Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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22/08/2014
Jesus Cristo e a Igreja 28
Os
dados que nos oferecem os evangelhos são escassos. Lc 8, 2 informa-nos que
entre as mulheres que seguiam Jesus e o assistiam com os seus bens estava Maria
Madalena, quer dizer, uma mulher chamada Maria, que era oriunda de Migdal
Nunayah, em grego Tariquea, uma pequena povoação junto ao lago da Galileia,
situada 5,5 km ao norte de Tiberíades. Dela Jesus tinha expulsado sete demónios
(Lc
8, 2; Mc 16, 9), que é o mesmo que dizer “todos os demónios”. A expressão pode
entender-se como uma possessão diabólica, mas também como uma enfermidade do
corpo ou do espírito.
Os
evangelhos sinópticos mencionam-na como a primeira de um grupo de mulheres que
contemplaram de longe a crucifixão de Jesus (Mc 15, 40-41 e par.) e que ficaram
sentadas em frente do sepulcro (Mt 27, 61) enquanto sepultavam Jesus (Mc 15,
47). Referem que na madrugada do dia depois do sábado, Maria Madalena e outras
mulheres voltaram ao sepulcro para ungir o corpo com os aromas que tinham comprado
(Mc 16, 1-7 e par.). Nessa altura um anjo comunicou-lhes que Jesus tinha
ressuscitado e encarregou-as de ir comunicá-lo aos discípulos (cf. Mc 16, 1-7 e
par).
São
João apresenta os mesmos dados com pequenas variantes. Maria Madalena está
junto à Virgem Maria ao pé da cruz (Jo 19, 25). Depois do sábado, quando ainda
era de noite, aproxima-se do sepulcro, vê a pedra removida e avisa Pedro
pensando que alguém teria roubado o corpo de Jesus (Jo 20, 1-2).
De
volta ao sepulcro, começa a chorar e encontra-se com Jesus ressuscitado, o qual
a encarrega de anunciar aos discípulos o seu regresso ao Pai (Jo 20, 11-18).
Essa é a sua glória. Por isso, a tradição da Igreja chamou-lhe no Oriente
“isapóstolos” (igual a um apóstolo) e no Ocidente “ apostola apostolorum” (apostolina
de apóstolos). No Oriente há uma tradição que diz que foi sepultada em Éfeso e
que as suas relíquias foram levadas para Constantinopla no século IX.
Maria
Madalena foi muitas vezes identificada com outras mulheres que aparecem nos
evangelhos. A partir dos séculos VI e VII, na Igreja Latina tendeu-se a
identificar Maria Madalena com a mulher pecadora que, (na Galileia), em casa de Simão, (o fariseu), ungiu os pés de Jesus com as suas lágrimas (Lc 7,
36-50).
Por
outro lado, alguns Padres e escritores eclesiásticos, comparando os evangelhos,
tinham já identificado esta mulher pecadora com Maria, irmã de Lázaro, que, (em Betânia), unge com perfume a cabeça de
Jesus (Jo 12, 1-11). Mateus e Marcos, na passagem paralela não dão o nome de
Maria, mas dizem que foi uma mulher e que a unção ocorreu na casa de Simão, o leproso (Mt 26, 6-13 e par.). Por essa
razão, e devido em boa parte a São Gregório Magno, no Ocidente estendeu-se a
ideia de que as três mulheres eram a mesma pessoa. No entanto, os dados
evangélicos não sugerem que se deva identificar Maria Madalena com a Maria que
unge Jesus em Betânia, pois esta parece ser a irmã de Lázaro (Jo 12, 2-3).
Esses dados, também não permitem deduzir que seja a mesma que a pecadora, que
segundo Lc 7, 36-49 ungiu Jesus, ainda que a confusão seja compreensível, pelo
facto de São Lucas assinalar – imediatamente depois do relato em que Jesus
perdoa a esta mulher – que o assistiam algumas mulheres, entre elas Maria
Madalena, da qual tinha expulsado sete demónios (Lc 8, 2). Além disso, Jesus louva
o amor da mulher pecadora: “ São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque
muito amou” (Lc 7, 47). Também se descobre um grande amor no encontro de Maria
com Jesus depois da ressurreição (Jo 20, 14-18). Em todo o caso, ainda que se
tratasse da mesma mulher, o seu passado pecador não é um descrédito. Pedro foi
infiel a Jesus e Paulo um perseguidor dos cristãos. A sua grandeza não está na
sua impecabilidade, mas no seu amor.
Pelo
seu papel de relevo no evangelho, foi uma figura que recebeu especial atenção
de alguns grupos marginais à primitiva Igreja. Tratam-se fundamentalmente de
seitas gnósticas, cujos escritos recolhem revelações secretas de Jesus depois
da ressurreição e que recorrem à figura de Maria para transmitir as suas ideias.
São relatos que não têm fundamento histórico.
Padres
da Igreja, escritores eclesiásticos e outras obras destacam o papel de Maria
como discípula do Senhor e proclamadora do Evangelho. A partir do século X
surgiram narrações fictícias que exaltavam a
sua
pessoa e que se difundiram sobretudo em França.
Ali
nasce a lenda, que não tem nenhum fundamento histórico, de que Madalena, Lázaro
e alguns mais, quando se iniciou a perseguição contra os cristãos, foram de
Jerusalém a Marselha e evangelizaram a
Provença.
De acordo com esta lenda, Maria morreu em Aix-en-Provence ou Saint Maximin e as
suas relíquias foram levadas para Vézelay.
© www.opusdei.org
- Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade
de Navarra, dirigida por Francisco Varo.
Temas para meditar 213
Jejum
Sobressai com grande clareza que o jejum representa uma prática ascética importante, uma arma espiritual para lutar contra qualquer eventual apego desordenado a nós mesmos. Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais, ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem, cujos efeitos negativos atingem toda a personalidade humana.
(bento xvi Mens. Para a Quaresma 2009)
Tratado da Graça 02
(II
Sent., dist. XXVIII, a. 1; dist. XXXIX, expos. Litt.; IV, dist.XVII, q. 1, a.
2, qª 2, ad; 3; De Verit., q. 24, a. 12; II Cor., cap. III, lect. I).
O segundo discute-se assim. — Parece
que sem a graça o homem pode querer e fazer o bem.
1. — Pois, está no poder do homem o de
que ele é senhor. Ora, o homem é senhor de seus actos, e sobretudo da sua
vontade, como já se disse (q. 1, a. 1; q. 13, a. 6). Logo, pode querer e fazer
o bem por si mesmo, sem o auxílio da graça.
2. Demais. — Um ser tem mais poder
sobre o que lhe é natural do que sobre o que lhe contraria a natureza. Ora, o
pecado é contra a natureza, como diz Damasceno, ao contrário, o acto virtuoso é
segundo a natureza da alma, como já se disse (q. 71, a. 1). Ora, desde que o
homem pode por si mesmo pecar, conclui-se com maioria de razão, que pode por si
mesmo querer o fazer o bem.
3. Demais. — O bem da inteligência é a
verdade, como diz o Filósofo. Ora, a inteligência pode por si mesma conhecê-la,
assim como todo o ser pode por si mesmo realizar o seu acto natural. Logo, com
maior razão, o homem pode por si mesmo fazer e querer o bem.
Mas, em contrário, diz o Apóstolo (Rm
9, 16): Não depende do que quer, i.é,
do querer, nem do que corre, i. é, do correr, mas, de usar Deus da sua
misericórdia. E Agostinho: sem a graça,
os homens não podem, absolutamente, fazer o bem por pensamento, nem por vontade,
amor, ou acção.
A natureza do homem pode
ser considerada a dupla luz. Na sua integridade, como existia em nosso primeiro
pai, antes do pecado ou como após esse pecado existe agora em nós. Ora, tanto
num como noutro estado, a natureza humana precisa do auxílio divino, como
primeiro motor, para fazer ou querer qualquer bem, conforme já dissemos (a. 1).
Porém no estado de natureza íntegra, podia o homem, quanto o exigem os actos
virtuosos e só ajudado pelas suas faculdades naturais, querer e obrar o bem
proporcionado à sua natureza, tal como é o da virtude adquirida; não porém o da
virtude infusa, que lhe excede a natureza. No estado da natureza corrupta,
porém, o homem falha, mesmo no que poderia por natureza alcançar, de modo que
não lhe é possível fazer, só pelas suas faculdades naturais, todo o bem de que
a sua natureza é capaz. Contudo, pelo pecado não ficou a natureza humana
totalmente corrupta, de modo a ficar privada de todo bem natural. Por isso,
pode o homem, mesmo no estado da natureza corrupta e por virtude da sua
natureza, fazer algum bem particular, como, edificar casas, plantas vinhas e
coisas semelhantes. Mas não pode fazer todo bem que lhe é conatural, sem falhar
em caso algum. Assim como um homem doente pode, por si mesmo, fazer algum
movimento, mas, sem ser curado pelo médico, não pode mover-se perfeitamente,
como um homem são.
Donde, o homem necessita, no estado da
natureza íntegra, do auxílio da graça, acrescentado às suas faculdades
naturais, mas só, para fazer e querer o bem sobrenatural. No estado da natureza
corrupta, porém, precisa desse auxílio, primeiro, para fortificar-se, e depois
para praticar o bem da virtude sobrenatural, que é meritório. Além disso, em um
e outro estado, o homem precisa do auxílio divino para mover-se à prática do
bem.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— O homem é senhor dos seus actos de querer ou não querer, por causa da
deliberação racional, que pode inclinar-se para um ou outro lado. Mas só e necessariamente
por uma deliberação precedente é que poderá deliberar ou não, se disso for
capaz. Ora, como esse processo não pode ir ao infinito, é forçoso, finalmente,
o livre arbítrio humano ser movido por algum princípio externo, superior à
mente humana, e que é Deus, como o prova o filósofo. Donde, o espírito do
homem, mesmo ainda não corrompido, não tem de tal modo o domínio dos seus actos,
que dispense a moção divina. E, com maior razão, o livre arbítrio do homem
enfermo pelo pecado, que encontra, na corrupção da sua natureza um obstáculo a
prática do bem.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Pecar não é mais
do que claudicar na prática do bem adequado à natureza de um ser. Ora, todo o ser
criado, assim como não existe senão em virtude de outro e, em si considerado,
nada é: assim também precisa, por esse outro, de ser conservado no bem adequado
à sua natureza. Donde, se não for sustentado por Deus, pode, abandonado a si
mesmo, falhar na prática do bem, assim como pode, nessas condições, reduzir-se
ao nada.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Também a
verdade o homem não a pode conhecer sem o auxílio divino, como já dissemos (a.
1). E contudo, a natureza humana ficou mais corrupta, pelo pecado, no seu
desejo do bem, que no conhecimento da verdade.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Evang.; Coment.; Leit. Esp. (Magistério - Ratzinguer)
Virgem
Santa Maria – Rainha
Evangelho: Lc 1, 26-38
26 Estando Isabel no sexto mês, foi
enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27
a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de David; o nome da
virgem era Maria. 28 Entrando o anjo onde ela estava, disse-lhe:
«Salve, ó cheia de graça; o Senhor é contigo». 29 Ela, ao ouvir
estas palavras, perturbou-se e discorria pensativa que saudação seria esta. 30
O anjo disse-lhe: «Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; 31
eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a Quem porás o nome
de Jesus. 32 Será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o
Senhor Deus Lhe dará o trono de Seu pai David; 33 reinará sobre a
casa de Jacob eternamente e o Seu reino não terá fim». 34 Maria
disse ao anjo: «Como se fará isso, pois eu não conheço homem?». 35 O
anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo
te cobrirá com a Sua sombra; por isso mesmo o Santo que há-de nascer de ti será
chamado Filho de Deus. 36 Eis que também Isabel, tua parenta,
concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se dizia estéril;
37 porque a Deus nada é impossível». 38 Então Maria
disse: «Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». E
o anjo afastou-se dela.
Comentário:
A Virgem estava convicta,
intimamente consciente, que Deus tinha aceite o seu voto de virgindade, feito
anos antes.
Como Nossa Senhora seria
muito jovem - a tradição diz que deveria ter entre quinze e dezassete anos -
estariam bem vivo no seu espírito o momento recolhido em que tinha comunicado
ao Senhor a sua decisão, permanecer Virgem.
Era uma oferta de muito
valor naquele tempo e naquela sociedade judaica: uma mulher sem filhos era
olhada como algo estranho e desenraizado, até talvez, como se um castigo de
Deus se manifestasse dessa forma.
Por isso se compreende que
a gravidez de Isabel, sua parente, fosse um tão grande milagre, cuja
possibilidade esmagou Zacarias.
A Virgindade é sem dúvida
o estado mais querido a Deus, pois significa a renúncia a um direito e até, em
certo sentido, a uma instrução de Deus que mandou crescer e multiplicar a raça
humana.
Jesus olhará com ternura o
jovem rico que pretende aperfeiçoar-se e convida-o a vender o que tem e a
segui-lo, isto é, a pôr-se inteiramente ao Seu serviço.
É também, transparente nos
Evangelhos o carinho muito especial de Jesus por João.
Compreende-se pois a
confusão da Virgem ao ser-lhe transmitido que a Vontade de Deus seria
exactamente o oposto, isto é, que aceitasse a maternidade quebrando o seu voto
de virgindade.
Poderia este mensageiro
representar alguém que não o próprio Deus?
A ilação que queria tirar
desta atitude da Virgem é a necessidade de esclarecimento.
Temos obrigação de
comprovar o que se nos afigura, ou nos é transmitido como sendo a Vontade de
Deus.
Sem excesso de zelo, mas
com segurança devemos interrogar a nossa consciência e o nosso coração e ainda,
se necessário, o nosso director espiritual ou o confessor sobre o problema que
se nos põe.
Daqui que é necessário
termos muito bem definida a nossa consciência e a nossa formação religiosa e
cristã.
Sem isso facilmente
cairemos em falsas ideias, escrúpulos, talvez até aspectos de
"beatice", deixando passar, imóveis e imutáveis, ao nosso lado,
sinais claros da Vontade de Deus.
Destacaria em segundo
lugar o Fiat da Virgem: «Faça-se», responde Nossa Senhora, depois do
Anjo ter exposto os desígnios de Deus. «Faça-se a Vontade de Deus ... eis a
escrava do Senhor» - é muito explicita a Virgem.
Responde de uma forma
completa ao convite divino: que se faça exactamente o que Deus quer e de uma
forma total porque, Ela, é escrava de Deus e portanto submissa no seu todo:
espírito e corpo.
Esta afirmação de total
disponibilidade dá-nos a verdadeira dimensão da união da Virgem com Deus.
A sua submissão é total,
sem dúvida, mas não é cega ou inconsciente, pelo contrário, sabe exactamente o
que diz e as consequências do que diz.
Assim é que, alguns dias
mais tarde, ao encontrar-se com Isabel, a Senhora rompe num canto - Magnificat
- em que não tem rebuço em declarar que aceita ser Mãe de Deus e que sabe que
será louvada por todas as futuras gerações humanas. (…)
Esta disponibilidade total
para o cumprimento exclusivo da vontade divina, como primeira preocupação, não
põe de lado as preocupações da vida normal e corrente.
Nossa Senhora tinha as
suas ocupações, e com certeza - tanto mais que as disponibilidades seriam
escassas - preocupava-se com o orçamento familiar, haveria que comer, vestir,
calçar o que, nem por ser modesto, deixa de ser um problema e não pouca
preocupação. (…) Sim, porque viver correctamente, todos os dias, na nossa casa,
na nossa família, no trabalho seja ele qual for, tem de ser também uma atitude
de entrega ao Senhor.
Porque me dás trabalho,
porque me dás saúde, porque me dás isto e me retiras aquilo, porque permites
este sofrimento, aquele desgosto que servem para temperar a minha ambição, ou
chamar a atenção para a minha fragilidade. (…)
Temos necessidade premente
de pôr o nosso coração nas mãos de Deus.
Por
intermédio de Maria, pedir ao Senhor ajuda. (…)
Esta é a forma mais segura
de conseguir-mos êxito nos nossos propósitos.
A mediação da Virgem é
importantíssima, eu diria mesmo imprescindível para o afinamento da nossa vida
interior que deverá ser o espelho do nosso comportamento.
Em Fátima o Papa invocou
várias vezes a Virgem: «Monstra te esse mater.» «Mostra que és Mãe.»
As Mães têm com os filhos
aquela relação que nós, Pais, não conseguimos ter tão facilmente.
Os olhos maternos vêm os
contornos e as suavidades, os nossos, destacam mais os ângulos e as asperezas,
os ouvidos das mães ouvem os queixumes e as palavras ternas, os nossos ouvidos
guardam mais as más respostas e os desacordos, os corações delas vibram com o
coração dos filhos, os nossos amarguram-se com as desilusões.
“Filtrada” pelo coração da
mãe a atitude do filho é melhor aceite pelo pai, atendemos melhor o seu pedido
se feito pela voz da mãe. Nas coisas muito pequenas como nas coisas grandes.
(…)
(ama, palestra, Meadela, Dezembro de 1993)
Leitura espiritual
Magistério
cardeal joseph ratzinger
Algumas perguntas pessoais
…/14
SIDA e preservativos.
Numa
sociedade que parece desprezar cada vez mais o valor da castidade, da
fidelidade conjugal e da temperança, e estar preocupada algumas vezes quase que
exclusivamente com a saúde física e o bem-estar temporal, a Igreja tem a responsabilidade
de dar o testemunho que lhe é próprio, concretamente um testemunho inequívoco
de solidariedade para com aqueles que sofrem e, ao mesmo tempo, um testemunho
de defesa da dignidade da sexualidade humana, que pode ser realizada somente
dentro do contexto da lei moral.
É
também crucial notar, como faz o documento da Conferência, que os únicos meios
medicamente eficazes para prevenção da SIDA são exatamente os tipos de
comportamento conformes com a lei de Deus e com a verdade sobre o homem que a
Igreja sempre ensinou e que hoje continua a ser chamada corajosamente a ensinar
[i].
Clonagem.
O
homem é capaz de produzir em laboratório outro homem que, portanto, já não
seria dom de Deus nem da natureza. Pode-se fabricar e, da mesma forma que se fabrica,
pode-se destruir. [...]
Se
esse é o poder do homem, então ele se está convertendo numa ameaça mais
perigosa que as armas de destruição em massa [ii].
Bioética.
Venda de órgãos,
manipulação genética, clonagem: será que não é preciso pôr limites à pesquisa
médica e científica?
A
ideia de pôr limites à pesquisa científica soa como uma blasfémia aos ouvidos
do homem moderno.
Existe,
no entanto, um limite extrínseco: a dignidade do homem.
É
inaceitável qualquer forma de progresso cujo preço seja a violação da dignidade
humana. Se a pesquisa ameaça o homem, torna-se uma deformação da ciência.
Embora se argumente que uma ou outra linha de pesquisa pode abrir
possibilidades para o futuro, é preciso dizer "não" quando é o homem
que está em jogo. Apesar de ser uma comparação um pouco forte, gostaria de
lembrar que já houve um período em que se levaram a cabo experimentações
médicas com pessoas que eram consideradas inferiores. Para onde nos levará essa
lógica que consiste em tratar um feto ou um embrião como uma coisa? [iii]
A nova evangelização
(texto integral de uma conferência)
(Pela
sua actualidade e mensagem, inclui-se aqui o texto completo da conferência A nova evangelização [iv].)
A
vida humana não se realiza por si só. A nossa vida é uma questão em aberto, um projeto
incompleto, que é preciso realizar passo a passo. A pergunta fundamental de todo
o homem é: Como se leva a cabo esse projeto de realização do homem? Como se aprende
a arte de viver? Qual é o caminho que leva à felicidade?
Evangelizar
significa mostrar esse caminho, ensinar a arte de viver. Jesus diz no início da
sua vida pública: "Vim para evangelizar os pobres" (cfr. Lc 4, 18).
Ou seja: Eu tenho a resposta para a vossa pergunta fundamental; mostro-vos o
caminho da vida, o caminho que leva à felicidade; mais ainda, Eu sou esse
caminho. A pobreza mais profunda é a incapacidade de alegrar-se, o tédio de uma
vida considerada absurda e contraditória.
Essa
pobreza encontra-se hoje muito estendida, de maneiras muito diversas, tanto nas
sociedades materialmente ricas como nos países pobres. A incapacidade de
alegrar-se pressupõe e traz consigo a incapacidade de amar, produz a inveja, a
avareza..., todos os vícios que arruínam a vida das pessoas e do mundo. Por
isso, é necessária uma nova evangelização. Se não se conhece a arte de viver,
tudo o mais deixa de funcionar. Mas essa arte não é objecto de uma ciência; só
pode ser comunicada por Aquele que tem a vida, Aquele que é o Evangelho em
pessoa.
ESTRUTURA E MÉTODO DA NOVA
EVANGELIZAÇÃO
Estrutura
Antes
de falar dos conteúdos fundamentais da nova evangelização, gostaria de explicar
a estrutura e o método adequados. A Igreja sempre evangeliza e nunca
interrompeu o seu caminho de evangelização. Celebra diariamente o mistério
eucarístico, administra os sacramentos, anuncia a palavra da vida, a palavra de
Deus, e compromete-se em favor da justiça e da caridade. E essa evangelização
produz frutos: dá luz e alegria, mostra o caminho da vida a um imenso número de
pessoas. Muitos fiéis vivem, frequentemente sem dar-se conta, da luz e do calor
dessa evangelização permanente. No entanto, testemunhamos um processo gradual
de descristianização e perda dos valores humanos essenciais que é realmente
preocupante. Grande parte da humanidade de hoje não encontra o Evangelho na
evangelização permanente da Igreja, isto é, não encontra a resposta convincente
à pergunta: como viver?
Por
isso, precisamos, além da evangelização permanente, que nunca se interrompeu
nem nunca se interromperá, de uma nova evangelização, capaz de ser ouvida por
esse mundo que não tem acesso à evangelização "clássica". Todos
necessitam do Evangelho. O Evangelho está destinado a todos e não apenas a um
grupo determinado, e por isso devemos buscar novos caminhos para levar o
Evangelho a todos.
No
entanto, aqui se esconde também uma tentação: a tentação da impaciência, a tentação
dos grandes números, de buscar o êxito imediato. E não é esse o método do reino
de Deus. Para o reino de Deus, assim como para a evangelização, que é o instrumento
e veículo [da difusão desse reino], sempre é válida a parábola do grão de mostarda
(cfr. Mc 4, 31-32). O reino de Deus torna a construir-se uma e outra vez sob esse
signo.
"Nova
evangelização" não é sinónimo de atrair imediatamente com métodos novos e mais
refinados, as grandes massas que se afastaram da Igreja. Não; não é essa a
promessa
da nova evangelização. "Nova evangelização" significa não se
contentar com o facto de o grão de mostarda se ter transformado na grande
árvore da Igreja universal, nem pensar que basta o facto de nos seus ramos
poderem aninhar-se aves de todo o tipo.
"Nova
evangelização" significa recomeçar o trabalho valentemente, com a
humildade desse minúsculo grão, deixando que Deus decida quando e como há de
crescer (cfr. Mc 4, 26-29).
As
grandes coisas começam sempre por um pequeno grão, ao passo que os movimentos de
massas são sempre efémeros. Na sua visão do processo evolutivo, Teilhard de Chardin
fala do "espaço em branco das origens": o início das novas espécies é
invisível, está fora do alcance da investigação científica. As fontes estão
ocultas; são pequenas demais. Noutras palavras, as grandes realidades têm
começos humildes. Deixemos de lado a questão de saber se as teorias
evolucionistas de Teilhard são ou não correctas, e até que ponto: a lei das
origens invisíveis reflete uma verdade presente precisamente na ação de Deus na
História. "Não te escolhi por seres grande; pelo contrário, és o menor dentre
os povos; foste escolhido porque te amo...", diz Deus ao povo de Israel no
Antigo Testamento, expressando assim o paradoxo fundamental da História da
Salvação: Deus certamente não conta com grandes números; o poder exterior não é
o sinal da sua presença.
Grande
parte das parábolas de Jesus demonstra essa estrutura da acção divina e respondem
assim às preocupações dos discípulos, que esperavam êxitos e sinais muito diferentes
por parte do Messias: êxitos como aquele que Satanás oferece ao Senhor: "Tudo
isto te darei, todos os reinos do mundo"... (cfr. Mt 4, 9).
São
Paulo, no final da sua vida, não tinha dúvidas de que tinha levado o Evangelho
até os confins da terra, mas os cristãos eram pequenas comunidades dispersas
pelo mundo, insignificantes segundo os critérios humanos. Na realidade, porém,
eram o fermento que penetraria na massa, e levavam o futuro do mundo dentro de
si mesmas (cfr. Mt 13, 33).
Há
um antigo provérbio que diz: "O êxito não é um dos nomes de Deus". A
nova evangelização deve actuar como o grão de mostarda, sem esperar que surja imediatamente
uma grande árvore. Vivemos numa tranquilidade excessiva por causa da grande
árvore que já existe ou sentimos o afã de possuir uma árvore ainda maior e mais
viva. No entanto, devemos aceitar o mistério de que a Igreja é, ao mesmo tempo,
uma árvore grande e um minúsculo grão. Na História da Salvação, vive-se sempre simultaneamente
a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa.
O método
É
da estrutura da nova evangelização que deriva também o método adequado. Não há dúvida
de que devemos usar os meios modernos de modo razoável para nos fazermos
escutar;
ou melhor, para tornar acessível e compreensível a voz do Senhor. Mas não queremos
que nos escutem a nós; não queremos aumentar o poder e a extensão das nossas
instituições; o que queremos é contribuir para o bem das pessoas e da humanidade,
abrindo caminho para Aquele que é a Vida.
Essa
renúncia ao próprio eu, oferecendo-o a Cristo para a salvação dos homens, é a condição
fundamental de um verdadeiro compromisso em favor do Evangelho: Vim em nome de
meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo...
(Jo 5, 43).
O
anticristo distingue-se por falar em nome próprio. O sinal do Filho é a sua
comunhão com o Pai. O Filho introduz-nos na comunhão trinitária, no círculo do
seu amor, cujas Pessoas são "relações puras", acto puro de entrega e
acolhimento. O desígnio trinitário, visível no Filho, que não fala em seu nome,
mostra o modo de vida do verdadeiro evangelizador. Mais ainda, evangelizar não
é tanto um modo de falar, é antes um modo de viver: viver na escuta do Pai e
ser seu porta-voz. Não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir (Jo 16, 13),
diz o Senhor do Espírito Santo.
Esta
forma cristológica e pneumatológica de evangelização é ao mesmo tempo uma forma
eclesiológica: o Senhor e o Espírito constroem a Igreja, comunicam-se na Igreja.
O
anúncio de Cristo, o anúncio do reino de Deus, pressupõe a escuta da sua voz na
voz da Igreja. "Não falar em nome próprio" significa falar na missão
da Igreja.
Desta
lei da renúncia ao próprio eu tiram-se consequências muito prácticas. Todos os métodos
racionais e moralmente aceitáveis devem ser estudados; é um dever usar das possibilidades
da comunicação. Mas nem as palavras nem toda a arte da comunicação são capazes
de penetrar na pessoa humana até à profundidade a que o Evangelho deve chegar.
Faz poucos anos, li a biografia de um óptimo sacerdote do nosso século, o pe. Dídimo,
pároco de Bassano dei Grappa. Nas suas notas, encontramos umas palavras de ouro,
fruto de uma vida de oração e meditação. Por exemplo, o pe. Dídimo dizia a propósito
do assunto de que tratamos aqui: "Jesus pregava de dia e orava de
noite". Com essa breve anotação, queria dizer que Jesus devia ganhar de
Deus os seus discípulos.
Isso
é válido sempre. Nós não podemos "ganhar" os homens. Devemos
"ganhá-los" de Deus para Deus. Todos os métodos são ineficazes se não
estão fundados na oração.
A
palavra de anúncio deve estar sempre impregnada de uma intensa vida de oração.
Vamos
avançar mais um pouco. Jesus pregava de dia e orava de noite, mas isso não é tudo.
Toda a sua vida, como mostra de uma maneira muito bela o Evangelho de São Lucas,
foi um caminho para a cruz, uma subida a Jerusalém. Jesus não redimiu o mundo com
palavras bonitas, mas com o seu sofrimento e com a sua morte. A sua paixão é inesgotável
fonte de vida para o mundo; a paixão sustenta a sua palavra.
O
próprio Senhor, estendendo e ampliando a parábola do grão de mostarda, formulou
essa lei da fecundidade na parábola do grão de trigo que cai na terra e morre
(cfr. Jo 12, 24). Também essa lei é válida até o fim do mundo e, junto com o
mistério do grão de mostarda, é uma lei fundamental para a nova evangelização.
Toda a História assim o demonstra. Seria fácil demonstrá-lo na história do cristianismo.
Gostaria de recordar aqui somente o início da evangelização na vida de São
Paulo.
O
êxito da sua missão não foi fruto da retórica ou da prudência pastoral; a sua fecundidade
dependeu do seu sofrimento, da sua união com a paixão de Cristo (cfr. 1 Cor 2,
1-5; 2 Cor 5, 7; 11, 10 e segs.; 11, 30; Gál 4, 12-14). Não lhes será dado
outro sinal senão o do profeta Jonas (Lc 1 29), disse o Senhor. O sinal de
Jonas é Cristo crucificado, são as testemunhas que completam o que falta à
paixão de Cristo (Col 1, 24). As palavras de Tertuliano cumpriram-se em todas
as épocas da História: o sangue dos mártires é semente de novos cristãos.
Santo
Agostinho diz o mesmo de um modo muito bonito, mostrando no Evangelho de São
João a íntima relação entre a profecia do martírio de São Pedro e o mandato de apascentar,
ou seja, o seu primado (cfr. Jo 21, 16). Comenta Santo Agostinho: "Apascenta
as minhas ovelhas, isto é, sofre pelas minhas ovelhas" (Sermo 32: PL 2, 640).
Uma mãe não pode dar à luz sem sofrer. Todo o parto implica sofrimento, é sofrimento,
e chegar a ser cristão é um parto. Digamo-lo mais uma vez com palavras do Senhor:
O reino de Deus exige violência (Mt 11, 12; Lc 10, 16), mas a violência de Deus
é o sofrimento, a cruz. Não podemos dar vida aos outros sem dar a nossa vida. O
processo de renúncia ao próprio eu, a que antes me referia, é a forma concreta (manifestada
de diversas maneiras) de dar a própria vida. Já o disse o Salvador: Quem perder
a sua vida por mim e pelo Evangelho, salvá-la-á (Mc 8, 35).
(cont)
(Revisão
da versão portuguesa por ama)
[i] Letter on AIDS,
enviada ao arcebispo Laghi durante a reunião geral da Conferência Nacional dos
Bispos dos Estados Unidos, 1988
[ii] Debate no Centro de
Orientação Política do Roma, out 2004
[iii] L’abolition de
l’homme
[iv] Pronunciada no
Congresso de catequistas e professores de religião, Roma, 10.12.2000, e
publicada em L’Osservatore romano, 19.01.2001