Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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17/03/2014
Evangelho do dia e comentário
Tempo de Quaresma Semana II |
36 Sede
misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37 Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai
e sereis perdoados; 38 dai e dar-se-vos-á. Uma medida boa, cheia,
recalcada e a transbordar vos será lançada nas dobras do vosso vestido. Porque,
com a mesma medida com que medirdes para os outros, será medido para vós».
Comentário:
Assustam um pouco estas recomendações de Jesus
Cristo?
É natural, sobretudo pela “chave” final do
texto!
No fim e ao cabo este é um caminho de
perfeição, de santidade e, ser perfeito, ser santo, é uma meta tão altamente
colocada que toda uma vida de esforço contínuo e sem descanso não é demais.
Mas como sabemos que a Deus nada é impossível,
confiemos que, pondo nós o que nos cabe pôr – tudo quanto pudermos – o Senhor
porá o resto que faltar para que se complete a “medida”.
(ama, comentário sobre Lc 6, 36-38, 2013.02.25)
Leitura espiritual para Mar 17
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Evangelho: Lc 9, 23-43
23 Depois, dirigindo-Se a todos disse: «Se alguém quer vir
após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias, e siga-Me. 24
Porque quem quiser salvar a sua vida, a perderá; e quem perder a sua vida por
causa de Mim, salvá-la-á. 25 Que aproveita ao homem ganhar todo o
mundo, se se perde a si mesmo ou se faz dano a si? 26 Porque quem se
envergonhar de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem se
envergonhará dele, quando vier na Sua majestade e na de Seu Pai e dos santos
anjos. 27 Digo-vos em verdade que estão aqui alguns presentes que
não morrerão sem que vejam o reino de Deus». 28 Cerca de oito dias
depois destas palavras, tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu a um monte
para orar. 29 Enquanto orava modificou-Se o aspecto do Seu rosto, e
as Suas vestes tornaram-se brancas e resplandecentes. 30 E eis que
dois homens falavam com Ele: Moisés e Elias, 31 os quais apareceram
cheios de majestade, e falavam da morte que Ele devia sofrer em Jerusalém. 32
Entretanto, Pedro e os que estavam com ele tinham-se deixado vencer pelo sono.
Mas despertando, viram a majestade de Jesus e os dois varões que estavam com
Ele. 33 Enquanto estes se separavam d'Ele, Pedro que não sabia o que
dizia, disse a Jesus: «Mestre, que bom é nós estarmos aqui; façamos três
tendas, uma para Ti, uma para Moisés, e uma para Elias». 34 Estando
ele ainda a falar, formou-se uma nuvem, que os envolveu; e tiveram medo quando
entraram na nuvem. 35 Então saiu uma voz da nuvem que dizia: «Este é
o Meu Filho dilecto, escutai-O».36 Ao soar aquela voz, Jesus ficou
só. Eles calaram-se, e naqueles dias a ninguém disseram nada do que tinham
visto. 37 Sucedeu no dia seguinte que, ao descer eles do monte, lhes
saiu ao encontro uma grande multidão. 38 E eis que um homem do meio
da multidão clamou: «Mestre, peço-Te que olhes para o meu filho, porque é o
único que tenho. 39 Um espírito maligno apodera-se dele e
subitamente dá gritos, lança-o por terra, agita-o com violência, fazendo-o
espumar, e só o larga depois de o ter dilacerado. 40 Pedi aos Teus
discípulos que o expulsassem, mas não puderam». 41 Jesus respondeu:
«Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos suportarei?
Traz cá o teu filho». 42 Quando este se aproximava, o demónio
lançou-o por terra e agitou-o com violência. Mas Jesus ameaçou o espírito
imundo, curou o menino, e restituiu-o ao pai. 43 E todos se
admiravam da grandeza de Deus.
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS
FIÉIS LEIGOS
SOBRE
O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL
Capítulo
IV
A DIMENSÃO SOCIAL DA
EVANGELIZAÇÃO
IV. O diálogo social como
contribuição para a paz
O
diálogo social num contexto de liberdade religiosa
255.
Os Padres sinodais lembraram a importância do respeito pela liberdade
religiosa, considerada um direito humano fundamental. 202 Inclui «a
liberdade de escolher a religião que se crê ser verdadeira e de manifestar
publicamente a própria crença». 203 Um pluralismo são, que respeite
verdadeiramente aqueles que pensam diferente e os valorizem como tais, não
implica uma privatização das religiões, com a pretensão de as reduzir ao silêncio
e à obscuridade da consciência de cada um ou à sua marginalização no recinto
fechado das igrejas, sinagogas ou mesquitas. Tratar-se-ia, em definitivo, de
uma nova forma de discriminação e autoritarismo. O respeito devido às minorias
de agnósticos ou de não-crentes não se deve impor de maneira arbitrária que
silencie as convicções de maiorias crentes ou ignore a riqueza das tradições
religiosas. No fundo, isso fomentaria mais o ressentimento do que a tolerância
e a paz.
256.
Ao questionar-se sobre a incidência pública da religião, é preciso distinguir
diferentes modos de a viver. Tanto os intelectuais como os jornalistas caem,
frequentemente, em generalizações grosseiras e pouco académicas, quando falam
dos defeitos das religiões e, muitas vezes, não são capazes de distinguir que
nem todos os crentes – nem todos os líderes religiosos – são iguais. Alguns
políticos aproveitam esta confusão para justificar acções discriminatórias.
Outras vezes, desprezam-se os escritos que surgiram no âmbito duma convicção
crente, esquecendo que os textos religiosos clássicos podem oferecer um
significado para todas as épocas, possuem uma força motivadora que abre sempre
novos horizontes, estimula o pensamento, engrandece a mente e a sensibilidade.
São desprezados pela miopia dos racionalismos. Será razoável e inteligente
relegá-los para a obscuridade, só porque nasceram no contexto duma crença
religiosa? Contêm princípios profundamente humanistas que possuem um valor
racional, apesar de estarem permeados de símbolos e doutrinas religiosos.
257.
Como crentes, sentimo-nos próximo também de todos aqueles que, não se
reconhecendo parte de qualquer tradição religiosa, buscam sinceramente a
verdade, a bondade e a beleza, que, para nós, têm a sua máxima expressão e a
sua fonte em Deus. Sentimo-los como preciosos aliados no compromisso pela
defesa da dignidade humana, na construção duma convivência pacífica entre os
povos e na guarda da criação. Um espaço peculiar é o dos chamados novos
Areópagos, como o «Átrio dos Gentios», onde «crentes e não-crentes podem
dialogar sobre os temas fundamentais da ética, da arte e da ciência, e sobre a
busca da transcendência». 204 Também este é um caminho de paz para o
nosso mundo ferido.
258.
A partir de alguns temas sociais, importantes para o futuro da humanidade,
procurei explicitar uma vez mais a incontornável dimensão social do anúncio do
Evangelho, para encorajar todos os cristãos a manifestá-la sempre nas suas
palavras, atitudes e acções.
Capítulo
V
EVANGELIZADORES COM
ESPÍRITO
259.
Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que se abrem sem medo à
acção do Espírito Santo. No Pentecostes, o Espírito faz os Apóstolos saírem de
si mesmos e transforma-os em anunciadores das maravilhas de Deus, que cada um
começa a entender na própria língua. Além disso, o Espírito Santo infunde a
força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia (parresia), em voz alta
e em todo o tempo e lugar, mesmo contra-corrente. Invoquemo-Lo hoje, bem
apoiados na oração, sem a qual toda a acção corre o risco de ficar vã e o
anúncio, no fim de contas, carece de alma. Jesus quer evangelizadores que
anunciem a Boa Nova, não só com palavras mas sobretudo com uma vida
transfigurada pela presença de Deus.
260.
Neste último capítulo, não vou oferecer uma síntese da espiritualidade cristã,
nem desenvolverei grandes temas como a oração, a adoração eucarística ou a
celebração da fé, sobre os quais já possuímos preciosos textos do Magistério e
escritos célebres de grandes autores. Não pretendo substituir nem superar tanta
riqueza. Limitar-me-ei simplesmente a propor algumas reflexões acerca do
espírito da nova evangelização.
261.
Quando se diz de uma realidade que tem «espírito», indica-se habitualmente uma
moção interior que impele, motiva, encoraja e dá sentido à acção pessoal e
comunitária. Uma evangelização com espírito é muito diferente de um conjunto de
tarefas vividas como uma obrigação pesada, que quase não se tolera ou se
suporta como algo que contradiz as nossas próprias inclinações e desejos. Como
gostaria de encontrar palavras para encorajar uma estação evangelizadora mais
ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida
contagiante! Mas sei que nenhuma motivação será suficiente, se não arde nos
corações o fogo do Espírito. Em suma, uma evangelização com espírito é uma
evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja
evangelizadora. Antes de propor algumas motivações e sugestões espirituais,
invoco uma vez mais o Espírito Santo; peço-Lhe que venha renovar, sacudir,
impelir a Igreja numa decidida saída para fora de si mesma a fim de evangelizar
todos os povos.
I.
Motivações para um renovado impulso missionário
262.Evangelizadores
com espírito quer dizer evangelizadores que rezam e trabalham. Do ponto de
vista da evangelização, não servem as propostas místicas desprovidas de um
vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e acções sociais e
pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. Estas propostas parciais
e desagregadoras alcançam só pequenos grupos e não têm força de ampla
penetração, porque mutilam o Evangelho. É preciso cultivar sempre um espaço
interior que dê sentido cristão ao compromisso e à actividade. 205 Sem
momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo
sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado,
quebrantamo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor apaga-se. A Igreja
não pode dispensar o pulmão da oração, e alegra-me imenso que se multipliquem,
em todas as instituições eclesiais, os grupos de oração, de intercessão, de
leitura orante da Palavra, as adorações perpétuas da Eucaristia. Ao mesmo
tempo, «há que rejeitar a tentação duma espiritualidade intimista e
individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com
a lógica da encarnação». 206 Há o risco de que alguns momentos de
oração se tornem uma desculpa para evitar de dedicar a vida à missão, porque a
privatização do estilo de vida pode levar os cristãos a refugiarem-se nalguma
falsa espiritualidade.
263.
É salutar recordar-se dos primeiros cristãos e de tantos irmãos ao longo da
história que se mantiveram transbordantes de alegria, cheios de coragem,
incansáveis no anúncio e capazes de uma grande resistência activa. Há quem se
console, dizendo que hoje é mais difícil; temos, porém, de reconhecer que o
contexto do Império Romano não era favorável ao anúncio do Evangelho, nem à
luta pela justiça, nem à defesa da dignidade humana. Em cada momento da história,
estão presentes a fraqueza humana, a busca doentia de si mesmo, a comodidade
egoísta e, enfim, a concupiscência que nos ameaça a todos. Isto está sempre
presente, sob uma roupagem ou outra; deriva mais da limitação humana que das
circunstâncias. Por isso, não digamos que hoje é mais difícil; é diferente. Em
vez disso, aprendamos com os Santos que nos precederam e enfrentaram as
dificuldades próprias do seu tempo. Com esta finalidade, proponho-vos que nos
detenhamos a recuperar algumas motivações que nos ajudem a imitá-los nos nossos
dias. 207
O
encontro pessoal com o amor de Jesus que nos salva
264.
A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela
experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais. Com
efeito, um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de a
apresentar, de a tornar conhecida, que amor seria? Se não sentimos o desejo
intenso de comunicar Jesus, precisamos de nos deter em oração para Lhe pedir
que volte a cativar-nos. Precisamos de o implorar cada dia, pedir a sua graça
para que abra o nosso coração frio e sacuda a nossa vida tíbia e superficial.
Colocados diante d’Ele com o coração aberto, deixando que Ele nos olhe,
reconhecemos aquele olhar de amor que descobriu Natanael no dia em que Jesus Se
fez presente e lhe disse: «Eu vi-te, quando estavas debaixo da figueira!» (Jo
1, 48). Como é doce permanecer diante dum crucifixo ou de joelhos diante do
Santíssimo Sacramento, e fazê-lo simplesmente para estar à frente dos seus
olhos! Como nos faz bem deixar que Ele volte a tocar a nossa vida e nos envie
para comunicar a sua vida nova! Sucede então que, em última análise, «o que nós
vimos e ouvimos, isso anunciamos» (1 Jo 1, 3). A melhor motivação para se
decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se nas suas
páginas e lê-lo com o coração. Se o abordamos desta maneira, a sua beleza
deslumbra-nos, volta a cativar-nos vezes sem conta. Por isso, é urgente recuperar
um espírito contemplativo, que nos permita redescobrir, cada dia, que somos
depositários dum bem que humaniza, que ajuda a levar uma vida nova. Não há nada
de melhor para transmitir aos outros.
265.
Toda a vida de Jesus, a sua forma de tratar os pobres, os seus gestos, a sua
coerência, a sua generosidade simples e quotidiana e, finalmente, a sua total
dedicação, tudo é precioso e fala à nossa vida pessoal. Todas as vezes que
alguém volta a descobri-lo, convence-se de que é isso mesmo o que os outros
precisam, embora não o saibam: «Aquele que venerais sem O conhecer, é Esse que
eu vos anuncio» (Act 17, 23). Às vezes perdemos o entusiasmo pela missão,
porque esquecemos que o Evangelho dá resposta às necessidades mais profundas
das pessoas, porque todos fomos criados para aquilo que o Evangelho nos propõe:
a amizade com Jesus e o amor fraterno. Quando se consegue exprimir, de forma
adequada e bela, o conteúdo essencial do Evangelho, de certeza que essa
mensagem fala aos anseios mais profundos do coração: «O missionário está
convencido de que existe já, nas pessoas e nos povos, pela acção do Espírito,
uma ânsia – mesmo se inconsciente – de conhecer a verdade acerca de Deus, do
homem, do caminho que conduz à liberação do pecado e da morte. O entusiasmo
posto no anúncio de Cristo deriva da convicção de responder a tal ânsia». 208
O
entusiasmo na evangelização funda-se nesta convicção. Temos à disposição um
tesouro de vida e de amor que não pode enganar, a mensagem que não pode
manipular nem desiludir. É uma resposta que desce ao mais fundo do ser humano e
pode sustentá-lo e elevá-lo. É a verdade que não passa de moda, porque é capaz
de penetrar onde nada mais pode chegar. A nossa tristeza infinita só se cura
com um amor infinito.
266.
Esta convicção, porém, é sustentada com a experiência pessoal, constantemente
renovada, de saborear a sua amizade e a sua mensagem. Não se pode perseverar
numa evangelização cheia de ardor, se não se está convencido, por experiência
própria, que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a
mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tacteando, não é a mesma coisa poder
escutá-Lo ou ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo,
adorá-Lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer. Não é a mesma coisa procurar
construir o mundo com o seu Evangelho em vez de o fazer unicamente com a
própria razão. Sabemos bem que a vida com Jesus se torna muito mais plena e,
com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa. É por isso que
evangelizamos. O verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser discípulo,
sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com
ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa não
O descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o
entusiasmo e deixa de estar segura do que transmite, faltam-lhe força e paixão.
E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não
convence ninguém.
267.
Unidos a Jesus, procuramos o que Ele procura, amamos o que Ele ama. Em última
instância, o que procuramos é a glória do Pai, vivemos e agimos «para que seja
prestado louvor à glória da sua graça» (Ef 1, 6). Se queremos entregar-nos a
sério e com perseverança, esta motivação deve superar toda e qualquer outra. O
movente definitivo, o mais profundo, o maior, a razão e o sentido último de
tudo o resto é este: a glória do Pai que Jesus procurou durante toda a sua
existência. Ele é o Filho eternamente feliz, com todo o seu ser «no seio do
Pai» (Jo 1, 18). Se somos missionários, antes de tudo é porque Jesus nos disse:
«A glória do meu Pai consiste em que deis muito fruto» (Jo 15, 8).
Independentemente de que nos convenha, interesse, aproveite ou não, para além
dos estreitos limites dos nossos desejos, da nossa compreensão e das nossas
motivações, evangelizamos para a maior glória do Pai que nos ama.
O
prazer espiritual de ser povo
268.
A Palavra de Deus convida-nos também a reconhecer que somos povo: «Vós que
outrora não éreis um povo, agora sois povo de Deus» (1 Pd 2, 10). Para ser
evangelizadores com espírito é preciso também desenvolver o prazer espiritual
de estar próximo da vida das pessoas, até chegar a descobrir que isto se torna
fonte duma alegria superior. A missão é uma paixão por Jesus, e simultaneamente
uma paixão pelo seu povo. Quando paramos diante de Jesus crucificado, reconhecemos
todo o seu amor que nos dignifica e sustenta, mas lá também, se não formos
cegos, começamos a perceber que este olhar de Jesus se alonga e dirige, cheio
de afecto e ardor, a todo o seu povo. Lá descobrimos novamente que Ele quer
servir-Se de nós para chegar cada vez mais perto do seu povo amado. Toma-nos do
meio do povo e envia-nos ao povo, de tal modo que a nossa identidade não se
compreende sem esta pertença.
269.
O próprio Jesus é o modelo desta opção evangelizadora que nos introduz no
coração do povo. Como nos faz bem vê-Lo perto de todos! Se falava com alguém,
fitava os seus olhos com uma profunda solicitude cheia de amor: «Jesus, fitando
nele o olhar, sentiu afeição por ele» (Mc 10, 21). Vemo-Lo disponível ao
encontro, quando manda aproximar-se o cego do caminho (cf. Mc 10, 46-52) e
quando come e bebe com os pecadores (cf. Mc 2, 16), sem Se importar que O
chamem de glutão e beberrão (cf. Mt 11, 19). Vemo-Lo disponível, quando deixa
uma prostituta ungir-Lhe os pés (cf. Lc 7, 36-50) ou quando recebe, de noite,
Nicodemos (cf. Jo 3, 1-15). A entrega de Jesus na cruz é apenas o culminar
deste estilo que marcou toda a sua vida. Fascinados por este modelo, queremos
inserir-nos a fundo na sociedade, partilhamos a vida com todos, ouvimos as suas
preocupações, colaboramos material e espiritualmente nas suas necessidades,
alegramo-nos com os que estão alegres, choramos com os que choram e
comprometemo-nos na construção de um mundo novo, lado a lado com os outros. Mas
não como uma obrigação, nem como um peso que nos desgasta, mas como uma opção
pessoal que nos enche de alegria e nos dá uma identidade.
270.
Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância
das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que
toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar
aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do
nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contacto com
a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos,
a vida complica-se sempre maravilhosamente e vivemos a intensa experiência de
ser povo, a experiência de pertencer a um povo.
____________________________________
Notas:
202
Cf. Propositio 16.
203
Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente (14 de Setembro de
2012), 26: AAS 104 (2012), 762.
204
Propositio 55.
205
Cf. Propositio 36.
206
João Paulo II, Carta ap. Novo Millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 52: AAS
93 (2001), 304.
207
Cf. Vítor Manuel Fernández, Discurso na abertura do I Congresso Nacional de
Doutrina Social da Igreja, na cidade de Rosário, em 2011: «Espiritualidad para
la esperanza activa», em UCActualidad 142 (2011), 16.
208
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 45: AAS
83 (1991), 292.
Tratado dos vícios e pecados 31
Art. 3 ― Se a ignorância isenta
totalmente do pecado.
(Supra, q. 19, a. 6 ; IIª:IIªª,
q. 59 a.4, ad 1 ; III, q. 47, a. 5, ad 3 ; Sent., dist. XXII, q. 2, a. 2; dist.
XLI, q. 2, a. 1, ad 3; IV dist. IX, a. 3, 1ª 2; De Malo, q. 3, a. 8; Quodl.
VIII, q. 6, a. 5 ; Ad Rom., cap. I, lect. VII ; Ad Tim., cap. 1, lect. III ; De
Div. Nom., cap. IV, lect. XXII ; V Ethic., lect. XIII).
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que a ignorância isenta totalmente do
pecado.
1.
― Pois, como diz Agostinho, todo pecado é voluntário 1. Ora, a
ignorância causa o involuntário, conforme já se estabeleceu (q. 6, a. 8). Logo,
isenta-a totalmente do pecado.
2.
― Demais. ― O que fazemos sem intenção fazemo-lo acidentalmente. Ora, não
podemos ter intenção do desconhecido. Logo, o que fazemos por ignorância é, na
ordem dos nossos actos, acidental. Mas, o acidental não especifica. Logo, nada
do feito por ignorância deve ser considerado, na ordem dos actos humanos,
pecado ou virtude.
3.
― Demais. ― O homem é sujeito da virtude e do pecado, enquanto participa da
razão. Ora, a ignorância exclui a ciência, que aperfeiçoa a razão. Logo, isenta
totalmente o pecado.
Mas,
em contrário, diz Agostinho que certos actos praticados por ignorância são
justamente reprovados 2. Ora, justamente só se reprovam os pecados.
Logo, certos actos praticados por ignorância são tais, e portanto a ignorância
não escusa totalmente do pecado.
A ignorância, em si mesma, pode tornar involuntário o acto que causa. Pois,
como já se estabeleceu (a. 1), dissemos que ela causa o acto que proíbe à
ciência oposta. Assim que tal acto fosse acompanhado de ciência, seria
contrário à vontade, sendo por isso que se lhe aplica a denominação de
involuntário. Se porém a ciência, excluída pela ignorância, não proíbe o acto,
por causa da inclinação da vontade para ele, a ignorância dessa ciência não
causa em nós o involuntário, mas faz-nos não querê-lo, como diz Aristóteles 3.
E tal ignorância, não sendo causa do acto pecaminoso, como já dissemos (a. 1),
e não causando o involuntário, não isenta do pecado. E o mesmo se dá com
qualquer ignorância não causadora do acto pecaminoso, mas consequente ou
concomitante a ele. A ignorância, porém, causa do acto por o ser do
involuntário, pode em si mesma isentar do pecado, porque o voluntário é da
essência deste.
Mas,
de dois modos pode ela, às vezes, não isentar totalmente do pecado. ― Primeiro,
por parte da própria coisa ignorada. Pois, a ignorância isenta do pecado na
medida em que ignoramos ser um acto pecaminoso. Pode porém, acontecer que ignoremos
alguma circunstância do pecado, que, se fosse conhecida, nos afastaria dele,
quer essa circunstância seja da essência do pecado, quer não. E contudo, ainda
essa ciência conserva algum elemento pelo qual poderíamos saber que é pecado o
acto em questão. Assim, quem ferir outrem, que saiba ser um homem, faz o
bastante para haver essencialmente pecado, embora não saiba que o ferido seja o
próprio pai, circunstância constituinte de nova espécie de pecado. Ou talvez
não sabia que o atacado, defendendo-se, lhe revidasse o golpe, o que, se o
soubesse, não o atacaria, mas isso não se inclui na noção do pecado. Donde,
embora esse tal peque por ignorância, não fica contudo totalmente isento de
pecado, por ainda lhe restar o conhecimento deste último. ― De outro modo, pode
a ignorância, em si mesma, não isentar do pecado, quando voluntária. E isto
directamente, se, de propósito, queremos nos manter na ignorância para pecarmos
mais livremente, ou indirectamente, como quando, em virtude do trabalho de
outras ocupações, somos negligentes em aprender o que nos levaria a evitar o
pecado. Pois tal negligência torna a própria ignorância voluntária e
pecaminosa, contanto que recaia sobre o que deveríamos e podíamos saber. E
portanto, essa ignorância não isenta totalmente do pecado. Se ela porém for que
seja absolutamente involuntária, ou por invencível, ou por incidir sobre o que
não estávamos obrigados a saber, então isenta completamente do pecado.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Nem toda ignorância causa o involuntário,
como já dissemos (q. 6, a. 8). Logo, nem toda isenta totalmente do pecado.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Na medida em que o ignorante tem algo de voluntário, nessa mesma
intenciona o pecado. E deste modo o pecado não será acidental.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Se a ignorância for tal que exclua totalmente o uso da razão,
também isenta totalmente do pecado, como é o caso dos loucos e dementes. Mas
nem sempre é tal a ignorância, causa do pecado. E portanto, nem sempre isenta
totalmente dele.
Revisão da tradução portuguesa por ama
_______________________________________
Notas:
1.
Lib. I Retract. (cap. IX).
2. Lib. III De libero arb. (cap.
XVIII).
3. III Ethic. (lect. III).
Temas para meditar 45
Desprendimento
Possui,
mas como se nada possuísse, o que reúne tudo o necessário para seu uso, mas
prevê cautamente que depressa o há-de deixar. Usa este mundo como se não o
usasse, o que dispõe do necessário para viver, mas não deixando que domine o
seu coração, para que todo ele sirva e nunca desvie, a boa marcha da alma, que
tende a coisas mais altas.
(são gregório magno, Homílias sobre o Evangelho de S. Lucas, 40, 2)
´Diálogos apostólicos 7
Reservando a privacidade e sob este título genérico de ‘Diálogos apostólicos’ publicam-se alguns diálogos, recados e excertos de conversas a respeito da Melhoria Pessoal e da Vida Interior.
Pequena agenda do cristão
Segunda-Feira
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito: Sorrir; ser amável; prestar serviço.
Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.
Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.
Lembrar-me: Papa, Bispos, Sacerdotes.
Que o Senhor assista o Papa e vivifique santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.
Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Tua Igreja na Tua fortaleza.
Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.
Pequeno exame: Cumpri o propósito e lembrei-me do que me propus ontem?
|
Comunhão dos Santos
Vivei uma particular Comunhão dos Santos: e
cada um sentirá, à hora da luta interior, e à hora do trabalho profissional, a
alegria e a força de não estar só. (Caminho, 545)
Há instantes, antes do lavabo, invocámos o
Espírito Santo, pedindo-Lhe que abençoasse o Sacrifício oferecido ao Seu Santo
Nome. Terminada a purificação, dirigimo-nos à Trindade – Suscipe, Sancta Trinitas
–, para que receba o que apresentamos em memória da Vida, da Paixão, da
Ressurreição e da Ascensão de Cristo, em honra de Maria, sempre Virgem, e em
honra de todos os santos.
A oblação deve redundar em benefício de todos
– Orate, fratres, reza o sacerdote –, porque este sacrifício é meu e vosso, de
toda a Igreja Santa. Orai, irmãos, mesmo que sejam poucos os que se encontram
reunidos, mesmo que se encontre materialmente presente apenas um cristão ou até
só o celebrante, porque uma Missa é sempre o holocausto universal, o resgate de
todas as tribos e línguas e povos e nações!
Todos os cristãos, pela comunhão dos Santos,
recebem as graças de cada Missa, quer se celebre diante de milhares de pessoas,
quer haja apenas como único assistente um menino, possivelmente distraído, a
ajudar o sacerdote. Tanto num caso como noutro, a Terra e o Céu unem-se para
entoar com os Anjos do Senhor: Sanctus, Sanctus, Sanctus... (Cristo que passa, 89)