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Evangelho do dia, comentário e Leitura espiritual

Tempo de Páscoa

II Semana 


Vd santos do dia (nesta página)

Evangelho: Jo 3, 1-8

1 Havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. 2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-Lhe: «Rabi, sabemos que foste enviado por Deus como mestre, porque ninguém pode fazer estes milagres que Tu fazes, se Deus não estiver com ele». 3 Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo». 4 Nicodemos disse-Lhe: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e renascer?». 5 Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.6 Aquilo que nasceu da carne, é carne, aquilo que nasceu do Espírito, é espírito. 7 Não te maravilhes de Eu te dizer: É preciso que nasçais de novo. 8 O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem nem para onde vai; assim é todo aquele que nasceu do Espírito».

Comentário:

Este trecho do Evangelho suscita um comentário sobre a prudência.

O que por alguém pode ser tomado como cobardia é, na verdade um acto ditado pela prudência e o bom senso.

Esperar uma ocasião propícia para falar com Jesus é o que revela da parte de Nicodemos.

O que pensariam de Jesus se O vissem em animada conversa com um dos pertencentes àquela casta com quem entrava em conflito aberto tão frequentemente?

Assim, o cristão, tem de ser prudente na demonstração da sua fé.

Fazê-lo, gratuitamente em local ou circunstâncias adversas não tem a ver com coragem ou desassombro mas, só, com inútil e estulta imprudência.

(ama, comentário sobre Jo 3, 1-8, 2012.04.16)



Leitura espiritual



Temas 

Virtudes humanas

A graça é a fonte da santificação; cura e eleva a natureza tornando-nos capazes de agir como filhos de Deus.

A graça e as virtudes

1. A graça

Deus chamou o homem a participar na vida da Santíssima Trindade. «Esta vocação para a vida eterna é sobrenatural» (Catecismo, 1998)



[1]. Para nos conduzir a este fim último sobrenatural, concede-nos já nesta terra um início dessa participação que será plena no céu. Este dom é a graça santificante, que consiste num «começo da glória» 2[2]. Portanto, a graça santificante:

- «é dom gratuito que Deus nos faz da sua vida, infundida pelo Espírito Santo na nossa alma, para a curar do pecado e a santificar» (Catecismo, 1999);

- «é uma participação na vida de Deus» (Catecismo, 1997; cf. 2 Pe 1,4) que nos diviniza (cf. Catecismo , 1999);

- é, portanto, uma nova vida, sobrenatural; como um novo nascimento pelo qual somos constituídos filhos de Deus por adopção, participantes da filiação natural do Filho: «filhos no Filho» [3];

- introduz-nos, assim, na intimidade da vida trinitária. Como filhos adoptivos, podemos chamar «Pai» a Deus, em união com o Filho único (cf. Catecismo, 1997);

- É “graça de Cristo”, porque na situação presente – quer dizer, depois do pecado e da Redenção operada por Jesus Cristo – a graça chega-nos como participação da graça de Cristo (Catecismo, 1997): «Da sua plenitude todos recebemos graça sobre graça”» (Jo 1, 16). A graça configura-nos com Cristo (cf. Rm 8, 29):

- é «graça do Espírito Santo», porque é infundida na alma pelo Espírito Santo [4].

À graça santificante chama-se também graça habitual porque é uma disposição estável que aperfeiçoa a alma pela infusão das virtudes, para torná-la capaz de viver com Deus, de actuar por seu amor (cf. Catecismo, 2000) [5].

2. A justificação
          
A primeira obra da graça em nós é a justificação (cf. Catecismo, 1989). Chama-se justificação à passagem do estado de pecado ao estado da graça (ou “de justiça”, porque a graça nos faz “justos”) [6]. Esta tem lugar no Baptismo, e cada vez que Deus perdoa os pecados mortais e infunde a graça santificante (ordinariamente no sacramento da penitência) [7]. A justificação «é a obra mais excelente do amor de Deus» (Catecismo, 1994; cf. Ef 2, 4-5).

3. A santificação

Deus não nega a ninguém a sua graça, porque quer que todos os homens se salvem (1 Tm 2, 4); todos estão chamados à santidade (cf. Mt 5, 48) [8]. A graça «é, em nós, a nascente da obra de santificação» (Catecismo, 1999); sara e eleva a nossa natureza tornando-nos capazes de actuar como filhos de Deus [9], e de reproduzir à imagem de Cristo (cf. Rm 8, 29): quer dizer, de ser, cada um, alter Christus, outro Cristo. Esta semelhança com Cristo manifesta-se nas virtudes.

A santificação é o progresso em santidade; consiste na união cada vez mais íntima com Deus (cf. Catecismo, 2014), até chegar a ser não só outro Cristo mas ipse Christus, o próprio Cristo [10]; quer dizer, uma só coisa com Cristo, como membro seu (cf. 1 Cor 12, 27). Para crescer em santidade é necessário cooperar livremente com a graça, e isto requer esforço, luta, por causa da desordem introduzida pelo pecado (o fomes peccati). «Não há santidade sem renúncia e combate espiritual» (Catecismo, 2015) [11].

Consequentemente, para vencer na luta ascética, antes de mais é preciso pedir a Deus a graça mediante a oração e a mortificação – «a oração dos sentidos» [12]– e recebê-la nos sacramentos [13].

A união com Cristo só será definitiva no Céu. É necessário pedir a Deus a graça da perseverança final: quer dizer, o dom de morrer na graça de Deus (cf. Catecismo, 2016 e 2849).

4. As virtudes teologais

Em geral, «a virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem» (Catecismo, 1803) [14]. «As virtudes teologais referem-se directamente a Deus e dispõem os cristãos para viverem em relação com a Santíssima Trindade» (Catecismo, 1812). «São infundidas por Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de proceder como filhos seus» (Catecismo, 1813) [15]. As virtudes teologais são três: fé, esperança e caridade (cf. 1 Cor 13, 13).

A fé «é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou, e que a santa Igreja nos propõe para acreditarmos» (Catecismo, 1814). Pela fé «o homem entrega-se completa e livremente a Deus» [16], e esforça-se por conhecer e fazer a vontade de Deus (cf. Rm 1, 17) [17].

«O discípulo de Cristo, não somente deve guardar a fé e viver dela, como também professá-la, dar testemunho dela e propagá-la» (Catecismo, 1816; cf. Mt 10, 32-33).

«A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo» (Catecismo 1817) [18].

«A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus (Catecismo, 1822). Este é o mandamento novo de Jesus Cristo: «que vos ameis com eu vos amei» (Jo 15, 12) [19].

5. As virtudes humanas

«As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade, que regulam os nossos actos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. O Homem virtuoso é aquele que livremente pratica o bem» (Catecismo, 1804). Estas adquirem-se mediante as forças humanas e são os frutos e germes de actos moralmente bons» (Catecismo, 1804) [20].

Entre as virtudes humanas há quatro chamadas cardeais, porque todas as outras se agrupam à volta delas. São a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança (cf. Catecismo, 1805).

- «A prudência é a virtude que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o atingir» (Catecismo, 1806). É a «norma recta da acção» [21].

- «A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido» (Catecismo 1807) [22].

- «A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições. Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício da própria vida, na defesa duma causa justa» (Catecismo, 1808) [23].

- «A temperança a virtude moral que modera a atracção dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade» […] A pessoa temperante orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração. A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento: “Não te deixes levar pelas tuas más inclinações e refreia os teus apetites” (Sir 18, 30). No Novo Testamento, é chamada “moderação”, ou “sobriedade”» (Catecismo, 1809).

A respeito das virtudes morais, afirma-se que in médio virtus. Isto significa que a virtude moral consiste no meio entre um defeito e um excesso [24]. In médio virtus não é uma chamada à mediocridade. A virtude não é o termo médio entre dois ou mais vícios, mas a rectidão da vontade que, como num cume, se opõe a todos os abismos que são os vícios [25].

6. As virtudes e a graça. As virtudes cristãs

As feridas deixadas pelo pecado original na natureza humana dificultam a aquisição e o exercício das virtudes humanas (cf. Catecismo, 1811) [26]. Para adquiri-las e praticá-las, o cristão conta com a graça de Deus que sara a natureza humana.

 Além disso, a graça, ao elevar a natureza humana a participar da natureza divina, eleva essas virtudes ao plano sobrenatural (cf. Catecismo, 1810), levando a pessoa humana a actuar segundo a recta razão iluminada pela fé: numa palavra, a imitar Cristo. Deste modo, as virtudes humanas tornam-se virtudes cristãs [27].

7. Os dons e os frutos do Espírito

«A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil aos impulsos do Espírito Santo» (Catecismo, 1830) [28].

Os sete dons do Espírito Santo são (cf. Catecismo, 1831):

1º - Sabedoria: para compreender e julgar com acerto acerca dos desígnios divinos.

2º - Entendimento: para penetrar na verdade sobre Deus.

3º - Conselho: para julgar e secundar nas acções singulares os desígnios divinos.

4º - Fortaleza: para acometer as dificuldades na vida cristã.

5º - Ciência: para conhecer a ordenação das coisas criadas por Deus.

6º - Piedade: para nos comportarmos como filhos de Deus e como irmãos dos nossos irmãos os homens, sendo outros Cristos.

7º - Temor de Deus: para repudiar tudo o que possa ofender a Deus, como um filho repudia, por amor, o que possa ofender o seu pai.

«Os frutos do Espírito Santo são perfeições que o Espírito Santo forma em nós, como primícias da glória eterna» (Catecismo, 1832). São actos que a acção do Espírito Santo produz habitualmente na alma. A tradição da Igreja enumera doze: «caridade, gozo, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência, castidade» (Gl 5, 22-23).

8. Influência das paixões na vida moral

Pela união substancial da alma e do corpo, a nossa vida espiritual – o conhecimento intelectual e o livre querer da vontade – encontra-se sob o influxo (para o bem ou para o mal) da sensibilidade. Este influxo manifesta-se nas paixões que são «emoções ou movimentos da sensibilidade, que inclinam a agir, ou a não agir, em vista do que se sentiu ou imaginou como bom ou como mau» (Catecismo 1763). As paixões são movimentos do apetite sensível (irascível e concupiscível). Podem chamar-se também, em sentido amplo, “sentimentos” ou “emoções” [29].

Por exemplo, são paixões o amor, a ira, o temor, etc. «A mais fundamental é o amor, provocado pela atracção do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de o alcançar. Este movimento tem o seu termo no prazer e na alegria do bem possuído. A apreensão pelo mal causa o ódio, a aversão e o receio do mal futuro; este movimento termina na tristeza pelo mal presente ou na cólera que a ele se opõe» (Catecismo, 1765).

As paixões influem muito na vida moral «Em si mesmas, as paixões não são nem boas nem más» (Catecismo, 1767). «São moralmente boas quando contribuem para uma acção boa, e más, no caso contrário» (Catecismo 1768) [30]. Pertence à perfeição humana que as paixões estejam reguladas pela razão e dominadas pela vontade [31]. Depois do pecado original, as paixões não se encontram submetidas ao império da razão, e com frequência inclinam a levar a cabo o que não é bom [32]. Para as encaminhar habitualmente para o bem necessita-se da ajuda da graça, que sara as feridas do pecado, e da luta ascética.

A vontade, se é boa, utiliza as paixões ordinariamente para o bem [33]. Pelo contrário, a má vontade que segue o egoísmo, sucumbe às paixões desordenadas ou usa-as para o mal (cf. Catecismo, 1768).

francisco díaz 2012/09/20

Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 1762-1770, 1803-1832 e 1987-2005.
Leituras recomendadas:
São Josemaria, Homilia «Virtudes humanas», em Amigos de Deus, 73-92.

Nota: Revisão gráfica e da tradução por ama.





Notas:
[1] Esta vocação «depende inteiramente da iniciativa gratuita de Deus, porque só Ele pode revelar-Se e dar-Se a si mesmo. E ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade humana, como de qualquer criatura (cf. 1 Cor 2, 7-9” (Catecismo, 1998).
[2] S. Summa Theologica, II-II, q. 24, a. 3, ad 2.Tomás de Aquino,
[3] Concílio Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 22. Cf. Rm 8, 14-17; Gl 4, 5-6, 1 Jo 3,1.
[4] Qualquer dom criado procede do Dom incriado, que é o Espírito Santo. «O amor de Deus derramou-se nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5; cf. Gl 4, 6).
[5] Deve-se distinguir entre graça habitual e graças actuais, «que designam intervenções divinas que estão na origem da conversão ou no decorrer da obra da santificação» (cf. Ibidem).
[6] «A justificação envolve o perdão dos pecados, a santificação e a renovação interior» (Concílio de Trento: DS 1528).
[7] Nos adultos, esta passagem é fruto da moção de Deus (graça actual) e da liberdade do homem, «Sob a moção da graça, o homem volta-se para Deus e desvia-se do pecado, acolhendo assim o perdão e a justiça do Alto» (Catecismo, 1989).
[8] Deus quis recordar esta verdade com especial força e novidade, por meio dos ensinamentos de São Josemaria a partir do dia 2 de Outubro de 1928. A Igreja proclamou no Concílio Vaticano II (1962-65): «Todos os fiéis, de qualquer estado ou regime de vida, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade» (Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 40).
[9] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 2, a. 12, c.
[10] Cf. São Josemaria, Cristo que Passa, n. 104
[11] Mas a graça «não faz concorrência de modo nenhum, à nossa liberdade, quando esta corresponde ao sentido da verdade e do bem que Deus colocou no coração do homem» (Catecismo, 1742). Pelo contrário, «a graça corresponde às aspirações profundas da liberdade humana» (Catecismo, 2022).
[12] São Josemaria, Cristo que Passa, 9
[13] Para alcançar a graça de Deus contamos com a intercessão da nossa Mãe Maria Santíssima, Medianeira de todas as graças, e também com a de S. José, dos Anjos e dos Santos.
[14] Pelo contrário, os vícios são hábitos morais que se seguem às obras más e inclinam a repeti-las e a piorar.
[15] Tal como a alma humana opera através das suas potências (entendimento e vontade), o cristão em graça de Deus opera através das virtudes teologais, que são como as potências da “nova natureza” elevada pela graça.
[16] Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 5.
[17] A fé manifesta-se pelas obras: a fé viva «actua pela caridade» (Gl 5, 6), enquanto que «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26), mesmo que o dom da fé permaneça em quem não pecou directamente contra ela (cf. Concílio de Trento: DS 1545).
[18] Cf. Heb 10, 23; Tt 3, 6-7. «A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem» (Catecismo, 1818), purifica-o e eleva-o; protege-o do desalento; dilata-lhe o coração na espera da bem-aventurança eterna; preserva-o do egoísmo e condu-lo à alegria (cf. Ibidem).
[19] A caridade é superior a todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13). «Se não tivesse caridade nada seria nada» (1 Cor 13,3). «O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade» (Catecismo, 1827). É a forma de todas as virtudes: “informa-as” ou vivifica-as”, porque as orienta o amor de Deus; sem caridade, as outras virtudes estão mortas. A caridade purifica a nossa faculdade humana de amar e eleva-a à perfeição sobrenatural do amor divino (cf. Catecismo, 1827). Há uma ordem na caridade. A caridade manifesta-se também na correcção fraterna (cf. Catecismo 1829).
[20] O cristão desenvolve as virtudes com a ajuda da graça de Deus que, ao sarar a natureza humana, dá força para as praticar e ordena-as a um fim mais elevado.
[21] Conduz a julgar rectamente sobre o modo de agir: sem retrair da acção (cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, II-II, q. 47, a. 2). «Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É chamada “auriga virtutum – condutor das virtudes,” porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. É a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena a sua conduta segundo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e o mal a evitar» (Catecismo, 1806).
[22] O homem não pode dar a Deus o que Lhe deve ou o justo em sentido estrito. Por isso, a justiça para com Deus chama-se mais propriamente “virtude da religião”, «dado que a Deus Lhe basta que cumpramos à medida das nossas possibilidades» (S. Tomás de Aquino, Summa Theologica, II-II, q. 57, a. 1, ad 3).
[23] «No mundo tereis tribulação. Mas confiai: Eu venci o mundo» (Jo 16, 33).
[24] Por exemplo, a laboriosidade consiste em trabalhar tudo o que se deve, que é um meio entre um menos e um mais. Opõe-se à laboriosidade trabalhar menos do devido, perder o tempo, etc. E também se opõe trabalhar sem medida, sem respeitar outras coisas que também se devem fazer (deveres de piedade, de caridade, etc.).
[25] O princípio in médio virtus é válido somente para as virtudes morais, as quais têm por objecto os meios para alcançar o fim, e nesses meios há sempre uma medida. Pelo contrário, não é válido no caso das virtudes teologais, porque estas virtudes (fé, esperança e caridade) têm directamente a Deus por objecto. Por isso, não é possível um excesso: “crer demasiado”, “esperar demasiado” em Deus” ou “amá-Lo em excesso”.
[26] A natureza humana está ferida pelo pecado. Por isso, tem inclinações que não são naturais como consequência do pecado. Do mesmo modo que não é natural coxear, devido à consequência de alguma doença, como não seria natural mesmo que toda a gente coxeasse, nem sequer são naturais as feridas que deixou o pecado original e os pecados pessoais na alma: a tendência para a soberba, a preguiça, a sensualidade, etc. Com a ajuda da graça e com esforço pessoal, estas feridas podem-se ir curando, de modo que o homem seja e se comporte como corresponde à sua natureza e condição de filho de Deus. Esta saúde consegue-se por meio das virtudes. De modo semelhante, a doença agrava-se com os vícios.
[27] Assim, há uma prudência que é virtude humana, bem como uma prudência que é sobrenatural, infundida por Deus na alma, juntamente com a graça. Para que uma virtude sobrenatural possa produzir fruto – actos bons – precisa da correspondente virtude humana. Por exemplo e no caso das outras virtudes cardeais: a virtude sobrenatural da justiça, exige a virtude humana da justiça; e o mesmo acontece com a fortaleza e a temperança. Dito doutra maneira, a perfeição cristã – a santidade – exige e compreende a perfeição humana.
[28] Para compreender melhor a função dos Dons do Espírito Santo na vida moral, pode-se acrescentar a seguinte explicação clássica: assim como a natureza humana tem algumas potências (inteligência e vontade) que permitem realizar as operações de entender e querer, assim a natureza elevada pela graça tem potências que lhe permitem realizar actos sobrenaturais. Estas potências são as virtudes teologais (fé, esperança e caridade). São como os remos de um barco, que permitem avançar em direcção ao fim sobrenatural. No entanto, este fim supera-nos de tal modo, que não bastam as virtudes teologais para o alcançar. Deus concede, juntamente com a graça, os dons do Espírito Santo, que são novas perfeições da alma que permitem que seja movida pelo mesmo Espírito Santo. São como a vela de um barco, que lhe permite avançar com o sopro do vento. Os dons aperfeiçoam-nos em ordem a tornarmo-nos mais dóceis à acção do Espírito Santo, que se converte assim em motor da nossa actuação.
[29] É preciso ter em conta que também se fala de “sentimentos” ou “emoções” supersensíveis ou espirituais que não são propriamente “paixões” porque não estão sujeitos aos movimentos do apetite sensível.
[30] Por exemplo, há uma ira boa, que se indigna perante o mal, e também há uma ira má descontrolada ou que move ao mal (como acontece na vingança); há temor bom e há temor mau, que paralisa para fazer o bem; etc.
[31] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologica, I-II, q. 24, aa. 1 e 3.
[32] Em certas ocasiões podem dominar de tal modo a pessoa, que a responsabilidade moral se reduz ao mínimo.
[33] «A perfeição moral consiste em que o homem não seja movido para o bem só pela vontade, mas também pelo seu apetite sensível, segundo esta palavra do Salmo: “O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo” (Sl 84, 3)» (Catecismo, 1770). «As paixões são más se o amor for mau, boas se for bom» (Santo Agostinho, De Civitate Dei, 14, 7)