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Participaremos na sua maternidade espiritual

Recorre constantemente à Virgem Santíssima, Mãe de Deus e Mãe da humanidade: e Ela atrairá, com suavidade de Mãe, ao amor de Deus as almas com quem fazes apostolado, para que se decidam a ser – no seu trabalho corrente, na sua profissão – testemunhas de Jesus Cristo. (Forja, 911)


Se nos identificarmos com Maria, se imitarmos as suas virtudes, poderemos conseguir que Cristo nasça, pela graça, na alma de muitos que se identificarão com Ele pela acção do Espírito Santo. Se imitarmos Maria, participaremos de algum modo na sua maternidade espiritual: em silêncio, como Nossa Senhora, sem que se note, quase sem palavras, com o testemunho íntegro e coerente de uma conduta cristã, com a generosidade de repetir sem cessar um fiat que se renova como algo íntimo entre Deus e nós. (Amigos de Deus, 281)

Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira




(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?



Temas para meditar - 168

Aflições


Recorda-te que as abelhas no tempo em que fazem o mel comem e sustentam-se de um mantimento muito amargo; e assim nós não podemos praticar actos de maior mansidão e paciência, nem compor o mel das melhores virtudes, senão quando comemos o pão da amargura e vivemos no meio das aflições.


(são francisco de salesIntroducción a la vida devota, III, 3, trad. ama

Tratado da lei 46

Questão 100: Dos preceitos morais da lei antiga.

Art. 2 — Se os preceitos morais da lei abrangem todos os actos virtuosos.

(IIª-IIae, q. CXL., a. 2).

O segundo discute-se assim. — Parece que os preceitos morais da lei não abrangem todos os actos virtuosos.

1. — Pois, à observância dos preceitos da lei antiga se chama justificação, conforme a Escritura (Sl 118, 8): observarei as tuas justificações. Ora, a justificação é a execução da justiça. Logo, os preceitos morais não abrangem senão os actos de justiça.

2. Demais. — O que cai sob a alçada de um preceito tem natureza de obrigação. Ora, a noção de obrigação não inclui as demais virtudes, senão só a justiça, cujo acto próprio é dar a cada um o que lhe é devido. Logo, os preceitos da lei moral não abrangem os actos das outras virtudes, mas só os da justiça.

3. Demais. — Toda lei é estabelecida para o bem comum, como diz Isidoro. Ora, dentre as virtudes, só a justiça visa o bem comum, conforme diz o Filósofo. Logo, os preceitos morais abrangem só os actos de justiça.

Mas, em contrário, diz Ambrósio: o pecado é a transgressão da lei divina e a desobediência aos mandamentos celestes. Ora, os pecados contrariam todos os actos virtuosos. Logo, a lei divina deve ordenar sobre os actos de todas as virtudes.

Ordenando-se os preceitos da lei para o bem comum, como já se disse (q. 90, a. 2), eles hão-de forçosamente diversificar-se conforme as diversas maneiras de ser da comunidade. Por isso, o Filósofo ensina, que umas serão as leis estabelecidas para a cidade governada por um rei, e outras as estabelecidas para a que é governada pelo povo ou pelos mais poderosos, dos habitantes dela. Ora, um é o feitio da comunidade, para que se ordena a lei humana, e outro, para que se ordena a lei divina. — Pois, a lei humana ordena-se à comunidade civil, a constituída pelos homens entre si; e estes se ordenam uns para os outros pelos seus actos exteriores, com que se entre comunicam. E essa comunicação pertence essencialmente à justiça, que é propriamente directiva da comunidade humana. Donde, a lei humana só propõe preceitos referentes aos actos de justiça; e se ordenar outros actos de virtude, não será senão enquanto se revestem da essência da justiça, como está claro no Filósofo.

A comunidade porém, a que se ordena a lei divina, é a dos homens enquanto tendem para Deus, na vida presente ou na futura. Por isso, essa lei propõe preceitos sobre todos os actos pelos quais os homens bem se ordenam à comunicação com Deus. Ora, o homem se une a Deus pela razão, ou espírito, que reproduz a imagem d’Ele. Donde, a lei divina propõe preceitos sobre todos os actos pelos quais a razão do homem fica bem ordenada. Ora, isto dá-se pelos actos de todas as virtudes. Assim, as virtudes intelectuais ordenam com acerto os actos da razão em si mesmos; as morais, por seu lado, impõem ordem aos actos da razão relativamente às paixões internas e as obras externas. Donde é manifesto, que a lei divina propõe convenientemente preceitos sobre os actos de todas as virtudes. De modo porém que alguns actos, sem os quais a ordem da virtude, que é a da razão, não pode ser observada, são impostos pela obrigação de preceitos; e outros, relativos à existência completa da virtude perfeita, pertencem à advertência do conselho.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O cumprir os mandamentos da lei, mesmo os que pertencem aos actos das outras virtudes, implica a ideia de justificação. Enquanto é justo o homem obedecer a Deus; ou ainda enquanto é justo que todo o humano esteja sujeito à razão.

DONDE A RESPOSTA À SEGUNDA. — A justiça propriamente dita implica a dívida de um homem para com outro; ao passo que todas as outras virtudes implicam o débito das faculdades inferiores para com as superiores. E, conforme a natureza desse débito, o Filósofo distingue uma certa justiça metafórica.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A resposta deduz-se clara do que dissemos sobre as diversas comunidades.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho, comentário e Leit. Espirit. (Decl. Dominus Iesus)

Tempo comum XIV Semana

Evangelho: Mt 9, 18-26

18 Enquanto lhes dizia estas coisas, eis que um chefe da sinagoga se aproxima e se prostra diante d'Ele, dizendo: «Senhor, morreu agora minha filha; mas vem, põe a Tua mão sobre ela, e viverá». 19 Jesus, levantando-Se, seguiu-o com os Seus discípulos. 20 E eis que uma mulher que padecia de um fluxo de sangue havia doze anos, se chegou por detrás d'Ele, e tocou na orla do Seu vestido. 21 Dizia para si mesma: «Ainda que eu toque somente o Seu vestido, serei curada». 22 Voltando-Se Jesus e, olhando-a, disse: «Tem confiança, filha, a tua fé te salvou». E ficou sã a mulher desde aquele momento. 23 Tendo Jesus chegado a casa do chefe da sinagoga viu os tocadores de flauta e uma multidão de gente que fazia muito barulho. 24 «Retirai-vos, disse, porque a menina não está morta, mas dorme». Mas riam-se d'Ele. 25 Tendo-se feito sair a gente, Ele entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou. 26 E divulgou-se a fama deste milagre por toda aquela terra.

Comentário:

Aquela mulher acredita que Jesus a pode curar e tudo faz para o conseguir.
Está impedida de contactar, ou dirigir-se, directa e frontalmente a Jesus para solicitar a sua cura. Aquele tipo de doenças era rigorosamente descriminado na sociedade judaica. As pessoas naquelas condições eram consideradas impuras e todo o contacto com os outros era estritamente proibido. Assim como por exemplo, os portadores de lepra. (…)

A Fé da mulher é porém tão grande que a move a arrostar com todas as dificuldades, - a vergonha, o poder ser descoberta, etc. - e, aproveitando os apertos da multidão, dissimuladamente, mas com confiança, toca o manto de Jesus.  No seu coração, ela estava convencida que tanto bastaria para alcançar a graça que pretendia.
Sem dúvida que a sua Fé é grande, total, a isso fora levada por anos, - 12 anos - de procura incessante de cura para os seus males.
Temos sempre de pôr todos os meios na procura do que necessitamos. O Senhor não espera de nós nada que vá além das nossas forças e das nossas capacidades. Mas espera que as utilizemos, todas, com critério e sem desfalecimentos. (…)
(ama, Palestra, Meadela, Fevereiro de 1981)

Leitura espiritual


Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

DECLARAÇÃO
"DOMINUS IESUS"
SOBRE A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE SALVÍFICA DE JESUS CRISTO E DA IGREJA

…/3

III. UNICIDADE E UNIVERSALIDADE  DO MISTÉRIO SALVÍFICO DE JESUS CRISTO

13. É igualmente frequente a tese que nega a unicidade e a universalidade salvífica do mistério de Jesus Cristo. Tal posição não tem nenhum fundamento bíblico. Deve, invés, crer-se firmemente, como dado perene da fé da Igreja, a verdade de Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único salvador, que no seu evento de encarnação, morte e ressurreição realizou a história da salvação, a qual tem n'Ele a sua plenitude e o seu centro.

Os testemunhos neo-testamentários afirmam-no claramente: «O Pai enviou o seu Filho como salvador do mundo» (1 Jo 4,14); «Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo» (Jo 1,29). No seu discurso perante o sinédrio, Pedro, para justificar a cura do homem que era aleijado desde o nascimento, cura realizada no nome de Jesus (cf. Actos 3,1-8), proclama: «E não há salvação em nenhum outro, pois não existe debaixo do Céu outro nome dado aos homens, pelo qual tenhamos de ser salvos» (Actos 4,12). O mesmo Apóstolo acrescenta ainda que Jesus Cristo «é o Senhor de todos»; «foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos»; pelo que «todo o que acredita n'Ele recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados» (cf. Actos 10,36.42.43).

Paulo, dirigindo-se à comunidade de Corinto, escreve: «Porque, embora digam haver deuses no céu e na terra, — na verdade são muitos esses deuses e esses senhores — para nós há um só Deus: o Pai, de quem tudo procede e para o qual fomos criados; e há um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual tudo existe e pelo qual também nós existimos» (1 Cor 8,5-6). Também o Apóstolo João afirma: «Deus amou de tal maneira o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o homem que acredita n'Ele não se perca, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para este ser salvo por seu intermédio» (Jo 3,16-17). No Novo Testamento, a vontade salvífica universal de Deus está estritamente ligada à única mediação de Cristo: «[Deus] quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois Deus é um só, e um só também o Mediador entre Deus e os homens: esse homem, que é Cristo Jesus, que Se entregou à morte para resgatar a todos» (1 Tim 2,4-6).

É sobre esta consciência do dom de salvação único e universal dado pelo Pai por meio de Jesus Cristo no Espírito (cf. Ef 1,3-14), que os primeiros cristãos se dirigiram a Israel, mostrando que a salvação se alcançava para além da Lei, e enfrentaram o mundo pagão de então, que aspirava à salvação através de uma pluralidade de deuses salvadores. Este património de fé voltou a ser proposto pelo recente Magistério da Igreja: «A Igreja crê que Cristo, morto e ressuscitado por todos (cf. 2 Cor 5,15), oferece à humanidade, pelo seu Espírito, luz e forças que lhe permitem corresponder à sua altíssima vocação. Ela crê que não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual eles devam ser salvos (cf. Actos 4,12). Ela crê também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre».42

14.  Deve, portanto, crer-se firmemente como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e Trino é oferecida e realizada de uma vez para sempre no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus.

Tendo presente este dado de fé, a teologia hoje, meditando na presença de outras experiências religiosas e no seu significado no plano salvífico de Deus, é convidada a explorar se e como também figuras e elementos positivos de outras religiões reentram no plano divino de salvação. Neste empenho de reflexão abre-se à investigação teológica um vasto campo de trabalho sob a guia do Magistério da Igreja. O Concílio Vaticano II, de facto, afirmou que «a única mediação do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas uma cooperação múltipla, que é participação na fonte única».43 Há que aprofundar o conteúdo desta mediação participada, que deve ser todavia regulada pelo princípio da única mediação de Cristo: «Se não se excluem mediações participadas de diverso tipo e ordem, todavia elas recebem significado e valor unicamente da de Cristo, e não podem ser entendidas como paralelas ou complementares desta».44 Seriam, invés, contrárias à fé cristã e católica as propostas de solução que apresentam uma acção salvífica de Deus fora da única mediação de Cristo.

15. Não é raro que se proponha evitar na teologia termos como «unicidade», «universalidade», «absoluto», cujo uso daria a impressão de se dar uma ênfase excessiva ao significado e valor do evento salvífico de Jesus Cristo em relação às demais religiões. Ora, essa linguagem não faz mais que exprimir a fidelidade ao dado revelado, uma vez que constitui uma evolução das próprias fontes da fé. Desde o início, efectivamente, a comunidade dos crentes atribuiu a Jesus um valor salvífico de tal ordem, que apenas Ele, como Filho de Deus feito homem, crucificado e ressuscitado, por missão recebida do Pai e no poder do Espírito Santo, tem por finalidade dar a revelação (cf. Mt 11,27) e a vida divina (cf. Jo 1,12; 5,25-26; 17,2) à humanidade inteira e a cada homem.

Neste sentido, pode e deve dizer-se que Jesus Cristo tem para o género humano e para a sua história um significado e um valor singulares e únicos, só a Ele próprios, exclusivos, universais, absolutos. Jesus é, de facto, o Verbo de Deus feito homem para a salvação de todos. Recebendo esta consciência de fé, o Concílio Vaticano II ensina: «O Verbo de Deus, por quem todas as coisas foram feitas, encarnou, a fim de, como homem perfeito, salvar a todos e recapitular todas as coisas. O Senhor é o fim da história humana, “o ponto para o qual tendem os desejos da história e da civilização”, o centro da humanidade, a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações. É aquele a quem o Pai ressuscitou dos mortos, exaltou e colocou à sua direita, constituindo-O juiz dos vivos e dos mortos».45 «Precisamente esta singularidade única de Cristo é que Lhe confere um significado absoluto e universal, pelo qual, enquanto está na História, é o centro e o fim desta mesma História: “Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22,13)».46

IV. UNICIDADE E UNIDADE DA IGREJA

16. O Senhor Jesus, único Salvador, não formou uma simples comunidade de discípulos, mas constituiu a Igreja como mistério salvífico: Ele mesmo está na Igreja e a Igreja n'Ele (cf. Jo 15,1ss.; Gal 3,28; Ef 4,15-16; Actos 9,5); por isso, a plenitude do mistério salvífico de Cristo pertence também à Igreja, unida de modo inseparável ao seu Senhor. Jesus Cristo, com efeito, continua a estar presente e a operar a salvação na Igreja e através da Igreja (cf. Col 1,24-27),47 que é o seu Corpo (cf. 1 Cor 12,12-13.27; Col 1,18).48 E, assim como a cabeça e os membros de um corpo vivo, embora não se identifiquem, são inseparáveis, Cristo e a Igreja não podem confundir-se nem mesmo separar-se, constituindo invés um único «Cristo total».49 Uma tal inseparabilidade é expressa no Novo Testamento também com a analogia da Igreja Esposa de Cristo (cf. 2 Cor 11,2; Ef 5,25-29; Ap 21,2.9).50

Assim, e em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da Igreja por Ele fundada. Como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: «uma só Igreja católica e apostólica».51 Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca abandonar a sua Igreja (cf. Mt 16,18; 28,20) e de guiá-la com o seu Espírito (cf. Jo 16,13) comportam que, segundo a fé católica, a unicidade e unidade, bem como tudo o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar.52

Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na sucessão apostólica 53 — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: «Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cf. Jo 21,17), encarregando-o a Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,18ss.); levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cf. 1 Tim 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste [subsistit in] na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele».54 Com a expressão «subsistit in», o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que «existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição»,55 isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica.56 Acerca destas, porém, deve afirmar-se que «o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica».57

17. Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele.58 As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares.59 Por isso, também nestas Igrejas está presente e actua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objectivamente tem e exerce sobre toda a Igreja.60

As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico,61 não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram baptizados nestas Comunidades estão pelo Baptismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja.62 O Baptismo, efectivamente, tende por si ao completo desenvolvimento da vida em Cristo, através da íntegra profissão de fé, da Eucaristia e da plena comunhão na Igreja.63

«Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma — diferenciada e, de certo modo, também unitária — das Igrejas e Comunidades eclesiais; nem lhes é permitido pensar que a Igreja de Cristo hoje já não exista em parte alguma, tornando-se, assim, um mero objecto de procura por parte de todas as Igrejas e Comunidades».64 «Os elementos desta Igreja já realizada existem, reunidos na sua plenitude, na Igreja Católica e, sem essa plenitude, nas demais Comunidades».65 «Por isso, as próprias Igrejas e Comunidades separadas, embora pensemos que têm faltas, não se pode dizer que não tenham peso no mistério da salvação ou sejam vazias de significado, já que o Espírito Se não recusa a servir-Se delas como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica».66

A falta de unidade entre os cristãos é certamente uma ferida para a Igreja; não no sentido de estar privada da sua unidade, mas «porque a divisão é um obstáculo à plena realização da sua universalidade na história».67

(cont.)
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Notas:
(42) Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 10. Cf. S. Agostinho, que afirma que fora de Cristo, « caminho universal de salvação, que nunca faltou ao género humano, nunca ninguém foi libertado, ninguém é libertado, ninguém será libertado »: De Civitate Dei 10, 32, 2: CCL 47, 312.
(43) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 62.
(44) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 5.
(45) Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 45. A necessária e absoluta singularidade e universalidade de Cristo na história humana é bem expressa por S. Ireneu quando contempla a proeminência de Jesus como Primogénito: « Nos céus, como primogénito do pensamento do Pai, o Verbo perfeito conduz pessoalmente todas as coisas e legisla; sobre a terra, como primogénito da Virgem, homem justo e santo, servo de Deus, bom e agradável a Deus, perfeito em tudo; enfim, salvando dos infernos todos os que o seguem, como primogénito dos mortos, é cabeça e fonte da vida de Deus » (Demonstratio, 39: SC 406, 138).
(46) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 6.
(47) Cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14.
(48) Cf. ibid., n. 7.
(49) Cf. S. Agostinho, Enarrat. in Psalmos, Ps. 90, Sermo 2,1: CCL 39, 1266; S. Gregório Magno, Moralia in Iob, Praefatio, 6, 14: PL 75, 525; S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 48, a. 2 ad 1.
(50) Cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 6.
(51) Símbolo da fé: Denz., n. 48. Cf. Bonifácio VIII, Bula Unam Sanctam: Denz., n. 870-872; Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 8.
(52) Cf. Conc. Vaticano II, Decr. Unitatis redintegratio, n. 4; João Paulo II, Carta Enc. Ut unum sint, n. 11: AAS 87 (1995) 921-982.
(53) Cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 20; cf. ainda S. Ireneu, Adversus Haereses, III, 3, 1-3: SC 211, 20-44; S. Cipriano, Epist. 33, 1: CCL 3B, 164-165; S. Agostinho, Contra advers. legis et prophet., 1, 20, 39: CCL 49, 70.
(54) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 8.
(55) Ibid., cf. João Paulo II, Carta Enc. Ut unum sint, n. 13. Conc. Vaticano II, Const. Dogm. Lumen gentium, n. 15 e Decr. Unitatis redintegratio, n. 3.
(56) É, portanto, contrária ao significado autêntico do texto do Concílio a interpretação que leva a deduzir da fórmula subsistit in a tese, segundo a qual, a única Igreja de Cristo poderia também subsistir em Igrejas e Comunidades eclesiais não católicas. « O Concílio, invés, adoptou a palavra “subsistit” precisamente para esclarecer que existe uma só “subsistência” da verdadeira Igreja, ao passo que fora da sua composição visível existem apenas “elementa Ecclesiae”, que — por serem elementos da própria Igreja — tendem e conduzem para a Igreja Católica » [Congr. para a Doutrina da Fé, Notificação sobre o volume “Igreja: carisma e poder” do P. Leonardo Boff: AAS 77 (1985) 756-762].
(57) Conc. Vaticano II, Decr. Unitatis redintegratio, n. 3.
(58) Cf. Congr. Para a Doutrina da Fé, Decl. Mysterium ecclesiae, n. 1: AAS 65 (1973) 396-408.
(59) Cf. Conc. Vaticano II, Decr. Unitatis redintegratio, nn. 14 e 15; Congr. para a Doutrina da Fé, Carta Communionis notio, n. 17: AAS 85 (1993) 838-850.
(60) Cf. Conc. Vaticano I, Const. dogm. Pastor aeternus: Denz., n. 3053-3064; Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 22.
(61) Cf. Conc. Vaticano II, Decr. Unitatis redintegratio, n. 22.
(62) Cf. ibid., n. 3.
(63) Cf. ibid., n. 22.
(64) Congr. para a Doutrina da Fé, Decl. Mysterium ecclesiae, n. 1.
(65) João Paulo II, Carta Enc. Ut unum sint, n. 14.
(66) Conc. Vaticano II, Decr. Unitatis redintegratio, n. 3.
(67) Congr. para a Doutrina da Fé, Carta Communionis notio, n. 17. Cf. Conc. Vaticano II, Decr. Unitatis redintegratio, n. 4.