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28/11/2014

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (6)

Joaquim, «desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa».

Mas, Senhor, desço de onde?

Da árvore a que subiste!

Mas eu estou com os pés na terra, não estou em cima de nenhuma árvore!

Tens a certeza? Tenho que te explicar tudo? Não queres pensar um pouco?

Bem, Senhor, eu acho que já não preciso subir à árvore para Te ver. Já Te vejo bem na minha vida.

Pois Eu digo-te que estás em cima de uma árvore e assim não Me podes ver, como Eu gostaria que me visses.

Bem, Senhor, pões-me a pensar de que cimo de árvore Te verei eu.

Então pensa bem, (com a ajuda do Espírito Santo que te dou), e depois «desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.»

É verdade, Senhor, afinal estou em cima de uma árvore e não Te consigo ver bem! Está a imagem um pouco desfocada, não consigo alcançar todo o teu amor, toda a tua vontade.

Então e porquê, Joaquim?

Oh, Senhor, porque estes ramos me tapam a vista, aliás, percebo agora que esta ramagem me prende e não me deixa descer ao teu encontro.

Olha bem para esses ramos, analisa-os, e depois perceberás o que precisas fazer para deles te libertares.

Reconheço agora, Senhor, um ramo de orgulho, ali ao lado um outro ramo de vaidade, ainda outro de autoconvencimento, mais um de ânsia de protagonismo, ai, Senhor, e um ramo de crítica e maldizer que me agarra com tanta força que não me deixa mover.

Percebes agora em que árvore te encontras, que não te deixa ver-me como Eu quero que me vejas, e não te deixa descer ao meu encontro?

Percebo, Senhor, percebo! E agora, como faço para me libertar desta árvore em que me encontro?

Dar-te-ei o que precisas: Toma o meu amor, para que ames sem orgulho, toma a minha simplicidade, para que te sintas igual aos outros, toma o meu discernimento, para que saibas que tudo o que tens te vem de mim, toma a bacia em que lavei os pés dos meus Apóstolos, e serve-te dela para servires os outros, toma a minha humildade, para que vejas em ti primeiro todos os defeitos e ao rezares por eles, rezes também pelos dos outros.

Oh, Senhor, começam a desprender-se os ramos deixando-me descer da árvore para ir ao teu encontro! Mas alguns ainda vêm muito agarrados a mim.

Não te preocupes! «Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa», e se nela me deixares fazer morada, todos esses ramos serão queimados no fogo que arde sem consumir.

Obrigado, Senhor, obrigado. Que a minha vida seja a tua morada para sempre.


Marinha Grande, 18 de Novembro de 2014
Joaquim Mexia Alves
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Tratado do verbo encarnado 43

Questão 7: Da graça de Cristo como um homem particular

Art. 2 — Se em Cristo havia virtudes.

O segundo discute-se assim. — Parece que em Cristo não havia virtudes.

1 — Pois, Cristo tinha a abundância da graça. Ora, a graça basta para agirmos sempre rectamente, segundo o Apóstolo: Basta-te a minha graça. Logo, em Cristo não havia virtudes.

2. Demais. — Segundo o Filósofo, a virtude divide-se, por oposição, de um certo hábito heroico ou divino, atribuído aos homens divinos. Ora, isso convém sobremaneira a Cristo. Logo, Cristo não tinha virtudes, mas algo mais elevado que a virtude.

Demais. — Como na Segunda Parte se demonstrou, todas as virtudes são possuídas simultaneamente. Ora, a Cristo não convinha ter simultaneamente todas as virtudes, como é o caso da liberalidade e da magnificência, cujos actos recaem sobre as riquezas, que Cristo desprezava, segundo o Evangelho: O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. E também a temperança e a continência, que reprimem as concupiscências depravadas, que em Cristo não existiam. Logo, Cristo não tinha as virtudes.

Mas, em contrário, e segundo a Escritura - A sua vontade está posta na lei do Senhor - diz a Glosa: Isto mostra que Cristo era rico de todos os bens. Ora, a virtude é uma boa qualidade da alma. Logo, Cristo teve a plenitude de todas as virtudes.

Como estabelecemos na Segunda Parte, assim como a graça respeita à essência da alma, assim a virtude lhe respeita a potência. Donde e necessariamente, assim: como a potências da alma lhe derivam da essência assim as virtudes são umas derivações da graça. Ora, quanto mais perfeito é um princípio tanto mais imprime os seus efeitos. Donde, tendo sido perfeitíssima a graça de Cristo, consequentemente dela procederam virtudes para aperfeiçoarem cada uma das potências da sua alma, quanto a todos os actos desta. É portanto Cristo teve todas as virtudes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A graça basta ao homem em relação a todas aquelas coisas pelas quais se ordena à beatitude. Mas algumas delas a graça aperfeiçoa-as imediatamente por si mesma como o torná-lo agradável a Deus e outras semelhantes, e certas outras mediante as virtudes procedentes da graça.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Esse hábito heroico ou divino não difere da virtude em geral, senão pelo seu modo mais perfeito, isto é, quando alguém tem uma disposição para o bem, de um certo modo mais alto, que geralmente os homens têm. Donde, isso não demonstra que Cristo não tivesse as virtudes, mas que as tinha perfeitíssima e superiormente ao modo comum. Assim também Plotino admite um certo e sublime modo das virtudes, que dizia serem as da alma purificada.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A liberdade e a magnificência exercem-se sobre as riquezas, porque quem é dotado dessas virtudes não aprecia as riquezas a ponto de querer conservá-las omitindo o que com elas devia fazer. Mas de nenhum modo aprecia as riquezas quem as despreza de todo e as rejeita, pela perfeição do amor. Donde, por isso mesmo que Cristo desprezou todas as riquezas mostrou possuir em sumo grau a liberalidade e a magnificência. Embora também exercesse actos de liberalidade, enquanto isso lhe era congruente, fazendo distribuir aos pobres os donativos que recebia. E assim, quando o Senhor disse a Judas — O que fazes, faze-lo depressa — entenderam os discípulos que lhe mandou dar alguma coisa aos pobres. Quanto às baixas concupiscências, Cristo de nenhum modo as teve, como a seguir demonstraremos. Mas isso não o impedia o exercício da temperança, tanto mais perfeita no homem quanto mais ele carece dessas concupiscências depravadas. Por isso diz o Filósofo, que o temperado difere do continente, por não existirem naquele as concupiscências depravadas, cujo jugo este sofre. E portanto, entendendo assim a continência, como a entende o Filósofo, por isso mesmo que Cristo teve todas as virtudes não teve a continência que não é uma virtude mas algo menos que uma virtude.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Para nós, a morte é Vida

Continua para a frente, com alegria, com esforço, mesmo sendo tão pouca coisa, nada! Com Ele, ninguém te parará no mundo. Pensa, além disso, que tudo é bom para os que amam a Deus: nesta terra, tudo tem solução menos a morte; e, para nós, a morte é Vida. (Forja, 1001)

Se és apóstolo, a morte será para ti uma boa amiga que te facilita o caminho. (Caminho, 735)

Aos "outros", a morte paralisa-os e espanta-os. – A nós, a morte – a Vida – dá-nos ânimo e impulso.

Para eles, é o fim; para nós, o princípio. (Caminho, 738)

Não tenhas medo da morte. – Aceita-a, desde agora, generosamente..., quando Deus quiser..., como Deus quiser..., onde Deus quiser. – Não duvides; virá no tempo, no lugar e do modo que mais convier..., enviada pelo teu Pai-Deus. – Bem-vinda seja a nossa irmã, a morte! (Caminho, 739)


Se não houvesse outra vida além desta, a vida seria uma brincadeira cruel: hipocrisia, maldade, egoísmo, traição. (Forja, 1000)

Ev. coment. L. esp. (Cristo que passa)

Tempo comum XXXIV Semana

Evangelho: Lc 21 29-33

29 Acrescentou esta comparação: «Vede a figueira e todas as árvores. 30 Quando começam a desabrochar, conheceis que está perto o Verão. 31 Assim, também, quando virdes que acontecem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus. 32 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas se cumpram. 33 Passará o céu e a terra, mas as Minhas palavras não hão-de passar.

Comentário

Esta é uma certeza que temos… todos, cristãos e não cristãos: as palavras de Cristo não hão-de passar e tudo se cumprirá conforme determinou.
O que podemos fazer?
Lógicamente… considerar com atenção e detalhe essas mesmas palavras – são palavras de Vida Eterna – que nos indicam como proceder para aceder-mos ao Seu Reino Eterno.

(ama, Cascais, comentário sobre Lc 21, 29-33, 2013.11.29)

Leitura espiritual

São Josemaria Escrivá

Cristo que passa

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Dar a conhecer a Cristo

Todos os acontecimentos da VIDA - os de cada existência individual e, de algum modo, os das grandes encruzilhadas da História - vejo-os como outros tantos chamamentos que Deus faz aos homens para olharem de frente a verdade e como ocasiões oferecidas a nós, cristãos, para anunciarmos com as nossas obras e as nossas palavras, auxiliados pela graça, o Espírito a que pertencemos.

Cada geração de cristãos deve redimir e santificar o seu tempo: para tanto, precisa de compreender e de compartilhar os anseios dos homens, seus iguais, a fim de lhes dar a conhecer, com dom de línguas, como corresponder à acção do Espírito Santo, à efusão permanente das riquezas do Coração divino. A nós, cristãos, compete anunciar nestes dias, ao mundo a que pertencemos e em que vivemos, a antiga e sempre nova mensagem do Evangelho.

Não é verdade que toda a gente de hoje - assim, em geral ou em bloco - esteja fechada ou permaneça indiferente ao que a fé cristã ensina sobre o destino e o ser do Homem. Não é certo que os homens do nosso tempo se ocupem só das coisas da Terra e se desinteressem de olhar para o Céu. Embora não faltem ideologias - e pessoas para as sustentarem - que estão fechadas, na nossa época não há apenas atitudes rasteiras, mas também altos ideais; não há apenas cobardia, mas heroísmo, e ao lado das desilusões permanecem grandes aspirações. Há pessoas que sonham com um mundo novo, mais justo e mais humano, enquanto outras, talvez decepcionadas diante do fracasso dos seus primeiros ideais, se refugiam no egoísmo de buscarem a sua própria tranquilidade ou de se deixarem ficar mergulhadas no erro.

A todos os homens e todas as mulheres, estejam onde estiverem, em momentos de exaltação ou de crise ou de derrota, devemos fazer chegar o anúncio solene e claro de S. Pedro, durante os dias que se seguiram ao Pentecostes: Jesus é a pedra angular, o Redentor, tudo da nossa vida, pois fora d'Ele não foi dado outro nome, aos homens, debaixo do céu, pelo qual possamos ser salvos

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Entre os dons do Espírito Santo, eu diria que há um de que todos nós, cristãos, temos especial necessidade: o dom da Sabedoria, que, fazendo-nos conhecer a Deus e tomar-Lhe o sabor, nos coloca em condições de poder julgar com verdade as situações e as coisas da vida presente. Se fôssemos consequentes com a nossa fé, quando olhássemos à nossa volta e contemplássemos o espectáculo da História e do Mundo, não poderíamos deixar de sentir crescer nos nossos corações os mesmos sentimentos que animaram o de Jesus Cristo: ao ver aquelas multidões, compadeceu-se delas, porque estavam maltratadas e fatigadas e como ovelhas sem pastor.

Não é que o cristão não veja todo o bem que há na Humanidade, não aprecie as alegrias puras, não participe dos anseios e dos ideais terrenos. Pelo contrário, sente tudo isso desde o mais recôndito da alma e compartilha-o e vive-o com especial intensidade, pois conhece melhor do que ninguém os arcanos do espírito humano.

A fé cristã não nos torna pusilânimes nem cerceia os impulsos nobres da alma, pois é ela que os engrandece, ao revelar o seu verdadeiro e mais autêntico sentido: não estamos destinados a uma felicidade qualquer, porque fomos chamados à intimidade divina, a conhecer e amar Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo e, na Trindade e na Unidade de Deus, todos os anjos e todos os homens.

Essa é a grande ousadia da fé cristã: proclamar o valor e a dignidade da natureza humana e afirmar que, mediante a graça que nos eleva à ordem sobrenatural, fomos criados para alcançar a dignidade de filhos de Deus. Ousadia de certo incrível, se não se baseasse no desígnio salvador de Deus Pai e não houvesse sido confirmada pelo Sangue de Cristo e reafirmada e tornada possível pela acção constante do Espírito Santo.

Temos de viver de Fé, crescer na Fé, até poder dizer de cada um de nós, de cada cristão, o que há muitos séculos escreveu um dos grandes Doutores da Igreja Oriental: Da mesma maneira que os corpos transparentes e límpidos, quando recebem os raios luminosos, se tornam resplandecentes e irradiam brilho, assim as almas que são conduzidas e iluminadas pelo Espírito Santo se tornam também espirituais e levam às outras a luz da graça. Do Espírito Santo procede o conhecimento das coisas futuras, a inteligência dos mistérios, a compreensão das verdades ocultas, a distribuição dos dons, a cidadania celeste, a conversação com os Anjos. D'Ele, a alegria que nunca termina, a perseverança em Deus, a semelhança com Deus e - a coisa mais sublime que pode ser pensada - a transformação em Deus

A consciência da grandeza da dignidade humana - de um modo eminente e inefável, pois fomos, pela acção da graça, constituídos filhos de Deus - é no cristão uma só coisa com a humildade, visto que não são as nossas forças que nos salvam e nos dão a vida, mas o favor divino. É uma verdade que não se pode esquecer, porque senão pervertia-se o nosso endeusamento, convertendo-se em presunção, em soberba e, mais cedo ou mais tarde, em ruína espiritual perante a experiência da nossa fraqueza e miséria.

Atrever-me-ei a dizer que sou santo? - perguntava a si mesmo Santo Agostinho - Se dissesse santo como santificador e não necessitado de ninguém que me santificasse, seria soberbo e mentiroso. Mas, se entendo por santo o santificado, segundo aquilo que se lê no Levítico: sede santos, porque Eu, Deus, sou santo, então também o corpo de Cristo, até ao último homem situado nos confins da Terra, poderá dizer ousadamente, unido à sua Cabeça e a ela subordinado: sou santo

Amemos a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade; escutemos na intimidade do nosso ser as moções divinas - alentos, censuras - ; caminhemos sobre a Terra dentro da luz derramada na nossa alma; e o Deus da esperança nos encherá de todas as formas de paz, para que essa esperança vá crescendo em nós cada vez mais, pela virtude do Espírito Santo.

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Amizade com o Espírito Santo

Viver segundo o Espírito Santo é viver de Fé, de Esperança, de Caridade; é deixar que Deus tome posse de nós e mude os nossos corações desde a raiz, para os fazer à sua medida. Uma vida cristã madura, profunda e firme não é coisa que se improvise, porque é fruto do crescimento em nós da graça de Deus. Nos Actos dos Apóstolos, descreve-se a situação da primitiva comunidade cristã numa frase breve, mas cheia de sentido: perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos e na comum fracção do pão e nas orações.

Assim viveram os primeiros cristãos e assim devemos viver nós: a meditação da doutrina da Fé, de modo assimilá-la, o encontro com Cristo na Eucaristia, o diálogo pessoal - a oração sem anonimato - face a face com Deus, hão-de constituir como que a substância última da nossa vida. Se isso faltar, talvez haja reflexão erudita, actividade mais ou menos intensa, devoções e práticas piedosas. Não haverá, porém, existência cristã autêntica, porque faltará a compenetração com Cristo, a participação real e vivida na obra divina da salvação.

A qualquer cristão se aplica esta doutrina, porque todos estamos igualmente chamados à santidade. Não há cristãos de segunda classe, obrigados a pôr em prática apenas uma versão reduzida do Evangelho: todos recebemos o mesmo baptismo e, embora exista uma ampla diversidade de carismas e de situações humanas, um mesmo é o Espírito que distribui os dons divinos, uma mesma a Fé, uma só a Esperança, uma só a Caridade.

Podemos, pois, ter por dirigida a nós mesmos a pergunta do Apóstolo: não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? e recebê-la como um convite a um trato mais pessoal e directo com Deus. Infelizmente, o Paráclito é para alguns cristãos o Grande Desconhecido, um nome que se pronuncia, mas que não é Alguém - uma das Três Pessoas do Único Deus - com Quem se fala e de Quem se vive.

Ora é indispensável ter com Ele familiaridade e confiança, cheia de simplicidade como nos ensina a Igreja através da Liturgia. Assim conheceremos melhor Nosso Senhor e ao mesmo tempo compreenderemos melhor o imenso dom que significa ser cristão; veremos como é grande e verdadeiro o "endeusamento", a participação na vida divina a que atrás me referi.

Porque o Espírito Santo não é um artista que desenha em nós a divina substância, como se lhe fosse alheio; não é assim que nos conduz à semelhança divina: é Ele mesmo, que é Deus e de Deus procede, que Se imprime nos corações que O recebem, à maneira de selo sobre a cera, e é assim, por comunicação de si mesmo e pela semelhança, que restabelece a natureza segundo a beleza do modelo divino e restitui ao homem a imagem de Deus.

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Para pôr em prática, ainda que seja de um modo muito genérico, um estilo de vida que nos anime a conviver com o Espírito Santo - e, ao mesmo tempo com o Pai e o Filho - numa verdadeira intimidade com o Paráclito, devemos firmar-nos em três realidades fundamentais: docilidade - digo-o mais uma vez - vida de oração, união com a Cruz.

Em primeiro lugar, docilidade - porque é o Espírito Santo que, com as suas inspirações, vai dando tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e obras. É Ele que nos impele a aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la em profundidade; que nos dá luz para tomar consciência da nossa vocação pessoal e força para realizar tudo o que Deus espera de nós. Se formos dóceis ao Espírito Santo, a imagem de Cristo ir-se-á formando, cada vez mais nítida, em nós e assim nos iremos aproximando cada vez mais de Deus Pai. Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.

Se nos deixarmos guiar por esse princípio de vida, presente em nós, que é o Espírito Santo, a nossa vitalidade espiritual irá crescendo e abandonar-nos-emos nas mãos do nosso Pai Deus, com a mesma espontaneidade e confiança com que um menino se lança nos braços do pai. Se não vos tornardes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus, disse o Senhor. É este o antigo e sempre actual caminho da infância espiritual, que não é sentimentalismo nem falta de maturidade humana, mas sim maioridade sobrenatural, que nos leva a aprofundar as maravilhas do amor divino, reconhecer a nossa pequenez e a identificar plenamente a nossa vontade com a de Deus.

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Em segundo lugar, vida de oração, porque a entrega, a obediência, a mansidão do cristão nascem do amor e para o amor caminham. E o amor conduz ao convívio, à conversação, à intimidade. A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz. Quem conhece as coisas que são do homem, senão o espírito do homem, que está nele? Assim também as coisas que são de Deus, ninguém as conhece senão o Espírito de Deus. Se tivermos assídua relação com o Espírito Santo, também nós nos faremos espirituais, nos sentiremos irmãos de Cristo e filhos de Deus, a Quem não teremos dúvida de invocar como Pai nosso que é.

Acostumemo-nos a conviver com o Espírito Santo, que é quem nos há-de santificar; a confiar n'Ele, a pedir a sua ajuda, a senti-Lo ao pé de nós. Assim se irá tornando maior o nosso pobre coração, e teremos mais desejos de amar a Deus e, por Ele, a todas as criaturas. E nas nossas vidas reproduzir-se-á a visão com que termina o Apocalipse: o Espírito e a Esposa, o Espírito Santo e a Igreja - e cada um dos cristãos - dirigem-se a Jesus Cristo, pedindo-lhe que venha, que esteja connosco para sempre.

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Por último, união com a Cruz. Porque, na vida de Cristo, o Calvário precedeu a Ressurreição e o Pentecostes, e esse mesmo processo deve reproduzir-se na vida de cada cristão: somos - diz-nos S. Paulo - co-herdeiros de Cristo; mas isto, se sofrermos com Ele, para sermos com Ele glorificados. O Espírito Santo é o fruto da Cruz, da entrega total a Deus, de buscarmos exclusivamente a sua glória e de renunciarmos completamente a nós mesmos.

Só quando o homem, sendo fiel à graça, se decide a colocar no centro da sua alma a Cruz, negando-se a si mesmo por amor de Deus, estando realmente desapegado do egoísmo e de toda a falsa segurança humana, quer dizer, só quando vive verdadeiramente de Fé, é que recebe com plenitude o grande fogo, a grande luz, a grande consolação do Espírito Santo.

É então que vêm à alma essa paz e essa liberdade que Cristo ganhou para nós e que se nos comunicam com a graça do Espírito Santo. Os frutos do Espírito Santo são caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência, castidade; e onde está o Espírito do Senhor, aí há libeldade.

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No meio das limitações inseparáveis da nossa situação presente, porque o pecado ainda habita em nós de algum modo, o cristão vê com nova clareza toda a riqueza da sua filiação divina, quando se reconhece plenamente livre porque trabalha nas coisas do seu Pai, quando a sua alegria se torna constante por nada ser capaz de lhe destruir a esperança.

Pois é também nesse momento que é capaz de admirar todas as belezas e maravilhas da Terra, de apreciar toda a riqueza e toda a bondade, de amar com a inteireza e a pureza para que foi criado o coração humano.

Também é nessa altura que a dor perante o pecado não degenera num gesto amargo, desesperado ou altivo porque a compunção e o conhecimento da fraqueza humana conduzem-no a identificar-se outra vez com as ânsias redentoras de Cristo e a sentir mais profundamente a solidariedade com todos os homens. É então, finalmente, que o cristão experimenta em si com segurança a força do Espírito Santo, de tal maneira que as suas quedas pessoais não o abatem; são um convite a recomeçar e a continuar a ser testemunha fiel de Cristo em todas as encruzilhadas da Terra, apesar das misérias pessoais, que nestes casos costumam ser faltas leves, que apenas turvam a alma; e, ainda que fossem graves, acudindo ao Sacramento da Penitência com compunção, volta-se à paz de Deus e a ser de novo uma boa testemunha das suas misericórdias.

Tal é, em breve resumo que mal consegue traduzir em pobres palavras humanas a riqueza da fé, a VIDA do cristão, quando se deixa guiar pelo Espírito Santo. Não posso, portanto, terminar melhor do que fazendo minha a súplica que se contém num dos hinos litúrgicos da festa de Pentecostes, que é como um eco da oração incessante da Igreja inteira: Vem, Espírito Criador, visita as inteligências dos teus, enche de graça celeste os corações que criaste. Na tua escola, faz-nos conhecer o Pai e também o FILHO; faz, enfim, com que acreditemos eternamente em Ti, Espírito que procedes de Um e do Outro.

(cont)




Temas para meditar - 285


Vida interior




Quando é a visão sobrenatural que nos põe em contacto com Deus e com o mundo superior, então possuímos vida interior no sentido religioso do termo.



(federico suarezA Virgem Nossa Senhora, Éfeso, 4ª Ed. nr. 181/182)

Jesus Cristo e a Igreja 44

Quem foi São Paulo e como transmitiu os ensinamentos de Jesus?

Paulo é o nome grego de Saulo, homem de raça hebraica e de religião judia, oriundo de Tarso da Cilícia – cidade situada a sudeste da actual Turquia – que viveu no século I depois de Cristo. Paulo foi, portanto, contemporâneo de Jesus de Nazaré, ainda que presumivelmente não chegassem a encontrar-se em vida.
Saulo de Tarso foi educado no farisaísmo, uma das facções do judaísmo do século I. Como ele mesmo narra num dos seus escritos – a Carta aos Gálatas – o seu zelo pelo judaísmo levou-o a perseguir o grupo nascente de cristãos (Gl 1, 13-14), os quais considerava contrários à pureza da religião judaica. Até que numa ocasião, a caminho de Damasco, o próprio Jesus se lhe revelou e o chamou para O seguir, como antes tinha feito com os apóstolos. Saulo respondeu a
esta chamada, baptizando-se e dedicando a sua vida à difusão do Evangelho de Jesus Cristo (Act 26, 4-18).

A conversão de Paulo é um dos momentos chave da sua vida, porque é precisamente nesse momento que começa a entender como a Igreja é corpo de Cristo: perseguir um cristão é perseguir o próprio Jesus. Nessa mesma passagem, Jesus apresenta-se como “ Ressuscitado” – situação que espera todos os homens depois da morte se seguirem o exemplo do próprio Jesus – e como “ Senhor” , sublinhando o seu carácter divino, já que a palavra que se usa para denominar o “ Senhor”, Kyrie, aplica-se ao próprio Deus na Bíblia grega. Podemos por isso dizer, que Paulo recebeu do próprio Jesus o evangelho que ia
pregar, ainda que, depois, ajudado também pela graça e pela própria reflexão, tenha sabido extrair dessa primeira luz muitas das principais implicações do evangelho, tanto para uma maior compreensão do mistério divino, como para mostrar as suas consequências para a condição e o agir dos homens sem fé e com fé em Cristo.
Paulo, no momento da sua conversão, é apresentado com características de profeta a quem se atribui uma missão muito concreta. Como diz outro dos livros do Novo Testamento, os Actos dos Apóstolos, o Senhor disse a Ananias, que iria de baptizar Paulo: “Vai porque este é um instrumento escolhido por mim para levar o Meu nome aos gentios, aos reis e aos filhos de Israel. Mostrar-lhe-ei quanto deve sofrer pelo Meu nome” (Act 9, 15-16)
O Senhor disse também ao próprio Paulo: “(Eu sou Jesus a Quem tu persegues: mas levanta-te e põe-te de pé, porque Eu te apareci para te constituir servidor das coisas que viste e daquelas pelas quais Eu te aparecerei ainda, livrando-te deste povo e dos gentios, aos quais agora te envio a abrir-lhes os olhos, a fim de que se convertam das trevas à luz, do poder de Satanás a Deus, para que recebam o perdão dos pecados e a herança entre os santos, mediante a fé em Mim. Act 26, 15-18).
São Paulo levou a cabo a sua missão de anunciar o caminho da salvação realizando viagens apostólicas, fundando e fortalecendo comunidades cristãs nas diversas províncias do Império Romano por que passava: Galácia, Ásia, Macedónia, Acaia, etc. Os escritos do Novo Testamento apresentam-nos um Paulo escritor e pregador. Quando chegava a um lugar, Paulo acorria à sinagoga – lugar de reunião dos
judeus – para pregar o evangelho. Depois, procurava também os pagãos, isto é, aos não judeus.
Depois de sair de alguns lugares, quer por ter deixado a pregação incompleta, quer para responder às perguntas que lhe enviavam dessas comunidades, Paulo começou a escrever cartas, que rapidamente
seriam recebidas nas igrejas com uma particular reverência. Escreveu cartas a comunidades inteiras e a pessoas singulares. O Novo Testamento transmitiu-nos 14 que têm a sua origem na pregação de Paulo: uma Carta aos Romanos, duas Cartas aos Coríntios, uma Carta aos Gálatas, uma Carta aos Efésios, uma Carta aos Filipenses, uma Carta aos Colossenses, duas Cartas aos Tessalonicenses, duas Cartas a Timóteo, uma Carta a Tito, uma Carta a Filémon e uma Carta aos Hebreus. Ainda que não sejam de fácil datação, podemos dizer que a maioria destas cartas foi escrita durante a década que vai do ano 50 a 60.
O núcleo da mensagem pregada por Paulo é a figura de Cristo do ponto de vista daquilo que realizou para a salvação dos homens. A Redenção realizada por Cristo, cuja acção está intimamente relacionada com a do Pai e a do Espírito, marca um ponto de inflexão na situação do homem e na sua relação com o próprio Deus. Antes da Redenção, o homem caminhava no pecado, cada vez mais afastado de Deus.
Mas agora temos o Senhor, o Kyrios, que ressuscitou e venceu a morte e o pecado, e que constitui uma só coisa com os que creem e recebem o baptismo. Neste sentido, pode dizer-se que a chave para entender a teologia paulina é o conceito de conversão (Metanoia) como passagem da ignorância à fé, da Lei de Moisés à lei de Cristo, do pecado à graça.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.