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04/12/2012

A vaca, o burro, e a "minha" fé

 
 
 
Demorei todo este tempo a digerir aquelas notícias surgidas na comunicação social de que o Papa tinha “saneado” a vaca e o burro do Nascimento de Jesus!
Estou profundamente desiludido com a minha Igreja e com o “meu” Papa Bento XVI!
Então no Nascimento de Jesus não estava nenhuma vaca nem nenhum burro?
Andei eu desde garotinho a aprender esta verdade tão importante da “fé”, para agora, já sessentão, me virem dizer que é mentira, que não estava lá nem vaca nem burro!
E agora, em que acreditar?
Claro que tenho que pôr tudo em causa!
Será que Jesus nasceu mesmo?
Calculem que o Papa, (ó que desilusão), também vem dizer que Jesus não nasceu naquele dia, o que nenhum livro ou documento oriundo da Igreja tinha afirmado até agora, (pelos vistos para aqueles jornalistas)! É uma perfeita e chocante novidade!
Mas voltemos à vaca e ao burro.
É que me sinto profundamente abalado na minha “fé”!
Constrói uma pessoa a sua vida para Deus, alicerçada na presença de dois simpáticos animais no Nascimento do Salvador, e, ... zás, vem de repente o Sumo Pontífice, ainda por cima teólogo credenciado, e retira-me toda a confiança e esperança naquele Santo Nascimento.
Como acreditar agora em tudo o resto que me foi ensinado pelos meus pais, na catequese, nos colégios católicos que frequentei, nos retiros que fiz, no curso geral de Teologia feito no Seminário, em tantos Bispos e Sacerdotes que mo foram ensinando?
Relampeja-me a inteligência, (por inspiração “divina” certamente), e penso: o Papa é homem e como homem pode enganar-se!
Ah, o melhor é ir à fonte e verificar como é verdade a presença da vaca e do burro, no Nascimento de Jesus.
Abro pressurosamente a Bíblia, com um sorriso de verdade nos meus lábios, e antevendo já ansiosamente a minha lição ao mundo: O Papa enganou-se! A vaca e o burro estavam no Nascimento do Salvador conforme nos narra o Evangelho de ...
Bem, a verdade é que Mateus nos descreve o Nascimento de Jesus falando num sonho que teve José e logo a seguir escreve que o Menino nasceu sem dizer onde e como.
Descreve ainda uma visita de uns Magos do Oriente, mas não explica onde e como encontraram o Salvador.
Não desisto e lanço-me a Marcos, que sendo o primeiro Evangelho descreverá com certeza todas essas particularidades do Santo Nascimento.
Mas a verdade é que Marcos, então, nem sequer fala do Nascimento, começando logo, calcule-se, com o Baptismo de Jesus.
Sem dúvida que Lucas, ainda por cima médico, deve ter descrito muito bem o Nascimento, ele que tanto gosta de descrições ricas em pormenores.
Pois, mas a verdade é que informa muita coisa, mas a única referência mais chegada a animais é que o Menino foi «envolto em panos e recostado numa manjedoura.» Lc 2, 7
A minha esperança reside agora em João, que sendo muito mais “teólogo”, não deixará com certeza escapar pormenores tão importantes para a edificação da fé de cada um, como a presença da vaca e do burro no Nascimento de Jesus.
Mas não, também não, nem uma referenciazinha sequer, mas apenas coisas sem importância tais como: «o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco.» Jo 1, 14
Então e agora?
Afinal a tal “novidade” que o Papa nos deu estava escrita há muitos séculos atrás!
Pensando bem, talvez não seja matéria de fé, talvez não seja importante para a minha salvação, o facto de a vaca e o burro não estarem no Nascimento de Jesus.
Talvez seja só importante para a minha “alma de criança” apenas “ver” aqueles bonançosos animais num presépio cheio de amor.
Resolvida esta questão no meu intimo, ficam-me a preocupar os jornalistas apressados, que ficaram tão incomodados com esta inusitada “verdade” “proclamada” pelo Papa, (como eu aliás fiquei também como se lê acima), e por isso tento arranjar uma explicação.
Ora bem, costumamos dizer que Natal é sempre que o homem quiser e que o Natal é para todos!
Ora se é para todos, todos devemos estar representados no presépio.
Ora Jesus, é Jesus, Maria, é Maria, José, é José, os pastores, são os pastores, resta-nos a presença simbólica na vaca e no burro.
Eu por mim tanto me faz estar representado por qualquer um dos animais, pois sinto-me bem com isso! Quero é estar no presépio!
Deixo aos meus leitores a possibilidade de atribuírem ao animal devido, a representatividade dos jornalistas escritores de tais notícias, (com a sua ignorância incompetente), no presépio da vossa imaginação.
 
 
Joaquim Mexia Alves
Marinha Grande, 3 de Dezembro de 2012
 
 
Nota:
Para que se entenda bem a manipulação vergonhosa que foi feita das palavras escritas pelo Papa no seu livro “A Infância de Jesus”, transcrevo os parágrafos em questão, chamando a maior atenção para o último, em que o Papa afirma claramente que os dois animais devem fazer parte do presépio.
«Como se disse, a manjedoura faz pensar nos animais que encontram nela o seu alimento. Aqui, no Evangelho, não se fala de animais; mas a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento correlacionados, não tardou a preencher esta lacuna, reportando-se a Isaías 1,3: «o boi conhece o seu dono, e o jumento o estábulo do seu senhor; mas Israel, meu povo, nada entende».
Peter Stuhlmacher observa que provavelmente teve influência também a versão grega, (na Setenta) de Habacuc 3,2:«No meio de dois seres vivos […] tu serás conhecido; quando vier o tempo, tu aparecerás» (cf. Peter Stuhlmacher, Die Geburt des Immanuel, p. 52). Aqui, com os dois seres vivos, entende-se evidentemente os dois querubins que, segundo Êxodo 25,18-20, estavam colocados sobre a cobertura da Arca da Aliança, indicando e simultaneamente escondendo a presença misteriosa de Deus. Assim a manjedoura tornar-se-ia, de certo modo, a Arca da Aliança, na qual Deus, misteriosamente guardado, está no meio dos homens e à vista da qual chegou, para o «o boi e o burro», para a humanidade formada por judeus e gentios, a hora do conhecimento de Deus.
Portanto, na singular conexão entre Isaías 1,3; Habacuc 3,2; Êxodo 25,18-20 e a manjedoura, aparecem os dois animais como representação da humanidade, por si mesma desprovida de compreensão, que, diante do Menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora ensina todos a ver. Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento

Evangelho do dia e comentário OK Imagem


ADVENTO SEMANA I

S. João Damasceno – Doutor da Igreja
EVANGELHO: Lc 10, 21-24

21 Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo, e disse: «Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos simples. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 22 Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar». 23 Depois, tendo-Se voltado para os discípulos, disse: «Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. 24 Porque Eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o ouviram».

Comentário:

Na verdade, se nos dermos bem conta da extraordinária graça que, sem qualquer mérito da nossa parte, Deus nos concede com o acesso fácil à doutrina, ao conhecimento da Fé, ao abundante esclarecimento da Pessoa, Missão e Ensinamentos de Jesus Cristo, teremos forçosamente de concluir que recebemos muito mais que os próprios Apóstolos no início do seu seguimento de Cristo. Eles não tinham nem história a informar nem exemplos a seguir; nós, ao invés, temos séculos de estudos que nos informam e gerações inteiras de santos e pessoas de bem cujo exemplo podemos seguir.
De facto, estamos privados da presença física, visível de Jesus Cristo mas, em compensação podemos segui-lo com toda a facilidade e comungá-lo na Santíssima Eucaristia.

(ama, comentário sobre Lc 10, 21-24, 2011.11.29)

Leitura espiritual para 04 Dez 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 73

Questão 119: Da propagação do homem quanto ao corpo.

Art. 2 — Se o sémen é um alimento supérfluo ou faz parte da substância do gerador.


(II. Sent., dist. XXX. q. 2. a. 2).

O segundo discute-se assim. — Parece que o sémen não é um alimento supérfluo, mas faz parte da substância do gerador.



A castidade não é um peso incómodo


Contra a vida limpa, a pureza santa, levanta-se uma grande dificuldade à qual todos estamos expostos: o perigo do aburguesamento, na vida espiritual ou na vida profissional. O perigo – também para os chamados por Deus ao matrimónio – de nos sentirmos solteirões, egoístas, pessoas sem amor. Luta radicalmente contra esse risco, sem nenhumas concessões. (Forja, 89)

Com o espírito de Deus, a castidade, longe de ser um peso incómodo e humilhante, torna-se uma afirmação gozosa, porque o querer, o domínio e a vitória não são dados pela carne nem vêm do instinto, mas procedem da vontade, sobretudo se está unida à do Senhor. Para ser castos e não simplesmente continentes ou honestos, temos de submeter as paixões à razão, por uma causa elevada, por um impulso de Amor.

Comparo esta virtude a umas asas que nos permitem levar os mandamentos, a doutrina de Deus por todos os ambientes da terra, sem receio de ficar enlameados. Essas asas, tal como as das aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens, pesam e pesam muito, mas, se faltassem, não seria possível voar. Gravai isto na vossa mente, decididos a não ceder quando sentirdes a garra da tentação, que se insinua apresentando a pureza como uma carga insuportável. Ânimo! Subi até ao sol, em busca do Amor!

Tenho de vos dizer que para esse efeito me ajuda considerar a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, a maravilha inefável de Deus que se humilha, até fazer-se homem. E que não se sente aviltado por ter tomado carne igual à nossa, com todas as suas limitações e fraquezas, menos o pecado, porque nos ama com loucura! Ele não se rebaixa com o seu aniquilamento e, em troca, levanta-nos, deificando-nos o corpo e a alma. Responder afirmativamente ao seu Amor com um carinho claro, ardente e ordenado, isso é a virtude da castidade. (Amigos de Deus, nn. 177–178)

CULTIVAR A FÉ 14


Uma pedagogia da fé na família - a propósito de alguns ensinamentos de S. Josemaria …/9

Educação para a santidade.

O primado da graça.

Ao longo da sua vida e, de modo particular, entre 1970 e 1975, ano da sua morte, levou a cabo uma amplíssima catequese sobre os sacramentos. Doía-lhe a “moda”, difundida naquela época, de retardar o baptismo das crianças com o pretexto de uma escolha mais consciente por parte dos baptizados. É oportuno recordar aqui a doutrina sobre os efeitos do baptismo, que “não somente purifica de todos os pecados, mas que também faz do neófito “uma nova criação” (2 Cor 5, 17), um filho adoptivo de Deus, que foi feito “participante da natureza divina” (2 Pe 1, 4), membro de Cristo, co-herdeiro com Ele e templo do Espírito Santo. A Santíssima Trindade dá ao baptizado a graça santificante, a graça da justificação que o torna capaz de crer em Deus, de esperar n’Ele e de o amar através das virtudes teologais; concede-lhe poder viver e actuar sob a moção do Espírito Santo mediante os dons do Espírito Santo; permite-lhe crescer no bem através das virtudes morais” [i].

Baseado nesta forte convicção, S. Josemaria lamentava: “Não faltam os que parece que esquecem, e que chegam a desprezar, esta corrente redentora da graça de Cristo (…). Decidem sem o menor escrúpulo retardar o baptismo dos recém-nascidos, privando-os – e cometendo assim um grave atentado contra a justiça e contra a caridade – da graça da fé, do tesouro incalculável da inabitação da Santíssima Trindade na alma, que vem ao mundo manchada pelo pecado original. Pretendem também desvirtuar a natureza própria do Sacramento da Confirmação, no qual a Tradição viu sempre unanimemente um robustecimento da vida espiritual, uma efusão calada e fecunda do Espírito Santo, para que, fortalecida sobrenaturalmente, a alma possa lutar – miles Christi, como soldado de Cristo – nessa batalha interior contra o egoísmo e a concupiscência”
[ii].

Com frequência referia-se também à confissão das crianças, animando os pais a levar os seus filhos, sem adiamentos, a esse sacramento.

“Que alegria ir confessar-se! Eu confessei milhares e milhares de crianças. Não se perde o tempo: aproveita-se, aprende-se com aquelas almas nas quais o Espírito Santo está a actuar. Como as mães dais à pequenada o vosso sangue e, depois, o néctar do vosso peito; assim o Espírito Santo, metido na alma dessas criaturas, que talvez não se dêem conta de nada, actua, actua, actua. E o sacerdote colabora com Ele, com o Espírito Santo. Além disso, a graça do sacramento, que é também o Espírito Santo em acção”
[iii].

michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12

Nota: Revisão gráfica por ama.



[i] Catecismo da Igreja Católica, nn. 1265-1266.
[ii] S. Josemaria Escrivá, Cristo que passa, n. 78.
[iii] Notas de uma tertúlia em Santiago do Chile, 2-VII-1974; AGP, P11, p. 106.

A experiência da dor 2


A interacção mútua entre a dor e o amor

«Não esqueças que a Dor é a pedra de toque do Amor» [i]
Esta afirmação incisiva e profunda de São Josemaria Escrivá está relacionada com as diferentes reacções perante a dor.

Existe uma relação entre a maneira como cada pessoa vive a dor e a sua forma de amar, porque somente se aceita a dor quando se capta que o seu sentido é o amor. Só assim se pode chegar a exclamar: Bendita seja a dor. – Amada seja a dor. Santificada seja a dor... – Glorificada seja a dor!» [ii].

Nos escritos de S. Josemaria, o mistério da dor é uma constante pedra de toque; converte-se em ocasião para um encontro cara a cara com Deus, que se fez Homem para nos ensinar a viver como homens.

Ao escolher a Encarnação, Jesus Cristo quis experimentar todo o sofrimento humanamente possível para nos ensinar que o amor pode superar qualquer tipo de dor. Numa das passagens de Caminho, S. Josemaria expressa: Todo um programa para frequentar com aproveitamento a cadeira da dor, é-nos dado pelo Apóstolo: "spe gaudentes" – na esperança, alegres; "in tribulatione patientes" – pacientes, na tribulação; "orationi instantes" – na oração, perseverantes.» [iii].

A dor é um ponto de encontro entre a alegria da esperança e a necessidade da oração. Os cristãos aceitam a dor com a esperança de um gozo futuro. Estão plenamente conscientes dos seus limites e confiam na ajuda que se implora a Deus na oração.

Não se trata do convencimento da capacidade própria para enfrentar as dificuldades por si mesmo, nem de adoptar a posição pessimista de quem pensa que o sofrimento é a última e inevitável estação no caminho da vida, «Se sabes que essas dores — físicas ou morais — são purificação e merecimento, bendi-las» [iv].

p. binetti, 2012.09.07



[i] Caminho, 439.
[ii] Caminho, 208.
[iii] Caminho, 209.
[iv] Caminho, 219.