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Evangelho do dia e comentário



Tempo de Quaresma Semana II

Evangelho: Lc 6, 36-38
36 Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; 38 dai e dar-se-vos-á. Uma medida boa, cheia, recalcada e a transbordar vos será lançada nas dobras do vosso vestido. Porque, com a mesma medida com que medirdes para os outros, será medido para vós».

Comentário:

Assustam um pouco estas recomendações de Jesus Cristo?

É natural, sobretudo pela “chave” final do texto!

No fim e ao cabo este é um caminho de perfeição, de santidade e, ser perfeito, ser santo, é uma meta tão altamente colocada que toda uma vida de esforço contínuo e sem descanso não é demais.

Mas como sabemos que a Deus nada é impossível, confiemos que, pondo nós o que nos cabe pôr – tudo quanto pudermos – o Senhor porá o resto que faltar para que se complete a “medida”.


(ama, comentário sobre Lc 6, 36-38, 2013.02.25)

Leitura espiritual para Mar 17

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)

Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Evangelho: Lc 9, 23-43

23 Depois, dirigindo-Se a todos disse: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias, e siga-Me. 24 Porque quem quiser salvar a sua vida, a perderá; e quem perder a sua vida por causa de Mim, salvá-la-á. 25 Que aproveita ao homem ganhar todo o mundo, se se perde a si mesmo ou se faz dano a si? 26 Porque quem se envergonhar de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na Sua majestade e na de Seu Pai e dos santos anjos. 27 Digo-vos em verdade que estão aqui alguns presentes que não morrerão sem que vejam o reino de Deus». 28 Cerca de oito dias depois destas palavras, tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu a um monte para orar. 29 Enquanto orava modificou-Se o aspecto do Seu rosto, e as Suas vestes tornaram-se brancas e resplandecentes. 30 E eis que dois homens falavam com Ele: Moisés e Elias, 31 os quais apareceram cheios de majestade, e falavam da morte que Ele devia sofrer em Jerusalém. 32 Entretanto, Pedro e os que estavam com ele tinham-se deixado vencer pelo sono. Mas despertando, viram a majestade de Jesus e os dois varões que estavam com Ele. 33 Enquanto estes se separavam d'Ele, Pedro que não sabia o que dizia, disse a Jesus: «Mestre, que bom é nós estarmos aqui; façamos três tendas, uma para Ti, uma para Moisés, e uma para Elias». 34 Estando ele ainda a falar, formou-se uma nuvem, que os envolveu; e tiveram medo quando entraram na nuvem. 35 Então saiu uma voz da nuvem que dizia: «Este é o Meu Filho dilecto, escutai-O».36 Ao soar aquela voz, Jesus ficou só. Eles calaram-se, e naqueles dias a ninguém disseram nada do que tinham visto. 37 Sucedeu no dia seguinte que, ao descer eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão. 38 E eis que um homem do meio da multidão clamou: «Mestre, peço-Te que olhes para o meu filho, porque é o único que tenho. 39 Um espírito maligno apodera-se dele e subitamente dá gritos, lança-o por terra, agita-o com violência, fazendo-o espumar, e só o larga depois de o ter dilacerado. 40 Pedi aos Teus discípulos que o expulsassem, mas não puderam». 41 Jesus respondeu: «Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos suportarei? Traz cá o teu filho». 42 Quando este se aproximava, o demónio lançou-o por terra e agitou-o com violência. Mas Jesus ameaçou o espírito imundo, curou o menino, e restituiu-o ao pai. 43 E todos se admiravam da grandeza de Deus.



EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL


Capítulo IV

A DIMENSÃO SOCIAL DA EVANGELIZAÇÃO

IV. O diálogo social como contribuição para a paz

O diálogo social num contexto de liberdade religiosa

255. Os Padres sinodais lembraram a importância do respeito pela liberdade religiosa, considerada um direito humano fundamental. 202 Inclui «a liberdade de escolher a religião que se crê ser verdadeira e de manifestar publicamente a própria crença». 203 Um pluralismo são, que respeite verdadeiramente aqueles que pensam diferente e os valorizem como tais, não implica uma privatização das religiões, com a pretensão de as reduzir ao silêncio e à obscuridade da consciência de cada um ou à sua marginalização no recinto fechado das igrejas, sinagogas ou mesquitas. Tratar-se-ia, em definitivo, de uma nova forma de discriminação e autoritarismo. O respeito devido às minorias de agnósticos ou de não-crentes não se deve impor de maneira arbitrária que silencie as convicções de maiorias crentes ou ignore a riqueza das tradições religiosas. No fundo, isso fomentaria mais o ressentimento do que a tolerância e a paz.

256. Ao questionar-se sobre a incidência pública da religião, é preciso distinguir diferentes modos de a viver. Tanto os intelectuais como os jornalistas caem, frequentemente, em generalizações grosseiras e pouco académicas, quando falam dos defeitos das religiões e, muitas vezes, não são capazes de distinguir que nem todos os crentes – nem todos os líderes religiosos – são iguais. Alguns políticos aproveitam esta confusão para justificar acções discriminatórias. Outras vezes, desprezam-se os escritos que surgiram no âmbito duma convicção crente, esquecendo que os textos religiosos clássicos podem oferecer um significado para todas as épocas, possuem uma força motivadora que abre sempre novos horizontes, estimula o pensamento, engrandece a mente e a sensibilidade. São desprezados pela miopia dos racionalismos. Será razoável e inteligente relegá-los para a obscuridade, só porque nasceram no contexto duma crença religiosa? Contêm princípios profundamente humanistas que possuem um valor racional, apesar de estarem permeados de símbolos e doutrinas religiosos.

257. Como crentes, sentimo-nos próximo também de todos aqueles que, não se reconhecendo parte de qualquer tradição religiosa, buscam sinceramente a verdade, a bondade e a beleza, que, para nós, têm a sua máxima expressão e a sua fonte em Deus. Sentimo-los como preciosos aliados no compromisso pela defesa da dignidade humana, na construção duma convivência pacífica entre os povos e na guarda da criação. Um espaço peculiar é o dos chamados novos Areópagos, como o «Átrio dos Gentios», onde «crentes e não-crentes podem dialogar sobre os temas fundamentais da ética, da arte e da ciência, e sobre a busca da transcendência». 204 Também este é um caminho de paz para o nosso mundo ferido.

258. A partir de alguns temas sociais, importantes para o futuro da humanidade, procurei explicitar uma vez mais a incontornável dimensão social do anúncio do Evangelho, para encorajar todos os cristãos a manifestá-la sempre nas suas palavras, atitudes e acções.

Capítulo V

EVANGELIZADORES COM ESPÍRITO

259. Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que se abrem sem medo à acção do Espírito Santo. No Pentecostes, o Espírito faz os Apóstolos saírem de si mesmos e transforma-os em anunciadores das maravilhas de Deus, que cada um começa a entender na própria língua. Além disso, o Espírito Santo infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia (parresia), em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo contra-corrente. Invoquemo-Lo hoje, bem apoiados na oração, sem a qual toda a acção corre o risco de ficar vã e o anúncio, no fim de contas, carece de alma. Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus.

260. Neste último capítulo, não vou oferecer uma síntese da espiritualidade cristã, nem desenvolverei grandes temas como a oração, a adoração eucarística ou a celebração da fé, sobre os quais já possuímos preciosos textos do Magistério e escritos célebres de grandes autores. Não pretendo substituir nem superar tanta riqueza. Limitar-me-ei simplesmente a propor algumas reflexões acerca do espírito da nova evangelização.

261. Quando se diz de uma realidade que tem «espírito», indica-se habitualmente uma moção interior que impele, motiva, encoraja e dá sentido à acção pessoal e comunitária. Uma evangelização com espírito é muito diferente de um conjunto de tarefas vividas como uma obrigação pesada, que quase não se tolera ou se suporta como algo que contradiz as nossas próprias inclinações e desejos. Como gostaria de encontrar palavras para encorajar uma estação evangelizadora mais ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante! Mas sei que nenhuma motivação será suficiente, se não arde nos corações o fogo do Espírito. Em suma, uma evangelização com espírito é uma evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora. Antes de propor algumas motivações e sugestões espirituais, invoco uma vez mais o Espírito Santo; peço-Lhe que venha renovar, sacudir, impelir a Igreja numa decidida saída para fora de si mesma a fim de evangelizar todos os povos.

I. Motivações para um renovado impulso missionário

262.Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que rezam e trabalham. Do ponto de vista da evangelização, não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e acções sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. Estas propostas parciais e desagregadoras alcançam só pequenos grupos e não têm força de ampla penetração, porque mutilam o Evangelho. É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à actividade. 205 Sem momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado, quebrantamo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor apaga-se. A Igreja não pode dispensar o pulmão da oração, e alegra-me imenso que se multipliquem, em todas as instituições eclesiais, os grupos de oração, de intercessão, de leitura orante da Palavra, as adorações perpétuas da Eucaristia. Ao mesmo tempo, «há que rejeitar a tentação duma espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação». 206 Há o risco de que alguns momentos de oração se tornem uma desculpa para evitar de dedicar a vida à missão, porque a privatização do estilo de vida pode levar os cristãos a refugiarem-se nalguma falsa espiritualidade.

263. É salutar recordar-se dos primeiros cristãos e de tantos irmãos ao longo da história que se mantiveram transbordantes de alegria, cheios de coragem, incansáveis no anúncio e capazes de uma grande resistência activa. Há quem se console, dizendo que hoje é mais difícil; temos, porém, de reconhecer que o contexto do Império Romano não era favorável ao anúncio do Evangelho, nem à luta pela justiça, nem à defesa da dignidade humana. Em cada momento da história, estão presentes a fraqueza humana, a busca doentia de si mesmo, a comodidade egoísta e, enfim, a concupiscência que nos ameaça a todos. Isto está sempre presente, sob uma roupagem ou outra; deriva mais da limitação humana que das circunstâncias. Por isso, não digamos que hoje é mais difícil; é diferente. Em vez disso, aprendamos com os Santos que nos precederam e enfrentaram as dificuldades próprias do seu tempo. Com esta finalidade, proponho-vos que nos detenhamos a recuperar algumas motivações que nos ajudem a imitá-los nos nossos dias. 207

O encontro pessoal com o amor de Jesus que nos salva

264. A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais. Com efeito, um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de a apresentar, de a tornar conhecida, que amor seria? Se não sentimos o desejo intenso de comunicar Jesus, precisamos de nos deter em oração para Lhe pedir que volte a cativar-nos. Precisamos de o implorar cada dia, pedir a sua graça para que abra o nosso coração frio e sacuda a nossa vida tíbia e superficial. Colocados diante d’Ele com o coração aberto, deixando que Ele nos olhe, reconhecemos aquele olhar de amor que descobriu Natanael no dia em que Jesus Se fez presente e lhe disse: «Eu vi-te, quando estavas debaixo da figueira!» (Jo 1, 48). Como é doce permanecer diante dum crucifixo ou de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, e fazê-lo simplesmente para estar à frente dos seus olhos! Como nos faz bem deixar que Ele volte a tocar a nossa vida e nos envie para comunicar a sua vida nova! Sucede então que, em última análise, «o que nós vimos e ouvimos, isso anunciamos» (1 Jo 1, 3). A melhor motivação para se decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se nas suas páginas e lê-lo com o coração. Se o abordamos desta maneira, a sua beleza deslumbra-nos, volta a cativar-nos vezes sem conta. Por isso, é urgente recuperar um espírito contemplativo, que nos permita redescobrir, cada dia, que somos depositários dum bem que humaniza, que ajuda a levar uma vida nova. Não há nada de melhor para transmitir aos outros.

265. Toda a vida de Jesus, a sua forma de tratar os pobres, os seus gestos, a sua coerência, a sua generosidade simples e quotidiana e, finalmente, a sua total dedicação, tudo é precioso e fala à nossa vida pessoal. Todas as vezes que alguém volta a descobri-lo, convence-se de que é isso mesmo o que os outros precisam, embora não o saibam: «Aquele que venerais sem O conhecer, é Esse que eu vos anuncio» (Act 17, 23). Às vezes perdemos o entusiasmo pela missão, porque esquecemos que o Evangelho dá resposta às necessidades mais profundas das pessoas, porque todos fomos criados para aquilo que o Evangelho nos propõe: a amizade com Jesus e o amor fraterno. Quando se consegue exprimir, de forma adequada e bela, o conteúdo essencial do Evangelho, de certeza que essa mensagem fala aos anseios mais profundos do coração: «O missionário está convencido de que existe já, nas pessoas e nos povos, pela acção do Espírito, uma ânsia – mesmo se inconsciente – de conhecer a verdade acerca de Deus, do homem, do caminho que conduz à liberação do pecado e da morte. O entusiasmo posto no anúncio de Cristo deriva da convicção de responder a tal ânsia». 208

O entusiasmo na evangelização funda-se nesta convicção. Temos à disposição um tesouro de vida e de amor que não pode enganar, a mensagem que não pode manipular nem desiludir. É uma resposta que desce ao mais fundo do ser humano e pode sustentá-lo e elevá-lo. É a verdade que não passa de moda, porque é capaz de penetrar onde nada mais pode chegar. A nossa tristeza infinita só se cura com um amor infinito.

266. Esta convicção, porém, é sustentada com a experiência pessoal, constantemente renovada, de saborear a sua amizade e a sua mensagem. Não se pode perseverar numa evangelização cheia de ardor, se não se está convencido, por experiência própria, que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tacteando, não é a mesma coisa poder escutá-Lo ou ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo, adorá-Lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer. Não é a mesma coisa procurar construir o mundo com o seu Evangelho em vez de o fazer unicamente com a própria razão. Sabemos bem que a vida com Jesus se torna muito mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa. É por isso que evangelizamos. O verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa não O descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar segura do que transmite, faltam-lhe força e paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence ninguém.

267. Unidos a Jesus, procuramos o que Ele procura, amamos o que Ele ama. Em última instância, o que procuramos é a glória do Pai, vivemos e agimos «para que seja prestado louvor à glória da sua graça» (Ef 1, 6). Se queremos entregar-nos a sério e com perseverança, esta motivação deve superar toda e qualquer outra. O movente definitivo, o mais profundo, o maior, a razão e o sentido último de tudo o resto é este: a glória do Pai que Jesus procurou durante toda a sua existência. Ele é o Filho eternamente feliz, com todo o seu ser «no seio do Pai» (Jo 1, 18). Se somos missionários, antes de tudo é porque Jesus nos disse: «A glória do meu Pai  consiste  em que deis muito fruto» (Jo 15, 8). Independentemente de que nos convenha, interesse, aproveite ou não, para além dos estreitos limites dos nossos desejos, da nossa compreensão e das nossas motivações, evangelizamos para a maior glória do Pai que nos ama.

O prazer espiritual de ser povo

268. A Palavra de Deus convida-nos também a reconhecer que somos povo: «Vós que outrora não éreis um povo, agora sois povo de Deus» (1 Pd 2, 10). Para ser evangelizadores com espírito é preciso também desenvolver o prazer espiritual de estar próximo da vida das pessoas, até chegar a descobrir que isto se torna fonte duma alegria superior. A missão é uma paixão por Jesus, e simultaneamente uma paixão pelo seu povo. Quando paramos diante de Jesus crucificado, reconhecemos todo o seu amor que nos dignifica e sustenta, mas lá também, se não formos cegos, começamos a perceber que este olhar de Jesus se alonga e dirige, cheio de afecto e ardor, a todo o seu povo. Lá descobrimos novamente que Ele quer servir-Se de nós para chegar cada vez mais perto do seu povo amado. Toma-nos do meio do povo e envia-nos ao povo, de tal modo que a nossa identidade não se compreende sem esta pertença.

269. O próprio Jesus é o modelo desta opção evangelizadora que nos introduz no coração do povo. Como nos faz bem vê-Lo perto de todos! Se falava com alguém, fitava os seus olhos com uma profunda solicitude cheia de amor: «Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (Mc 10, 21). Vemo-Lo disponível ao encontro, quando manda aproximar-se o cego do caminho (cf. Mc 10, 46-52) e quando come e bebe com os pecadores (cf. Mc 2, 16), sem Se importar que O chamem de glutão e beberrão (cf. Mt 11, 19). Vemo-Lo disponível, quando deixa uma prostituta ungir-Lhe os pés (cf. Lc 7, 36-50) ou quando recebe, de noite, Nicodemos (cf. Jo 3, 1-15). A entrega de Jesus na cruz é apenas o culminar deste estilo que marcou toda a sua vida. Fascinados por este modelo, queremos inserir-nos a fundo na sociedade, partilhamos a vida com todos, ouvimos as suas preocupações, colaboramos material e espiritualmente nas suas necessidades, alegramo-nos com os que estão alegres, choramos com os que choram e comprometemo-nos na construção de um mundo novo, lado a lado com os outros. Mas não como uma obrigação, nem como um peso que nos desgasta, mas como uma opção pessoal que nos enche de alegria e nos dá uma identidade.

270. Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contacto com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre maravilhosamente e vivemos a intensa experiência de ser povo, a experiência de pertencer a um povo.

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Notas:
202 Cf. Propositio 16.
203 Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente (14 de Setembro de 2012), 26: AAS 104 (2012), 762.
204 Propositio 55.
205 Cf. Propositio 36.
206 João Paulo II, Carta ap. Novo Millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 52: AAS 93 (2001), 304.
207 Cf. Vítor Manuel Fernández, Discurso na abertura do I Congresso Nacional de Doutrina Social da Igreja, na cidade de Rosário, em 2011: «Espiritualidad para la esperanza activa», em UCActualidad 142 (2011), 16.
208 João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 45: AAS 83 (1991), 292.





Tratado dos vícios e pecados 31

Questão 76: Das causas do pecado em especial.

Art. 3 ― Se a ignorância isenta totalmente do pecado.

(Supra, q. 19, a. 6 ; IIª:IIªª, q. 59 a.4, ad 1 ; III, q. 47, a. 5, ad 3 ; Sent., dist. XXII, q. 2, a. 2; dist. XLI, q. 2, a. 1, ad 3; IV dist. IX, a. 3, 1ª 2; De Malo, q. 3, a. 8; Quodl. VIII, q. 6, a. 5 ; Ad Rom., cap. I, lect. VII ; Ad Tim., cap. 1, lect. III ; De Div. Nom., cap. IV, lect. XXII ; V Ethic., lect. XIII).

O terceiro discute-se assim. ― Parece que a ignorância isenta totalmente do pecado.

1. ― Pois, como diz Agostinho, todo pecado é voluntário 1. Ora, a ignorância causa o involuntário, conforme já se estabeleceu (q. 6, a. 8). Logo, isenta-a totalmente do pecado.

2. ― Demais. ― O que fazemos sem intenção fazemo-lo acidentalmente. Ora, não podemos ter intenção do desconhecido. Logo, o que fazemos por ignorância é, na ordem dos nossos actos, acidental. Mas, o acidental não especifica. Logo, nada do feito por ignorância deve ser considerado, na ordem dos actos humanos, pecado ou virtude.

3. ― Demais. ― O homem é sujeito da virtude e do pecado, enquanto participa da razão. Ora, a ignorância exclui a ciência, que aperfeiçoa a razão. Logo, isenta totalmente o pecado.

Mas, em contrário, diz Agostinho que certos actos praticados por ignorância são justamente reprovados 2. Ora, justamente só se reprovam os pecados. Logo, certos actos praticados por ignorância são tais, e portanto a ignorância não escusa totalmente do pecado.

A ignorância, em si mesma, pode tornar involuntário o acto que causa. Pois, como já se estabeleceu (a. 1), dissemos que ela causa o acto que proíbe à ciência oposta. Assim que tal acto fosse acompanhado de ciência, seria contrário à vontade, sendo por isso que se lhe aplica a denominação de involuntário. Se porém a ciência, excluída pela ignorância, não proíbe o acto, por causa da inclinação da vontade para ele, a ignorância dessa ciência não causa em nós o involuntário, mas faz-nos não querê-lo, como diz Aristóteles 3. E tal ignorância, não sendo causa do acto pecaminoso, como já dissemos (a. 1), e não causando o involuntário, não isenta do pecado. E o mesmo se dá com qualquer ignorância não causadora do acto pecaminoso, mas consequente ou concomitante a ele. A ignorância, porém, causa do acto por o ser do involuntário, pode em si mesma isentar do pecado, porque o voluntário é da essência deste.

Mas, de dois modos pode ela, às vezes, não isentar totalmente do pecado. ― Primeiro, por parte da própria coisa ignorada. Pois, a ignorância isenta do pecado na medida em que ignoramos ser um acto pecaminoso. Pode porém, acontecer que ignoremos alguma circunstância do pecado, que, se fosse conhecida, nos afastaria dele, quer essa circunstância seja da essência do pecado, quer não. E contudo, ainda essa ciência conserva algum elemento pelo qual poderíamos saber que é pecado o acto em questão. Assim, quem ferir outrem, que saiba ser um homem, faz o bastante para haver essencialmente pecado, embora não saiba que o ferido seja o próprio pai, circunstância constituinte de nova espécie de pecado. Ou talvez não sabia que o atacado, defendendo-se, lhe revidasse o golpe, o que, se o soubesse, não o atacaria, mas isso não se inclui na noção do pecado. Donde, embora esse tal peque por ignorância, não fica contudo totalmente isento de pecado, por ainda lhe restar o conhecimento deste último. ― De outro modo, pode a ignorância, em si mesma, não isentar do pecado, quando voluntária. E isto directamente, se, de propósito, queremos nos manter na ignorância para pecarmos mais livremente, ou indirectamente, como quando, em virtude do trabalho de outras ocupações, somos negligentes em aprender o que nos levaria a evitar o pecado. Pois tal negligência torna a própria ignorância voluntária e pecaminosa, contanto que recaia sobre o que deveríamos e podíamos saber. E portanto, essa ignorância não isenta totalmente do pecado. Se ela porém for que seja absolutamente involuntária, ou por invencível, ou por incidir sobre o que não estávamos obrigados a saber, então isenta completamente do pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Nem toda ignorância causa o involuntário, como já dissemos (q. 6, a. 8). Logo, nem toda isenta totalmente do pecado.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Na medida em que o ignorante tem algo de voluntário, nessa mesma intenciona o pecado. E deste modo o pecado não será acidental.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Se a ignorância for tal que exclua totalmente o uso da razão, também isenta totalmente do pecado, como é o caso dos loucos e dementes. Mas nem sempre é tal a ignorância, causa do pecado. E portanto, nem sempre isenta totalmente dele.


Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. Lib. I Retract. (cap. IX).
2. Lib. III De libero arb. (cap. XVIII).
3. III Ethic. (lect. III).




Temas para meditar 45

Desprendimento

Possui, mas como se nada possuísse, o que reúne tudo o necessário para seu uso, mas prevê cautamente que depressa o há-de deixar. Usa este mundo como se não o usasse, o que dispõe do necessário para viver, mas não deixando que domine o seu coração, para que todo ele sirva e nunca desvie, a boa marcha da alma, que tende a coisas mais altas.


(são gregório magno, Homílias sobre o Evangelho de S. Lucas, 40, 2)

´Diálogos apostólicos 7

Reservando a privacidade e sob este título genérico de ‘Diálogos apostólicos’ publicam-se alguns diálogos, recados e excertos de conversas a respeito da Melhoria Pessoal e da Vida Interior.

Que possam ter utilidade na reflexão sobre situações talvez bastante comuns a quem envereda por estes caminhos.

Pequena agenda do cristão



Segunda-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me: Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista o Papa e vivifique santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Tua Igreja na Tua fortaleza.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame: Cumpri o propósito e lembrei-me do que me propus ontem?


Comunhão dos Santos

Vivei uma particular Comunhão dos Santos: e cada um sentirá, à hora da luta interior, e à hora do trabalho profissional, a alegria e a força de não estar só. (Caminho, 545)
Há instantes, antes do lavabo, invocámos o Espírito Santo, pedindo-Lhe que abençoasse o Sacrifício oferecido ao Seu Santo Nome. Terminada a purificação, dirigimo-nos à Trindade – Suscipe, Sancta Trinitas –, para que receba o que apresentamos em memória da Vida, da Paixão, da Ressurreição e da Ascensão de Cristo, em honra de Maria, sempre Virgem, e em honra de todos os santos.
A oblação deve redundar em benefício de todos – Orate, fratres, reza o sacerdote –, porque este sacrifício é meu e vosso, de toda a Igreja Santa. Orai, irmãos, mesmo que sejam poucos os que se encontram reunidos, mesmo que se encontre materialmente presente apenas um cristão ou até só o celebrante, porque uma Missa é sempre o holocausto universal, o resgate de todas as tribos e línguas e povos e nações!
Todos os cristãos, pela comunhão dos Santos, recebem as graças de cada Missa, quer se celebre diante de milhares de pessoas, quer haja apenas como único assistente um menino, possivelmente distraído, a ajudar o sacerdote. Tanto num caso como noutro, a Terra e o Céu unem-se para entoar com os Anjos do Senhor: Sanctus, Sanctus, Sanctus... (Cristo que passa, 89)