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16/05/2014

O respeito pela vida humana (testemunho)

Não gosto de enviar as "Notícias..." com demasiada frequência mas queria fazer uma excepção. Nasceu há dois dias o filho duma prima minha, que acabou por morrer passado umas horas. Encaminho uma carta que escreveu a minha irmã mais nova:
"A Missa de corpo presente é hoje - dia 16 -, em Lisboa. (p. miguel cabral)"

***

A partir de hoje já temos mais um Santo no céu a interceder por nós, o Afonso de Santa Maria.
Há nove meses atrás a minha prima Ana e o João, seu marido, receberam a notícia de que iam ter mais um filho. Já tinham o querido Joãozinho, com 1 ano.
Quando fizeram a ecografia de rotina, aos três meses, descobriu-se que o bebé tinha uma deficiência muito grave na cabeça. Ainda não se sabia ao certo qual, mas sabia-se que seria um caso muito complicado. Lembro-me de receber a notícia pela irmã da Ana, a Isabel. Ligou-me a pedir que rezássemos muito pelo bebé porque alguma coisa não estava bem, apesar de não se saber ao certo o que seria. Eu também estava grávida e consegui imaginar o sofrimento que a Ana e o João sentiam.
Mais tarde falei com a Ana, e ela calma como sempre, disse ‘Vai ser o que Deus quiser’.
Entretanto os dias foram passando e, depois de mais alguns exames, percebeu-se que o cenário era o pior: o bebé tinha um problema gravíssimo na cabeça e que, à partida, seria incompatível com a vida.
Se calhar a decisão mais lógica seria interromper a gravidez, já que não havia maneira do bebé sobreviver com o problema que tinha. Mas para a Ana e para o João essa decisão não fazia sentido. Lembro-me de falar com eles sobre este assunto e de o João dizer que nunca nenhum familiar ou amigo os influenciou na decisão de deixar o Afonso ficar até Deus querer. Foi uma decisão só deles e que, para eles, fazia todo o sentido.

A gravidez foi-se desenvolvendo e felizmente tive a oportunidade de testemunhar o exemplo que a Ana e o João foram para todos nós. Imagino o sofrimento que sentiram ao longo destes meses, e que infelizmente continuam a sentir, mas foi tão bom ver a serenidade e a confiança em Deus que transmitiam.
Nunca ninguém os ouviu queixarem-se da situação; nunca ninguém os viu com cara pesarosa. Tudo isto seria absolutamente admissível, claro.
Lembro-me de uma vez em que jantaram em nossa casa e nos disseram que sabiam que o Afonso tinha vindo ao mundo por uma razão, e que essa razão era boa. Porque graças a ele, puderam receber o enorme apoio de familiares e amigos. E tiveram a graça de estar em privado com o Papa Francisco, que lhes deu a bênção pessoalmente. Mesmo no meio de todo o sofrimento, eles conseguiram perceber que o Afonso não tinha sido concebido só para lhes causar sofrimento, mas sim com a missão de lhes trazer coisas boas. E que descanso era ouvi-los dizer isto!

Foi no dia 13 de Maio, no dia de Nossa Senhora, que nasceu o nosso querido Afonso. Pouco tempo depois de nascer o bebé a Ana chamou-me para ir ter com ela ao recobro. Não sabia o que lhe dizer, como apoiá-la a ela e ao João… Mas no momento em que entrei na sala onde estava a Ana e a vi tão triste, mas ao mesmo tempo tão tranquila, percebi que não valia a pena dizer nada.

O Afonso já tinha sido levado para outra sala e estava em observação. Logo depois de nascer foi Batizado pelo meu pai, que apesar de ser obstetra, estava lá como Tio, muito amigo da Ana e do João, e também como padrinho do Afonso.

Tenho a certeza que todo o apoio que a Ana e o João tiveram ao longo destes meses, foi muito importante para ajudar a aceitar todo o sofrimento. Para além do apoio incondicional dos familiares (principalmente dos pais Afonso, Lidá, João e Catarina) e dos amigos, tiveram também a sorte de ser acompanhados por um obstetra que respeitou sempre a decisão deles e que demonstrou um grande profissionalismo durante todo o processo. O apoio que também tiveram do meu pai, sei que foi também muito importante e permanente.

Durante a madrugada do dia 14 de Maio, o Afonso foi para o céu e a Ana e o João estiveram com ele até ao fim.


Ao testemunho acrescento este vídeo onde a minha prima e o João (que ajudou à Missa do Papa) aparecem:

As sete palavras de Cristo na Cruz 16

Capítulo 3: O segundo fruto que se há-de colher da consideração da primeira Palavra dita por Cristo na Cruz 6

Mas pode haver alguns que continuem argumentando: não nego que devemos perdoar nossos inimigos, mas escolherei o tempo que me apraze fazê-lo, quando, em verdade, tenha quase esquecida a injustiça que me foi feita, e me tenha acalmado após o primeiro arrebatamento de indignação. Mas, quais seriam os pensamentos destes se fossem então chamados a prestar as contas finais, e fossem encontrados sem o traje da caridade, e fossem perguntados: "como entraste aqui, não tendo a veste nupcial?" 8. Por acaso não se assombrariam enquanto Nosso Senhor pronuncia sua sentença: "Atai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; aí haverá pranto e ranger de dentes." 9. Age melhor e com prudência agora, e imita a conduta de Cristo, que rezou a seu Pai, "Pai, perdoa-lhes", no momento em que era objeto de escárnios, quando o sangue caía gota a gota de seus pés e mãos, e seu corpo inteiro era presa de torturas dolorosas. Ele é o verdadeiro e único Mestre, cuja voz a devem escutar todos que não serão guiados ao erro: a Ele se referiu o Pai Eterno quando uma voz se ouviu do céu dizendo: "Ouviu-o". Nele estão "todos os tesouros da sabedoria e da ciência" de Deus 10. Se pudesses perguntar a opinião de Salomão sobre qualquer assunto, poderias com segurança ter seguido seu conselho, mas "aqui está quem é mais que Salomão" 11.

são roberto belarmino

(Tradução: Permanência, revisão ama).

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Notas:
8. Mt 22,12.
9. Mt 21,13.
10. Cl 2,3.
11. Mt 12,42.


Senhor, se quiseres podes curar-me

Não tenhas dúvidas: o coração foi criado para amar. Metamos, pois, Nosso Senhor Jesus Cristo em todos os nossos amores. Senão, o coração vazio vinga-se, e enche-se das baixezas mais desprezíveis. (Sulco, 800)

Como poderemos dirigir-nos a Ele, como falar-Lhe, como comportar-nos?

A vida cristã não está feita de normas rígidas, porque o Espírito Santo não dirige as almas massivamente, mas infundindo em cada uma delas propósitos, inspirações e afectos que ajudarão a captar e a cumprir a vontade do Pai. Penso, no entanto, que em muitas ocasiões o nervo do nosso diálogo com Cristo, na acção de graças depois da Santa Missa, pode ser a consideração de que o Senhor é para nós, Rei, Médico, Mestre e Amigo.. (...)


É Médico e cura o nosso egoísmo, se deixarmos que a sua graça penetre até ao fundo da nossa alma. Jesus disse-nos que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que nos faz dissimular os nossos pecados. Com o Médico, é imprescindível, pela nossa parte, uma sinceridade absoluta, explicar-lhe toda a verdade e dizer: Domine, si vis, potes me mundare, Senhor, se quiseres – e Tu queres sempre – podes curar-me. Tu conheces as minhas fraquezas, tenho estes sintomas e estas debilidades. Mostramos-lhe também com toda a simplicidade as chagas e o pus, no caso de haver pus. Senhor, Tu, que curaste tantas almas, faz com que, ao ter-Te no meu peito ou ao contemplar-Te no Sacrário, Te reconheça como Médico divino. (Cristo que passa, nn. 92–93)

Pequena agenda do cristão


Sexta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Contenção; alguma privação; ser humilde.

Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me: Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?


Jesus Cristo e a Igreja 54 perguntas e repostas: 14

Como foram escritos os Evangelhos?

A Igreja afirma sem vacilar que os quatro evangelhos canónicos “transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, realmente operou e ensinou (...), durante a sua vida entre os homens” (Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum n. 19). Estes quatro evangelhos têm origem apostólica. Pois aquelas coisas que os Apóstolos por mandato de Cristo pregaram, foram depois, sob inspiração do Espírito Santo, transmitidas por escrito por eles mesmos e por homens do seu grupo, como fundamento da fé (ibidem n. 18). Os escritores cristãos antigos interessaram-se em explicar como é que os evangelistas realizaram este trabalho. Santo Ireneu, por exemplo, diz que «Mateus publicou entre
os hebreus, na sua própria língua, uma forma escrita do evangelho, enquanto Pedro e Paulo, em Roma, anunciavam o evangelho e fundavam a Igreja. Foi depois da sua partida que Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu também por escrito o que tinha sido pregado por Pedro. Lucas, companheiro de Paulo, consignou também num livro o que tinha sido pregado por este. Depois João, o
discípulo do Senhor, o que se tinha reclinado sobre o seu peito (Jo 13, 23), publicou também o evangelho enquanto residia em Éfeso» (Contra heresias, III, 1, 1). Comentários muito semelhantes encontram-se em Papias de Hierápolis ou Clemente de Alexandria (cf. Eusébio de Cesareia, Hist. Eccl. 3, 39, 15; 6, 14, 5-7): os evangelhos foram escritos pelos Apóstolos (Mateus e João) ou por discípulos dos Apóstolos (Marcos e Lucas), mas sempre recolhendo a pregação do evangelho por parte dos Apóstolos.

A exegese moderna, com um estudo muito minucioso dos textos evangélicos, explicou de maneira mais pormenorizada este processo de composição. O Senhor Jesus não enviou os seus discípulos a escrever, mas a pregar o evangelho. Os Apóstolos e a comunidade apostólica procederam desse modo, e, para facilitar a actividade evangelizadora, puseram parte desses ensinamentos por escrito. Finalmente, no momento em que os apóstolos e os da sua geração começaram a desaparecer, “os autores sagrados escreveram os quatro evangelhos, escolhendo algumas coisas dentre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando algumas, ou explicando outras segundo o estado das Igrejas” (Dei verbum, n. 19).

Portanto, pode concluir-se que os quatro evangelhos são fiéis à pregação dos Apóstolos sobre Jesus e que a pregação dos Apóstolos sobre Jesus é fiel ao que Jesus fez e disse. Este é o caminho pelo qual podemos dizer que os evangelhos são fiéis a Jesus. De facto, os nomes que os antigos escritos cristãos dão a estes textos, “Recordações dos Apóstolos”, “ Comentários, Palavras sobre (de) o Senhor” (cf. São Justino, Apologia 1, 66; Diálogo sobre Trifão, 100), apontam para este significado. Com os escritos evangélicos temos acesso ao que os Apóstolos pregavam sobre Jesus Cristo.


© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.

Temas para meditar 106

Santíssima Virgem

Sancta Maria refugium nostrum et virtus... Nosso refúgio e fortaleza. A palavra refúgio vem do latim fugere, fugir de algo ou de alguém... Quando se vai a um refúgio foge-se do frio, da obscuridade da noite, de uma tempestade; procura-se segurança, abrigo e resguardo. Quando acudimos a Nossa Senhora, encontramos a única protecção verdadeira contra as tentações, desânimo, a solidão... Muitas vezes só o facto de começar a rezar-lhe é suficiente para que a tentação desapareça, para recuperar a paz e o optimismo. Aprender a abrigar-nos sob o manto de Nossa Senhora. 


(Francisco Fernández carvajal & Pedro Betteta López, Filhos de Deus, DIEL, , nr. 85

Tratado dos vícios e pecados 91

Questão 88: Do pecado venial e do mortal.

Art. 6 — Se um pecado mortal pode tornar-se venial.

(Supra, a. 2; De Malo, q. 7, a. 1, ad 18; a. 3 ad 9).

O sexto discute-se assim. — Parece que um pecado mortal pode tornar-se venial.

1. — Pois, o pecado venial dista igualmente do mortal, e reciprocamente. Ora, o pecado venial pode vir a ser mortal, como se disse (a. 5). Logo, também o mortal pode vir a ser venial.

2. Demais. — O pecado venial e o mortal diferem assim: quem peca mortalmente ama a criatura mais que a Deus; e quem peca venialmente ama-a menos que a Deus. Ora, é possível, cometendo-se um pecado genericamente mortal, amar a criatura menos que a Deus. Assim, quem fornicasse, ignorando ser a fornicação simples pecado mortal e contrário ao amor divino; mas, de modo a estar pronto a abandonar a fornicação por amor de Deus, se soubesse que, fornicando, vai contra esse amor. E em tal caso pecaria venialmente, transformando-se então, o pecado mortal em venial.

3. Demais. — Como se disse (q. 5 arg. 3), o bem difere mais do mal, que o pecado venial, do mortal. Ora, um acto em si mesmo mau pode tornar-se bom; assim, o homicídio pode tornar-se um acto de justiça como quando um juiz mata um ladrão. Logo, com maior razão, um pecado mortal pode vir a ser venial.

Mas, em contrário, o eterno nunca pode vir a ser temporal. Ora, o pecado mortal merece pena eterna; ao contrário, o venial, pena temporal. Logo, um pecado mortal nunca pode vir a ser venial.

Venial e mortal diferem no género do pecado, como o perfeito, do imperfeito, segundo dissemos (a. 1 ad 1). Ora, o imperfeito, recebendo um acréscimo, poderá vir a ser perfeito. Donde, o pecado venial, por se lhe acrescentar a deformidade, pertencente ao género do pecado mortal, torna-se mortal. Tal o caso de quem, dizendo uma palavra ociosa, fosse levado a fornicar. O perfeito porém não pode com nenhum acréscimo tornar-se imperfeito. Logo, um pecado mortal não pode tornar-se venial por se lhe acrescer qualquer deformidade, pertencente ao género do pecado venial. Assim, o pecado de quem fornica não se lhe diminui, por dizer uma palavra ociosa, mas, ao contrário, agrava-se com essa deformidade adjunta. — Pode, porém um pecado, genericamente mortal, ser venial por causa da imperfeição do acto. Pois a imperfeição fá-lo não constituir perfeita e essencialmente um acto moral, se não for deliberado, mas súbito, como do sobredito resulta (a. 2). O que se dá pela privação da razão deliberada. E como um acto se especifica pela razão deliberada, tal privação modifica a espécie.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O venial difere do mortal como o imperfeito, do perfeito; p. ex., como a criança, do homem. Pois, da criança faz-se o homem, mas não reciprocamente. Logo, a objecção não colhe.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Se a ignorância for tal, como a do furioso ou do louco, que escuse absolutamente do pecado, quem cometer fornicação com essa ignorância não peca nem venial nem mortalmente. Se porém a ignorância não for invencível, então já em si mesma é pecado, e traz consigo a falta do amor divino, por ter o pecador descuidado de informar-se do que pudesse conservá-lo nesse amor.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz Agostinho, o mal em si mesmo, não pode, por nenhum fim, vir a ser bem. Assim, o homicídio, consistente em matar um inocente, de nenhum modo pode vir a ser um bem. Mas o juiz que mata um ladrão, ou o soldado que mata um inimigo da república, não se consideram homicidas, como diz Agostinho.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (Const. Sacrossantum Concilium)

Tempo de Páscoa

IV Semana 



Evangelho: Jo 14, 1-6

1 «Não se perturbe o vosso coração. Acreditais em Deus, acreditai também em Mim. 2 Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar um lugar para vós. 3 Depois que Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo, para que, onde estou, estejais vós também. 4 E vós conheceis o caminho para ir onde Eu vou». 5 Tomé disse-Lhe: «Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?». 6 Jesus disse-lhe: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim.
Comentário:
Jesus Cristo não Se cansa de repetir que é O CAMINHO; A VERDADE E A VIDA. Quer que todos os homens não tenham dúvidas que assim é e não procurem alhures o que está disponível desde a Sua Ressurreição.

Foi o que nos veio dar com a Sua entrega na Cruz: um Caminho seguro para, seguros da Verdade que é Ele próprio, alcancemos a Vida Eterna que é a máxima consolação dos filhos de Deus.

(ama, comentário sobre Jo 14, 1-6, 2013.04.26)


Leitura espiritual







Documentos do Concílio Vaticano II





CONSTITUIÇÃO CONCILIAR
SACROSANCTUM CONCILIUM
SOBRE A SAGRADA LITURGIA

CAPÍTULO V

O ANO LITÚRGICO

A Quaresma

109. Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Baptismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal. Por isso:

a) utilizem-se com mais abundância os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal e retomem-se, se parecer oportuno, elementos da antiga tradição;

b) o mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto à catequese, inculque-se nos espíritos, de par com as consequências sociais do pecado, a natureza própria da penitência, que é detestação do pecado por ser ofensa de Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prática penitenciai, nem deixar de recomendar a oração pelos pecadores.

110. A penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e individual. Estimule-se a prática da penitência, adaptada ao nosso tempo, às possibilidades das diversas regiões e à condição de cada um dos fiéis. Recomendem-na as autoridades a que se refere o art. 22.

Mantenha-se religiosamente o jejum pascal, que se deve observar em toda a parte na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor e, se oportuno, estender-se também ao Sábado santo, para que os fiéis possam chegar à alegria da Ressurreição do Senhor com elevação e largueza de espírito.

As festas dos santos

111. A Igreja, segundo a tradição, venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem como as suas imagens. É que as festas dos Santos proclamam as grandes obras de Cristo nos seus servos e oferecem aos fiéis os bons exemplos a imitar.

Para que as festas dos Santos não prevaleçam sobre as festas que recordam os mistérios da salvação, muitas delas ficarão a ser celebradas só por uma igreja particular ou nação ou família religiosa, estendendo-se apenas a toda a Igreja as que festejam Santos de inegável importância universal.

CAPÍTULO VI

A MÚSICA SACRA

Importância para a Liturgia

112. A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene.

Não cessam de a enaltecer, quer a Sagrada Escritura (42), quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices, que ainda recentemente, a começar em S. Pio X, vincaram com mais insistência a função ministerial da música sacra no culto divino.

A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à acção litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como factor de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas.

O sagrado Concílio, fiel às normas e determinações da tradição e disciplina da Igreja, e não perdendo de vista o fim da música sacra, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis, estabelece o seguinte:

113. A acção litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação activa do povo.

Observe-se, quanto à língua a usar, o art. 36; quanto à Missa, o art. 54; quanto aos sacramentos, o art. 63; e quanto ao Ofício divino, o art. 101.

Promoção da música sacra

114. Guarde-se e desenvolva-se com diligência o património da música sacra. Promovam-se com empenho, sobretudo nas igrejas catedrais, as «Scholae cantorum». Procurem os Bispos e demais pastores de almas que os fiéis participem activamente nas funções sagradas que se celebram com canto, na medida que lhes compete e segundo os art. 28 e 30.

115. Dê-se grande importância nos Seminários, Noviciados e casas de estudo de religiosos de ambos os sexos, bem como noutros institutos e escolas católicas, à formação e prática musical. Para o conseguir, procure-se preparar também e com muito cuidado os professores que terão a missão de ensinar a música sacra.

Recomenda-se a fundação, segundo as circunstâncias, de Institutos Superiores de música sacra.

Os compositores e os cantores, principalmente as crianças, devem receber também uma verdadeira educação litúrgica.

116. A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na acção litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.

Não se excluem todos os outros géneros de música sacra, mormente a polifonia, na celebração dos Ofícios divinos, desde que estejam em harmonia com o espírito da acção litúrgica, segundo o estatuído no art. 30.

117. Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X.

Convirá preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores.

118. Promova-se muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos exercícios piedosos e sagrados como nas próprias acções litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam.

Adaptação às diferentes culturas

119. Em certas regiões, sobretudo nas Missões, há povos com tradição musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e social. Estime-se como se deve e dê-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole, segundo os art. 39 e 40. Por isso, procure-se cuidadosamente que, na sua formação musical, os missionários fiquem aptos, na medida possível, a promover a música tradicional desses povos nas escolas e nas acções sagradas.

Instrumentos músicos sagrados

120. Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimónias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus.

Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e com o consentimento da autoridade territorial competente, conforme o estabelecido nos art. 22 § 2, 37 e 40, contanto que esses instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, não desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis.

Normas para os compositores

121. Os compositores possuídos do espírito cristão compreendam que são chamados a cultivar a música sacra e a aumentar-lhe o património.

Que as suas composições se apresentem com as características da verdadeira música sacra, possam ser cantadas não só pelos grandes coros, mas se adaptem também aos pequenos e favoreçam uma activa participação de toda a assembleia dos fiéis.

Os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas.

CAPÍTULO VII

A ARTE SACRA E AS ALFAIAS LITÚRGICAS

A arte sacra e seus estilos

122. Entre as mais nobres actividades do espírito humano estão, de pleno direito, as belas artes, e muito especialmente a arte religiosa e o seu mais alto cimo, que é a arte sacra. Elas tendem, por natureza, a exprimir de algum modo, nas obras saídas das mãos do homem, a infinita beleza de Deus, e estarão mais orientadas para o louvor e glória de Deus se não tiverem outro fim senão o de conduzir piamente e o mais eficazmente possível, através das suas obras, o espírito do homem até Deus.

É esta a razão por que a santa mãe Igreja amou sempre as belas artes, formou artistas e nunca deixou de procurar o contributo delas, procurando que os objectos atinentes ao culto fossem dignos, decorosos e belos, verdadeiros sinais e símbolos do sobrenatural. A Igreja julgou-se sempre no direito de ser como que o seu árbitro, escolhendo entre as obras dos artistas as que estavam de acordo com a fé, a piedade e as orientações veneráveis da tradição e que melhor pudessem servir ao culto.

A Igreja preocupou-se com muita solicitude em que as alfaias sagradas contribuíssem para a dignidade e beleza do culto, aceitando no decorrer do tempo, na matéria, na forma e na ornamentação, as mudanças que o progresso técnico foi introduzindo.

Pareceu bem aos Padres determinar, a este propósito, o que segue:

123. A Igreja. nunca considerou um estilo como próprio seu, mas aceitou os estilos de todas as épocas, segundo a índole e condição dos povos e as exigências dos vários ritos, criando deste modo no decorrer dos séculos um tesouro artístico que deve ser conservado cuidadosamente. Seja também cultivada livremente 'na Igreja a arte do nosso tempo, a arte de todos os povos e regiões, desde que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos edifícios e ritos sagrados. Assim poderá ela unir a sua voz ao admirável cântico de glória que grandes homens elevaram à fé católica em séculos passados.

124. Ao promoverem uma autêntica arte sacra, prefiram os Ordinários à mera sumptuosidade uma beleza que seja nobre. Aplique-se isto mesmo às vestes e ornamentos sagrados.

Tenham os Bispos todo o cuidado em retirar da casa de Deus e de outros lugares sagrados aquelas obras de arte que não se coadunam com a fé e os costumes e com a piedade cristã, ofendem o genuíno sentido religioso, quer pela depravação da forma, que pela insuficiência, mediocridade ou falsidade da expressão artística.

Na construção de edifícios sagrados, tenha-se grande preocupação de que sejam aptos para lá se realizarem as acções litúrgicas e permitam a participação activa dos fiéis.

O culto das imagens

125. Mantenha-se o uso de expor imagens nas igrejas à veneração ds fiéis. Sejam, no entanto, em número comedido e na ordem devida, para não causar estranheza aos fiéis nem contemporizar com uma devoção menos ortodoxa.

Comissão diocesana da arte

126. Para emitir um juízo sobre as obras de arte, oiçam os Ordinários de lugar o parecer da Comissão de arte sacra e de outras pessoas particularmente competentes, se for o caso, assim como também das Comissões a que se referem os art. 44, 45, 46.

Os Ordinários vigiarão com todo o cuidado para que não se percam nem se alienem as alfaias sagradas e obras preciosas, que embelezam a casa de Deus.

Promoção da arte e formação dos artistas

127. Cuidem os Bispos de, por si ou por sacerdotes idóneos e que conheçam e amem a arte, imbuir os artistas do espírito da arte sacra e da sagrada Liturgia.

Recomenda-se também, para formar os artistas, a criação de Escolas ou Academias de arte sacra, onde parecer oportuno.

Recordem-se constantemente os artistas que desejam, levados pela sua inspiração, servir a glória de Deus na santa Igreja, de que a sua actividade é, de algum modo, uma sagrada imitação de Deus criador e de que as suas obras se destinam ao culto católico, à edificação, piedade e instrução religiosa dos fiéis.

128. Revejam-se o mais depressa possível, juntamente com os livros litúrgicos, conforme dispõe o art. 25, os cânones e determinações eclesiásticas atinentes ao conjunto das coisas externas que se referem ao culto, sobretudo quanto a uma construção funcional e digna dos edifícios sagrados, erecção e forma dos altares, nobreza, disposição e segurança dos sacrários, dignidade e funcionalidade do baptistério, conveniente disposição das imagens, decoração e ornamentos. Corrijam-se ou desapareçam as normas que parecem menos de acordo com a reforma da Liturgia; mantenham-se e introduzam-se as que forem julgadas aptas a promovê-la.

Neste particular e especialmente quanto à matéria e forma dos objectos e das vestes sagradas, o sagrado Concílio concede às Conferências episcopais das várias regiões a faculdade de fazer a adaptação às necessidades e costumes dos lugares, segundo o art. 22 desta Constituição.

129. Para poderem estimar e conservar os preciosos monumentos da Igreja e para estarem aptos a orientar como convém os artistas na realização das suas obras, devem os clérigos, durante o curso filosófico e teológico, estudar a história e evolução da arte sacra, bem como os sãos princípios em que deve fundar-se.

Uso das insígnias pontifícias

130. É conveniente que o uso das insígnias pontificais seja reservado às pessoas eclesiásticas que possuem a dignidade episcopal ou gozam de especial jurisdição.

Apêndice

DECLARAÇÃO DO CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II
SOBRE A REFORMA DO CALENDÁRIO

Apêndice: Declaração sobre a revisão do Calendário

O sagrado Concílio Ecuménico Vaticano II, tendo na devida conta o desejo expresso por muitos para dar à festa da Páscoa um domingo certo e adoptar um calendário fixo, depois de ter ponderado maduramente as consequências que poderão resultar da introdução do novo calendário, declara o seguinte:

1. O sagrado Concílio não tem nada a opor à fixação da festa da Páscoa num domingo certo do calendário gregoriano, se obtiver o assentimento daqueles a quem interessa, especialmente dos irmãos separados da comunhão com a Sé Apostólica.

2. Igualmente declara não se opor às iniciativas para introduzir um calendário perpétuo na sociedade civil.

Contudo, entre os vários sistemas em estudo para fixar um calendário perpétuo e introduzi-lo na sociedade civil, a Igreja só não se opõe àqueles que conservem a semana de sete dias e com o respectivo domingo. A Igreja deseja também manter intacta a sucessão hebdomadária, sem inserção de dias fora da semana, a não ser que surjam razões gravíssimas sobre as quais deverá pronunciar-se a Sé Apostólica.

Roma, 4 de Dezembro de 1963.

PAPA PAULO VI
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

________________________________________________
Notas:
42. Cfr. Ef. 5,19; Col. 3,16.