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05/10/2014

O Espírito Santo configura-nos com Cristo

A Missa é comprida, dizes, e eu acrescento: porque o teu amor é curto. (Caminho, 529)

A Santa Missa situa-nos deste modo perante os mistérios primordiais da fé, porque se trata da própria doação da Trindade à Igreja. Compreende-se assim que a Missa seja o Centro e a raiz da vida espiritual do cristão. É o fim de todos os sacramentos. Na Santa Missa, a vida da graça encaminha-se para a sua plenitude, que foi depositada em nós pelo Baptismo, e que cresce, fortalecida pela Confirmação. Quando participamos na Eucaristia, escreve S. Cirilo de Jerusalém, experimentamos a espiritualização deificante do Espírito Santo, que além de nos configurar com Cristo, como sucede no Baptismo, nos cristifica integralmente, associando-nos à plenitude de Cristo Jesus.
A efusão do Espírito Santo, na medida em que nos cristifica, leva-nos a reconhecer como filhos de Deus. O Paráclito, que é caridade, ensina-nos a fundir com essa virtude toda a vida. Por isso, feitos uma só coisa com Cristo, consummati in unum, podemos ser entre os homens o que Santo Agostinho afirma da Eucaristia: sinal de unidade, vínculo de Amor. (Cristo que passa, 87)



Humildade

A humildade é a rejeição das aparências e da superficialidade; é a expressão da profundidade do espírito humano; é condição da sua grandeza.


(São JOÃO PAULO II, Angelus, 04.03.1979.03.04)

Tratado da Graça 17

Questão 111: Da divisão da graça.

Art. 3 — Se a graça se divide convenientemente em preveniente e subsequente.

[II Sent., dist. XXVI, a. 5, a, art. 2, De Verit., q. 27, a. 5, ad 6, In Psalm. XXII, II Cor., cap. XI, lect. I].

O terceiro discute-se assim. — Parece que a graça se divide inconvenientemente, em preveniente e subsequente.

1. — Pois, a graça é efeito do amor divino. Ora, o amor divino nunca é subsequente, mas sempre, preveniente, conforme a Escritura (1 Jo 4, 10): Não em termos nós sido os que amamos a Deus, mas em que ele foi o primeiro que nos amou a nós. Logo, a graça não deve se dividir em preveniente e subsequente.

2. Demais. — A graça santificante, sendo suficiente, é uma só num mesmo homem, segundo a Escritura (2 Cor 12, 9): Basta-te a minha graça. Ora, o que é anterior não pode ser, simultaneamente, posterior. Logo, a graça se divide, inconvenientemente, em preveniente e subsequente.

3. Demais. — A graça é conhecida pelos seus efeitos. Ora, estes que precedem uns aos outros, são infinitos. Donde, se a graça devesse, de acordo com eles, ser dividida em preveniente e subsequente, resultariam infinitas as suas espécies. Ora, o infinito escapa a toda ciência. Logo, a graça não se divide, convenientemente, em preveniente e subsequente.

Mas, em contrário, a graça de Deus provém da sua misericórdia. Ora, na Escritura se encontram as duas funções da misericórdia (Sl 58, 11): A misericórdia dele se antecipará, e (Sl 22, 6): A tua misericórdia irá após de mim. Logo, a graça divide-se, convenientemente, em preveniente e subsequente.

Assim como a graça se divide, quanto aos seus diversos efeitos, em operante e cooperante, assim também, em preveniente e subsequente, em qualquer acepção que seja tomada. Ora, a graça produz em nós cinco efeitos. O primeiro é santificar a alma, o segundo, levá-la a querer o bem, o terceiro, a realizar eficazmente o bem querido, o quarto, perseverar no bem, o quinto, chegar à glória. Donde, a graça, que produz em nós o primeiro efeito, chama-se preveniente, em relação ao segundo, e enquanto produz o segundo, chama-se subsequente, em relação ao primeiro. E assim como um efeito qualquer da graça é posterior ao precedente e anterior ao seguinte, pode ela chamar-se preveniente e subsequente, relativamente a um mesmo efeito, a títulos diversos. E isto diz Agostinho: Ele nos previne para curar-nos, acompanha-nos para, depois de curados, nos fortificarmos, previne-nos para sermos chamados, acompanha-nos para alcançarmos a glória.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O amor de Deus significa algo de eterno, e portanto não pode designar senão o que é preveniente. Ao contrário, a graça significa um efeito temporal, que pode preceder a uma coisa e ser subsequente a outra. Logo, pode chamar-se preveniente e subsequente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A graça por ser preveniente e subsequente, não essencialmente de espécies diversas, mas só quanto aos seus efeitos, como já dissemos, a respeito da graça operante e cooperante. Donde, a graça subsequente, por dizer respeito à glória, não difere numericamente da preveniente, que actualmente nos justifica. Pois, assim como a caridade desta vida não é abolida, mas aperfeiçoada na pátria, o mesmo deve dizer-se do lume da graça, porque nenhum dos seus dois aspectos implica imperfeição essencial.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora os efeitos da graça possam ser numericamente infinitos, como infinitos são os actos humanos, contudo todos se reduzem a espécies determinadas. E além disso, todos convêm em que um precede o outro.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho do dia, coment e Leit. esp. (Enc.Divino afflante spiritu)

Tempo comum XXVII Semana

Evangelho: Mt 21, 33-43

33 «Ouvi outra parábola: Havia um pai de família que plantou uma vinha, e a cercou com uma sebe, e cavou nela um lagar e edificou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros, e ausentou-se daquela região. 34 Estando próxima a época da colheita, enviou os seus servos aos vinhateiros para receberem os frutos da sua vinha. 35 Mas os vinhateiros, agarrando os servos, feriram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. 36 Enviou novamente outros servos em maior número do que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo.37 Por último enviou-lhes seu filho, dizendo: “Hão-de respeitar o meu filho”. 38 Porém, os vinhateiros, vendo o filho, disseram entre si: “Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo, e ficaremos com a herança”. 39 E, agarrando-o, puseram-no fora da vinha, e mataram-no. 40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». 41 Responderam-Lhe: «Matará sem piedade esses malvados, e arrendará a sua vinha a outros vinhateiros que lhe paguem o fruto a seu tempo».

Comentário:

Impressiona e comove o cuidado que a nossa Santa Mãe a Igreja tem connosco seus filhos!
Não cessa de nos chamar a atenção para os cuidados de Deus para com os seus filhos os homens.

Não se fica por dar-lhes coisas, mas dá-lhes coisas boas, óptimas até.

Não se limita a entregar-lhes uma vinha qualquer mas sim uma vinha rodeada por uma sebe, com um lagar e uma torre de vigia.

Tal como acontece na vida corrente quem toma posse da vinha tem de prestar contas ao arrendatário, ou seja, pagar a renda devida.

(ama, comentário sobre Mt 21, 33-43; 45-46, 203-03.01)

Leitura espiritual



Documentos do Magistério

CARTA ENCÍCLICA
DIVINO AFFLANTE SPIRITU (*)
DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS
PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
COMO A TODO O CLERO E FIÉIS DE CRISTO
DO ORBE CATÓLICO SOBRE OS ESTUDOS BÍBLICOS

3. Interpretação dos Livros santos

Antes de tudo o sentido literal e a doutrina teológica

15. Bem preparado com o conhecimento das línguas antigas e com os recursos da crítica, aplique-se o exegeta católico àquele que é o principal de todos os seus deveres: indagar e expor o sentido genuíno dos Livros Sagrados.
Neste trabalho tenham os intérpretes bem presente que o seu maior cuidado deve ser distinguir claramente e precisar qual seja o sentido literal das palavras bíblicas.
Procurem-no pois com toda a diligência, valendo-se da ciência das línguas, do exame do contexto, da comparação com passos semelhantes, coisas todas de que se costuma tirar partido na interpretação dos escritores profanos, para tirar a limpo o pensamento do autor.
Mas os comentadores da Sagrada Escritura, tendo presente que se trata de um texto divinamente inspirado, cuja conservação e interpretação foram pelo mesmo Deus confiadas à Igreja, com não menor diligência, atenderão às explicações e declarações do magistério eclesiástico, bem como à exposição dos santos Padres e "à analogia da fé", como nota sapientissimamente Leão XIII na Encíclica Providentissimus Deus. (26)
Guardem-se com particular cuidado de expor somente o que toca à história, à arqueologia, à filologia e outras matérias semelhantes - como com mágoa vemos que se faz em alguns comentários -, mas, dadas oportunamente tais notícias enquanto podem servir à exegese, ponham em evidência sobretudo a doutrina teológica, dogmática ou moral, de cada livro ou texto.
Desse modo a sua exposição não só aproveitará aos professores de teologia ao exporem e provarem os dogmas da fé, mas servirá também aos sacerdotes para a explicação da doutrina cristã ao povo, e será útil a todos os fiéis para viverem uma vida santa, digna de um verdadeiro cristão.

O sentido espiritual, querido e ordenado por Deus

16. Tal interpretação prevalentemente teológica, como dissemos, será meio eficaz para fazer calar os que se queixam de não encontrar nos comentários bíblicos nada que eleve a mente a Deus, alimente a alma, fomente a vida interior, e por isso dizem que é preciso recorrer a uma interpretação que chamam espiritual e mística. Quão pouco justa seja essa acusação, prova-o a experiência de muitos que com frequente consideração e meditação da palavra de Deus têm santificado as suas almas e se têm inflamado no amor de Deus, provam-no claramente a constante prática da Igreja e os ensinamentos dos maiores doutores. Certamente que nem todo o sentido espiritual se pode excluir da Sagrada Escritura, pois que tudo o que foi dito e feito no Antigo Testamento, foi por Deus sapientissimamente ordenado e disposto de modo que as coisas passadas prefigurassem espiritualmente as futuras que deviam realizar-se no Novo Testamento da graça. Por isso o exegeta do mesmo modo como deve encontrar e expor o sentido literal das palavras que o hagiógrafo pretendia exprimir, assim também deve indagar o espiritual nos passos onde realmente conste que Deus o quis expressar. De facto este sentido espiritual só Deus o pode conhecer e revelar. Ora, indica-o e ensina-o o próprio Salvador nos evangelhos, e, seguindo o exemplo do divino Mestre, usam-no os apóstolos falando e escrevendo, aponta-o a constante tradição da Igreja, e, finalmente, o conhecido princípio: "A lei de orar é a lei de crer". Esse sentido espiritual por Deus pretendido e ordenado, descubram-no e exponham-no os exegetas católicos com a diligência que requer a dignidade da divina palavra, guardem-se, porém, escrupulosamente de apresentar como sentido genuíno da Sagrada Escritura outros valores figurativos das coisas. Pode sim ser útil, especialmente na pregação, ilustrar e persuadir as coisas da fé e da moral cristã com uso mais largo do sagrado texto em sentido figurado, contanto que se faça com moderação e sobriedade, mas é preciso não esquecer que tal uso da Sagrada Escritura lhe é como que extrínseco e adicional, e não deixa de ser perigoso, sobretudo em nossos dias, porque os fiéis, e nomeadamente as pessoas cultas nas ciências sagradas ou profanas, querem saber o que Deus disse nas Sagradas Escrituras, e não tanto o que um fecundo orador ou escritor usando com destreza as palavras da Bíblia, é capaz de nos dizer. "A palavra de Deus viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes, penetrante até dividir alma e espírito, articulações e medulas, capaz de destrinçar pensamentos e sentimentos do coração" (27) não precisa de artifícios e adaptações humanas para mover e abalar os corações, as Sagradas Páginas escritas sob a inspiração do Espírito de Deus são de per si ricas de sentido próprio, dotadas de força divina, são poderosas por si mesmas, ornadas de supremo esplendor por si mesmas brilham e resplandecem, se o intérprete com uma explicação fiel e completa sabe desentranhar todos os tesouros de sabedoria e prudência que nelas estão encerrados.

Incitamento ao estudo dos santos Padres e dos doutores da Igreja

17. Para isso conseguir poderá o exegeta católico auxiliar-se egregiamente do estudo inteligente dos escritos em que os santos Padres e doutores da Igreja e os ilustres intérpretes das épocas passadas comentaram os Livros Santos.
Pois que eles, bem que talvez menos fornecidos de instrução profana e de ciência linguística do que os intérpretes dos nossos dias, contudo pelo lugar que Deus lhes deu na Igreja, distinguem-se por uma suave intuição das coisas celestes e por uma admirável perspicácia com que penetram até às mais íntimas profundidades da divina palavra e tiram à luz quanto pode servir para ilustrar a doutrina de Cristo e promover a santidade da vida.
Verdadeiramente é pena que tão preciosos tesouros da antiguidade cristã sejam pouco conhecidos de muitos escritores do nosso tempo e que os cultores da história da exegese não tenham ainda feito tudo para aprofundar bem e apreciar devidamente uma coisa de tanta importância.
Preza a Deus que muitos se deem diligentemente a explorar os autores e obras de interpretação católica da Escritura, e, extraindo as riquezas quase imensas nelas acumuladas, concorram eficazmente para que se veja melhor quão intimamente penetravam e quão bem explicaram os antigos a divina doutrina dos Livros Santos, e os intérpretes atuais tomem daí exemplo e aproveitem os preciosos materiais postos à sua disposição.
Assim efectuar-se-á, finalmente, a feliz e fecunda combinação da doutrina e suave unção dos antigos com a mais vasta erudição e arte mais progredida dos modernos, a qual decerto produzirá novos frutos no campo nunca assaz cultivado das divinas Escrituras.

4. Tarefa especial dos exegetas em nossos dias

Estado actual das ciências bíblicas

18. Com fundada razão podemos esperar que os nossos tempos contribuam também com a sua quota nova para uma interpretação mais completa e exacta das Sagradas Escrituras.
De facto há não poucas coisas, especialmente no terreno histórico que não foram explicadas, ou foram só imperfeitamente, pelos expositores dos séculos passados, porque lhes faltavam os conhecimentos necessários para obter melhores resultados.
Quão árduos e quase inacessíveis acharam os mesmos Padres alguns passos, mostram-no, por exemplo, os repetidos esforços que muitos deles fizeram para interpretar os primeiros capítulos do Génesis, ou também as várias tentativas de São Jerónimo para traduzir os salmos de modo que o sentido literal do texto aparecesse claramente.
Noutros livros ou textos sagrados só a Idade Moderna descobriu dificuldades, antes não suspeitadas, depois que um melhor conhecimento dos tempos antigos fez surgir problemas que fazem penetrar mais adentro no assunto. Por isso erradamente vão dizendo alguns, mal informados do estado da ciência bíblica, que ao exegeta católico dos nossos dias nada resta a acrescentar a quanto produziu a antiguidade cristã, pelo contrário, a verdade é que o nosso tempo tem chamado a atenção para muitas coisas que requerem nova investigação e novo exame e estimulam fortemente a actividade do exegeta.

Natureza e efeitos da inspiração divina

19. E realmente a nossa época, se por um lado acumula novos problemas e dificuldades, por outro, graças a Deus, oferece à exegese novos recursos e subsídios.
Entre esses merece especial referência o facto de os teólogos católicos, seguindo a doutrina dos santos Padres e, principalmente, do doutor angélico e comum, terem indagado e exposto com mais precisão e fineza do que nos séculos passados, a natureza e efeito da inspiração bíblica.
Partindo nas suas investigações do princípio que o hagiógrafo ao escrever o livro sagrado é órgão ou instrumento do Espírito Santo, mas instrumento vivo e racional, observam justamente que ele sob a moção divina usa das suas faculdades e energias de tal modo, que todos podem facilmente reconhecer do livro por ele composto "qual a sua índole própria, e como que as feições e traços característicos da sua fisionomia". (28)
Procure por conseguinte o intérprete distinguir com todo o cuidado, sem descurar nenhuma luz fornecida pelas recentes investigações, qual a índole própria e condição social do autor sagrado, em que tempo viveu, de que fontes, escritas ou orais, se serviu, que formas de dizer empregou.
Assim poderá conhecer melhor quem foi o hagiógrafo e o que quis dizer no seu escrito.
Porque, enfim, ninguém ignora que a norma suprema da interpretação é indagar e definir que coisa se propôs dizer o escritor, como egregiamente adverte santo Atanásio: "Aqui, como em todos os outros passos da Escritura divina, deve notar-se diligente e fielmente em que ocasião falou o Apóstolo, qual o destinatário e qual o motivo de escrever, não seja que, ignorando essas coisas ou tomando umas por outras, nos desviemos do pensamento do autor". (29)

Importância do género literário, especialmente na história

20. Ora, o sentido literal de um escrito, muitas vezes não é tão claro nas palavras dos antigos orientais como nos escritores do nosso tempo. O que eles queriam significar com as palavras não se pode determinar só pelas regras da gramática e da filologia, nem só pelo contexto, o intérprete deve transportar-se com o pensamento àqueles antigos tempos do Oriente, e com o auxílio da história, da arqueologia, etnologia e outras ciências, examinar e distinguir claramente que géneros literários quiseram empregar e empregaram de facto os escritores daquelas épocas remotas.
De facto os antigos orientais, para exprimir os seus conceitos, nem sempre usaram das formas ou géneros de dizer de que nós hoje usamos, mas sim daqueles que estavam em uso entre os seus contemporâneos e conterrâneos. Quais eles fossem não o pode o exegeta determinar a priori, mas só por meio de um diligente exame das antigas literaturas orientais. Esse estudo, feito com maior cuidado e diligência nos últimos decênios, mostrou mais claramente quais as formas de dizer empregadas naqueles antigos tempos quer nas composições poéticas, quer na legislação ou na história.
A mesma investigação demonstrou já luminosamente que o povo de Israel, entre todas as antigas nações do Oriente, ocupa um lugar eminente e singular no escrever da história, quer pela antiguidade quer pela fiel narração dos factos, prerrogativas essas que em verdade se podem deduzir do carisma da divina inspiração e do particular fim religioso da história bíblica.
Contudo ninguém que tenha um conceito justo da inspiração bíblica poderá estranhar que também nos autores sagrados, como nos outros antigos, se encontrem certos modos de expor e contar, certos idiotismos próprios, especialmente das línguas semíticas, certas expressões aproximativas ou hiperbólicas e talvez paradoxais, que servem para gravar as coisas mais firmemente na memória.
Nenhum dos modos de falar de que entre os antigos e especialmente entre os orientais se servia a linguagem para exprimir o pensamento, pode dizer-se incompatível com os Livros Santos, uma vez que o género adotado não repugne à santidade e verdade de Deus.
Advertiu-o já o doutor angélico com a sua costumeira perspicácia por estas palavras: "Na Escritura as coisas divinas nos são apresentadas ao modo usual, humano". (30)
Como o Verbo substancial de Deus se fez semelhante aos homens em tudo "excepto o pecado", (31) assim também a palavra de Deus expressa em línguas humanas assemelhou-se em tudo à linguagem humana, exceto o erro.
Nisto consiste aquela providencial "condescendência" (sinkatábasis) de Deus, que já são João Crisóstomo exaltou eloquentemente e que tantas vezes assegurou encontrar-se nos Livros Santos. (32)

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)
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Notas:

(*) Em 30 de Setembro de 1943, por motivo do cinqüentenário da encíclica "Providentissimus Deus", o Santo Padre Pio XII publicou a seguinte encíclica sobre os estudos bíblicos. Por sua extensão, e pela admirável clareza com que expõe as normas que devem ser observadas no uso da Sagrada Escritura, o importante documento adquire o alcance de uma verdadeira Carta Magna em matéria de estudos e apostolado bíblicos.
(26) Leão XIII, Acta 13, pp. 345-346, Ench. Bibl. n.109.
(27) Hb 4, 12.
(28) Cf. Bento XV, Enc. Spiritus Paraclitus: Acta Ap. Sedis 12(1920), p. 390, Ench. Bibl. n. 461.
(29) Contra Arianos, I, 54, PG 26,123.
(30) Comment. ad. Hebr. cap. I, lectio 4.
(31) Hb 4, 15.
(32) Cf. v, gr. In Gen. I, 4: PG 53, 34-35, In Gen, II, 21: PG 53, 121, In Gen., III, 8: PG 53, 135, Hom. 15 in Ioan., ad I,18: PG 59, 95s.