Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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16/08/2014
Temas para meditar 207
Pecado
Afastamo-nos também da luz quando, na incerteza do nosso dever, desleixamos instruirmo-nos a fim de permanecermos numa meia-luz, que favorece as meias medidas, mas que conduz ao pecado completo.
(georges chevrot Jesus e a Samaritana Éfeso 1956 pg. 92)
Tratado da lei 86
Art.
4 — Se a lei nova é mais onerosa do que a antiga.
[III
Sent., dist. XL, a. 4, qª 3 ; Quodl. IV, q. 8, a. 2 ; In Matth, ; cap. IX].
O quarto discute-se assim. — Parece
que a lei nova é mais onerosa que a antiga.
1. — Pois, sobre o constante da
Escritura — Aquele que quebrar um destes
mínimos mandamentos — diz Crisóstomo: Os mandamentos de Moisés, como — não
matarás, não fornicarás — são mais fáceis de praticar. Enquanto que os de
Cristo, como — Não te encolerizarás, não cobiçaras — são mais difíceis. Logo, a
lei nova é mais onerosa que a antiga.
2. Demais. — É mais fácil usar da
prosperidade terrena, do que sofrer tribulações. Ora, no Antigo Testamento, a
prosperidade temporal era consecutiva à observância da lei, como se vê na
Escritura (Dt 28, 1-14). Ao passo que muitas adversidades perseguem os
observantes da lei nova, consoante o Apóstolo (2 Cor 6, 4-10): Portemo-nos em
nossas mesmas pessoas como ministros de Deus, na muita paciência, nas
tribulações, nas necessidades, nas angústias, etc. Logo, a lei nova é mais
onerosa que a antiga.
3. Demais. — Um preceito acrescentado
a outro é mais difícil de ser observado. Ora, a lei nova foi acrescentada à
antiga. Assim, esta proibiu o perjúrio; ao passo que aquela, até mesmo o
juramento. A lei antiga proibia a separação da mulher sem o libelo de repúdio,
a nova proibiu absolutamente a separação, como o diz a Escritura (Mt 5, 31 ss),
conforme a exposição de Agostinho. Logo, a lei nova é mais onerosa que a
antiga.
Mas, em contrário, diz a Escritura (Mt
11, 28): Vinde a mim, todos os que andam
em trabalho e vos achais carregados. E segundo a explicação de Hilário:
Chama a si os que padecem as dificuldades da lei e estão carregados com os
pecados do século. E depois, o Senhor acrescenta, falando do jugo do Evangelho:
O meu jugo é suave, e o meu peso leve.
Logo, a lei nova é mais leve que a antiga.
Em relação às obras
virtuosas, para regular as quais foram dados os preceitos da lei, surge dupla
dificuldade. — Uma, relativa às obras externas, que em si mesmas trazem uma
certa dificuldade e onerosidade. E neste ponto a lei antiga será muito mais
onerosa que a nova. Pois, com as suas múltiplas cerimónias, obrigava a mais actos
externos que a lei nova. Esta, além dos preceitos da lei natural, poucas coisas
acrescentou, com a doutrina de Cristo e dos Apóstolos. Embora muitos acréscimos
se fizessem depois, por instituição dos santos padres. Mas ainda neste ponto,
Agostinho diz, que não se deve perder de vista a moderação, para não se tornar
onerosa a vida dos fiéis. Assim, referindo-se a alguns, diz: Carregam com obras
servis a nossa própria religião, que, com manifestíssimas e pouquíssimas cerimónias
de sacrifícios, a misericórdia de Deus quis que fosse livre. De modo que é mais
tolerável a condição dos judeus, sujeitos, a sacramentos legais e não a
presunções humanas.
A outra dificuldade versa sobre os actos
virtuosos internos, como quando praticados pronta e agradavelmente. Ora, atacar
essa dificuldade é a função da virtude. Pois, a prática desses actos, muito
difícil para quem não possui a virtude, torna-se fácil para o virtuoso. E neste
ponto os preceitos da lei nova são mais onerosos que os da antiga. Pois, aquela
proíbe os movimentos internos da alma, que a lei antiga não proibia
expressamente em todos os casos, embora o fizesse em alguns, em que porém não
se acrescentava nenhuma pena à proibição. Ora, o que a lei nova dispõe é
dificílimo para quem não tem virtude. Pois, como diz o Filósofo, é fácil fazer
o que faz o justo, mas agir como ele age, deleitável e prontamente, é difícil
para quem não tem justiça. E assim também diz a Escritura (1 Jo 5, 3): os seus mandamentos não são custosos, o
que Agostinho explica: o que não é difícil para quem ama é-o para quem não ama.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A autoridade aduzida refere-se expressamente à dificuldade da lei nova,
quanto à expressa proibição dos movimentos internos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — As contrariedades
que sofrem os observantes da lei nova não são impostas pela própria lei,
contudo, como o amor, em que a lei consiste, são facilmente toleradas. Pois,
como diz Agostinho o amor torna fácil e quase destrói o que é cruel e duro.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Esses
acréscimos aos preceitos da lei antiga têm por fim facilitar-lhe a observância,
como diz Agostinho. Logo, daí não se conclui que a lei nova seja mais onerosa,
mas ao contrário, mais fácil.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Evang.; Coment.; Leit. Esp. (Magistério - Ratzinguer)
Evangelho: Mt 19, 13-15
13 Então, foram-Lhe apresentadas várias crianças para que Lhes impusesse
as mãos e orasse por elas. Mas os discípulos repreendiam-nas. 14
Jesus, porém, disse-lhes: «Deixai as crianças, e não as impeçais de vir a Mim,
porque delas é o Reino dos Céus». 15 E, tendo-lhes imposto as mãos,
partiu dali.
Comentário:
Nem
mais… nem menos! Se o Reino dos Céus é das crianças é natural que o Rei as
queira junto de Si!
Que
maravilha!
Como
recusar um desafio tão grande como este: ser como criança?
E
como será isso possível aos homens adultos cheios de preconceitos, ideias
formadas, vícios e defeitos de carácter?
De
facto, não é possível, isto é, sem a ajuda do próprio Rei e Senhor. No fim e ao
cabo estamos a falar de entrega confiada e alegre nas Suas mãos amorosas,
deixar que seja Ele a conduzir a nossa vida, a tentar em tudo, fazer a Sua
vontade.
(ama, Comentário sobre Mt 19, Carvide, 13-15, 2013.08.18)
Leitura espiritual
Magistério
cardeal joseph ratzinger
Algumas perguntas pessoais
…/8
Nossa Senhora, Mãe que
cura.
Esta
antiquíssima e misteriosa imagem a que os romanos chamam Salus populi Romani
[salvação ou saúde do povo romano] é, segundo
a
tradição, a imagem que Gregório Magno levou em procissão pelas ruas de Roma no ano
de 590, num momento em que a peste devastava a cidade. Quando terminou a procissão,
cessou também a epidemia; Roma recobrou a saúde. O nome desta imagem quer
dizer-nos: neste nome pode Roma, neste nome podem os homens curar-se continuamente.
Desta
figura ao mesmo tempo juvenil e venerável, dos seus olhos sábios e bondosos, olha-nos
a bondade maternal de Deus. "Como alguém que é consolado pela sua mãe, assim
eu vos consolarei", diz-nos Deus através do profeta Isaías (66, 13). O
consolo maternal revela-nos plenamente Deus, sobretudo através das mães,
através da sua Mãe.
E
quem poderia estranhá-lo?
Diante
desta imagem, desaparece de nós a fatuidade, diluem-se as crispações da nossa soberba,
o medo diante dos nossos sentimentos e tudo aquilo que nos faz adoecer por dentro.
A depressão e o desespero nascem de que o âmbito dos nossos sentimentos está desordenado
ou entrou em colapso. Já não vemos o que há de cálido, de consolador, de bom e
salvador no mundo - coisas que somente podemos perceber com o coração -. Na frieza
de um conhecimento que foi privado das suas raízes, o mundo torna-se puro desespero.
Daí que a aceitação desta imagem cure. Devolve-nos ao chão da fé e da condição
humana, sempre que aceitemos a partir de dentro a sua linguagem, sempre que não
nos fechemos a ela. [...] Esta imagem [.-.] ajuda-nos assim a desligar a fé do
esforço da vontade e do entendimento e a situá-la novamente na totalidade do
nosso ser. [...]
Podemos
abrir-nos de novo à proximidade da nossa Mãe sem medo de falsos sentimentalismos
[i].
O futuro da Igreja
Minoria? Há muitos anos, o
senhor falava em termos proféticos sobre a Igreja do futuro: a Igreja - dizia
então - reduzir-se--á nas suas dimensões, e será preciso começar novamente. Mas
desta prova sairá uma Igreja que terá obtido uma grande força do processo de
simplificação pelo qual terá passado, da sua renovada capacidade de olhar para
dentro de si mesma. Qual é a perspectiva que nos espera na Europa?
Para
começar, a Igreja "reduzir-se-á numericamente". Quando fiz esta
afirmação, choveram-me de toda a parte censuras de pessimismo. Hoje, quando
todas as proibições parecem ter caído em desuso, entre elas as que dizem
respeito ao que se vem chamando pessimismo - o qual, com frequência, não passa
de um sadio realismo -, cada vez são mais os que admitem que a percentagem dos
cristãos baptizados na Europa vem diminuindo: numa cidade como Magdeburgo, é de
apenas 8% da população total, incluindo-se aí todas as confissões cristãs. Os
dados estatísticos mostram tendências irrefutáveis. Neste sentido, reduz-se a
possibilidade de identificação entre povo e Igreja em determinadas áreas
culturais. Devemos tomar nota disto com simplicidade e realismo.
A
Igreja de massas pode ser algo muito bonito, mas não é necessariamente a única modalidade
do ser Igreja. A Igreja dos primeiros três séculos era pequena, sem que por isso
fosse uma comunidade sectária. Pelo contrário, não estava fechada sobre si
mesma, mas sentia uma grande responsabilidade pelos pobres, pelos doentes, por
todos. No seu seio encontravam abrigo todos aqueles que se nutriam de uma fé
monoteísta e estavam à busca de uma promessa. Essa consciência de não ser um
clube fechado, mas de estar aberta à comunidade no seu conjunto, sempre foi um
componente intrínseco da Igreja. [...]
Devemos
tomar nota da diminuição das nossas fileiras, mas devemos continuar igualmente
a ser uma Igreja aberta. A Igreja não pode ser um grupo fechado,
auto-suficiente. Devemos, sobretudo, ser missionários, no sentido de voltar a
propor à sociedade aqueles valores que são os fundamentos da forma legal que a
sociedade deu a si mesma, e que estão na base da própria possibilidade de
construir qualquer comunidade social verdadeiramente humana. A Igreja
continuará a propor os grandes valores humanos universais. Porque, se o Direito
deixa de ter fundamentos morais compartilhados por todos, desmorona também como
Direito. Deste ponto de vista, a Igreja tem uma responsabilidade universal.
Responsabilidade missionária significa precisamente, como diz o Papa,
empreender verdadeiramente uma nova evangelização.
Não
podemos aceitar tranquilamente que o resto da Humanidade volte a precipitar-se
no paganismo; devemos encontrar o caminho para levar o Evangelho também aos
não-crentes. A Igreja deve recorrer a toda a sua criatividade para fazer com
que não se apague a força viva do Evangelho [ii].
Perigo e esperança.
Qual é, a seu parecer, o
grande perigo e a grande esperança da Igreja, hoje?
Acredito
que o maior perigo está em que nos convertamos numa organização social que não
esteja fundada na fé do Senhor. À primeira vista, poderia parecer que só
importa o que estamos fazendo e que a fé não é tão importante. Mas se a fé
desaparece, todas as outras coisas, como vimos, decompõem--se. Penso que existe
o perigo, com todas estas actividades e perspectivas externas, de subestimar a
importância da fé e de perdê-la, de começar a viver numa Igreja em que a fé não
seja importante.
E
existe a grande esperança de que veremos uma nova presença do Senhor. Já vimos que
a sua presença sacramental na Eucaristia é um dom para todos nós e nos permite amar
os outros e trabalhar pelos outros. Penso que a nova presença da Eucaristia e o
novo amor por Cristo, o próprio Cristo presente na Eucaristia, é o elemento
mais alentador do nosso tempo [iii].
Perspectivas.
Que mudanças sofrerá a
Igreja?
Penso
que devemos ser muito cautelosos à hora de fazer previsões, porque o desenvolvimento
histórico sempre traz muitas surpresas. A futurologia fracassa com frequência.
Ninguém se arriscava, por exemplo, a prever a queda dos regimes comunistas. A
sociedade mundial sofrerá profundas mudanças, mas por enquanto não temos
condições de prever que consequências terá a diminuição numérica do mundo ocidental,
que ainda é o dominante, qual será a nova cara da Europa transformada pelas correntes
migratórias, que civilização e que formas sociais hão-de impor-se. Seja como for,
o que é claro é que a Igreja ocidental se sustentará sobre um potencial
diverso.
O
que conta mais, na minha opinião, é "essencializar", para usar uma
expressão de Romano Guardini. É necessário evitar a elaboração de
pré-construções fantásticas de algo que se poderá revelar muito diferente e que
não podemos pré-fabricar nos meandros do nosso cérebro, para concentrar-se,
pelo contrário, no essencial, que depois poderá encontrar novos modos de
encarnar-se. É importante um processo de simplificação que nos permita
distinguir o que constitui a viga-mestra da nossa doutrina, da nossa fé, o que
nela tem valor perene.
É
importante voltar a propor as grandes constantes de fundo nos seus componentes
fundamentais: as questões sobre Deus, a salvação, a esperança, a vida, sobre
tudo o que eticamente tem um valor básico [iv].
Escândalos.
Eminência [...]: devo
dizer-lhe, honestamente, que os últimos dias foram como uma prova de fé para
mim e para alguns dos meus colegas [refere-se à campanha contra a Igreja por
causa dos padres pedófilos nos Estados Unidos]. Como enfrentar a tentação da
desesperança que às vezes experimentamos [...]?
Penso
que temos de nos lembrar de Nosso Senhor, que nos disse: "No campo da
Igreja não haverá só trigo, mas também palha; dos mares do mundo, tirareis não
somente peixes, mas também coisas inaceitáveis". Portanto, o Senhor
anuncia-nos uma Igreja em que existirão escândalos e pecadores. Devemos
lembrar-nos de que São Pedro, o primeiro dos Apóstolos, foi um grande pecador,
e apesar disso o Senhor quis que esse Pedro pecador fosse a rocha da Igreja.
Com isso, indicou-nos que não esperássemos que todos os Papas fossem grandes
santos: temos de aceitar que alguns deles sejam pecadores.
[Cristo]
anuncia-nos que no campo da Igreja haverá muita palha. A situação actual não nos
surpreende se considerarmos a História da Igreja. Houve épocas que foram pelo menos
tão complicadas como a nossa, com escândalos, coisas ruins, etc. Basta pensar no
século IX, no X, no Renascimento... Contemplando, pois, as palavras do Senhor aplicadas
à História da Igreja, poderemos relativizar os escândalos de hoje.
Sofremos.
Temos que sofrer porque os escândalos fazem sofrer muita gente, e agora penso
nas vítimas. Certamente, temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance
para evitar que essas coisas aconteçam no futuro, mas, por outro lado, sabemos
que o Senhor - e esta é a essência da Igreja - se sentava à mesa com pecadores.
Esta é a própria definição da Igreja: que o Senhor se senta à mesa com pecadores.
Portanto,
não podemos surpreender-nos [de que haja pecados]. Não podemos cair na
desesperança.
Pelo
contrário, o Senhor disse-nos: "Não estou aqui só para os justos, mas sim
para os pecadores". Temos que estar certos de que o Senhor,
verdadeiramente, e também hoje em dia, procura os pecadores para os salvar.
Durante os dois últimos
anos, muitos diagnosticaram uma crise de abusos sexuais que estariam infestando
a Igreja nos Estados Unidos. [...] O senhor, eu sei, acompanhou bastante essa
crise, tratando de fechar as feridas. A minha pergunta ê: quais pensa que sejam
as raízes dessa crise?
Distinguiria
talvez dois elementos: um geral e outro específico. O elemento geral é, como já
disse, a fraqueza dos seres humanos, incluídos os sacerdotes. As tentações
existem também para os padres, e isso sempre será assim. Temos de aceitá-lo e
entender que [...] estas coisas podem acontecer.
O
segundo ponto é mais específico. Por que é mais comum nestes tempos do que no passado?
Penso que um ponto essencial é a debilidade da fé. Somente se eu me encontrar a
sós com o Senhor, se o Senhor estiver presente para mim - não a ideia, mas a
Pessoa com quem vivo uma profunda amizade -, se eu o conhecer pessoalmente e estiver
todos os dias em contacto com o seu amor, somente então é que a fé se converterá
numa realidade para mim.
Se
for assim, ela passará a ser o chão da minha vida, a mais firme realidade, e
não uma simples possibilidade.
Se
for assim, se eu estiver realmente convicto e em contacto com o amor do Senhor,
então Ele me ajudará a vencer as tentações, por mais que pareçam impossíveis de
vencer. Se não actualizamos a nossa fé todos os dias, se ela se enfraquece e se
converte em algo que não é fundamental na vida, então começam todos esses
problemas.
É
por todas estas razões que a debilidade da fé e a pouca presença da fé na
Igreja são o ponto essencial [das crises]. Parece-me que é um problema que
vimos arrastando há quarenta ou cinquenta anos: a noção de que temos de ter
ideias comuns com todo o mundo e de que a fé é um assunto muito pessoal,
juntamente com a falta de consciência de que é um dom de Deus. A primeira coisa
a fazer, neste caso, é voltar a aprender, é reconvertermo-nos a uma fé profunda
e educarmo-nos na fé.
Penso
também que, nos últimos quarenta ou cinquenta anos, o ensino moral na Igreja não
esteve muito claro. Tivemos tantos mestres que ensinavam falsidades e diziam: "Não,
isso não é pecado. Isso é comum e, como todos o fazem, está permitido"!
Por causa dessas ideias, não tivemos uns ensinamentos morais claros. Acredito
que há duas coisas essenciais nesta matéria: a conversão a uma fé profunda, a
vida sacramental e de oração, por um lado; e, por outro, um ensino moral e a
convicção de que a Igreja tem o Espírito Santo do seu lado.
O que diria aos fiéis nos
Estados Unidos que se encontram tão abatidos nestes momentos que não sabem para
quem olhar?
Bem,
em primeiro lugar o que têm de fazer é olhar para o Senhor. Ele está sempre presente
e sempre perto de nós. E olhem também para os santos de todos os tempos. Os humildes,
os fiéis estão aí, talvez de maneira não tão evidente porque não aparecem na televisão;
mas estão presentes, e é nisso que a Igreja confia: confia em que todos os
fiéis encontrarão esse tipo de pessoas. Assim verão que, com todos os problemas
de hoje, a Igreja não desapareceu, continua adiante, especialmente graças a
pessoas que não são muito visíveis. Penso, por conseguinte, que o essencial é
encontrar o Senhor, ver os santos de todos os tempos e encontrar também os que
não estão canonizados, as pessoas singelas que estão no coração da Igreja [v].
Autoridade na Igreja.
A obediência [...],
segundo alguns, já não seria nem ao menos uma virtude cristã, mas uma herança
de um passado autoritário, dogmático, a ser, portanto, superado.
Com
efeito, se a Igreja é a nossa Igreja, se a Igreja somos apenas nós, se as suas estruturas
não são as que Cristo quis, então não se pode mais conceber a existência de uma
hierarquia como serviço aos baptizados, estabelecida pelo próprio Senhor.
Recusa-se o conceito de uma autoridade querida por Deus, de uma autoridade que
tem a sua legitimidade em Deus, e não no consenso da maioria dos membros da
organização, como acontece nas estruturas políticas.
Mas
a Igreja de Cristo não é um partido, não é uma associação nem um clube: a sua estrutura
profunda é ineliminável; não é democrática, e sim sacramental, e portanto hierárquica:
porque a hierarquia baseada na sucessão apostólica é condição indispensável
para obter a força e a realidade dos sacramentos. Aqui, a autoridade não se
baseia em votações da maioria; baseia-se na autoridade do próprio Cristo, que
quis fazer com que participassem dela homens que fossem os seus representantes
até ao seu retorno definitivo. Só se poderá redescobrir a necessidade e a
fecundidade católica da Igreja retomando essa visão de obediência à sua
legítima hierarquia [vi].
Divisões entre os
cristãos.
Deus
escreve certo por linhas tortas. Mas as linhas permanecem tortas, e isso
significa que as divisões estão relacionadas com o pecado humano. O pecado não
se torna positivo só porque, se for compreendido como algo que deve ser
superado pela conversão e apagado pelo perdão, pode levar a um processo de crescimento.
Já Paulo teve de explicar aos Romanos a ambiguidade que nascera do seu ensinamento
sobre a graça, segundo a qual, se o pecado conduzia à graça, podia ser aceite
tranquilamente (Rom 6, 19). A capacidade divina de tirar coisas boas até dos nossos
pecados certamente não significa que o pecado seja bom. E o facto de que Deus pode
tirar frutos positivos da divisão não a torna boa em si mesma [vii].
A
única apologética. A única, a verdadeira apologia do cristianismo pode
reduzir-se a dois argumentos: os santos que a Igreja produziu e a arte que
germinou no seu seio. O Senhor torna-se crível pela magnificência da santidade
e da arte, que explodem dentro da comunidade crente, mais que pelas astutas
escapatórias que a apologética elaborou para justificar os lados obscuros que
abundam, infelizmente, nos acontecimentos humanos da Igreja. Se a Igreja,
portanto, deve continuar a converter, a humanizar o mundo, como pode, na sua
liturgia, renunciar à beleza, que está unida de modo inseparável ao amor e, ao
mesmo tempo, ao esplendor da Ressurreição? Não, os cristãos não devem
contentar-se facilmente, devem continuar a fazer da sua Igreja o lar do belo, portanto
do verdadeiro, sem o que o mundo se torna o primeiro círculo do inferno. [...]
Um
teólogo que não ame a arte, a poesia, a música, a natureza, pode ser perigoso.
Essa cegueira e surdez para o belo não são secundárias, reflete-se
necessariamente também na sua teologia [viii].
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)