai congeminando - com certeza saberia quem e de que espécie é esta mulher que o toca. Jesus lê os seus pensamentos e observa-lhe: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; e esta com as suas lágrimas banhou os meus pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o ósculo. Porém, esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não ungiste a minha cabeça com bálsamo, ao passo que esta derramou perfumes sobre os meus pés. Por isso te digo: são-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou .

Não podemos agora considerar as maravilhas divinas do Coração misericordioso de Nosso Senhor. Vamos concentrar a nossa atenção noutro aspecto da cena, que é o facto de Jesus sentir a falta de todos esses pormenores de cortesia e de delicadeza humanas, que o fariseu não soube manifestar-Lhe. Cristo é perfectus Deus, perfectus homo , Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e homem perfeito. Traz a salvação e não a destruição da natureza; com Ele aprendemos que não é cristão comportar-se mal com o homem, criatura de Deus, feito à Sua imagem e semelhança.

74          
Virtudes humanas

Certa mentalidade laicista e outras maneiras de pensar a que poderíamos chamar pietistas coincidem em não considerar o cristão como homem íntegro e pleno. Para os primeiros, as exigências do Evangelho sufocariam as qualidades humanas; para os outros, a natureza caída poria em perigo a pureza da fé. O resultado é o mesmo: desconhecer a profundidade da Encarnação de Cristo, ignorar que o Verbo se fez carne, homem, e habitou entre nós.

A minha experiência de homem, de cristão e de sacerdote ensina-me precisamente o contrário: não existe coração, por mais empedernido no pecado, que não esconda, como rescaldo no meio da cinza, um lume de nobreza. Sempre que bati à porta desses corações, a sós e com a palavra de Cristo, sempre corresponderam. Neste mundo, muitos não privam com Deus; são criaturas que talvez não tenham tido ocasião de ouvir a palavra divina ou que a esqueceram. Mas as suas disposições são humanamente sinceras, leais, compassivas, honradas. Atrevo a afirmar que quem reúne essas condições está a ponto de ser generoso com Deus, porque as virtudes humanas constituem o fundamento das sobrenaturais.

75          
É certo que não é suficiente essa capacidade pessoal: ninguém se salva sem a graça de Cristo. Mas se o indivíduo conserva e cultiva um espírito de rectidão, Deus aplanar-lhe-á o caminho e poderá ser santo, porque soube viver como homem de bem.

Talvez tenhais observado outros casos, de certo modo contrapostos: tantos e tantos que se dizem cristãos - porque foram baptizados e recebem outros Sacramentos -, mas que se mostram desleais, mentirosos, insinceros, orgulhosos... E caem de repente. Parecem estrelas que brilham durante alguns momentos no céu e, de súbito, despenham-se irremediavelmente.

Se aceitarmos a nossa responsabilidade de filhos de Deus, saberemos que Ele quer que sejamos muito humanos. A cabeça pode tocar o céu, mas os pés assentam na terra, com segurança. O preço de se viver cristãmente não é nem deixar de ser homem nem abdicar do esforço por adquirir essas virtudes que alguns têm, mesmo sem conhecerem Cristo. O preço de todo o cristão é o Sangue redentor de Nosso Senhor, que nos quer - insisto - muito humanos e muito divinos, com o empenho diário de O imitar, pois é perfectus Deus, perfectus homo.

76          
Talvez não seja capaz de dizer qual é a principal virtude humana. Depende muito do ponto de vista de que se parta. Além disso, a questão torna-se ociosa, porque não se trata de praticar uma ou várias virtudes. É preciso lutar por adquiri-las e praticá-las todas. Cada uma de per si entrelaça-se com as outras e, assim, o esforço por sermos sinceros, por exemplo, torna-nos justos, alegres, prudentes, serenos.

Nem sequer me conseguem convencer essas formas de pensar que distinguem as virtudes pessoais das virtudes sociais. Não há virtude alguma que fomente o egoísmo; cada uma redunda necessariamente no bem da nossa alma e das almas dos que nos rodeiam. Porque todos somos homens e todos filhos de Deus, não podemos conceber a nossa vida como a trabalhosa preparação de um brilhante curriculum, de uma vistosa carreira. Todos temos de sentir-nos solidários e, na ordem da graça, estamos unidos pelos laços sobrenaturais da Comunhão dos Santos.

Precisamos, ao mesmo tempo, de considerar que a decisão e a responsabilidade residem na liberdade pessoal de cada um e, por isso, as virtudes são também radicalmente pessoais, da pessoa. No entanto, nessa batalha de amor ninguém luta sozinho - ninguém é um verso solto, costumo repetir -: de certo modo, ou nos ajudamos ou nos prejudicamos. Todos somos elos de uma mesma cadeia. Pede agora comigo a Deus Nosso Senhor, que essa cadeia, nos prenda ao seu Coração, até chegar o dia de O contemplar face a face, no Céu, para sempre.

77          
Fortaleza, Serenidade, Paciência, Magnanimidade

Vamos considerar algumas destas virtudes humanas. Enquanto eu falar, cada um pela sua parte, dialogue com Nosso Senhor: peça-lhe que nos ajude a todos, que nos estimule a aprofundar hoje no mistério da sua Encarnação, para que também nós, na nossa carne, saibamos ser entre os homens testemunhos vivos de Quem veio para nos salvar.

O caminho do cristão, o de qualquer homem, não é fácil. Certo é que em determinadas épocas parece que tudo se cumpre segundo as nossas previsões; mas isto habitualmente dura pouco. Viver é defrontar dificuldades, sentir no coração alegrias e pesares; e é nesta forja que o homem pode adquirir a fortaleza, a paciência, a magnanimidade e a serenidade.

É forte quem persevera no cumprimento do que entende dever fazer, segundo a sua consciência; quem não mede o valor de uma tarefa exclusivamente pelos benefícios que recebe, mas pelo serviço que presta aos outros. O homem forte às vezes sofre, mas resiste; talvez chore, mas traga as lágrimas. Quando a contradição aumenta, não se curva. Recordemo-nos do exemplo que nos narra o livro dos Macabeus: daquele ancião, Eleazar, que prefere morrer a violar a lei de Deus. Morrendo valorosamente, mostrar-me-ei digno da minha velhice e deixarei aos jovens um exemplo de fortaleza, se sofrer com ânimo pronto e constante uma honrosa morte em defesa de leis tão veneráveis e tão santas .

78           
Quem sabe ser forte não se deixa invadir pela pressa de conquistar logo o fruto da sua virtude; é paciente. A fortaleza leva-nos realmente a saborear a virtude humana e divina da paciência. Mediante a vossa paciência, possuireis as vossas almas (Lc XXI, 19). A posse da alma exprime-se na paciência, que, na verdade, é raiz e custódia de todas as virtudes. Nós possuímos a alma com a paciência, porque, aprendendo a dominar-nos a nós mesmos, começamos a possuir aquilo que somos. E é esta paciência que nos leva também a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo.

79          
Fortes e pacientes: serenos. Mas não com a serenidade daquele que compra a tranquilidade pessoal à custa de se desinteressar dos seus irmãos ou da grande tarefa, que corresponde a todos, de difundir ilimitadamente o bem por todo o mundo. Serenos, porque há sempre perdão, porque tudo tem remédio, menos a morte, e, para os filhos de Deus, a morte é vida. Serenos, ainda que seja só para poder actuar com inteligência: quem conserva a calma está em condições de reflectir, de estudar os prós e os contras de cada problema, de examinar judiciosamente os resultados das acções previstas. E depois, sossegadamente, pode intervir com decisão.

80          
Estamos a enumerar com rapidez algumas virtudes humanas. Sei que, na vossa oração ao Senhor, aflorarão muitas outras. Eu gostaria de me demorar agora uns momentos numa qualidade maravilhosa: a magnanimidade.

Magnanimidade: ânimo grande, alma grande onde cabem muitos. É a força que nos dispõe a sairmos de nós próprios, a fim de nos prepararmos para empreender obras valiosas, em benefício de todos. No homem magnânimo não tem lugar a mesquinhez; não entra a medida estreita, o cálculo egoísta ou a deslealdade interesseira. O magnânimo dedica sem reservas as suas forças ao que vale a pena; por isso é capaz de se entregar a si próprio. Não se conforma apenas com dar: dá-se. E então consegue compreender a maior prova de magnanimidade: dar-se a Deus.

81          
Laboriosidade, diligência

Há duas virtudes humanas - a laboriosidade e a diligência - que se confundem numa só: no empenho em tirar partido dos talentos que cada um de nós recebeu de Deus. São virtudes, porque induzem a acabar bem as coisas. O trabalho - prego isto desde 1928 - não é uma maldição, nem um castigo do pecado. O Génesis fala dessa realidade antes de Adão se ter revoltado contra Deus. Nos planos de Nosso Senhor, o homem teria sempre de trabalhar, cooperando assim na imensa tarefa da criação.

Quem é laborioso aproveita o tempo, que não é apenas ouro, é glória de Deus! Faz o que deve e está no que faz, não por rotina nem para ocupar as horas, mas como fruto de uma reflexão atenta e ponderada. Por isso é diligente. O uso normal desta palavra - diligente - evoca-nos a sua origem latina. Diligente vem do verbo diligo, que significa amar, apreciar, escolher algo depois de uma atenção esmerada e cuidadosa. Não é diligente quem se precipita, mas quem trabalha com amor, primorosamente.

Nosso Senhor, perfeito homem, escolheu um trabalho manual que realizou delicada e amorosamente durante quase todo o tempo que permaneceu na terra. Exercitou a sua ocupação de artesão entre os outros habitantes da sua aldeia, e aquele trabalho humano e divino demonstrou-nos claramente que a actividade habitual não é um pormenor de pouca importância, mas é o fulcro da nossa santificação, oportunidade contínua de nos encontrarmos com Deus e de louvá-lo e glorificá-lo com o trabalho da nossa inteligência ou das nossas mãos.

82          
Veracidade e justiça

As virtudes humanas exigem de nós um esforço contínuo, porque não é fácil manter durante muito tempo uma têmpera de honradez perante as situações que parecem comprometer a nossa segurança. Reparemos na limpidez da veracidade: mas será certo que caiu em desuso? Terá triunfado definitivamente a conduta de compromisso, o dourar a pílula e o pintar a fachada? Teme-se a verdade. Por isso se lança mão de um expediente mesquinho: afirmar que ninguém vive nem diz a verdade e que todos recorrem à simulação e à mentira.

Felizmente não é assim. Existem muitas pessoas - cristãos e não cristãos - decididas a sacrificar a sua honra e a sua fama pela verdade, que não andam a saltitar constantemente de um lado para o outro para procurar o sol que mais aquece. São os mesmos que, por amor à sinceridade, sabem rectificar quando descobrem que se enganaram. Só não rectifica quem começa por mentir, quem reduz a verdade a uma palavra sonora para encobrir as suas claudicações.

83          
Se formos verazes, seremos justos. Nunca me cansaria de falar da justiça, mas aqui só podemos apontar alguns aspectos, sem perder de vista qual é a finalidade de todas estas reflexões: edificar uma vida interior real e autêntica sobre os alicerces profundos das virtudes humanas. Justiça é dar a cada um o que é seu. Mas acrescentaria que isso não basta. Por muito que cada um mereça, é preciso dar-lhe mais, porque cada alma é uma obra-prima de Deus.

A melhor caridade consiste em exceder-se generosamente na justiça. Esta caridade costuma passar despercebida, mas a sua fecundidade estende-se ao Céu e à terra. É um erro pensar que as expressões meio termo ou justo meio, na medida em que são característica das virtudes morais, significam mediocridade: algo como a metade do que é possível realizar. Esse meio entre o excesso e o defeito é um cume, um ponto álgido: o melhor que a prudência indica. Além disso, em relação às virtudes teologais não se admitem equilíbrios: não se pode crer, esperar ou amar de mais. E esse amor sem limites a Deus reverte a favor dos que nos rodeiam, em abundância de generosidade, de compreensão, de caridade.

(cont)






Temas para meditar - 305


Marxismo

marxista deve ser materialista, isto é, inimigo da religião, mas materialista dialéctico, isto é, que põe a causa da luta de classes contra a religião não em plano abstracto, não em plano puramente teórico (…), mas em concreto, no plano da luta de classes, que conduz de facto e educa as massas mais e melhor que qualquer outra coisa.


(v. i. lenine, O partido operário contra a religião, Opere Complete, 15.03.1908-Ag. 1909, Editori Réuniti, 1967, nr. 386)

Tratado do verbo encarnado 60

Questão 8: Da graça de Cristo, enquanto Ele é a cabeça da Igreja

Em seguida devemos tratar da graça de Cristo enquanto cabeça da Igreja. 

E nesta questão discutem-se oito artigos:

Art. 1 — Se a Cristo, enquanto homem, compete ser a cabeça da Igreja.
Art. 2 — Se Cristo é a cabeça dos homens quanto aos corpos.
Art. 3 — Se Cristo é a cabeça de todos os homens.
Art. 4 — Se Cristo, enquanto homem, é a cabeça dos anjos.
Art. 5 — Se a graça pela qual Cristo é a cabeça da Igreja é idêntica à que tinha como um homem particular.
Art. 6 — Se ser cabeça da Igreja é próprio de Cristo.
Art. 7 — Se o diabo é a cabeça dos maus.
Art. 8 — Se o Anticristo é a cabeça dos maus.

Art. 1 — Se a Cristo, enquanto homem, compete ser a cabeça da Igreja.

O primeiro discute-se assim. — Parece que Cristo, enquanto homem, não lhe compete ser a cabeça da Igreja.

1. — Pois, a cabeça influi o sentimento e o movimento nos membros. Ora, o sentimento e o movimento espirituais, oriundos, da graça Cristo homem não os influi em nós. Pois, como diz Agostinho, não Cristo enquanto homem, mas só enquanto Deus, é quem dá o Espírito Santo. Logo, não lhe compete, enquanto homem, ser a cabeça da Igreja.

2. Demais. — Uma cabeça não pode pertencer a outra. Ora, de Cristo, enquanto homem, a cabeça é Deus, conforme o Apóstolo: Deus é a cabeça de Cristo. Logo, Cristo em si mesmo não é cabeça.

3. Demais. — A cabeça, no homem, é um membro particular, e recebendo a sua influência do coração. Ora, Cristo é o princípio universal de toda a Igreja. Logo, não é cabeça da Igreja.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Constituiu-o a ele próprio, cabeça de toda a Igreja.

Assim como toda a Igreja é considerada um corpo místico, por semelhança com o corpo natural do homem, o qual tem actos diferentes distribuídos por membros diversos, consoante o ensina o Apóstolo, assim também Cristo é chamado cabeça da Igreja por semelhança com a cabeça do homem. No que podemos considerar três coisas: a ordem, a perfeição e a virtude. A ordem, por ser a cabeça a primeira parte do corpo humano, principiando de cima. Donde vem o costume de chamar cabeça a todo princípio, segundo a Escritura: Puseste na cabeça de todas as ruas o sinal público da tua prostituição. — A perfeição, porque a cabeça dá o vigor a todos os sentidos interiores e exteriores, ao passo que os outros membros só têm o tacto. Donde o dizer a Escritura: O ancião e o homem respeitável, esse é a cabeça. — A virtude, enfim, porque a virtude e o movimento dos outros membros, e a governação dos seus actos vêm da cabeça, por causa da virtude sensitiva e motiva aí dominante. Por isso, o dirigente se chama cabeça do povo, segundo a Escritura: Porventura, quando tu eras pequeno aos teus olhos, não foste feito cabeça de todas as tribos de Israel? Ora, essas três coisas cabem a espiritualmente Cristo. — Assim, primeiro, pela sua proximidade com Deus, a sua graça é a mais alta e a primeira, embora não no tempo, porque todos os outros receberam a graça em dependência da graça dele, conforme as palavras do Apóstolo: Os que ele conheceu na sua presciência também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogénito entre muitos irmãos. — Segundo, ele tem a perfeição, quanto à plenitude de todas as graças, conforme o Evangelho: E nós o vimos cheio de graça e de verdade, como se demonstrou. — Terceiro, tem a virtude de influir a graça em todos os membros da Igreja, conforme ainda o Evangelho: E todos nós participamos da sua plenitude. — Donde é claro que Cristo é convenientemente chamado cabeça da Igreja.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Dar a graça ou o Espírito Santo convém a Cristo, enquanto Deus, autoritariamente, mas instrumentalmente convém-lhe enquanto homem, isto é, enquanto a sua humanidade foi instrumento da sua divindade. E assim, os seus actos, em virtude da divindade, foram salutíferos para nós, como causadores em nós da graça, tanto por meio do mérito como de uma certa eficácia. Ora, Agostinho nega que Cristo, enquanto homem, dê o Espírito Santo por autoridade. Mas, instrumental ou ministerialmente também se diz que os outros santos dão o Espírito Santo, segundo o Apóstolo: Aquele que vos dá o Espírito Santo, etc.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Nas locuções metafóricas a semelhança não deve ser buscada na sua totalidade, pois, do contrário, já não seria semelhança, mas a própria realidade. Ora, a cabeça natural não tem outra cabeça, por não ser o corpo humano, parte de outro corpo. Mas o corpo, assim chamado por semelhança, isto é, uma multidão ordenada, é parte de outra multidão, assim como a multidão doméstica é parte da multidão civil, por onde, o pai de família, cabeça da multidão doméstica, tem como cabeça superior o regente da cidade. E, deste modo, nada impede que Deus seja a cabeça de Cristo, embora este seja a cabeça da Igreja.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A cabeça tem uma eminência manifesta em relação aos outros membros do corpo, ao passo que o coração tem uma certa influência oculta. E por isso é comparado ao Espírito Santo, que invisivelmente vivifica e une a Igreja, enquanto Cristo é comparado à cabeça, segundo a natureza visível, que o coloca, como homem, acima dos outros homens.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Bento VXI – Pensamentos espirituais 29


A crise da modernidade

Dantes pensava-se e acreditava-se que, se puséssemos Deus num cantinho e agíssemos autonomamente, nos tornaríamos verdadeiramente livres e poderíamos fazer o que quiséssemos sem que ninguém nos pudesse dar ordens. Mas, quando Deus desaparece, o Homem não ganha grandeza; antes perde a dignidade divina, perde o esplendor de Deus no seu rosto. No final, torna-se apenas o produto de uma evolução cega e, como tal, pode ser usado e abusado. É precisamente isto que a experiência desta nossa época confirma. Só quando Deus é grande o Homem pode ser também grande.

Homilia da Missa por ocasião da solenidade da Assunção de Nossa Senhora, (15.Ago.05)

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)


Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?