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18/10/2014

Quantos comerciantes terão sido santos?

Está a ajudar-te muito, dizes-me, este pensamento: desde os primeiros cristãos, quantos comerciantes terão sido santos? E queres demonstrar que também agora isso é possível... O Senhor não te abandonará nesse empenho. (Sulco, 490)

O único objectivo do Opus Dei sempre foi este: contribuir para que, no meio do mundo, das realidades e afãs seculares, homens e mulheres de todas as raças e de todas as condições sociais procurem amar e servir a Deus e a todos os outros, no seu trabalho ordinário e através dele. (...).


Se alguma comparação se quer fazer, a maneira mais fácil de entender o Opus Dei é pensar na vida dos primeiros cristãos. Eles viviam profundamente a sua vocação cristã; procuravam muito a sério a perfeição a que eram chamados, pelo facto, ao mesmo tempo simples e sublime, do Baptismo. Não se distinguem exteriormente dos outros cidadãos. Os membros do Opus Dei são como toda a gente: realizam um trabalho corrente; vivem no meio do mundo conforme aquilo que são – cidadãos cristãos que querem responder inteiramente às exigências da sua fé. (Temas Actuais do Cristianismo, 10 e 24)

Oração



A nossa oração deve estar cheia de abandono em Deus e de um profundo sentido sobrenatural, pois trata-se de cumprir a obra de Deus e não a nossa: Trata-se de a cumprir segundo a Sua inspiração e não segundo os nossos próprios sentimentos.




(São JOÃO PAULO IIA Bispos franceses em visita ad limina, 1987.02.21)

Tratado do verbo encarnado 03

Art. 3 — Se, mesmo que o homem não tivesse pecado, Deus ter-se-ia encarnado.

O terceiro discute-se assim. — Parece que mesmo que o homem não tivesse pecado, Deus ter-se-ia encarnado.

1 — Pois, permanecendo a causa, permanece o efeito. Ora, como diz Agostinho, devemos levar em conta muitas outras causas, na Encarnação de Cristo, além do resgate do pecado, do qual já se tratou (a. 2). Logo, mesmo que o homem não tivesse pecado, Deus ter-se-ia encarnado.

2. Demais. — É próprio da onipotência do poder divino levar as suas obras à perfeição, e manifestar-se por algum efeito infinito. Ora, nenhuma simples criatura pode ser considerada um efeito infinito pois, toda criatura é finita por essência. Ora, só na obra da Encarnação, se manifesta por excelência um efeito infinito do poder divino, pois nela se acham unidos seres infinitamente distantes, por ter-se o homem feito Deus. Em cuja obra também em sumo grau se aperfeiçoou o universo, por ter-se a última criatura — o homem, unido ao primeiro principio — Deus. Logo, mesmo se o homem não tivesse pecado, Deus ter-se-ia encarnado.

3. Demais. — A natureza humana não se tornou, pelo pecado, mais capaz da graça. Ora, depois do pecado, é capaz da graça da união, que é a graça máxima. Logo, se o homem não tivesse pecado, a natureza humana teria sido capaz dessa graça, nem Deus subtrairia à natureza humana um bem de que ela era capaz. Logo, se o homem não tivesse pecado Deus ter-se-ia encarnado.

4. Demais. — A predestinação de Deus é eterna. Ora o Apóstolo diz, de Cristo (Rom 1, 4): Que foi predestinado Filho de Deus com poder. Logo, mesmo antes do pecado, foi necessário o Filho de Deus encarnar-se para cumprir-se a predestinação de Deus.

5. Demais. — O mistério da Encarnação foi o primeiro revelado ao homem, como se conclui da Escritura (Gn 2, 23): Eis aqui agora o osso de meus ossos, etc., o qual o Apóstolo diz que é um sacramento grande em Cristo e na Igreja (Ef 5, 22). Ora, pela mesma razão porque não o podia o anjo, também o homem não podia ter presciência da sua queda, como prova Agostinho. Logo, mesmo que o homem não tivesse pecado, Deus ter-se-ia encarnado.

Mas, em contrário, Agostinho diz expondo o Evangelho (Lc 19, 10) — O Filho do homem veio buscar e salvar o que tinha perecido: Logo, se o homem não tivesse pecado, o Filho do homem não teria vindo. E do Apóstolo (1Tm 1, 15) — Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, diz a Glosa: Nenhuma outra causa houve da vinda de Cristo a este mundo senão salvar os pecadores. Elimina as doenças, elimina as chagas: já não há nenhuma razão de remédio.

São diversas as opiniões sobre esta matéria — Uns dizem que, mesmo sem o pecado do homem, o Filho de Deus ter-se-ia encarnado. Outros afirmam o contrário. E a esta afirmação devemos dar assentimento. Pois, as obras puramente voluntárias de Deus, sem haver nenhum débito para com a criatura, nós não as podemos conhecer, senão enquanto manifestadas pela Sagrada Escritura, que nos torna conhecida a vontade divina. Ora, como a Sagrada Escritura, sempre dá como razão à Encarnação o pecado do primeiro homem, mais convenientemente se diz que a obra da Encarnação foi ordenada por Deus como remédio do pecado, de modo que, se o pecado não existisse, a Encarnação não teria lugar. Embora por aí não fique limitado o poder de Deus, pois, Deus teria podido encarnar-se mesmo sem ter existido o pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Todas as outras causas assinaladas respeitam o remédio do pecado. Pois, se o homem não tivesse pecado, teria infuso em si o lume da sabedoria divina e teria, de Deus, a perfeita rectidão da justiça, para conhecer e, praticar todo o necessário. Mas, tendo o homem, pelo abandono de Deus, caído ao nível das coisas corpóreas, foi conveniente que Deus, tendo assumido a carne, também lhe desse o remédio da salvação por meio de coisas corpóreas. Por isso o Evangelho (Jo 1, 14) — O Verbo se fez carne — Diz Agostinho: A carne te cegou, a carne te cura, pois, Cristo veio para, com a carne, extirpar os vícios da carne.

RESPOSTA À SEGUNDA. — No modo mesmo da produção das coisas, do nada, se manifesta o infinito poder divino. E também à perfeição do universo basta que a criatura se ordene para Deus, de um modo natural, como para o fim. Mas, excede os limites da perfeição da natureza unir-se criatura pessoalmente a Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Podemos considerar na natureza humana uma dupla capacidade — Uma, conforme à ordem da potência natural. E esse Deus sempre a satisfaz, pois dá a cada coisa conforme à sua capacidade natural — Outra conforme à ordem do poder divino, a cujo nuto toda criatura obedece. E a esta pertence a capacidade em questão. Pois, Deus não satisfaz toda essa capacidade da natureza, do contrário não poderia fazer na criatura senão o que faz. O que é falso, como já demonstramos na Primeira Parte (q. 25, a. 5, q. 105, a. 6). Pois nada impede que a natureza humana, depois pecado não seja susceptível de maior elevação. Porque Deus permite que se faça o mal para dele tirar um bem melhor. Donde o dizer o Apóstolo (Rom 5, 20): Onde abundou o pecado superabundou a graça. E o dizer-se na bênção do Círio Pascal: Ó culpa feliz, que mereceu ter um tal e tão grande Redentor.

RESPOSTA À QUARTA. — À predestinação pressupõe a presciência dos futuros. Donde, assim como Deus predestina que a salvação de um homem deve cumprir-se pela oração de outros, assim também predestinou a obra da Encarnação como remédio do pecado.

RESPOSTA À QUINTA. — Nada impede que seja revelado um efeito a quem não o é a causa. Donde, ao primeiro homem podia ser revelado mistério da Encarnação sem que tivesse a presciência da sua queda, pois, quem quer que conheça um efeito não há de por isso conhecer a causa.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário, coment., leit. espiritual (Enc Summi pontificatus)

Tempo comum XXVIII Semana

São Lucas - Evangelista

Evangelho: Lc 10 1-9

1 Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois, e mandou-os dois a dois à Sua frente por todas as cidades e lugares onde havia de ir. 2 Disse-lhes: «Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a Sua messe. 3 Ide; eis que Eu vos envio como cordeiros entre lobos. 4 Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado, e não saudeis ninguém pelo caminho. 5 Na casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa. 6 Se ali houver algum filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; senão, tornará para vós. 7 Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, porque o operário é digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa. 8 Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que vos puserem diante; 9 curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Está próximo de vós o reino de Deus.

Comentário

«o operário é digno da sua recompensa» diz Jesus Cristo.
O apostolado é verdadeiro trabalho, por vezes bem extenuante e, sempre, muito empenhado. Aliás, só assim, com essas disposições é que se compreende e pode dar frutos.
‘De vez em quando… quando tiver tempo… noutra ocasião…’ são ‘desculpas’ de quem não quer empenhar-se e, no entanto, o mandato foi claro e iniludível para todos os cristãos sem excepção.
Como somos humanos é muito natural que necessitemos de fundos para as despesas recorrentes quanto mais as organizações da Igreja que se dedicam a obras extraordinariamente eficazes, nomeadamente de formação cristã, difusão de doutrina segura etc.
Temos, todos, estrita obrigação de contribuir na medida das possibilidades de cada um para estes gastos, sem nos preocuparmos se é muito ou pouco aquilo que damos porque, o retorno em graças e alegrias é extraordinário e, com “muitos poucos” se faz muito.

(ama, comentário sobre Lc 10, 1-12, 2013.06.07)

Leitura espiritual



Documentos do Magistério

CARTA ENCÍCLICA
SUMMI PONTIFICATUS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O OFÍCIO DO PONTIFICADO



Programa do pontificado (*)

1. O arcano desígnio do Senhor, sem nenhum merecimento de nossa parte, quis confiar-nos a altíssima dignidade e as gravíssimas solicitudes do Sumo Pontificado justamente no ano em que ocorre o quadragésimo aniversário da consagração da humanidade ao sacratíssimo coração do Redentor, feita pelo nosso imortal predecessor, Leão XIII, ao declinar do século passado, quando surgia já a aurora do ano santo.

2. Com que alegria, comoção e íntimo assentimento acolhemos então como mensagem celeste a Encíclica Annum Sacrum, (1) justamente quando, novo levita, pudéramos recitar: Introibo ad altare Dei (Sl 42, 4). E com que ardente entusiasmo o nosso coração se uniu aos pensamentos e intenções que animavam e guiavam aquele ato verdadeiramente providencial de um Pontífice que conhecera, com tão profunda agudeza, as necessidades e chagas, claras e ocultas, do seu tempo! Portanto, como poderíamos deixar de sentir hoje profundo reconhecimento para com a Providência, que houve por bem dispor coincidisse o nosso primeiro ano de pontificado com uma recordação tão importante e cara do nosso primeiro ano de sacerdócio?
E como poderíamos deixar de valer-nos, com alegria, desta ocasião para prestar culto ao "Rei dos reis e Senhor dos dominadores" (1 Tm 6, 15, Ap 19, 16) quase como oração de entrada do nosso pontificado, no espírito do nosso inesquecível predecessor e na fiel atuação das suas intenções?
Como poderíamos deixar de fazer desse culto o alfa e o ômega da nossa vontade e da nossa esperança, do nosso ensino e da nossa atividade, da nossa paciência e dos nossos sofrimentos, tudo consagrado à difusão do reino de Cristo?

A fonte de indizíveis bens

3. Se, à luz da eternidade, contemplarmos os acontecimentos externos e internos que se desenvolveram nos últimos quarenta anos, e lhes medirmos as grandezas e deficiências, aquela consagração universal a Cristo-Rei, pelo seu sagrado significado, pelo seu simbolismo exortador, pelo seu escopo de purificação e de elevação, revela-se aos olhos do nosso espírito como tendente a robustecer e defender cada vez mais as almas, ao mesmo tempo que, na sua previdente sabedoria, visa a sarar e enobrecer a sociedade humana e promover o seu verdadeiro bem.

Revela-se-nos também cada vez mais claramente, como uma mensagem de exortação e de graça de Deus, dirigida não só à sua Igreja mas também a um mundo hoje tão necessitado de ajuda e de guia, porquanto, imerso no culto do presente, vem desorientando-se cada vez mais e esgotando-se na fria investigação de ideais puramente terrenos, mensagem a uma humanidade que, em fileiras cada vez mais numerosas, se destaca da fé em Cristo e, mais ainda, do conhecimento e da observância da sua lei, mensagem contra uma concepção do mundo, segundo a qual a doutrina de amor e de abnegação do Sermão da montanha e a divina acção de amor da cruz não passam de escândalo e de loucura. Como o precursor de Cristo proclamava certo dia: "Eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1, 29), advertindo que o Esperado das gentes, se bem que ainda desconhecido, habitava entre os homens, assim o representante de Cristo, esconjurando, dirigia o seu brado possante: "Eis o vosso Rei!" (Jo 19, 14) aos renegadores, aos duvidosos, aos indecisos, aos hesitantes que, ou se recusavam a seguir o Redentor glorioso, sempre vivo e operante na sua Igreja, ou seguiam-no descuidados e lentos.

4. Da difusão e arraigo do culto do divino coração do Redentor, que teve esplêndido coroamento não só na consagração da humanidade, ao findar do século passado, mas também na introdução da festa da realeza de Cristo, por nosso imediato predecessor, (2) de saudosa memória, advieram indizíveis bens a inúmeras almas: um "rio cujos braços alegram a cidade de Deus" (Sl 45, 5).
Que época, mais do que a nossa, teve necessidade de semelhantes bens?
Que época, mais do que a nossa, foi tão atormentada pela falta de espiritualidade e profunda indigência interior, apesar do progresso técnico e puramente civil?
Acaso, não se poderá aplicar-lhe a palavra reveladora do Apocalipse: "Pois dizes: sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso. Não sabes, porém, que és tu o infeliz, miserável, pobre, cego e nu" (Ap 3, 17)?

5. Veneráveis irmãos! Existe acaso dever maior e mais urgente do que anunciar... "as inescrutáveis riquezas de Cristo" (Ef 3, 8) aos homens do nosso tempo?
E haverá coisa mais nobre do que desfraldar o vexilo real diante desses que têm seguido ou seguem bandeiras falazes e conquistar para o glorioso vexilo da cruz aqueles que dele desertaram?
Que coração se não deveria abrasar e sentir-se impelido a socorrer tantos irmãos e irmãs que, devido a erros e paixões, incitamentos e prejuízos, se afastaram da fé no Deus verdadeiro, destacando-se assim da jucunda e salutar mensagem de Jesus Cristo?
Quem quer que pertença à milícia de Cristo – eclesiástico ou leigo – não deveria acaso sentir-se estimulado e incitado a maior vigilância, a mais decidida defesa, ao ver que as fileiras dos inimigos de Cristo cada vez aumentam mais, ao perceber que os porta-vozes dessas tendências, renegando ou praticamente descurando as verdades vivificadoras e os valores contidos na fé em Deus e em Cristo, partem sacrilegamente as tábuas dos mandamentos de Deus para substituí-las com tábuas e normas que excluem a substância ética da revelação do Sinai, o espírito do Sermão da montanha e da cruz?
Quem poderia, sem sentir profunda aflição, observar como tais desvios preparam uma trágica messe, justo no meio daqueles que, nos dias de tranquilidade e segurança se alistam entre os sequazes de Cristo, mas que – infelizmente cristãos mais de nome que de fato – quando se trata de perseverar, de lutar, de sofrer, de afrontar as perseguições claras ou simuladas, tornam-se vítimas da pusilanimidade, da fraqueza, da incerteza, e apavorados diante dos sacrifícios impostos pela sua profissão cristã, não encontram a força necessária para beber o cálice amargo dos fiéis a Jesus Cristo?

I. SOB O SINAL DE CRISTO-REI

6. Nestas condições de tempo e de espírito, veneráveis irmãos, possa a iminente festa de Cristo-Rei, em que chegará a vosso conhecimento esta nossa primeira encíclica, ser para vós um dia de graça, de profunda renovação e de novo despertar no espírito do reino de Jesus Cristo.
Seja um dia no qual a consagração do género humano ao divino Coração, que deve ser celebrada com particular solenidade, reúna junto do trono do eterno Rei os fiéis de todos os povos e de todas as nações em adoração e desagravo, para renovarem a ele e à sua lei de verdade e de amor o juramento de fidelidade hoje e sempre. Seja um dia de graça para todos os fiéis, no qual o fogo, por Jesus Cristo trazido à terra, se ateie em chama cada vez mais luminosa e pura.
Seja um dia de graça para os tíbios, os cansados, os enfastiados, em que nos seus corações, tornados pusilânimes, amadureçam novos frutos de renovação de espírito e de fortalecimento de ânimo.
Seja um dia de graça também para aqueles que ainda não conhecem Cristo e para os que o perderam, um dia no qual, de milhões de corações fiéis, se eleve ao céu a oração. Possa "a luz que ilumina cada homem que vem a este mundo" (Jo 1, 9) aclarar-lhes o caminho da salvação, possa a sua graça suscitar no coração inquieto dos errantes o desejo nostálgico dos bens eternos, desejo que os induzam a voltar àquele que, do doloroso trono da cruz, tem sede também das suas almas e deseja ardentemente tornar-se também para elas "caminho, verdade e vida" (Jo 14, 6).

Agradecimento paterno

7. Pondo esta primeira encíclica do nosso pontificado sob o sinal de Cristo-Rei, como que nos sentimos inteiramente seguros do consenso unânime e entusiástico de todo o rebanho do Senhor.
As experiências, as ansiedades e as provações da hora presente despertam, aguçam e purificam o sentimento de comunidade da família católica num grau raramente experimentado, excitando em todos os que crêem em Deus e em Jesus Cristo a consciência de uma ameaça comum por parte de um perigo comum.

8. Deste espírito de comunidade católica, potentemente acrescido em tão árduas circunstâncias, e que é recolhimento e afirmação, resolução e vontade de vitória, sentimos o bafejo consolador e inesquecível naqueles dias em que, hesitantes mas confiados em Deus, tomamos posse da cátedra que ficara vaga pela morte do nosso grande predecessor.

9. Lembrando-nos ainda das inúmeras provas de filial acatamento à Igreja e ao Vigário de Cristo, recebidas por ocasião de nossa eleição e coroação, manifestações cheias de tanta espontaneidade e ternura, apraz-nos colher esta ocasião propícia para dirigir-vos, veneráveis irmãos, e a todos os que pertencem à grei do Senhor, uma palavra de comovido agradecimento por esse pacífico plebiscito de reverente amor e de inconcussa fidelidade ao papado, com o qual se vinha reconhecer a providencial missão do sumo-sacerdote e do pastor supremo.
Pois que, verdadeiramente, todas aquelas manifestações não eram nem poderiam ser dirigidas à nossa pobre pessoa mas sim ao único e altíssimo cargo a que o Senhor nos elevava.
E se já desde aquele primeiro momento sentíamos todo o peso das graves responsabilidades anexas ao sumo poder que nos conferia a divina Providência, também nos era de grande conforto ver aquela grandiosa e palpável demonstração da incindível unidade da Igreja católica que tanto mais compacta se estreita à inabalável rocha de Pedro, rodeando-a de barbacãs inexpugnáveis, quanto mais cresce a ousadia dos inimigos de Cristo.

10. Este mesmo plebiscito de unidade católica mundial e de sobrenatural fraternidade de povos em torno do Pai comum, pareceu-nos tanto mais rico de felizes esperanças, quanto mais trágicas eram as circunstâncias materiais e espirituais do momento em que se dava, e a sua recordação nos veio confortando também nos primeiros meses do nosso pontificado, durante os quais temos já experimentado as fadigas, as ansiedades e as provações semeadas pelo caminho que vem palmilhando a esposa de Cristo através do mundo.

11. Não queremos que passe despercebido o grande eco de comovido reconhecimento que vieram suscitar em nosso coração os augúrios daqueles que, se bem não pertençam ao corpo visível da Igreja católica, não se esqueceram, em sua nobreza e sinceridade, de sentir tudo aquilo que, ou por amor à pessoa de Cristo ou pela sua crença em Deus, os unem a nós.
A todos chegue a expressão da nossa gratidão.
Confiamos a todos e cada um em particular à protecção e guia do Senhor e asseguramos que um único pensamento domina a nossa mente: imitar os exemplos do bom pastor, a fim de conduzir todos à verdadeira felicidade, "para que tenham a vida e a tenham abundantemente" (Jo 10, 10).

(cont)

Revisão da versão portuguesa por ama
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Notas:
(1) Acta Leonis XIII, vol. XIX, p. 71.
(2) Cf. Enc. Quas primas, pp. 593-610.