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Evangelho diário e comentário

Tempo de Quaresma Semana III
Evangelho: Mc 12, 28-34

28 Então aproximou-se um dos escribas, que os tinha ouvido discutir. Vendo que Jesus lhes tinha respondido bem, perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?». 29 Jesus respondeu-lhe: «O primeiro de todos os mandamentos é este: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”. 31 O segundo é este: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Não há outro mandamento maior do que estes». 32 Então o escriba disse-Lhe: «Mestre, disseste bem e com verdade que Deus é um só, e que não há outro fora d'Ele; 33 e que amá-l'O com todo o coração, com todo o entendimento, com toda a alma, e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios». 34 Vendo Jesus que tinha respondido sabiamente, disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». Desde então ninguém mais ousava interrogá-l'O.

Comentário:

Levanta-se uma questão a respeito deste trecho do Evangelho:

‘Quem não ama Deus não ama o próximo, ou, se se ama o próximo tem de se amar a Deus?’

Parece óbvio que o amor é um só: o amor de Deus pelos homens! De facto Deus não só criou o homem por amor mas criou-o para amar.

Sendo verdade que Deus ama todos os homens e que estes são o reflexo, a própria imagem de Deus, não será possível haver como que uma “divisão” do amor entre o amor a Deus e o amor ao próximo.

Assim, aquele que ama o próximo, ama de facto a Deus embora, por qualquer razão, possa não O conhecer.

Por isso é tão importante o apostolado, que mais não é que um serviço para que todos conheçam Deus.

(ama, comentário sobre Lc 14, 15-24, 2013.06.06)

Leitura espiritual para Mar 28

Evangelho: Lc 13, 31-35; 14, 1-14

31 No mesmo dia alguns dos fariseus foram dizer-Lhe: «Sai e vai-Te daqui porque Herodes quer matar-Te». 32 Ele respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Eis que Eu expulso os demónios e faço curas hoje e amanhã, e ao terceiro dia atinjo o Meu termo. 33 Importa, contudo, que Eu caminhe ainda hoje, amanhã e no dia seguinte; porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. 34 «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis juntar os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, e tu não quiseste! 35 Eis que a vossa casa vos será deixada deserta. Digo-vos que não Me vereis, até que venha o dia em que digais: “Bendito O que vem em nome do Senhor”».
14 1 Entrando Jesus, um sábado, em casa de um dos principais fariseus, para comer, eles estavam a observá-l'O. 2 Encontrava-se diante d'Ele um homem hidrópico.3 Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da lei e aos fariseus, disse-lhes: «É lícito ou não fazer curas ao sábado?».4 Eles ficaram calados. Então Jesus, pegando no homem pela mão, curou-o e mandou-o embora. 5 Dirigindo-se depois a eles, disse: «Qual de vós, se o seu filho ou seu boi cair num poço, não o tirará imediatamente ainda que seja em dia de sábado?». 6 Eles não sabiam que replicar a isto. 7 Disse também uma parábola, observando como os convidados escolhiam os primeiros lugares à mesa: 8 «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não te coloques no primeiro lugar, porque pode ser que outra pessoa de mais consideração do que tu tenha sido convidada pelo dono da casa,9 e que venha quem te convidou a ti e a ele e te diga: Cede o lugar a este; e tu, envergonhado, vás ocupar o último lugar. 10 Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier quem te convidou, te diga: Amigo, vem mais para cima. Então terás com isto glória na presença de todos os convidados;11 porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado». 12 Dizia mais àquele que O tinha convidado: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os vizinhos ricos; para que não aconteça que também eles te convidem e te paguem com isso. 13 Mas, quando deres algum banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; 14 e serás bem-aventurado, porque esses não têm com que retribuir-te; mas ser-te-á isso retribuído na ressurreição dos justos».

Documentos do Concílio Vaticano II

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA
LUMEN GENTIUM
SOBRE A IGREJA

CAPÍTULO V

A VOCAÇÃO DE TODOS À SANTIDADE NA IGREJA

Proémio: chamamento universal à santidade

39. A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é indefectivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai e o Espírito ao único Santo» (120), amou a Igreja como esposa, entregou-Se por ela, para a santificar (cfr. Ef. 5, 25-26) e uniu-a a Si como Seu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo, para glória de Deus. Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1 Tess. 4,3, cfr. Ef. 1,4). Esta santidade da Igreja incessantemente se manifesta, e deve manifestar-se, nos frutos da graça que o Espírito Santo produz nos fiéis, exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo, aparece dum modo especial na prática dos conselhos chamados evangélicos. A prática destes conselhos, abraçada sob a moção do Espírito Santo por muitos cristãos, quer privadamente quer nas condições ou estados aprovados pela Igreja, leva e deve levar ao mundo um admirável testemunho e exemplo desta santidade.

Jesus, mestre e modelo

40. Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: «sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito» (Mt. 5,48) (121). A todos enviou o Espírito Santo, que os move interiormente a amarem a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças (cfr. Mc. 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os amou (cfr. Jo. 13,34, 15,12). Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Baptismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam. O Apóstolo admoesta-os a que vivam acorro convém a santos» (Ef. 5,3), acorro eleitos e amados de Deus, se revistam de entranhas de misericórdia, benignidade, humildade, mansidão e paciência» (Col. 3,12) e alcancem os frutos do Espírito para a santificação (cfr. Gál. 5,22, Rom. 6,22). E porque todos cometemos faltas em muitas ocasiões (Tg. 3,2), precisamos constantemente. da misericórdia de Deus e todos os dias devemos orar: «perdoai-nos as nossas ofensas» (Mt. 6,12) (122). É, pois, claro a todos, que os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade (123). Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano. Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do Povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos.

A santidade nos diversos estados

41. Nos vários géneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é cultivada por aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus e, obedientes à voz do Pai, adorando em espírito e verdade a Deus Pai, seguem a Cristo pobre, humilde, e levando a cruz, a fim de merecerem ser participantes da Sua glória. Cada um, segundo os próprios dons e funções, deve progredir sem desfalecimentos pelo caminho da fé viva, que estimula a esperança e que actua pela caridade.

Em primeiro lugar, os pastores do rebanho de Cristo, à semelhança do sumo e eterno sacerdote, pastor e bispo das nossas almas, desempenhem o próprio ministério santamente e com alegria, com humildade e fortaleza, assim cumprido, também para eles será o seu ministério um sublime meio de santificação. Escolhidos para a plenitude do sacerdócio, receberam a graça sacramental para que, orando, sacrificando e pregando, com toda a espécie de cuidados e serviços episcopais, realizem a tarefa perfeita da caridade pastoral (124), sem hesitarem em oferecer a vida pelas ovelhas e, feitos modelos do rebanho (cfr. 1 Ped. 5,3), suscitem na Igreja, também com o seu exemplo, uma santidade cada vez maior.

Os presbíteros, à semelhança da ordem dos Bispos, de que são a coroa espiritual (125), já que participam das suas funções por graça de Cristo, eterno e único mediador, cresçam no amor de Deus e do próximo com o exercício do seu dever quotidiano, guardem o vínculo da unidade sacerdotal, abundem em toda a espécie de bens espirituais e deem a todos vivo testemunho de Deus (126), tornando-se émulos daqueles sacerdotes que no decorrer dos séculos, em serviço muitas vezes humilde e escondido, nos deixaram magnífico exemplo de santidade. O seu louvor persevera na Igreja. Orando e oferecendo o sacrifício pelo próprio rebanho e por todo o Povo de Deus, conforme é seu ofício, conscientes do que fazem e imitando as realidades com que lidam (127), longe de serem impedidos pelos cuidados, perigos e tribulações do apostolado, devem antes por eles elevar-se a uma santidade mais alta, alimentando e afervorando a sua acção com a abundância da contemplação, para alegria de toda a Igreja de Deus. Todos os presbíteros, e especialmente aqueles que por título particular da sua ordenação são chamados sacerdotes diocesanos, lembrem-se de quanto ajudam para a sua santificação a união fiel e a cooperação generosa com o próprio Bispo.

Na missão de graça do sumo-sacerdote, participam também de modo peculiar os ministros de ordem inferior, e sobretudo os diáconos, servindo nos mistérios de Cristo e da Igreja (128), devem conservar-se puros de todo o vício, agradar a Deus, atender a toda a espécie de boas obras diante dos homens (cfr. 1 Tim. 3, 8-10. 12-13). Os clérigos que, chamados pelo Senhor e separados a fim de ter parte com Ele, se preparam sob a vigilância dos pastores para desempenhar os ofícios de ministros, procurem conformar o coração e o espírito com tão magnífica eleição, sendo assíduos na oração e fervorosos no amor, ocupando o pensamento com tudo o que é verdadeiro, justo e de boa reputação, fazendo tudo para glória é honra de Deus. Destes se aproximam aqueles leigos, que, escolhidos por Deus, são chamados pelos Bispos para se consagrarem totalmente às actividades apostólicas e com muito fruto trabalham no campo do Senhor (129).

Os esposos e pais cristãos devem, seguindo o seu caminho peculiar, amparar-se mutuamente na graça, com amor fiel, durante a vida inteira, e imbuir com a doutrina cristã e as virtudes evangélicas a prole que amorosamente receberam de Deus. Dão assim a todos exemplo de amor incansável e generoso, edificam a comunidade fraterna e são testemunhas e cooperadores da fecundidade da Igreja, nossa mãe, em sinal e participação daquele amor, com que Cristo amou a Sua esposa e por ela Se entregou (130). Exemplo semelhante é dado, mas de outro modo, pelas pessoas viúvas ou celibatárias, que muito podem concorrer para a santidade e acção da Igreja. Aqueles que se ocupam em trabalhos muitas vezes duros, devem, através das tarefas humanas, aperfeiçoar-se a si mesmos, ajudar os seus concidadãos, fazer progredir a sociedade e toda a criação, e, ainda, imitando com operosa caridade a Cristo, cujas mãos se exercitaram em trabalhos de operário e, em união com o Pai, continuamente actua para a salvação de todos, alegres na esperança, levando os fardos uns dos outros, subam com o próprio trabalho quotidiano a uma santidade mais alta, também ela apostólica.

Todos quantos se veem oprimidos pela pobreza, pela fraqueza, pela doença ou tribulações várias, e os que sofrem perseguição por amor da justiça, saibam que estão unidos, de modo especial, a Cristo nos seus sofrimentos pela salvação do mundo, o Senhor, no Evangelho, proclamou-os bem-aventurados e «o Deus... de toda a graça, que nos chamou à Sua eterna glória em Cristo Jesus, depois de sofrerem um pouco, os há-de restabelecer, confirmar e consolidar» (1 Ped. 5,10).

Todos os fiéis se santificarão cada dia mais nas condições, tarefas e circunstâncias da própria vida e através de todas elas, se receberem tudo com fé da mão do Pai celeste e cooperarem com a divina vontade, manifestando a todos, na própria actividade temporal, a caridade com que Deus amou o mundo.

A caridade. O martírio.
Os conselhos evangélicos.
A santidade no próprio estado

42. «Deus é caridade e quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo. 4,16). Ora, Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações, por meio do Espírito Santo, que nos foi dado (cfr. Rom. 5,5). Sendo assim, o primeiro e mais necessário dom é a caridade, com que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor d'Ele. Para que esta caridade, como boa semente, cresça e frutifique na alma, cada fiel deve ouvir de bom grado a palavra de Deus, e cumprir, com a ajuda da graça, a Sua vontade, participar frequentemente nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, e nas funções sagrarias, dando-se continuamente à oração, à abnegação de si mesmo, ao serviço efectivo de seus irmãos e a toda a espécie de virtude, pois a caridade, vínculo da perfeição e plenitude da lei (cfr. Col. 3,14, Rom. 13,10), é que dirige todos os meios de santificação, os informa e leva a seu fim (131). E, pois, pela caridade para com Deus e o próximo que se caracteriza o verdadeiro discípulo de Cristo.

Como Jesus, Filho de Deus, manifestou o Seu amor dando a vida por nós, assim ninguém dá maior prova de amor do que aquele que oferece a própria vida por Ele e por seus irmãos (cfr. 1 Jo. 3,16, Jo. 15,13). Desde os primeiros tempos, e sempre assim continuará a suceder, alguns cristãos foram chamados a dar este máximo testemunho de amor diante de todos, e especialmente perante os perseguidores. Por esta razão, o martírio, pelo qual o discípulo se torna semelhante ao mestre, que livremente aceitou a morte para salvação do mundo, e a Ele se conforma no derramamento do sangue, é considerado pela Igreja como um dom insigne e prova suprema de amor. E embora seja concedido a poucos, todos, porém, devem estar dispostos a confessar a Cristo diante dos homens e a segui-l'O no caminho da cruz em meio das perseguições que nunca faltarão à Igreja.

A santidade da Igreja é também especialmente favorecida pelos múltiplos conselhos que o Senhor propõe no Evangelho aos Seus discípulos (132). Entre eles sobressai o de, com o coração mais facilmente indiviso (cfr. 1 Cor. 7, 32-34), se consagrarem só a Deus, na virgindade ou no celibato, dom da graça divina que o Pai concede a alguns (cfr. Mt. 19,11, 1 Cor. 7,7) (133). Esta continência perfeita, abraçada pelo reino dos céus, foi sempre tida em grande estima pela Igreja, como sinal e incentivo do amor e ainda como fonte privilegiada de fecundidade espiritual no mundo.

A Igreja recorda-se também da recomendação com que o Apóstolo, incitando os fiéis à caridade, os exorta a ter sentimentos semelhantes aos de Jesus Cristo, o qual «Se despojou a Si próprio, tomando a condição de escravo... feito obediente até à morte (Fil. 2, 7-8) e, «sendo rico, por nós Se fez pobre» (2 Cor. 8,9). Sendo necessário que sempre e em todo o tempo os discípulos imitem esta caridade e humildade de Cristo, e delas deem testemunho, a mãe Igreja alegra-se de encontrar no seu seio muitos homens e mulheres que seguem mais de perto o abatimento do Salvador e mais claramente o manifestam, abraçando a pobreza na liberdade dos filhos de Deus e renunciando às próprias vontades: em matéria de perfeição, sujeitam-se, por amor de Deus, ao homem, para além do que é de obrigação, a fim de mais plenamente se conformarem a Cristo obediente (134).

Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados a tender à santidade e perfeição do próprio estado. Procurem, por isso, ordenar rectamente os próprios afectos, para não serem impedidos de avançar na perfeição da caridade pelo uso das coisas terrenas e pelo apego às riquezas, em oposição ao espírito da pobreza evangélica, segundo o conselho do Apóstolo: os que usam no mundo, façam-no como se dele não usassem, pois é transitório o cenário deste mundo (1 Cor. 7,31 gr.) (135).

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

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Notas:
120. Missale Romanum, Gloria in excelsis. Cfr. Lc. 1,35, Mc, 1,24, Lc. 4,34, Io. 6,69 (ho hagios tou Theou), Act. 3,14, 4,27 e 30, Hebr. 7,26, 1 Io. 2,20: Apoc. 3,7.
121. Cfr. Orígenes, Comm Rom. 7, 7: PG 14, 1122 B. Ps. - Macário, De  Oratione, 11: PG 34, 861 AB. S. Tomás, Summa Theol. II-II q. 184, a. 3.
122. Cfr. S. Agostinho, Retract. II, 18: PL 32, 637 s. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943) p. 225.
123. Cfr. Pio XI, Encícl. Rerum omnium, 26 jan. 1923: AAS 15 (1923) p. 50 e pp. 59-60. Encicl. Casti Connubii, 31 dez. 1930: AAS 22 (1930) p. 548. Pio XII, Const. Apost. Provida Mater, 2 fev. 1947: AAS 39 (1947) p. 117. Aloc. Annus sacer, 8 dez. 1950: AAS 43 (1951) pp. 27-28. Aloc. Nel darvi, 1 jul. 1956: AAS 48 (1956) p. 574 s.
124. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q. 184, a. 5 e 6. De perf. vitae spir. c. 18, Orígenes, In Is. Hom. 6, 1: PG 13, 239.
125. Cfr. S. Inácio M., Magn. 13, 1: ed. Funk, I, p. 241.
126. Cfr. S. Pio X, Exort. Haerent animo, 4 ago. 1908: ASS 41 (1908) p. 560 s. Cod. Iur. Can., can. 124. Pio XI, Encicl. Ad catholici sacerdotii, 20 dez. 1935: AAS 28 (1936) p. 22 s.
127. Cfr. Pontificale romanum, De Ordinatione presbyterorum, na exortação inicial.
128. Cfr. S. Inácio M., Trall. 2, 3: ed. Funk, p. 244.
129. Cfr. Pio XII, Aloc. Sous Ia maternelle protection, 9 dez. 1957: AAS 50 (1958) p. 36.
130. Pio XI, Encicl. Casti Connubii, 31 dez. 1930: AAS 22 (1930) p. 548 s. S. João Crisóstomo, In Ephes. Hom. 20, 2: PG 62, 136 ss.
131. Cfr. S. Agostinho, Enchir. 121, 32: PL 40, 288. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q. 184, a. 1. Pio XII, Exort. Apost. Menti nostrae, 23 set. 1950: AAS 42 (1950) p. 660.
132. Acerca dos conselhos em geral, cfr. Orígenes, Comm. Rom. X, 14: PG 14, 1275 B. S. Agostinho De S. Virginitate, 15, 15: PL 40, 403. S. Tomás, Summa Theol. I-II, q. 100, a. 2 C. (no fim), I-II, q. 44, a. 4, ad 3.
133. Acerca da superioridade da sagrada virgindade, cfr. Tertuliano, Exhort. Cast. 10: PL 2, 925 C. S. Cipriano, Hab. Virg. 3 e 22: PL 4, 433 B e 461 A s. S. Atanásio, De Virg.: PG 28, 252, ss. S. João Crisóstomo, De Virg.: PG 48, 533 ss.
134. Sobre a pobreza espiritual, cfr. Mt. 5,3 e 19-21, Mc. 10,21, Lc. 18,22, sobre a obediência, aduz o exemplo de Cristo Jo. 4,34 e 6,38, Fil. 2, 8-10, Hebr. 10, 5-7. Os Padres e fundadores de Ordens abundam em referências.
135. Acerca da prática efectiva dos conselhos, que não se impõe a todos, cfr. S. João Crisóstomo, In Matth. Hom. 7, 7: PG 57, 81 s. S. Ambrósio, De Viduis, 4, 23: PL 16, 241 s.


Tratado dos vícios e pecados 42

Questão 78: Da causa do pecado, por parte da vontade, chamada malícia.

Art. 2 — Se todo o que peca por hábito peca por malícia intencional.

(II Sent., dist. XLIII, a. 2).

O segundo discute-se assim. — Parece que nem todos os que pecam por hábito pecam por malícia intencional.

1. — Pois, o pecado por malícia é considerado gravíssimo. Ora, às vezes cometem um pecado leve, por hábito, como quando dizemos alguma palavra ociosa. Logo, nem todo pecado por hábito é de malícia intencional.

2. — Demais. — Os actos praticados por hábito são semelhantes aos que geram os hábitos, como diz Aristóteles. Ora, os actos precedentes ao hábito vicioso não procedem de malícia intencional. Logo, também os pecados provenientes do hábito não procedem dessa malícia.

3. Demais. — Nós regozijamo-nos com o que praticamos com malícia intencional, conforme diz a Escritura (Pr 2): Os que se alegram depois de terem feito o mal, e triunfam de prazer nas piores coisas. E isto por nos ser agradável conseguir o que intencionamos e nos é, de certo modo, habitualmente conatural. Ora, os que pecam por hábito doem-se do pecado cometido, pois, os maus, i. é, os de hábito vicioso, enchem-se de arrependimento, como diz Aristóteles. Logo, os pecados habituais não são de malícia intencional.

Mas em contrário. — Chama-se pecado de malícia intencional o proveniente da eleição do mal. Ora, cada qual elege segundo o hábito próprio o inclina, como diz Aristóteles, a respeito do hábito virtuoso. Logo, o pecado habitual procede de malícia intencional.

Não é a mesma coisa pecar, tendo um hábito, e pecar por hábito. Pois, como o hábito depende da vontade do sujeito, este não é arrastado a agir levado por ele. Sendo por isso o hábito definido como aquilo de que usamos quando queremos. E, portanto, como é possível praticarmos um acto virtuoso, embora tenhamos um hábito vicioso, que não trava totalmente a razão, mas lhe deixa um certo discernimento íntegro, permitindo ao pecador praticar alguma obra boa, assim também é possível, embora com um hábito vicioso, obrarmos às vezes, não levados por ele, mas pela paixão em revolta, ou mesmo pela ignorância. Mas, levados pelo hábito vicioso, sempre e necessariamente pecamos por malícia intencional. Pois, quem tem um hábito ama, em si mesmo, o que lhe convém, de acordo com esse hábito, que se lhe torna de certo modo conatural, por o costume e o hábito se converterem em a natureza. Ora, o que nos convém, por um hábito vicioso, exclui o bem espiritual. Donde resulta o elegermos o mal espiritual, para alcançarmos o bem conveniente, de acordo com o hábito. E isto é pecar com malícia intencional. Donde é manifesto, que quem peca por hábito peca com malícia intencional.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os pecados veniais não excluem o bem espiritual, que é a graça de Deus ou a caridade, por isso consideram-se maus, não absoluta, mas relativamente. E por isso também os seus hábitos não podem ser considerados maus absoluta, mas só, relativamente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os actos procedentes dos hábitos são semelhantes especificamente aos actos de que se os hábitos geram. Deles diferem, porém, como o perfeito, do imperfeito. E tal é a diferença entre o pecado cometido com malícia intencional e o praticado por paixão.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Quem peca por hábito compraz-se sempre no seu acto, desde que obedece a um hábito. Mas como pode obedecer não a ele, mas, meditando noutro acto, à razão, ainda não de todo obnubilada, é possível não se deixando levar pelo hábito, doer-se do acto cometido orientado por este. No mais das vezes, porém, os que assim procedem arrependem-se do pecado, não por este, em si mesmo, lhes desagradar, mas por algum mal que, por causa do pecado, sofrem. [1]


Revisão da tradução portuguesa por ama

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[1] Nota de ama: Não concordo totalmente com o último parágrafo desta resposta. O arrependimento pode ser gerado, única e principalmente pela dor de ter ofendido a Deus.

Jesus Cristo e a Igreja - 8

Onde e como nasceu Jesus


Dois evangelistas, Mateus e Lucas dizem-nos que Jesus nasceu em Belém.[i] Mateus indica-nos o lugar, mas Lucas acrescenta que Maria, depois de dar à luz o seu filho, “reclinou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”
(Lc 2, 7). A “manjedoura” indica que no sítio onde nasceu Jesus se guardava gado. Lucas assinala também que o menino no presépio será, para os pastores, o sinal de que ali tinha nascido o Salvador (Lc 2, 12.16). A palavra grega que emprega para “hospedaria” é katáàvua. Designa um lugar espaçoso das casas, que podia servir de salão ou quarto de hóspedes. No Novo Testamento utiliza-se outras duas vezes (Lc 22, 11 e Mc 14, 14) para indicar a sala onde Jesus celebrou a última ceia com os seus discípulos. Possivelmente, o evangelista quer assinalar com as suas palavras que o lugar não permitia preservar a intimidade do acontecimento.
Justino (Diálogo com Trifão 78) afirma que nasceu numa gruta e Orígenes (Proto-Evangelho de Tiago 20; Evangelho árabe da infância 2, Pseudo-Mateus 13), e os evangelhos apócrifos referem o mesmo

A tradição da Igreja transmitiu desde muito cedo o carácter sobrenatural do nascimento de Jesus. Santo Inácio de Antioquia, por volta do ano 100, afirma-o dizendo que “ ao príncipe deste mundo foram ocultados: a virgindade de Maria e o seu parto, bem como a morte do Senhor. Três mistérios portentosos realizados no silêncio de Deus” Ad Ephesios 19, 1).
Nos finais do século II, Santo Ireneu assinala que o parto foi sem dor (Demonstratio Evangelica 54) e Clemente de Alexandria, conhecendo já os apócrifos, afirma que o nascimento de Jesus foi virginal (Stromata 7,16). Num texto do século IV atribuído a São Gregório Taumaturgo diz-se claramente: “ao nascer (Cristo) conservou o seio e a virgindade imaculados, para que a inaudita natureza deste parto fosse para nós o sinal de um grande mistério” (Pitra, “Analecta Sacra”, IV, 391). Os evangelhos apócrifos mais antigos, apesar do seu carácter extravagante, preservam tradições populares que coincidem com os testemunhos acima assinalados. A Odes de Salomão (Ode 19), a Ascensão de Isaías (cap. 14), o Proto Evangelho de Tiago (cap. 20-21) e o Pseudo-Mateus (cap. 13) referem que o nascimento de Jesus esteve revestido de um carácter milagroso.
Todos estes testemunhos reflectem uma tradição de fé que foi sancionada pelos ensinamentos da Igreja e que afirma que Maria foi virgem antes do parto, no parto e depois do parto: “O profundamento da fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria (cf. DS 427), mesmo no parto do Filho de Deus feito homem (cf. DS 291; 294; 442; 503; 571; 1880). Com efeito, o nascimento de Cristo «não diminuiu, antes consagrou a integridade virginal» da sua Mãe (LG 57). A Liturgia da Igreja celebra Maria como a «sempre Virgem» (cf. LG 52) (Catecismo da Igreja Católica, n. 499).

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.





[i] (ver a pergunta: - Jesus nasceu em Belém ou em Nazaré?)

Temas para meditar 56

Vocação


Toda a atitude dilatória no que se refere à vocação procede de uma certa dose de cobardia e nasce fundamentalmente do medo ao choque: receia-se cortar com a situação de que se desfruta.


(federico suarezA Virgem Nossa Senhora, Éfeso, 4ª ed. nr. 65)

Pequena agenda do cristão


Sexta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Contenção; alguma privação; ser humilde.

Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me: Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?


Eu confio em Ti, sei que és meu Pai

Jesus ora no horto: Pater mi (Mt XXVI, 39), Abba, Pater (Mc XIV, 36)! Deus é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com ternura, mesmo quando me bate. Jesus sofre, para cumprir a Vontade do Pai... E eu, que também quero cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me, se encontro por companheiro de caminho o sofrimento? Constituirá um sinal certo da minha filiação, porque me trata como ao Seu Divino Filho. E, então, como Ele, poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsemani; mas, prostrado por terra, reconhecendo O meu nada, subirá ao Senhor um grito saído do íntimo da minha alma: Pater mi, Abba, Pater, ... fiat! (Via Sacra, 1ª Estação, n. 1)

Por motivos que não vem a propósito referir – mas que são bem conhecidos de Jesus, que aqui temos a presidir no Sacrário – a vida tem-me levado a sentir-me de um modo muito especial filho de Deus. Tenho saboreado a alegria de me meter no coração de meu Pai, para rectificar, para me purificar, para o servir, para compreender e desculpar a todos, tendo como base o seu amor e a minha humilhação.

Por isso, desejo agora insistir na necessidade de nos renovarmos, vós e eu, de despertarmos do sono da tibieza que tão facilmente nos amodorra e de voltarmos a entender, de maneira mais profunda e ao mesmo tempo mais imediata, a nossa condição de filhos de Deus.

O exemplo de Jesus, toda a vida de Cristo por aquelas terras do Oriente ajuda-nos a deixarmo-nos penetrar por essa verdade. Se admitimos o testemunho dos homens – lemos na Epístola – de maior autoridade é o testemunho de Deus. E em que consiste o testemunho de Deus? De novo fala S. João: Considerai o amor que nos mostrou o Pai em querer que nos chamemos filhos de Deus, e que o sejamos... Caríssimos, agora já somos filhos de Deus.


Ao longo dos anos, tenho procurado apoiar-me sem desfalecimento nesta feliz realidade. Em todas as circunstâncias, a minha oração tem sido a mesma com tonalidades diferentes. Tenho-lhe dito: Senhor, Tu colocaste-me aqui; Tu confiaste-me isto ou aquilo, e eu confio em Ti. Sei que és meu Pai e tenho visto sempre que as crianças confiam absolutamente nos pais. A minha experiência sacerdotal tem-me confirmado que este abandono nas mãos de Deus leva as almas a adquirir uma piedade forte, profunda e serena, que impele a trabalhar constantemente com rectidão de intenção. (Amigos de Deus, 143)