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19/06/2014

Magnificat anima mea Dominum!”

Como seria o olhar alegre de Jesus! O mesmo que brilharia nos olhos de sua Mãe, que não pôde conter a alegria: – "Magnificat anima mea Dominum!", a sua alma glorifica o Senhor, desde que O traz dentro de si e a seu lado. Ó Mãe!: que a nossa alegria seja como a tua – a de estar com Ele e de O possuir! (Sulco, 95)

A nossa fé não é uma carga, nem uma limitação. Que pobre ideia da verdade cristã manifestaria quem assim pensasse! Ao decidirmo-nos por Deus não perdemos nada; ganhamos tudo. Quem, à custa da sua alma, conserva a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de Mim, voltará a achá-la .


Tirámos a carta que ganha, conseguimos o primeiro prémio. Quando alguma coisa nos impedir de ver isto com clareza, examinemos o interior da nossa alma. Talvez haja pouca fé, pouca intimidade pessoal com Deus, pouca vida de oração. Temos de pedir a Nosso Senhor – através de sua Mãe e nossa Mãe – que aumente em nós o seu amor, que nos conceda saborear a doçura da sua presença; porque só quando se ama se chega à mais plena liberdade: a de jamais querer abandonar, por toda a eternidade, o objecto dos nossos amores. (Amigos de Deus, 38)

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira






(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?



Jesus Cristo e a Igreja 20

Que diferenças há entre os Evangelhos canónicos e os apócrifos?

A primeira diferença comprovável, já que o facto dos evangelhos canónicos estarem inspirados por Deus não se pode provar, é de tipo externo aos próprios evangelhos: os canónicos pertencem ao cânone bíblico, enquanto os apócrifos não. Isto significa que os canónicos foram recebidos pelas igrejas do Oriente e do Ocidente, desde a geração imediatamente posterior aos apóstolos, como tradição autêntica dos apóstolos, enquanto os apócrifos, ainda que alguns tenham sido usados esporadicamente nalguma comunidade, não chegaram a impor-se nem a ser reconhecidos pela Igreja universal. Uma das razões importantes para essa selecção – comprovável a partir da ciência histórica – é o facto dos canónicos terem sido escritos na época apostólica, entendida em sentido amplo, quer dizer, enquanto viviam, ou os apóstolos, ou os seus próprios discípulos. Assim se depreende das citações que fazem os escritores cristãos da geração seguinte e de que até ao ano 140 se compusesse uma harmonização dos evangelhos tomando dados dos quatro que passaram a ser canónicos (Taciano). Dos apócrifos, pelo contrário, só se fazem referências em tempo posterior, até finais do séc. II. Por outro lado os papiros que se encontraram com textos que se assemelham aos dos evangelhos, alguns de meados do séc. II, são muito fragmentários, sinal de que as obras que representam não foram estimadas o suficiente, para serem transmitidas com cuidado pelas gerações seguintes.

A respeito dos apócrifos que se conservaram ou que se descobriram em época recente deve dizer-se que as diferenças relativamente aos canónicos são notáveis, tanto na forma, como no conteúdo. Os que se conservaram ao longo da época patrística e medieval são relatos de carácter lendário e cheios de fantasia. Vêm satisfazer a piedade popular narrando detidamente o que diz respeito àqueles momentos que nos evangelhos canónicos não se contam ou se expõem de maneira sucinta. Em geral estão de acordo com a doutrina da Igreja e trazem relatos sobre o nascimento da Virgem, de São Joaquim e de Santa Ana (Natividade de Maria); de como uma parteira comprovou a virgindade de Maria (Proto-evangelho de Tiago); dos milagres que Jesus fazia quando era menino (evangelho do Pseudo Tomé), etc.

Muito diferentes são os evangelhos apócrifos procedentes de Nag Hammadi (Egipto) que têm um carácter herético gnóstico. Estes têm a forma de dizeres secretos de Jesus (evangelho copto de Tomé); ou de revelações do Senhor ressuscitado explicando as origens do mundo material (apócrifo de João); ou a ascensão da alma (evangelho de Maria [Madalena]); ou são uma pesada manta de retalhos de pensamentos recolhidos de possíveis homilias ou catequeses (evangelho de Filipe). Ainda que alguns possam gozar de notável antiguidade, talvez do séc. II, a diferença relativamente aos evangelhos canónicos salta imediatamente à vista.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.


Temas para meditar 150

Santíssima Virgem

   
O papel de Nossa Senhora consiste em conceder-nos as graças, imerecidas pelo Sangue Precioso do seu divino Filho. Não as recusa a ninguém, já que o Salvador morreu por todos os homens na Cruz. Mas, evidentemente, dá graças mais abundantes às almas que a amam com ternura mais filial.


(thomas de saint laurentA Virgem Maria, isbn: 972-26-1287-5 nr. 69)

Tratado da lei 28

Questão 96: Do poder da lei humana.

Art. 6 — Se é lícito a quem está sujeito à lei agir fora dos termos dela.

(IIª-IIªe, q. 60, a. 5, ad 2, 3; q. 120, a. 1; q. 147, a. 4; III Sent., dist. XXXVII, a. 4; IV, dist. XV, q. 3, a. 2, q. 1, 2; V Ethic., lect. XVI).

O sexto discute-se assim. — Parece que não é lícito a quem está sujeito à lei agir fora dos termos dela.

1. — Pois, diz Agostinho: Embora os homens julguem as leis temporais, quando as estabelecem, contudo uma vez instituídas e firmadas já não é lícito julgá-las, mas deve julgar-se de acordo com elas. Ora, quem omitir palavras da lei, dizendo conservar a intenção do legislador, julga a lei. Logo, não é lícito a quem está sujeito à lei omitir-lhe palavras, para conservar a intenção do legislador.

2. Demais. — Só pode interpretar as leis quem as pode fazer. Ora, a nenhum dos submetidos à lei é lícito fazê-las. Logo, não podem interpretar a intenção do legislador, mas devem agir sempre conforme às palavras da lei.

3. Demais. — Todo o sapiente sabe explicar verbalmente as suas intenções. Ora, devem-se considerar sapientes os que estabeleceram leis; pois, diz a Sabedoria: Por mim reinam os reis e por mim decretam os legisladores o que é justo. Logo, não se deve julgar da intenção do legislador senão pelas palavras da lei.

Mas, em contrário, diz Hilário: A inteligência das palavras deve fundar-se nas causas que as levaram a ser proferidas; pois, não é a realidade que deve depender da palavra, mas esta, daquela. Logo, devemos atender, antes à causa que moveu o legislador, do que às palavras mesmas da lei.

Como já se disse (a. 4), toda lei se ordena ao bem comum dos homens, e nessa medida é que obtém força e razão de lei; e na medida em que assim não se ordene, nessa mesma não tem força para obrigar. Por isso, o jurisconsulto diz: Nenhuma razão de direito ou equitativa benignidade sofre, que as medidas salutares introduzidas para a conservação da sociedade, nós as transformemos em severidades, interpretando-as duramente, contra o que pede a comodidade humana. Acontece porém, muitas vezes, que uma medida quase sempre útil a ser observada, para o bem comum, seja nociva, por excepção, em algum caso particular. Donde, como o legislador não pode prever todos os casos particulares, propõe a lei para os casos mais frequentes, dirigindo a sua intenção para a utilidade comum. Portanto, se surgir um caso em que seja danosa ao bem comum a observância de uma lei, esta não deve ser observada. Assim, se for estabelecido que todas as portas de uma cidade sitiada devam ficar fechadas, isso é útil para o bem comum, na maior parte dos casos. Se porém acontecesse, que os inimigos perseguissem alguns cidadãos, pelos quais a cidade é conservada, seria danosíssimo para ela se as portas se lhes não abrissem. Donde, em tal caso, as portas deveriam abrir-se, contra a letra da lei, para se conservar a utilidade comum, que o legislador tinha em vista.

Devemos porém considerar, que se a observância da letra da lei não implicar um perigo súbito, a que é preciso imediatamente obviar, não é lícito a quem quer que seja interpretar o que seja útil ou inútil à cidade. Mas isso só pertence aos chefes, que, por causa de tais casos, têm a autoridade para dispensar na lei. Se porém o perigo for súbito e não sofra demora, de modo a se poder recorrer ao superior, a própria necessidade traz consigo a dispensa, porque a necessidade não está sujeita à lei.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Quem, em caso de necessidade, age fora da letra da lei, julga, não da lei, mas de um caso particular, onde vê que se não deve observar a letra da lei.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Quem segue a intenção do legislador não interpreta, absolutamente, falando, a lei. Mas assim o faz, em caso em que seja manifesto, pela evidência do dano, que o legislador tinha outra intenção. Se porém houver dúvida, deve agir segundo as palavras da lei, ou consultar o superior.

RESPOSTA À TERCEIRA. — De nenhum homem é tão grande a sabedoria a ponto de poder prever todos os casos particulares; e portanto, ninguém poderá suficientemente exprimir, com palavras, o que convém ao fim intencionado. E mesmo que o legislador pudesse prever todos os casos, não deveria exprimi-los todos, para evitar confusão. Mas deve fazer a lei para o que comummente se dá.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (A Paciência 8)


Tempo comum Semana XI

Evangelho: Mt 6, 7-15

7 Nas vossas orações não useis muitas palavras como os gentios, os quais julgam que serão ouvidos à força de palavras. 8 Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós Lho peçais. 9 «Vós, pois, orai assim: Pai-nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome. 10 «Venha o Teu reino. Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu. 11 O pão nosso supersubstancial nos dá hoje. 12 Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 «Porque, se vós perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. 15 Mas, se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas.

Comentário:

Humanamente não é possível comentar este trecho do Evangelho porque é uma oração divina!

Analisada em detalhe durante séculos por gentes de todas as idades e graus de cultura todos chegam à mesma conclusão: O Pai-nosso é uma oração completa e total.

Contém tudo, absolutamente, o que precisamos dizer ao nosso Pai do Céu.

Descreve tudo, absolutamente, o que Ele deseja que façamos.

(ama comentário sobre Mt 6, 7-15, 2014.04.11)


Leitura espiritual



Temas


A PACIÊNCIA

…/8

AS DEMORAS DE DEUS

No mundo em que vivemos, bêbado de acelerações, ultrassônico nas mudanças e doente de impaciências, a bela arte do amor paciente é muito necessária. A virtude da paciência é uma terapia de que o mundo atual precisa muito.

Mas, num ambiente em que o egoísmo pensa que “para mim tudo tem que ser antes e ao meu gosto” e o comodismo exige “tudo rápido, para já e com o menor trabalho possível”, a impaciência grassa largamente e faz a festa. E é natural que se mostre, a toda a hora, em forma de cansaço insofrido, unido a uma revolta irritada. Não é estranho que, nesse clima, as impaciências acabem cedo ou tarde por arremessar-se contra Deus.

Tal é o caso, não infrequente, dos que chegam a duvidar da bondade de Deus e sentem abalar-se-lhes a fé quando julgam que “Deus não os escuta”, pois – segundo pensam – não atende aos seus pedidos nem os livra das suas aflições.

Alguns falam então do “silêncio de Deus”, insinuando – ou afirmando claramente – que Deus não se interessa pelas suas criaturas, mas permanece na olímpica solidão dos céus, alheio às tribulações e anseios dos homens. Um bom número de casos de agnosticismo, ou de ateísmo inconsistente (será que há algum ateísmo que não seja inconsistente?), ou de ceticismo mais ou menos cínico, tomaram pé em alguma decepção. Esperava-se algo de Deus, e não aconteceu. Por essa razão, Fulano deixou de ir à Missa depois da morte do filho, pelo qual tanto tinha rezado; Sicrano perdeu a fé após a quinta tentativa frustrada de entrar na faculdade; e Beltrana bandeou-se para o esoterismo ao perder o último namorado.

Os “silêncios” e as “demoras” de Deus põem à prova a nossa paciência. Mas são precisamente essas dificuldades desconcertantes as que nos fazem compreender que uma boa paciência jamais poderá ser erguida sobre uma fé ruim.

Uma das primeiras verdades – inesgotável e luminosa verdade! – que Cristo nos revelou foi a da paternidade de Deus: O vosso Pai vê, o vosso Pai sabe, o vosso Pai cuida (cf. Mt 6, 25 e segs.). Não se vendem dois passarinhos por uma moedinha? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade do vosso Pai. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois!

Valeis mais do que muitos pássaros (Mt 10, 20-31).

Deus é um Pai que sempre nos acompanha. E esse Pai está amorosamente ativo, talvez mais do que nunca, quando parece que se cala e não intervém. “Quando nada acontece – diz, com certeira intuição, Guimarães Rosa –, há um milagre que não estamos vendo” [1]
Quem vive realmente de fé, caminha sereno e confiante na “mão” de Deus que, como víamos acima, muitas vezes não coincide com a nossa. Ele, que é Bom Pastor de cada um de nós, sabe, e sabe-o muito bem, por onde nos leva e nos traz. Ainda que atravesse as sombras da morte, nada temerei, porque Tu estás comigo (Sl 23, 4). Ele nos dá, ou permite que nos aconteça, aquilo que – embora não o entendamos – mais nos convém, sempre com vistas à nossa verdadeira realização, que é a que floresce e se completa na vida eterna: Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma (Mt 10, 28). Não temas, meu pequeno rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (Lc 12, 32).

Quem vive de fé, entende muito bem, por isso, o belo conselho do Eclesiástico: Sofre as demoras de Deus. Dedica-te a Deus, espera com paciência [...]. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus pelo cadinho da tribulação (Ecli 2, 3-5).

O MILAGRE QUE NÃO ESTAMOS VENDO

O “milagre que não estamos vendo” consiste no que São Paulo via com lúcida fé e expressava com esplêndida convicção: Nós sabemos que Deus faz concorrer todas as coisas para o bem daqueles que o amam (Rom 8, 28). Se tivermos amor a Deus, tudo, absolutamente tudo – o que chamamos sorte e o que chamamos infortúnio, o que é um sucesso no mundo e o que é um fracasso, a satisfação e o sofrimento, a saúde e a doença, a vida e a morte –, tudo acabará sendo conduzido por Deus, com a sua soberana e misteriosa “alquimia”, para algo que resultará num bem para nós.

Mons. Escrivá costumava dizer que a nossa vida é uma preciosa tapeçaria, que Deus vai urdindo connosco – com a nossa liberdade – aos poucos, fio a fio. Habitualmente, nós só a vemos pelo avesso, enquanto é tecida na oficina do dia-a-dia. Por isso, tudo nos parece com frequência uma confusão de fiapos soltos e de figuras bizarras. Vez por outra, porém, Deus deixa-nos olhar por uns instantes a tapeçaria pela frente, e então ficamos pasmados ao dar-nos conta da sua harmonia e do seu esplendor. A vida, quando já foi um pouco longa e procurou não se afastar de Deus, oferece-nos de quando em quando alguns desses lampejos de lucidez: entendemos que foi bom o que antes repudiávamos como mau, e captamos o porquê de certas coisas que, na altura, nos pareciam absurdas e sem sentido.

Alguns santos tiveram o privilégio de contemplar, felizes, a tapeçaria de uma vida inteira na sua harmonia total. Tal foi o caso de Santa Teresa de Ávila que, após concluir a sua autobiografia, escrita por obediência aos superiores, remeteu o manuscrito a Frei Garcia de Toledo, com uma carta na qual, a todas as tribulações, fadigas, dores e contrariedades relatadas, chamava belamente “as grandes misericórdias com que Deus me cumulou” [2]

Também o Bem-aventurado Josemaría Escrivá, três meses antes de deixar esta terra, ponderava na sua oração as vicissitudes – muitas delas duríssimas – da sua longa vida, e dizia: “Um olhar para trás... Um panorama imenso: tantas dores, tantas alegrias. E agora tudo alegrias, tudo alegrias... Porque temos a experiência de que a dor é o martelar do Artista, que quer fazer, dessa massa informe que nós somos, um crucifixo, um Cristo... Senhor, obrigado por tudo, muito obrigado!” [3]
É bem verdade que um clarão de Deus pode mostrar-nos, às vezes, a tapeçaria inteira. Mas o normal é que, na penumbra desta terra, Deus nos peça fé. Ele não deixará de nos dar a graça necessária para aceitarmos com paciência e confiança as suas “demoras” e os seus aparentes “silêncios”. A nós toca-nos dizer, amorosamente, com o salmista: Mantenho em calma e sossego a minha alma. Tal como a criança no regaço de sua mãe, assim está a minha alma no Senhor. [...]

Põe a tua esperança no Senhor, agora e para sempre (Sl 131, 2-3).

A SANTA IMPACIÊNCIA

O que acabamos de dizer, aproximando-nos já do final destas páginas, não estará porventura incentivando uma paciência feita de calma passividade, de abandono nas mãos de Deus, muito confiante, mas também excessivamente inerte?

Não. Quando um cristão repete, com o salmo: Só em Deus repousa a minha alma, é d’Ele que me vem a paciência (Sl 62, 6), não está fazendo a oração das cómodas desistências, como se dissesse: – “Eu durmo tranquilo reclinado sobre o peito do meu Deus, desligo-me de tudo, e Ele que faça o que julgar melhor”.

O bom cristão é sempre parecido com São João, pelo menos em uma coisa: o seu modo de repousar em Deus consiste em reclinar a cabeça sobre o Coração de Cristo. E o Coração de Jesus está em chamas: mais do que repousos, contagia ardores.

Queremos saber qual é a fogueira que lhe anda no peito? Ouçamos umas palavras que pronunciou pouco antes da sua Paixão, e que deixam entrever as labaredas da santa impaciência que o consumia por dentro: Eu vim lançar fogo à terra, e que quero senão que ele se acenda?

Tenho de receber um batismo [o derramamento salvador do seu sangue], e quanto anseio até que ele se cumpra! (Lc 12, 49-50).

O Senhor aguardava, ansioso, a “sua hora”, o momento em que levaria à plenitude, no alto da Cruz, a obra redentora, e esse desejo queimava-o por dentro. Queria com todas as suas forças – disposto a dar a vida até à última gota de sangue – que a Verdade e a Vida divinas se alastrassem em chamas por toda a terra. E aguardava essa hora – deixando na mão do Pai os tempos e os momentos –, em serena e fervente tensão. Não vivia a calma passividade dos falsos pacientes. Era puro fogo, brasa em crepitação.

Por isso, se antes de encerrarmos estas linhas tivéssemos dado, nem que fosse de leve, a impressão de que a paciência é apenas uma arte de sofrer, de aceitar, de persistir no sacrifício, e mais nada, estaríamos deixando o leitor com um equívoco na alma. “A paciência cristã – diz um autor – nada tem a ver com os temperamentos fleumáticos [...]. O fleumático nunca se impacienta, porque para ele nada existe que o comova interiormente [...]. Quem não tem interesse por alguma coisa, é natural que possa esperar muito tempo: nunca perderá a calma, nunca experimentará a urgência estimulante, nunca sentirá impaciência” [4]

Mas aquele que possui o ideal cristão e experimenta o zelo pela missão que Deus lhe confiou, não se afunda na calma inexpressiva do comodista. Estimulado por uma nobre inquietação, tem pressa em aproveitar – por amor a Deus e aos homens – todos os instantes da sua vida, e, sem permitir que a pressa o torne precipitado, não deixa para amanhã o que hoje pode oferecer ao Senhor.

O quadro completo da paciência só se abrange quando se recordam as palavras de São Tomás de Aquino, já citadas nestas páginas: “Só o amor é causa da paciência”. É nisto que está a autenticidade desta virtude. Aquele grande amor que, com a ajuda da graça divina, nos dá forças para aceitar, sorrindo e de olhos postos em Deus, as pequenas contrariedades e as grandes dores; aquele grande amor que nos dá energia para sermos fiéis e persistir pacientemente na luta um dia após outro, é o mesmo amor que acende na alma os grandes ideais e nos impele a realizá-los com o maior ardor e prontidão de que a nossa inteligência e a nossa vontade sejam capazes. A mesma paciência que aceita torna-se divinamente impaciente em seus desejos de amar, de dar, de edificar.

Não precipita atabalhoadamente as coisas, mas tem pressa, quer andar – como gostava de dizer Mons. Escrivá – “ao passo de Deus”, ao ritmo das graças e das oportunidades que o Senhor nos dá, sem nada perder, sem nada atrasar.

Por isso, não é incoerente que um livro que começou por citar e glosar a frase “Tenha santa paciência”, termine – com o favor de Deus – espicaçando o leitor a que se lance com brio a dar o melhor de si mesmo e a cumprir com entusiasmo a missão que certamente Deus lhe confiou, enquanto lhe diz, como despedida: “Tenha santa impaciência!”

FRANCISCO FAUS, [i] A PACIÊNCIA, 2ª edição, QUADRANTE, São Paulo 1998.



[1][1] Primeiras Estórias, josé olympio, Rio de Janeiro, 1962, pág. 71

[2] Livro da Vida, 3ª. ed., Vozes, Petrópolis, 1961, pág. 360.
[3] s. bernal, obra citada, pág. 416
[4] hildebrand, obra citada, págs. 202-203. 




[i] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canônico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.