Páginas

07/05/2014

Tratado dos vícios e pecados 82

Questão 87: Do reato da pena.

Art. 5 — Se todo pecado implica o reato da pena eterna.

(III, q. 86, a. 4; II Sent., dist. XLII, q. 1, a. 5; IV, dist. XLVI. q. 1, a. 3; III Cont. Gent., cap. CXLIII; De Malo, q. VII, a. 1, ad 24; a. 10, 11; Compend. Theol., cap. CLXXXII).

O quinto discute-se assim. — Parece que todo pecado implica o reato da pena eterna.

1. — Pois, como se disse (a. 4), a pena é proporcionada à culpa. Ora, a pena eterna difere infinitamente da temporal. Mas nenhum pecado pode diferir de outro infinitamente, porque todo pecado é acto humano, incapaz de ser infinito. Logo, sendo a certos pecados devida uma pena eterna, como se disse (a. 4), a nenhum é devida uma pena somente temporal.

2. Demais. — O pecado original é o menor dos pecados; donde o dizer Agostinho: a pena mais branda é a dos punidos só pelo pecado original. Ora, ao pecado original é devida uma pena perpétua. Pois, nunca verão o reino de Deus as crianças mortas sem baptismo, com o pecado original, conforme é claro pelo que diz o Senhor (Jo 3, 3): Não pode ver o reino de Deus senão aquele que renascer de novo. Logo, com maior razão, será eterna a pena de todos os outros pecados.

3. Demais. — A um pecado não é devida pena maior, por coexistir com outro; pois, cada um deles recebe a sua pena estabelecida pela justiça divina. Ora, ao pecado venial é devida uma pena eterna, se coexistir, num condenado, com o pecado mortal, pois no inferno não pode haver perdão. Logo, ao pecado venial é devida, absolutamente, a pena eterna. Portanto, a nenhum pecado é devida a pena temporal.

Mas, em contrário, diz Gregório que certas culpas mais leves são perdoadas depois desta vida. Logo, nem todos os pecados são punidos com pena eterna.

Como dissemos (a. 3), o pecado causa o reato da pena eterna, enquanto repugna irreparavelmente à ordem da justiça divina, contrariando o fim último, o princípio mesmo da ordem. Ora, é manifesto que alguns pecados implicam uma desordem, por encontrarem não o fim último, mas os meios, que buscam mais ou menos devidamente, salva contudo a ordem para o fim último. Assim quando, embora afeiçoado em demasia a um determinado bem temporal, o homem nem por isso quer ofender a Deus, fazendo seja o que for contra algum preceito seu. Donde, a tais pecados não é devida uma pena eterna, mas temporal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os pecados não diferem infinitamente, pela conversão ao bem mutável, em que consiste a substância do acto; mas, pela aversão de Deus. Pois certos pecados cometem-se pela aversão ao fim último; outros, por buscarem desordenadamente os meios. Ora, o fim último difere infinitamente dos meios.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O pecado original não merece uma pena eterna em razão da sua gravidade; mas em razão da condição do sujeito, i. é, do homem, privado da graça, que torna possível o perdão da pena.

E semelhantemente se deve RESPONDER À TERCEIRA OBJECÇÃO, relativa ao pecado venial. — Pois, a eternidade da pena não corresponde à quantidade da culpa, mas à sua irremissibilidade, como já se disse (a. 3).

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


O Senhor procura o meu pobre coração

Quantos anos a comungar diariamente! – Outro seria santo – disseste-me – e eu, sempre na mesma! – Filho – respondi-te – continua com a Comunhão diária, e pensa: que seria de mim, se não tivesse comungado? (Caminho, 534)

Recordai – saboreando, na intimidade da alma, a infinita bondade divina – que, pelas palavras da Consagração, Cristo vai tornar-se realmente presente na Hóstia, com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Adorai-O com reverência e devoção; renovai na sua presença o oferecimento sincero do vosso amor; dizei-lhe sem medo que Lhe quereis; agradecei-lhe esta prova diária de misericórdia tão cheia de ternura, e fomentai o desejo de vos aproximardes da comunhão com confiança. Eu surpreendo-me perante este mistério de Amor: o Senhor procura como trono o meu pobre coração, para não me abandonar, se eu não me afastar d'Ele.


Reconfortados pela presença de Cristo, alimentados pelo seu Corpo, seremos fiéis durante esta vida terrena, e mais tarde no Céu, junto de Jesus e de Sua Mãe, chamar-nos-emos vencedores. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Demos graças a Deus que nos trouxe a vitória, pela virtude de Nosso Senhor Jesus Cristo. (Cristo que passa, 161)

As sete palavras de Cristo na Cruz 7

Capítulo 1: Explicação literal da Primeira Palavra: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.» 6

A cegueira não é desculpa para um homem cego, porque é voluntária, acompanhando, não precedendo, o mal que faz. Da mesma maneira, aqueles que pecam na malícia de seus corações sempre podem alegar ignorância, o que não é porém desculpa para seu pecado, pois não o precede, senão que o acompanha. Razão por que o Homem Sábio diz: “Os que praticam o mal erram” 16. O filósofo, de igual modo, proclama com verdade que todo o que faz mal é ignorante do que faz, e por conseguinte se pode dizer dos pecadores em geral: “Não sabem o que fazem”. Pois ninguém pode desejar aquilo que é mau com base em sua maldade, porque a vontade do homem não tende para o mal tanto como para o bem, mas sim só ao que é bom, e por esta razão aqueles que escolhem o que é mau o fazem porque o objecto lhes é apresentado sob aparência de bem, e assim pode então ser escolhido. Isto é resultado do desassossego da parte inferior da alma, que cega a razão e a torna incapaz de distinguir nada que não seja bom no objecto que busca. Assim, o homem que comete adultério ou é culpado de roubo realiza estes crimes porque olha só o prazer ou o ganho que pode obter, e não o faria se suas paixões não o cegassem até ou à vergonhosa infâmia do primeiro e à injustiça do segundo. Um pecador, portanto, é similar a um homem que deseja lançar-se a um rio de um lugar elevado. Primeiro fecha os olhos e depois se lança de cabeça; assim, aquele que faz um ato de maldade odeia a luz, e atua sob uma voluntária ignorância que não o desculpa, porque é voluntária. Mas, se uma voluntária ignorância não desculpa o pecador, por que então Nosso Senhor orou: “Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”? A isto respondo que a interpretação mais directa por fazer das palavras de Nosso Senhor é que foram ditas para seus verdugos, que provavelmente ignoravam de todo não só a Divindade do Senhor mas até sua inocência, e simplesmente realizaram o labor do verdugo. Para eles, portanto, disse em verdade o Senhor: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

são roberto belarmino

(Tradução: Permanência, revisão ama).
________________________________________________
Notas:
16. Prov 13,22.


Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Simplicidade e modéstia.

Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.

Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.

Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu in-
teresse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser
tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?

Temas para meditar 98

Pecado


Deus Não é ofendido por nós, senão naquilo em que actuamos contra o nosso próprio bem.




(SÃO Tomás de Aquino, Summa contra Gentiles 11, 122)

Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (Dec. Presbyterorum ordinis)

Tempo de Páscoa

III Semana 

Evangelho: Jo 6, 35-40

35 Jesus respondeu-lhes: «Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá jamais fome, e aquele que crê em Mim não terá jamais sede. 36 Porém, já vos disse que vós Me vistes e que não credes. 37 Tudo o que o Pai Me dá virá a Mim; e aquele que vem a Mim não o lançarei fora. 38 Porque desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou. 39 Ora a vontade d'Aquele que Me enviou é que Eu não perca nada do que Me deu, mas que o ressuscite no último dia. 40 A vontade de Meu Pai que Me enviou é que todo o que vê o Filho e crê n'Ele tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia».

Comentário:

Sendo certo que nada do que Jesus diz ou faz é por acaso, talvez que este discurso de Jesus Cristo tivesse como objectivo dissipar uma certa forma de pensar que levava muitos a considerar Deus Pai como um Deus justiceiro e inflexível e que, o Filho teria como “função” moderar essa justiça e temperar essa inflexibilidade.

Assim, Jesus quer deixar bem clara e inequívoca a realidade da união íntima entre o Pai e o Filho de tal forma que afirmará claramente:
O Pai e Eu somos um!

(ama, comentário sobre Jo 6, 35-40, 2011.05.11)


Leitura espiritual







Documentos do Concílio Vaticano II





DECRETO
PRESBYTERORUM ORDINIS
SOBRE O MINISTÉRIO E A VIDA DOS SACERDOTES


PROÉMIO

Intenção do Concílio

1. Este sagrado Concílio já por várias vezes chamou a atenção de todos para a excelência da Ordem do presbiterado na Igreja 1. Todavia, em virtude desta Ordem ter uma parte sumamente importante e cada vez mais difícil na renovação da Igreja de Cristo, pareceu muito útil tratar dos sacerdotes com mais amplitude e profundeza. As coisas que se dizem neste Decreto aplicam-se a todos os sacerdotes, sobretudo àqueles que têm cura de almas, com a conveniente adaptação quando se trata dos presbíteros religiosos. Com efeito, os presbíteros, em virtude da sagrada ordenação e da missão que recebem das mãos dos Bispos, são promovidos ao serviço de Cristo mestre, sacerdote e rei, de cujo ministério participam, mediante o qual a Igreja continuamente é edificada em Povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Por isso, para que no meio das situações pastorais e humanas, tantas vezes profundamente mudadas, o seu ministério se mantenha com mais eficácia e se proveja melhor à sua vida, este sagrado Concílio declara e estabelece o seguinte.

CAPÍTULO I

O PRESBITERADO NA MISSÃO DA IGREJA

Natureza do Presbiterado

2. O Senhor Jesus, «a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, (Jo. 10,36), tornou participante todo o seu Corpo místico da unção do Espírito com que Ele mesmo tinha sido ungido 2: n'Ele, com efeito, todos os fiéis se tornam sacerdócio santo e real, oferecem vítimas a Deus por meio de Jesus Cristo, e anunciam as virtudes d'Aquele que os chamou das trevas para a sua luz admirável 3. Não há, portanto, nenhum membro que não tenha parte na missão de todo o corpo, mas cada um deve santificar Jesus no seu coração 4, e dar testemunho de Jesus com espírito de profecia 5.

O mesmo Senhor, porém, para que formassem um corpo, no qual «nem todos os membros têm a mesma função» (Rom. 12,4), constituiu, dentre os fiéis, alguns como ministros que, na sociedade dos crentes, possuíssem o sagrado poder da Ordem para oferecer o Sacrifício, perdoar os pecados 6 e exercer oficialmente o ofício sacerdotal em nome de Cristo a favor dos homens. E assim, enviando os Apóstolos assim como Ele tinha sido enviado pelo Pai 7, Cristo, através dos mesmos Apóstolos, tornou participantes da sua consagração e missão os sucessores deles, os Bispos 8, cujo cargo ministerial, em grau subordinado, foi confiado aos presbíteros 9, para que, constituídos na Ordem do presbiterado, fossem cooperadores 10 da Ordem do episcopado para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo.

O ministério dos sacerdotes, enquanto unido à Ordem episcopal, participa da autoridade com que o próprio Cristo edifica, santifica e governa o seu corpo. Por isso, o sacerdócio dos presbíteros, supondo, é certo, os sacramentos da iniciação cristã, é, todavia, conferido mediante um sacramento especial, em virtude do qual os presbíteros ficam assinalados com um carácter particular e, dessa maneira, configurados a Cristo sacerdote, de tal modo que possam agir em nome de Cristo cabeça 11.

Participando, a seu modo, do múnus dos apóstolos, os presbíteros recebem de Deus a graça de serem ministros de Jesus Cristo no meio dos povos, desempenhando o sagrado ministério do Evangelho, para que seja aceita a oblação dos mesmos povos, santificada no Espírito Santo 12. Com efeito, o Povo de Deus é convocado e reunido pela virtude da mensagem apostólica, de tal modo que todos quantos pertencem a este Povo, uma vez santificados no Espírito Santo, se ofereçam como «hóstia viva, santa e agradável a Deus» (Rom. 12, l). Mas é pelo ministério dos presbíteros que o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma em união com o sacrifício de Cristo, mediador único, que é oferecido na Eucaristia de modo incruento e sacramental pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja, até quando mesmo Senhor vier 13. Para isto tende e nisto se consuma o ministério dos presbíteros. Com efeito, o seu ministério, que começa pela pregação evangélica, tira do sacrifício de Cristo a sua força e a sua virtude, e tende a fazer com que «toda a cidade redimida, isto é, a congregação e a sociedade dos santos, seja oferecida a Deus como sacrifício universal pelo grande sacerdote, que também se ofereceu a si mesmo por nós na Paixão para que fôssemos o corpo de tão nobre cabeça» 14.

Por isso, o fim que os presbíteros pretendem atingir com o seu ministério e com a sua vida é a glória de Deus Pai em Cristo. Esta glória consiste em que os homens aceitem consciente, livre e gratamente a obra de Deus perfeitamente realizada em Cristo, e a manifestem em toda a sua vida. Os presbíteros, portanto, quer se entreguem à oração e à adoração quer preguem a palavra de Deus, quer ofereçam o sacrifício eucarístico e administrem os demais sacramentos, quer exerçam outros ministérios favor dos homens, concorrem não só para aumentar a glória de Deus mas também para promover a vida divina nos homens. Tudo isto, enquanto dimana da Páscoa de Cristo, será consumado no advento glorioso do mesmo Senhor, quando Ele entregar o reino nas mãos do Pai 15.

O ministério dos presbíteros no mundo

3. Os presbíteros, tirados dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e sacrifícios pelos pecados 16, convivem fraternalmente com os restantes homens. Assim também, o Senhor Jesus, Filho de Deus, enviado pelo Pai como homem para o meio dos homens, habitou entre nós e quis assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, menos no pecado 17. Já os Apóstolos o imitaram, e S. Paulo doutor das gentes, «escolhido para anunciar o Evangelho de Deus» (Rom: 1,1) atesta que se fez tudo para todos, para salvar a todos 18. Os presbíteros do Novo Testamento, em virtude da vocação e ordenação, de algum modo são segregados dentro do Povo de Deus, não para serem separados dele ou do qualquer homem, mas para se consagrarem totalmente à obra para que Deus os chama 19. Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem pode riam servir os homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações 20. O seu próprio ministério exige, por um título especial, que não se conformem a este mundo 21; mas exige também que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam as suas ovelhas e procurem trazer aquelas que não pertencem a este redil, para que também elas oiçam a voz de Cristo e haja um só rebanho e um só pastor 22. Para o conseguirem, muito importam as virtudes que justamente se apreciam no convívio humano, como são a bondade, a sinceridade, a fortaleza de alma e a constância, o cuidado assíduo da justiça, a delicadeza, e outras que o Apóstolo Paulo recomenda quando diz: «Tudo quanto é verdadeiro, tudo quanto é puro, tudo quanto é justo, tudo quanto é santo, tudo quanto é amável, tudo quanto é de bom nome, toda a virtude, todo o louvor da disciplina, tudo isso pensai» (Fil. 4,8) 23.

CAPÍTULO II

O MINISTÉRIO DOS PRESBÍTEROS

1- FUNÇÕES DOS PRESBÍTEROS

Os presbíteros, ministros da palavra de Deus

4. O Povo de Deus é reunido antes de mais pela palavra de Deus vivo 1, que é justíssimo esperar receber da boca dos sacerdotes 2. Com efeito, como ninguém se pode salvar se antes não tiver acreditado 3, os presbíteros, como cooperadores dos Bispos, têm, como primeiro dever, anunciar a todos o Evangelho de Deus 4, para que, realizando o mandato do Senhor: «Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a todas as, criaturas» (Mc 16,15) 5, constituam e aumentem o Povo de Deus. Com efeito, é pela palavra da salvação que a fé é suscitada no coração dos infiéis e alimentada no coração dos fiéis; e é mercê da fé que tem início e se desenvolve a assembleia dos crentes, segundo aquele dito do Apóstolo: «a fé vem pelo ouvido, o ouvido, porém, pela palavra de Cristo» (Rom. 10,17). Por isso, os presbíteros são devedores de todos, para comunicarem a todos a verdade do Evangelho 6, de que gozam no Senhor. Portanto, quer quando, por uma convivência edificante entre os povos, os levam a glorificar a Deus 7, quer quando, pregando abertamente, anunciam o mistério de Cristo aos que creem, quer quando ensinam o catecismo cristão ou explanam a doutrina da Igreja, quer quando procuram estudar à luz de Cristo as questões do seu tempo, sempre é próprio deles ensinar não a própria sabedoria mas a palavra de Deus e convidar instantemente a todos à conversão e à santidade 8. A pregação sacerdotal, não raro dificílima nas circunstâncias hodiernas do mundo, se deseja mover mais convenientemente as almas dos ouvintes, não deve limitar-se a expor de modo geral e abstracto a palavra de Deus mas sim aplicar às circunstâncias concretas da vida a verdade perene do Evangelho.

Assim se exerce de muitos modos o ministério da palavra segundo as diversas necessidades dos ouvintes e os carismas dos pregadores. Nas regiões ou agrupamentos não-cristãos, os homens são conduzidos à fé e aos sacramentos da salvação mediante a mensagem evangélica 9; na comunidade dos cristãos, porém, sobretudo entre aqueles que parecem entender e acreditar pouco o que frequentam, é necessária a pregação da palavra para o próprio ministério dos sacramentos, enquanto são sacramentos da fé que nasce da palavra e da palavra se alimenta 10; o que vale sobretudo para a liturgia da palavra na celebração da missa, na qual se unem intimamente a anunciação da morte e da ressurreição do Senhor, a resposta do povo ouvinte e a própria oblação com que Cristo confirmou a nova aliança no seu sangue; nessa oblação comungam os fiéis não só com o desejo mas também com a recepção do sacramento 11.

Os presbíteros, ministros dos sacramentos

5. Deus, que é o único santo e santificação, quis unir a si, como companheiros e colaboradores, homens que servissem humildemente a obra da santificação. Donde vem que os presbíteros são consagrados por Deus, por meio do ministério dos Bispos, para que, feitos de modo especial participantes do sacerdócio de Cristo, sejam na celebração sagrada ministros d'Aquele que na Liturgia exerce perenemente o seu ofício sacerdotal a nosso favor 12. Na verdade, introduzem os homens no Povo de Deus pelo Baptismo; pelo sacramento da Penitência, reconciliam os pecadores com Deus e com a Igreja; com o óleo dos enfermos, aliviam os doentes; sobretudo com a celebração da missa, oferecem sacramentalmente o Sacrifício de Cristo. Em todos os sacramentos, porém, como já nos tempos da Igreja primitiva testemunhou S. Inácio mártir 13, os presbíteros unem-se hierarquicamente de diversos modos com o Bispo, e assim o tornam de algum modo presente em todas as assembleias dos fiéis 14.

Os restantes sacramentos, porém, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado; estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam 15. Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja 16, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo; assim são eles convidados e levados a oferecer, juntamente com Ele, a si mesmos, os seus trabalhos e todas as coisas criadas. Por isso, a Eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização, enquanto os catecúmenos são pouco a pouco introduzidos na participação da Eucaristia, e os fiéis, já assinalados pelo sagrado Baptismo e pela Confirmação, são plenamente inseridos no corpo de Cristo pela recepção da Eucaristia.

Portanto, o banquete eucarístico é o centro da assembleia dos fiéis a que o presbítero preside. Por isso, os presbíteros ensinam os fiéis a oferecer a Deus Pai a vítima divina no sacrifício da missa, e a fazer, com ela, a oblação da vida; com o exemplo de Cristo pastor, ensinam-nos a submeter de coração contrito à Igreja no sacramento da Penitência os próprios pecados, de tal modo que se convertam cada vez mais no Senhor, lembrados das suas palavras: «Fazei penitência, porque o reino dos céus está próximo» (Mt. 4,17). De igual modo os ensinam a participar nas celebrações da sagrada Liturgia, para que também nelas façam oração sincera; guiam-nos a exercer durante a vida toda o espírito de oração cada vez mis perfeito, segundo as graças e necessidades de cada um, e entusiasmam a todos a observar os deveres do próprio estado, e aos mais adiantados a pôr em prática os conselhos evangélicos, do modo que convém a cada um. Ensinam; por isso, os fiéis para que possam cantar ao Senhor nos seus corações com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a Deus Pai em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo 17.

Os próprios presbíteros, ao recitar o ofício divino, distribuem pelas horas do dia os louvores e acções de graças que elevam na celebração da Eucaristia; é com o ofício divino que eles, em nome da Igreja, rezam a Deus por todo o povo que lhes fora confiado; mais ainda, por todo o mundo.

A casa de oração em que é celebrada e conservada a Santíssima Eucaristia, e os fiéis se reúnem, e na qual a presença do Filho de Deus, nosso Salvador, oferecido por nós no altar do sacrifício, é venerada para auxílio e consolação dos fiéis, deve ser nobre e apta para a oração e para as cerimónias sagradas 18. Nela são convidados os pastores e os fiéis a corresponderem generosamente ao dom d'Aquele que pela sua humanidade continuamente infunde á vida divina nos membros do seu corpo 19. Procurem os presbíteros cultivar rectamente a ciência e a arte litúrgica, para que, pelo seu ministério litúrgico, Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, seja louvado cada vez mais perfeitamente pelas comunidades a eles confiadas.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

________________________________________________
Notas:
Proémio e Capítulo I

1. Conc. Vat. II, Const. De Sacra Liturgia, Sacrosanctum Concilium, 4 dez. 1963: AAS 56 (1946), p. 97 s.; Const. dogm. De Ecelesia, Lumen gentium: AAS 57 (1965), p. 5 s.; Decr. De pastorali Episcoporum munere in Ecelesia, Christus Dominus; Decr. De institutione sacerdotali, Optatam totius.
2. Cfr. Mt. 3,16; Lc. 4,18; Act. 10,38.
3. Cfr. 1 Ped. 2, 5. 9.
4. Cfr. 1 Ped. 3,15.
5. Cfr. Apoc. 19,10; Cone. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium; n. 35: AAS 57 (1965), p. 40-41.
6. Conc. Trid., sess. XXIII, cap. 1 e can. 1: Denz. 957 e 961 (1764 e 1771).
7. Cfr. Jo. 20,21; Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, n. 18: AAS 57 (1965), p. 21-22.
8. Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, n. 28: AAS 57 (1965), p.33-36.
9. Cfr. Ibid.
10. Cfr. Pont. Rom., «Ordenação dos Presbíteros», Prefácio. Estas palavras encontram-se já no Sacramentariam Veronense (ed. L. C. Möhlberg, Roma, 1956, p. 122) ; no Missale Francorum (ed. C. MShlberg, Roma, 1957, p. 9) ; no Liber sacramentorum Romanae Ecclesiae (ed. L. C. Möhlberg, Roma, 1960, p. 25); no Pontificale Romanum-germanicum (ed. Vogel-Elze, Cidade do Vaticano, 1963, vol. I, p. 34).
11. Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, n. 10: AAS 57 (1965), p. 14-15.
12. Cfr. Rom. 15,16 gr.
13. Cfr. 1 Cor. 11,26.
14. S. Agostinho, De civitat Dei, 10, 6: PL 41, 284.
15. Cfr. 1 Cor. 15,24.
16. Cfr. Hebr. 5, 1.
17. Cfr. Hebr 2,17; 4,15.
18. Cfr. 1 Cor. 9, 19-23 Vg.
19. Cfr. Act. 13,2.
20. Este esforço de perfeição religiosa e moral é estimulado cada vez mais até pelas condições externas em que a Igreja age; com efeito, ela não pode ficar imóvel e desinteressada perante as vicissitudes das coisas humanas, que a rodeiam, e de múltiplas maneiras influenciam, modificam e condicionam o seu modo de agir. É bem sabido que a Igreja não está separada do convívio humano, antes se encontra situada nele, e, por isso, os seus filhos são movidos e guiados pelo convívio humano, respiram a sua cultura, obedecem às suas leis, observam os seus costumes. Este contacto, porém, da Igreja com a sociedade humana dá continuamente origem a questões difíceis, que hoje são muitíssimo graves. ( ... ) O Apóstolo das gentes exortava assim os cristãos do seu tempo: não vos sujeiteis ao mesmo jugo com os infiéis. Como podem participar a justiça e a iniquidade? Que sociedade pode haver entre a luz e as trevas?... ou que parte existe entre o fiel e o infiel? (2 Cor. 6, 14-15). Por isso, é necessário que aqueles que hoje são na Igreja educadores e mestres advirtam a juventude católica da sua importantíssima condição e do dever que daí se segue de viver neste mundo mas não segundo o sentir deste mundo, de harmonia com a oração feita por Cristo a favor dos seus discípulos: Não peço que os tires do mundo, assim como eu não sou do mundo (Jo. 17, 15-16). A Igreja faz sua esta oração. Todavia, esta distinção não significa o mesmo que separação; nem revela negligência, medo ou. desprezo. Com efeito, quando a Igreja se distingue do género humano, não se le opõe, antes se une com ele». (Paulo VI, Carta enc. Ecclesiam suam, 6 ago. 1964: AAS 56, (1964), p. 627 e 638).
21. Cfr. Rom. 12,2.
22. Cfr. Jo. 10, 14-16.
23. Cfr. S. Policarpo, Epíst. aos Filipenses, VI, 1: «E os presbíteros sejam inclinados à compaixão, misericordiosos para com todos, reconduzindo os extraviados, visitando todos os doentes, não esquecendo as viúvas, os órfãos e os pobres; mas solícitos sempre do bem junto de Deus e dos homens, abstendo-se de toda a ira, acepção de pessoas, juizos injustos, afastando para longe toda a avareza, não acreditando fàcilmente contra alguém, não demasiados severos nos juizos, conscientes de que todos somos devedores do pecado» (ed. F. X. Funk, Patres Apostolici, I, p. 273).

Capítulo II

1. Cfr. 1 Ped. 1,23; Act. 6,7; 12,24. S. Agostinho, In Ps., 44, 23: PL 36, 508: «Pregaram (os Apóstolos) a palavra de verdade e geraram as Igrejas».
2. Cfr. Mal. 2,7; 1 Tim. 4, 11-13; 2 Tim. 4,5; Tit. 1,9.3. Cfr. Mc. 16,16.
4. Cfr. 2 Cor. 11,7. Acerca dos presbíteros, como cooperadores dos Bispos, valem também aquelas coisas que se dizem dos Bispos. Cfr. Statuta Ecclesiae antiqua, c. 3 (ed. Ch. Munier, Paris, 1960, p. 79) ; Decretum Gratiani, C. 6, D. 88 (ed. Friedberg, I, 307); Conc. Trid., ses. V, Decr. (Conc. Oec. Decreta, ed. Herder Romae, 1962, p. 645) ; 2, n° 9 ses. XXIV, Decr. de reform., c. 4 (p. 739) ; Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecelesia, Lumen gentium, n. 25: AAS 57 (1965), p. 29-31.
5. Cfr. Constitutiones Apostolorum, II, 26, 7: «(os presbíteros) sejam mestres da ciência divina, pois foi o Senhor quem os enviou dizendo: Ide, ensinai, etc.» (ed. F. X. Funk, Didascalia et Constitutiones Apostolorum, I, Paderborn, 1905, p. 105). — Sacramentarium Leonianum e os restantes sacramentários até ao Pontificale Romanum, Prefácio na ordenação de Presbíteros: «Com esta providência, Senhor, deste como companheiros aos Apóstolos dc teu Filho os doutores da fé, com os quais eles encheram todo o mundo de novos pregadores (ou pregações)».— Líber Ordinum Liturgiae Mozarabicae, Prefácio na ordenação de Presbíteros: «Doutor dos povos e reitor dos súbditos, mantenha em ordem a fé católica, e anuncie a todos a verdadeira salvação» (ed. M. Pérotin: Le Líber Ordinum en usage dans l'Eglise Wisigothique et Mozarabe d'Espagne: Monumenta Ecclesiae Liturgicae, vol. V. Paris, 1904, col. 55 lin. 4-6
6. Cfr. Gál. 2,5.
7. Cfr. 1 Ped. 2,12.
8. Cfr. Rito da ordenação de Presbitero na Igreja alexandrina dos Jacobitas: «...Reúne o teu povo para a palavra de doutrina, como a mãe que alimenta os seus filhinhos» (H. Denzinger, Ritus orientalium, Tom. II, Würzburg, 1863, p. 14).
9. Cfr. Mt. 28,19; Mc. 16,16; Tertuliano, De baptismo, 14,2 (Corpus Christianorum, series latina I, p. 289, 11-13); S. Atanásio, Adv. Arianos, 2, 42: PG 26,237; S. Jerónimo, In Mt., 28,19: PL 26, 218 BC: «Primeiro ensinam todas as gentes, depois baptizam os que já estão ensinados. Não pode o corpo receber o sacramento do Baptismo se a alma não tiver recebido antes a verdade da fé»; S. Tomás, Expositio primae Decretalis, § 1:. «o nosso Salvador, enviando os discipulos a pregar, mandou-lhes três coisas: primeiro, que ensinassem a fé; segundo, que ministrassem os sacramentos aos crentes» (ed. Marietti, Opuscula Theologica, Taurini-Romae, 1954, 1138).
10. Cfr. Cone. Vat. II, Const. De Sacra Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 35, 2: AAS 56 (1964), p. 109.
11. Cfr. Ibid., n. 33, 35, 48, 52 (p. 108-109; 113; 114).
12. Cfr. Ibid., n. 7 (p. 100-101); Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943), p. 230.
13. S. Inácio M., Smyrn., 8, 1-2 (ed. F. X. Funk, p. 282, 6-15), Constitutiones Apostolorum, VIII, 12, 3 (ed. F. X. Funk p. 496); VIII, 29, 2 (p. 532).
14. Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia Lumen gentium, n. 28: AAS 57 (1965), p. 33-36.
15. «A Eucaristia é como que a consumação da vida espiritual, e o fim de todos os sacramentos (S. Tomás, Summa Theol. III, q. 73. a. 3 c); cfr. Summa Theol. III, q. 65, a. 3.
16. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 65, a. 3, ad 1; q. 79, a. 1 c. e ad 1.
17. Cfr. Ef. 5, 19-20.
18. Cfr. S. Jerónimo, Epist. 114, 2: «...os cálices sagrados, os véus sagrados e as outras coisas que pertencem ao culto da Paixão do Senhor... devem ser venerados com o mesmo respeito tributado ao Corpo e Sangue do Senhor, em virtude de terem tocado no Corpo e no Sangue do Senhor» (PL. 22, 934). Cfr. Conc. Vat. II, Const. De Sacra Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 122-127: AAS 56 (1964), p. 130-132.
19. Além disso, não deixem de fazer, algumas vezes, a visita ao Santíssimo Sacramento, que deve ser conservado no lugar mais nobre possível e com a maior honra possível nas igrejas segundo as leis litúrgicas; será uma prova de gratidão para com Cristo Senhor ali presente, penhor de amor e ofício de adoração devida» (Paulo VI, Encícl. Mysterium fidei, 3 set. 1965: AAS 57 (1965), p. 771).