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Evangelho diário e comentário

Tempo de Quaresma Semana I
Evangelho: Mt 6, 7-15

7 Nas vossas orações não useis muitas palavras como os gentios, os quais julgam que serão ouvidos à força de palavras. 8 Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós Lho peçais. 9 «Vós, pois, orai assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome. 10 «Venha o Teu reino. Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu. 11 O pão nosso supersubstancial nos dá hoje. 12 Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 «Porque, se vós perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. 15 Mas, se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas.

Comentário:

A religião cristã destaca-se entre outras por ser “dona” de uma oração ensinada directamente pelo seu Fundador.

Nela se encerra quanto Cristo deseja que os seus seguidores peçam, louvem, manifestem.

É ao mesmo tempo uma oração completa e uma forma única de nos colocarmos mas mãos de Deus como filhos autênticos e verdadeiros que, na realidade, somos todos os baptizados.

(ama comentário sobre Mt 6, 7-15, 2014.06.20)

Leitura espiritual para Mar 11

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)

Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Evangelho: Lc 7, 1-23

1 Tendo terminado este discurso ao povo, entrou em Cafarnaum. 2 Ora um centurião tinha doente, quase a morrer, um servo que lhe era muito querido. 3 Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus a pedir-Lhe que viesse curar o seu servo. 4 Eles, tendo ido ter com Jesus, pediam-Lhe instantemente, dizendo: «Ele merece que lhe faças esta graça, 5 porque é amigo da nossa nação e até nos edificou a sinagoga». 6 Jesus foi com eles. Quando estava já perto da casa, o centurião mandou uns amigos a dizer-Lhe: «Senhor, não Te incomodes, porque eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto. 7 Por essa razão nem eu me achei digno de ir ter contigo; mas diz uma só palavra, e o meu servo será curado. 8 Porque também eu, simples subalterno, tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai! e ele vai; e a outro: Vem! e ele vem; e ao meu servo: Faz isto! e ele faz». 9 Jesus, ao ouvir isto, ficou admirado e, voltando-Se para a multidão que O seguia, disse: «Em verdade vos digo que não encontrei tanta fé em Israel». 10 Voltando para casa os que tinham sido enviados, encontraram o servo curado. 11 No dia seguinte foi para uma cidade, chamada Naim. Iam com Ele os Seus discípulos e muito povo.12 Quando chegou perto da porta da cidade, eis que era levado a sepultar um defunto, filho único de uma viúva; e ia com ela muita gente da cidade. 13 Tendo-a visto, o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: «Não chores». 14 Aproximou-Se, tocou no caixão, e os que o levavam pararam. Então disse: «Jovem, Eu te ordeno, levanta-te». 15 E o que tinha estado morto sentou-se, e começou a falar. Depois, Jesus, entregou-o à sua mãe. 16 Todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: «Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus visitou o Seu povo». 17 Esta opinião a respeito d'Ele espalhou-se por toda a Judeia e por toda a região circunvizinha. 18 Os discípulos de João referiam-lhe todas estas coisas. 19 João chamou dois e enviou-os a Jesus a dizer-Lhe: «És Tu o que há-de vir ou devemos esperar outro?» 20 Tendo ido ter com Ele, disseram-Lhe: «João Baptista enviou-nos a Ti, para Te perguntar: “És Tu o que há-de vir ou devemos esperar outro?”». 21 Naquela mesma ocasião Jesus curou muitos de doenças, de males, de espíritos malignos, e deu vista a muitos cegos. 22 Depois respondeu-lhes: «Ide referir a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a boa nova; 23 e bem-aventurado aquele que não tiver em Mim ocasião de queda».



EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL

Capítulo III

O ANÚNCIO DO EVANGELHO

II. A homilia

A personalização da Palavra

149. O pregador «deve ser o primeiro a desenvolver uma grande familiaridade pessoal com a Palavra de Deus: não lhe basta conhecer o aspecto linguístico ou exegético, sem dúvida necessário; precisa de se abeirar da Palavra com o coração dócil e orante, a fim de que ela penetre a fundo nos seus pensamentos e sentimentos e gere nele uma nova mentalidade». 115 Faz-nos bem renovar, cada dia, cada domingo, o nosso ardor na preparação da homilia, e verificar se, em nós mesmos, cresce o amor pela Palavra que pregamos. É bom não esquecer que, «particularmente, a maior ou menor santidade do ministro influi sobre o anúncio da Palavra». 116 Como diz São Paulo, «falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus que põe à prova os nossos corações» (1 Ts 2, 4). Se está vivo este desejo de, primeiro, ouvirmos nós a Palavra que temos de pregar, esta transmitir-se-á duma maneira ou doutra ao povo fiel de Deus: «A boca fala da abundância do coração» (Mt 12, 34). As leituras do domingo ressoarão com todo o seu esplendor no coração do povo, se primeiro ressoarem assim no coração do Pastor.

150. Jesus irritava-Se com pretensiosos mestres, muito exigentes com os outros, que ensinavam a Palavra de Deus mas não se deixavam iluminar por ela: «Atam fardos pesados e insuportáveis e colocam-nos aos ombros dos outros, mas eles não põem nem um dedo para os deslocar» (Mt 23, 4). E o Apóstolo São Tiago exortava: «Meus irmãos, não haja muitos entre vós que pretendam ser mestres, sabendo que nós teremos um julgamento mais severo» (3, 1). Quem quiser pregar, deve primeiro estar disposto a deixar-se tocar pela Palavra e fazê-la carne na sua vida concreta. Assim, a pregação consistirá na actividade tão intensa e fecunda que é «comunicar aos outros o que foi contemplado». 117 Por tudo isto, antes de preparar concretamente o que vai dizer na pregação, o pregador tem que aceitar ser primeiro trespassado por essa Palavra que há-de trespassar os outros, porque é uma Palavra viva e eficaz, que, como uma espada, «penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração» (Heb 4, 12). Isto tem um valor pastoral. Mesmo nesta época, a gente prefere escutar as testemunhas: «Tem sede de autenticidade (...), reclama evangelizadores que lhe falem de um Deus que eles conheçam e lhes seja familiar como se eles vissem o invisível». 118

151. Não nos é pedido que sejamos imaculados, mas que não cessemos de melhorar, vivamos o desejo profundo de progredir no caminho do Evangelho, e não deixemos cair os braços. Indispensável é que o pregador esteja seguro de que Deus o ama, de que Jesus Cristo o salvou, de que o seu amor tem sempre a última palavra. À vista de tanta beleza, sentirá muitas vezes que a sua vida não lhe dá plenamente glória e desejará sinceramente corresponder melhor a um amor tão grande. Todavia, se não se detém com sincera abertura a escutar esta Palavra, se não deixa que a mesma toque a sua vida, que o interpele, exorte, mobilize, se não dedica tempo para rezar com esta Palavra, então na realidade será um falso profeta, um embusteiro ou um charlatão vazio. Em todo o caso, desde que reconheça a sua pobreza e deseje comprometer-se mais, sempre poderá dar Jesus Cristo, dizendo como Pedro: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou» (Act 3, 6). O Senhor quer servir-Se de nós como seres vivos, livres e criativos, que se deixam penetrar pela sua Palavra antes de a transmitir; a sua mensagem deve passar realmente através do pregador, e não só pela sua razão, mas tomando posse de todo o seu ser. O Espírito Santo, que inspirou a Palavra, é quem «hoje ainda, como nos inícios da Igreja, age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e conduzir por Ele, e põe na sua boca as palavras que ele sozinho não poderia encontrar». 119

A leitura espiritual

152. Há uma modalidade concreta para escutarmos aquilo que o Senhor nos quer dizer na sua Palavra e nos deixarmos transformar pelo Espírito: designamo-la por «lectio divina». Consiste na leitura da Palavra de Deus num tempo de oração, para lhe permitir que nos ilumine e renove. Esta leitura orante da Bíblia não está separada do estudo que o pregador realiza para individuar a mensagem central do texto; antes pelo contrário, é dela que deve partir para procurar descobrir aquilo que essa mesma mensagem tem a dizer à sua própria vida. A leitura espiritual dum texto deve partir do seu sentido literal. Caso contrário, uma pessoa facilmente fará o texto dizer o que lhe convém, o que serve para confirmar as suas próprias decisões, o que se adapta aos seus próprios esquemas mentais. E isto seria, em última análise, usar o sagrado para proveito próprio e passar esta confusão para o povo de Deus. Nunca devemos esquecer-nos de que, por vezes, «também Satanás se disfarça em anjo de luz» (2 Cor 11, 14).

153. Na presença de Deus, numa leitura tranquila do texto, é bom perguntar-se, por exemplo: «Senhor, a mim que me diz este texto? Com esta mensagem, que quereis mudar na minha vida? Que é que me dá fastídio neste texto? Porque é que isto não me interessa?»; ou então: «De que gosto? Em que me estimula esta Palavra? Que me atrai? E porque me atrai?». Quando se procura ouvir o Senhor, é normal ter tentações. Uma delas é simplesmente sentir-se chateado e acabrunhado e dar tudo por encerrado; outra tentação muito comum é começar a pensar naquilo que o texto diz aos outros, para evitar de o aplicar à própria vida. Acontece também começar a procurar desculpas, que nos permitam diluir a mensagem específica do texto. Outras vezes pensamos que Deus nos exige uma decisão demasiado grande, que ainda não estamos em condições de tomar. Isto leva muitas pessoas a perderem a alegria do encontro com a Palavra, mas isso significaria esquecer que ninguém é mais paciente do que Deus Pai, ninguém compreende e sabe esperar como Ele. Deus convida sempre a dar um passo mais, mas não exige uma resposta completa, se ainda não percorremos o caminho que a torna possível. Apenas quer que olhemos com sinceridade a nossa vida e a apresentemos sem fingimento diante dos seus olhos, que estejamos dispostos a continuar a crescer, e peçamos a Ele o que ainda não podemos conseguir.

À escuta do povo

154. O pregador deve também pôr-se à escuta do povo, para descobrir aquilo que os fiéis precisam de ouvir. Um pregador é um contemplativo da Palavra e também um contemplativo do povo. Desta forma, descobre «as aspirações, as riquezas e as limitações, as maneiras de orar, de amar, de encarar a vida e o mundo, que caracterizam este ou aquele aglomerado humano», prestando atenção «ao povo concreto com os seus sinais e símbolos e respondendo aos problemas que apresenta». 120 Trata-se de relacionar a mensagem do texto bíblico com uma situação humana, com algo que as pessoas vivem, com uma experiência que precisa da luz da Palavra. Esta preocupação não é ditada por uma atitude oportunista ou diplomática, mas é profundamente religiosa e pastoral. No fundo, é uma «sensibilidade espiritual para saber ler nos acontecimentos a mensagem de Deus», 121 e isto é muito mais do que encontrar algo interessante para dizer. Procura-se descobrir «o que o Senhor tem a dizer nessas circunstâncias». 122 Então a preparação da pregação transforma-se num exercício de discernimento evangélico, no qual se procura reconhecer – à luz do Espírito – «um “apelo” que Deus faz ressoar na própria situação histórica: também nele e através dele, Deus chama o crente». 123

155. Nesta busca, é possível recorrer apenas a alguma experiência humana frequente, como, por exemplo, a alegria dum reencontro, as desilusões, o medo da solidão, a compaixão pela dor alheia, a incerteza perante o futuro, a preocupação com um ser querido, etc.; mas faz falta intensificar a sensibilidade para se reconhecer o que isso realmente tem a ver com a vida das pessoas. Recordemos que nunca se deve responder a perguntas que ninguém se põe, nem convém fazer a crónica da actualidade para despertar interesse; para isso, já existem os programas televisivos. Em todo o caso, é possível partir de algum facto para que a Palavra possa repercutir fortemente no seu apelo à conversão, à adoração, a atitudes concretas de fraternidade e serviço, etc., porque acontece, às vezes, que algumas pessoas gostam de ouvir comentários sobre a realidade na pregação, mas nem por isso se deixam interpelar pessoalmente.

Recursos pedagógicos

156. Alguns acreditam que podem ser bons pregadores por saber o que devem dizer, mas descuidam o como, a forma concreta de desenvolver uma pregação. Zangam-se quando os outros não os ouvem ou não os apreciam, mas talvez não se tenham empenhado por encontrar a forma adequada de apresentar a mensagem. Lembremo-nos de que «a evidente importância do conteúdo da evangelização não deve esconder a importância dos métodos e dos meios da mesma evangelização». 124 A preocupação com a forma de pregar também é uma atitude profundamente espiritual. É responder ao amor de Deus, entregando-nos com todas as nossas capacidades e criatividade à missão que Ele nos confia; mas também é um exímio exercício de amor ao próximo, porque não queremos oferecer aos outros algo de má qualidade. Na Bíblia, por exemplo, aparece a recomendação para se preparar a pregação de modo a garantir uma apropriada extensão: «Sê conciso no teu falar: muitas coisas em poucas palavras» (Sir 32, 8).

157. Apenas, para exemplificar, recordemos alguns recursos práticos que podem enriquecer uma pregação e torná-la mais atraente. Um dos esforços mais necessários é aprender a usar imagens na pregação, isto é, a falar por imagens. Às vezes usam-se exemplos para tornar mais compreensível algo que se quer explicar, mas estes exemplos frequentemente dirigem-se apenas ao entendimento, enquanto as imagens ajudam a apreciar e acolher a mensagem que se quer transmitir. Uma imagem fascinante faz com que se sinta a mensagem como algo familiar, próximo, possível, relacionado com a própria vida. Uma imagem apropriada pode levar a saborear a mensagem que se quer transmitir, desperta um desejo e motiva a vontade na direcção do Evangelho. Uma boa homilia, como me dizia um antigo professor, deve conter «uma ideia, um sentimento, uma imagem».

158. Já dizia Paulo VI que os fiéis «esperam muito desta pregação e dela poderão tirar fruto, contanto que ela seja simples, clara, directa, adaptada». 125 A simplicidade tem a ver com a linguagem utilizada. Deve ser linguagem que os destinatários compreendam, para não correr o risco de falar ao vento. Acontece frequentemente que os pregadores usam palavras que aprenderam nos seus estudos e em certos ambientes, mas que não fazem parte da linguagem comum das pessoas que os ouvem. Há palavras próprias da teologia ou da catequese, cujo significado não é compreensível para a maioria dos cristãos. O maior risco dum pregador é habituar-se à sua própria linguagem e pensar que todos os outros a usam e compreendem espontaneamente. Se se quer adaptar à linguagem dos outros, para poder chegar até eles com a Palavra, deve-se escutar muito, é preciso partilhar a vida das pessoas e prestar-lhes benévola atenção. A simplicidade e a clareza são duas coisas diferentes. A linguagem pode ser muito simples, mas pouco clara a pregação. Pode-se tornar incompreensível pela desordem, pela sua falta de lógica, ou porque trata vários temas ao mesmo tempo. Por isso, outro cuidado necessário é procurar que a pregação tenha unidade temática, uma ordem clara e ligação entre as frases, de modo que as pessoas possam facilmente seguir o pregador e captar a lógica do que lhes diz.

159. Outra característica é a linguagem positiva. Não diz tanto o que não se deve fazer, como sobretudo propõe o que podemos fazer melhor. E, se aponta algo negativo, sempre procura mostrar também um valor positivo que atraia, para não se ficar pela queixa, o lamento, a crítica ou o remorso. Além disso, uma pregação positiva oferece sempre esperança, orienta para o futuro, não nos deixa prisioneiros da negatividade. Como é bom que sacerdotes, diáconos e leigos se reúnam periodicamente para encontrarem, juntos, os recursos que tornem mais atraente a pregação!

IV.  Uma evangelização para o aprofundamento do querigma

160. O mandato missionário do Senhor inclui o apelo ao crescimento da fé, quando diz: «ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 20). Daqui se vê claramente que o primeiro anúncio deve desencadear também um caminho de formação e de amadurecimento. A evangelização procura também o crescimento, o que implica tomar muito a sério em cada pessoa o projecto que Deus tem para ela. Cada ser humano precisa sempre mais de Cristo, e a evangelização não deveria deixar que alguém se contente com pouco, mas possa dizer com plena verdade: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20).

161. Não seria correcto que este apelo ao crescimento fosse interpretado, exclusiva ou prioritariamente, como formação doutrinal. Trata-se de «cumprir» aquilo que o Senhor nos indicou como resposta ao seu amor, sobressaindo, junto com todas as virtudes, aquele mandamento novo que é o primeiro, o maior, o que melhor nos identifica como discípulos: «É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). É evidente que, quando os autores do Novo Testamento querem reduzir a mensagem moral cristã a uma última síntese, ao mais essencial, apresentam-nos a exigência irrenunciável do amor ao próximo: «Quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. (…) É no amor que está o pleno cumprimento da lei» (Rm 13, 8.10). De igual modo, para São Paulo, o mandamento do amor não só resume a lei mas constitui o centro e a razão de ser da mesma: «Toda a lei se cumpre plenamente nesta única palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo» (Gal 5, 14). E, às suas comunidades, apresenta a vida cristã como um caminho de crescimento no amor: «O Senhor vos faça crescer e superabundar de caridade uns para com os outros e para com todos» (1 Ts 3, 12). Também São Tiago exorta os cristãos a cumprir «a lei do Reino, de acordo com a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (2, 8), acabando por não citar nenhum preceito.

162. Entretanto, este caminho de resposta e crescimento aparece sempre precedido pelo dom, porque o antecede aquele outro pedido do Senhor: «baptizando-os em nome...» (Mt 28, 19). A adopção como filhos que o Pai oferece gratuitamente e a iniciativa do dom da sua graça (cf. Ef 2, 8-9; 1 Cor 4, 7) são a condição que torna possível esta santificação constante, que agrada a Deus e Lhe dá glória. É deixar-se transformar em Cristo, vivendo progressivamente «de acordo com o Espírito» (Rm 8, 5).

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Notas:
115 João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de Março de 1992), 26: AAS 84 (1992), 698.
116 Ibid., 25: o. c., 696.
117 São Tomás de Aquino, Summa theologiae II-II, q. 188, a. 6.
118 Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 76: AAS 68 (1976), 68.
119 Ibid., 75: o. c., 65.
120 Ibid., 63: o .c., 53.
121 Ibid., 43: o. c., 33.
122 Ibid., 43: o. c., 33.
123 João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de Março de 1992), 10: AAS 84 (1992), 672.
124 Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 40: AAS 68 (1976), 31.
125 Ibid., 43: o. c., 33.



SOU TEU, SENHOR! OBRIGADO!

Porque é que de repente sinto esta necessidade de escrever o que me vai no coração, o que me vai na alma?
Não sei, nem sei bem realmente o que me vai no coração e na alma.
Sei que sinto uma “incontrolável” vontade de dar graças quando surge mais uma provação.
E fico a pensar se essa vontade de dar graças é sincera, ou se é apenas uma “fuga” a pedir protecção para a dificuldade que vou atravessar.

Não há dúvida para mim que o caminho que escolheste para me guiar, Senhor, passa por estas provações, por vezes tão duras, sobretudo para o meu modo de ser.
Mas também percebo que será o único meio de derrubar as minhas fraquezas, os meus orgulhos, as minhas vaidades.

E quanto mais Te dou graças, mais se acalma o coração e mais a certeza de que estás connosco, de que estás comigo, se torna real e verdadeira.
E na tranquilidade da confiança que nesses momentos em mim colocas, se vai fazendo verdade, calma e serenamente, o pensamento de Santa Teresa de Ávila: «Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda, … Quem a Deus tem, nada lhe falta: Só Deus basta.»

Tão agarrado às coisas, tão agarrado ao passado, tão agarrado às emoções, como posso eu dar espaço para Tu me preencheres?
Mas Tu conheces-me e sabes do meu profundo desejo de Te viver inteiramente, e por isso mesmo me ajudas a libertar do que afinal ocupa espaço de “amores”, que não dão espaço ao teu amor.

Mas dói, Senhor, de vez em quando dói muito!
Mas é na dor, afinal, que eu encontro o teu amor!

Vem-nos sempre ao pensamento que morreste por todos nós!
Mas quantas vezes penso eu verdadeiramente que ao morrer por nós, morreste por mim?
Se escutar verdadeiramente no coração, não Te ouço eu dizer naquela Cruz, naquela hora: «Perdoa ao Joaquim, Pai, que ele não sabe o que faz.»
Se olhar com os olhos do coração, não vejo eu o teu olhar, para mim voltado, naquela Cruz, naquela hora, a “dizer-me”: «Morro por ti, Joaquim, porque te amo com amor eterno.»

Deste-me tudo, Senhor!
Queres que eu dê tudo, também, nas forças com que me capacitas para dar.

Então, Senhor, toma tudo aquilo que sou, aquilo que tenho, aquilo que amo, a vida que me deste, mas não por mim, Senhor, mas por aqueles que me deste, por aqueles que todos os dias colocas na minha vida, por aqueles que Te procuram, por aqueles que não Te conhecem, por aqueles que não te amam, por aqueles que nada têm, e sobretudo por aqueles que não Te querem ter, porque a esses tudo falta, porque recusam o teu amor.

Ah, Senhor, e não Te esqueças, (como poderias Tu esquecer-te?), se não fores Tu em mim por eu querer permanecer em Ti, então não serei capaz, então não terei forças, então revoltar-me-ei, então perder-me-ei nas minhas fraquezas e não encontrarei caminho nas provações, não encontrarei sentido para as viver, para as aceitar e para Te dar graças, Senhor, sempre e em todos os momentos.

A Ti, Senhor, toda a glória e todo o louvor, agora e para sempre!


Marinha Grande, 7 de Março de 2014

Joaquim Mexia Alves

Tratado dos vícios e pecados 26

Questão 75: Das causas dos pecados em geral.

Em seguida devemos tratar das causas dos pecados. E, primeiro, em geral. Segundo, em especial.

Sobre a primeira questão discutem-se quatro artigos:
Art. 1 ― Se o pecado tem causa.
Art. 2 ― Se o pecado tem causa interior.
Art. 3 ― Se o pecado tem causa exterior.
Art. 4 ― Se o pecado é causa do pecado.
                             
Art. 1 ― Se o pecado tem causa.

(I, q. 49, a. 1; II Sent., dist. XXXIV, a. 3)

O primeiro discute-se assim. ― Parece que o pecado não tem causa.

1. ― Pois, o pecado é essencialmente um mal, como já se disse (q. 71, a. 6). Ora, o mal não tem causa, como diz Dionísio 1. Logo, o pecado igualmente não tem.

2. Demais. ― Causa é aquilo de que resulta necessariamente algum efeito. Ora, o que resulta necessariamente não é pecado, porque todo pecado é voluntário. Logo, o pecado não tem causa.

3. Demais. ― Se o pecado tem causa, esta há-de ser ou o bem ou o mal. Ora, aquele, não, porque o bem não produz senão o bem, pois, não pode a árvore boa dar maus frutos, como diz a Escritura (Mt 7, 18). Semelhantemente, também o mal não pode ser causa do pecado, pois o mal da pena resulta do pecado e o da culpa identifica-se com ele. Logo, o pecado não tem causa.

Mas, em contrário. ― Tudo o que é feito tem causa, pois, como diz a Escritura (Jo 5, 6): Nada se faz na terra sem causa. Ora, o pecado é feito, pois, é o dito, o feito ou o desejado contra a lei de Deus. Logo, o pecado tem causa.

O pecado é um acto desordenado. Ora, enquanto acto, pode ter em si mesmo causa, como qualquer outro acto. E enquanto desordenado, tem causa do modo por que a pode ter a negação ou a privação. Ora, a qualquer negação podemos atribuir dupla causalidade. Pois, primeiro, a falta de causa, i. é, a negação da própria causa é causa da negação em si mesma, pois, da remoção da causa resulta a remoção do efeito, assim, a causa da obscuridade é a ausência do sol. De outro modo, a causa da afirmação, da qual resulta a negação, é a causa acidental da negação consequente, assim, o fogo, causando calor, como tendência principal, causa consequentemente a privação da frigidez. E destas duas causas, a primeira é suficiente a produzir a simples negação. Mas, como a desordem do pecado e de qualquer mal não é simples negação, mas privação daquilo que o ser devia naturalmente ter, necessariamente tal desordem terá uma causa agente acidental. Pois, o que é natural e deve subsistir nunca poderá deixar de existir senão em virtude de alguma causa impeditiva. E, deste modo, costuma-se dizer que o mal, consistente numa privação, tem causa deficiente ou age por acidente. Ora, toda causa agente acidental se reduz à outra, essencial. E como o pecado, e no concernente a sua desordem, tem causa agente acidental, e no concernente ao acto, causa agente essencial, resulta que a sua desordem é consequência da própria causa do acto. Portanto, a vontade, carecente da direcção da regra racional e da regra da lei divina, e aspirando a algum bem mutável, causa um acto pecaminoso em si mesmo, causando, porém, a desordem do mesmo, por acidente, e extra-intencional. Pois, a falta de ordem no acto provém da falta de direcção da vontade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O pecado não significa só a própria privação do bem, que é a desordem, mas também o acto sujeito a tal privação, que é essencialmente um mal. E como esse acto assim considerado tenha causa, já o dissemos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Para que a definição aduzida de causa deve verificar-se universalmente, é preciso que seja entendida como aplicada à causa eficiente e não impedida. Pois pode um efeito ter a sua causa eficiente, e contudo não resultar necessariamente dela, por via de algum impedimento sobreveniente. Do contrário, seguir-se-ia que tudo se produz necessariamente, como o diz claramente Aristóteles 2. Assim pois, embora o pecado tenha causa, daí não se segue seja ele necessário, pois o efeito dela pode ficar impedido.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Como já se disse, a vontade, sem a aplicação da regra da razão ou da lei divina, é causa do pecado. Ora, não aplicar a regra da razão ou da lei divina não é, em si e essencialmente, mal, nem pena, nem culpa, antes de se praticar o acto. Donde, a esta luz, o mal não é a causa do primeiro pecado, mas, um certo bem, com ausência de certo outro.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. IV cap. De div. nom. (lect. XXII).
2. Metaph. (lect. III).




Pequena agenda do cristão



Terça-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me: Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?


Deus não aceita o que é mal feito

É difícil gritar ao ouvido de cada um, com um trabalho silencioso, através do pleno cumprimento das nossas obrigações de cidadãos, para depois exigir os nossos direitos e colocá-los ao serviço da Igreja e da sociedade. É difícil... mas é muito eficaz. (Sulco, 300)

Começar é de muitos; acabar, de poucos. Nós, que procuramos comportar-nos como filhos de Deus, temos de estar entre os segundos. não o esqueçais: só as tarefas terminadas com amor, bem acabadas, merecem aquele aplauso do Senhor, que se lê na Sagrada Escritura: é melhor o fim de uma obra do que o seu princípio.

Muitos cristãos perderam a convicção de que a integridade de Vida, pedida pelo Senhor aos seus filhos, exige um cuidado autêntico ao realizarem as tarefas pessoais, que têm de santificar, sem descurarem inclusivamente os pormenores mais pequenos.

Não podemos oferecer ao Senhor uma coisa que, dentro das pobres limitações humanas, não seja perfeita, sem defeitos e realizada com toda a atenção, mesmo nos aspectos mais insignificantes, porque Deus não aceita o que é mal feito. Não oferecereis nada que tenha defeito, porque não seria aceite favoravelmente, adverte-nos a Escritura Santa. Por isso, o trabalho de cada um de nós, esse trabalho que ocupa as nossas jornadas e as nossas energias, há-de ser uma oferenda digna do Criador, operatio Dei, trabalho de Deus e para Deus. Numa palavra, uma tarefa bem cumprida e impecável.


Se reparardes, entre os muitos elogios que fizeram de Jesus aqueles que puderam contemplar a sua vida, há um que, de certo modo, compreende todos os outros. Refiro-me àquela exclamação, cheia de sinais de assombro e de entusiasmo, que a multidão repetia espontaneamente ao presenciar, atónita, os seus milagres: bene omnia fecit, tudo tem feito admiravelmente bem: os grandes prodígios e as coisas comezinhas, quotidianas, que não deslumbraram ninguém, mas que Cristo realizou com a plenitude de quem é perfectus Deus, perfectus Homo, perfeito Deus e perfeito homem. (Amigos de Deus, 55–56)