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09/11/2011

Filhos de Deus

Reflectindo


O pecado é um abandono da intimidade familiar que pressupõe uma  trágica desnaturação - filhos desnaturados! - porque a natureza do filho de Deus é a natureza salva e elevada pela graça, que nos torna "divinae consortes naturae" (2 Ped  1, 4).



(f. ocáriz, Vivir como hijos de Dios, nr. 27-28, trad ama)

A ignorância é um pecado?

A ignorância difere da nesciência em que significa a simples negação da ciência. Por isso, pode-se dizer daquele a quem falta a ciência de alguma coisa, que não a conhece. Desse modo Dionísio afirma haver nesciência nos anjos. A ignorância implica uma privação de ciência, a saber, quando a alguém falta a ciência daquelas coisas que naturalmente deveria saber. Entre essas coisas há as que se é obrigado a saber, isto é, aquelas sem o conhecimento das quais não se pode fazer correctamente o que é devido. Assim, todos são obrigados a saber, em geral, as verdades da fé e os preceitos universais da lei. E cada um em particular, o que diz respeito ao seu estado e sua função. Ao contrário, há coisas que não se é obrigado a saber, se bem que seja natural sabe-las, por exemplo, os teoremas da geometria, e excepto em certos casos, os acontecimentos contingentes.
Evidentemente todo aquele que negligencia ter ou fazer o que é obrigado ter ou fazer, peca por omissão. Portanto, por causa de uma negligência, a ignorância das coisas que se devia saber é um pecado. Mas não se pode imputar a alguém como negligência o não saber o que não se pode saber. Por isso, essa ignorância é chamada invencível, porque nenhum estudo a pode vencer. Como tal ignorância não é voluntária, porque não está em nosso poder rechaçá-la, por isso ela não é um pecado. Por aí se vê que a ignorância invencível nunca é um pecado. Mas a ignorância vencível é, se ela se refere ao que se deve saber. Mas, ela não o é, se se refere ao que não se é obrigado a saber.

Suma Teológica I-II, q.76, a.2

Novíssimos - Juízo Particular 5

Julgamento de Aníbal – entregador de pisas.  [i]


Tinham-lhe entregue duas caixas com pisas.
Colocou-as na caixa da motocicleta, conferiu a morada e o troco para vinte euros que o cliente pedira que levasse, colocou o capacete e arrancou.

Aníbal não tinha "carta de condução" de moto e, por enquanto, ninguém na pizaria dera por isso.
Em quase um mês de trabalho todos estavam satisfeitos com o seu serviço. Os colegas chamavam-lhe o "mudo" porque raramente falava.
De facto ninguém sabia quem era, onde morava, se tinha família.
Família... não tinha, nem sequer um primo. Quando o pai o expulsara de casa depois de o ter atirado ao chão para evitar que continuasse a bater na mãe, nem sequer olhara para trás sentindo-se de alguma forma aliviado por se afastar de uma vida de infernal de maus tratos e toda a sorte de violências que as frequentes bebedeiras do pai massacravam a família.

À boleia chegara à grande cidade, sem um vintém, com a roupa que tinha no corpo e um rancor que lhe avassalava o coração.
Fizera de tudo, sempre trabalhos de escassa importancia a troco de dinheiro que mal chegava para comer sem conseguir amealhar o suficiente para alugar um quarto. Dormia onde calhava, num banco de jardim quando não fazia muito frio ou nos abrigos para pessoas como ele que a assistência pública tinha espalhados pela cidade.

Este emprego na pizaria surgira como uma dádiva dos céus e numa bolsa pendurada por dentro das calças guardava algum - pouco - dinheiro que conseguira juntar. Talvez que, a continuar assim, pudesse arranjar morada e comprar alguma roupa. A que usava estava a desfazer-se.

A motocicleta seguia velozmente ziguezagueando pelo trânsito.
Chegado ao início do beco onde se situava a morada estranhou o ambiente. As casas tinham aspecto desabitado e em degradação visível.
Lentamente continuou à procura do número da porta que anotara.

Era a última casa do beco e o seu aspecto não era diferente das outras. Parou e antes que desligasse a motocicleta saltaram da porta três indivíduos que logo o rodearam. Um deles, exibindo uma nota de vinte euros, perguntou:

"Trouxeste o troco?"

Acenou que sim com a cabeça ainda coberta com o capacete e... sem qualquer aviso o sujeito espetou-lhe uma faca no peito.

Face ao Juiz a alma de Aníbal permanecia calada como estivera nos últimos tempos da sua vida.

O Ser brilhante e diáfano tinha acabado de relatar a sua vida.

O Juiz argumentou:

"Uma triste vida, ou uma vida triste. Não consta que tenha entrado uma única vez numa Igreja, rezado uma oração ou, sequer, feito bem a alguém. Mesmo considerando o ambiente em que decorreu a sua vida, desde a infância, o Aníbal...

Uma voz de uma serenidade extraordinária interrompeu:

"O Anjo do Aníbal não mencionou algo muito importante: quando o Aníbal caiu da motocicleta, já moribundo da facada no peito, conseguiu com a mão direita segurar um Rosário que um seu colega tinha o costume de enrolar à volta do guiador da motocicleta.
O Aníbal expirou com o Terço do meu Rosário nas mãos."

O Juiz disse então:

"Como em Caná da Galileia fiz o que me pediu, faça-se agora como a Minha Mãe desejar".


[i] Levanta-se a questão da vida para além da morte. É uma das grandes interrogações que alguma vez durante a sua vida o homem se coloca.
É natural porque o ser humano é dotado de espírito, alma, que tem preocupações mais para além do imediatamente sensível.
Para os cristãos a segurança da Fé fá-los compreender que está destinado à eternidade, ou seja, embora o corpo pereça e acabe a vida terrena, a sua alma não morrerá jamais e, naturalmente, tende a voltar para o seu Criador, Deus.
Sim... a lógica propõe o que a fé garante, porque não se concebe o Criador abandonar a criatura a um desaparecimento puro e simples.
O restante do problema é o que se refere ao "destino" da alma e que é "marcado" na conclusão do juízo a que é sujeita pelo próprio Criador, logo que, após a separação do corpo, se apresenta perante Si.
No imaginário livro da vida, ao contrário do que que é mais comum, não existem colunas de "deve" e "haver" onde é feita uma espécie de contabilidade, não! O que existe é uma lista completa dos bens recebidos em vida, os dons, graças, auxílios, inspirações e meios com que o Senhor foi dotando cada um de forma especial e única.
Cada ser humano recebe um "pacote" específico, para si em exclusivo.
Deus Nosso Senhor não dispensa os Seus benefícios adrede ou de uma forma sistemática ou mecânica. Cada ser humano é objecto de atenção exclusiva e única por parte do Criador que lhe concede os Seus dons e benefícios conforme a Sua Soberana Vontade determina.
Esta misteriosa magnitude de Deus tem uma razão de ser.
O homem não é capaz por si mesmo de evoluir, de melhorar sem que um estímulo o leve a tal.
Este estímulo surge exactamente no estreitamento das suas relações com Deus.
Quanto mais se relaciona mais recebe e, quanto mais se recebe mais se deseja intimar com Deus.
Por isso no Evangelho consta «àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado» Lc 8, 16-18.

Para chegar a Deus, o caminho seguro, é Maria Sua e nossa Mãe! 

Sancta Maria iter para tutum! (Santa Maria, prepara-me um caminho seguro)

Pensamentos inspirados à procura de Deus


À procura de Deus


Não guardes no teu coração
o rancor, o azedume.

São venenos,
que te afastam da conversão.







jma

Para nós, a morte é Vida

Textos de São Josemaria Escrivá


Continua para a frente, com alegria, com esforço, mesmo sendo tão pouca coisa, nada! Com Ele, ninguém te parará no mundo. Pensa, além disso, que tudo é bom para os que amam a Deus: nesta terra, tudo tem solução menos a morte; e, para nós, a morte é Vida. (Forja, 1001)

Se és apóstolo, a morte será para ti uma boa amiga que te facilita o caminho. (Caminho, 735)

Aos "outros", a morte paralisa-os e espanta-os. – A nós, a morte – a Vida – dá-nos ânimo e impulso.
Para eles, é o fim; para nós, o princípio. (Caminho, 738)

Não tenhas medo da morte. – Aceita-a, desde agora, generosamente..., quando Deus quiser..., como Deus quiser..., onde Deus quiser. – Não duvides; virá no tempo, no lugar e do modo que mais convier..., enviada pelo teu Pai-Deus. – Bem-vinda seja a nossa irmã, a morte! (Caminho, 739)

Se não houvesse outra vida além desta, a vida seria uma brincadeira cruel: hipocrisia, maldade, egoísmo, traição. (Forja, 1000)

© Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

Evangelho do dia e comentário













T. Comum– XXXII Semana



Evangelho: Jo 2, 13-22

13 Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. 14 Encontrou no templo vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas sentados às suas mesas. 15 Tendo feito um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo, e com eles as ovelhas e os bois, deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou as suas mesas. 16 Aos que vendiam pombas disse: «Tirai isto daqui, não façais da casa de Meu Pai casa de comércio». 17 Então lembraram-se os Seus discípulos do que está escrito: “O zelo da Tua casa Me consome”. 18 Tomaram então a palavra os judeus e disseram-Lhe: Que sinal nos mostras para assim procederes?». 19 Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e o reedificarei em três dias». 20 Replicaram os judeus: «Este templo foi edificado em quarenta e seis anos, e Tu o reedificarás em três dias?». 21 Ora Ele falava do templo do Seu corpo. 22 Quando, pois, ressuscitou dos mortos os Seus discípulos lembraram-se do que Ele dissera e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus tinha dito.

Comentário:

O «templo do Seu corpo» é a frase do Evangelho de hoje que vamos reter.
São Paulo também nos adverte que, o nosso corpo, é templo do Espírito Santo e, como tal, deve ser protegido, honrado e venerado.

Sim, a veneração do próprio corpo não tem que ver com o amor-próprio ou a estima exagerada pela nossa humanidade. Trata-se de ter consciência que dentro de nós, na nossa alma em graça, habita o próprio Deus que nos criou e nos infundiu uma imagem igual à Sua. E, mais, que é semelhante ao Corpo do próprio Jesus Cristo que, como nós, o recebeu de uma mulher.

Sim, proteger o corpo das agressões exageradas e sem sentido – motivadas pela vaidade – que levam não poucas pessoas a tentarem refazer ou de alguma forma alterar o corpo que a natureza nos deu.

Sim, honrar o corpo mantendo-o afastado de tudo aquilo que possa constituir uma violação clara da integridade completa, não o sujeitando a vícios e desregramentos da sensualidade, da gula, do uso de drogas e outras substâncias que alterem ou, até, façam perigar a sua integridade.

O corpo que temos, com o qual nos identificamos e pelo qual somos identificados é exactamente o mesmo que ressuscitará no final dos tempos unindo-se à alma na eternidade.

(ama, comentário sobre Jo 2, 13-22, 2011.11.27)

Ser cristão e cientista em perfeita unidade







Quando se discute o equilíbrio entre Fé e Ciência são poucos os testemunhos de vida que o assumem tão inteiramente como Ricardo Mendes Ribeiro. Físico e actualmente director da Licenciatura em Física da Universidade de Minho, Ricardo Ribeiro é investigador em nanotecnologia, com especial relevância para o estudo do grafeno. Lecciona cadeiras de Física Contemporânea e, para melhor servir este propósito, publicou no ano passado um livro que vem colmatar um vazio na bibliografia dessa área.

Este é o perfil pelo qual muitos o conhecem. Ricardo Ribeiro é também director do Centro Universitário do Minho, um local onde se promove uma formação integral para estudantes universitários, incluindo a vertente espiritual seguindo os ensinamentos de S. Josemaria.

Neste sentido, a Ciência e a Fé são complementares, juntamente com outras formas de conhecimento que existem e não são nem ciência nem Fé.

Serão Fé e Ciência duas ruas compridas sem acessos, sem passeios comuns? Pode ser a Física uma ponte?

Não existe qualquer contraposição entre a Ciência e a Fé (refiro-me à Fé Católica). A realidade é extraordinariamente rica e para a captarmos (nunca o faremos completamente) temos de a ver de diversas perspectivas, nas suas diversas dimensões. Neste sentido, a Ciência e a Fé são complementares, juntamente com outras formas de conhecimento que existem e não são nem ciência nem Fé. Por outro lado, ambas as formas de conhecimento são profundamente racionais e buscam a Verdade. Por isso não podem contradizer-se mutuamente. Além disso, têm objectos e métodos de estudo diferentes, o que torna impossível haver uma contradição entre os dois.

Pode o grafeno falar de Deus? De que forma se pode ver Deus na investigação de materiais bi-dimensionais, no Centro de Física?

A Física leva a Deus de uma forma muito especial, porque estudamos a Criação que Ele fez, onde depositou um carinho enorme, que encheu de belezas extraordinárias a todos os níveis... É de facto um modo de conhecer a Deus; Ele manifesta-se na Criação, da mesma maneira que o pensamento e a habilidade do escultor se manifestam na obra de arte. Um Físico conhece essas leis que são um lampejo da Inteligência divina, vê belezas que os outros não conseguem captar, e maravilha-se! Ele fez estas coisas para nós explorarmos, deliciar-nos, maravilhar-nos. É uma beleza puramente intelectual, racional.
Que influência teve Josemaria Escrivá – Fundador do Opus Dei - na vida do físico e como continua hoje a influir no quotidiano do Director do Departamento de Física?

Há muitos aspectos em que os ensinamentos de S. Josemaria me influenciam. Talvez salientasse um: o amor à Liberdade. Amor que implica um respeito profundo pelos pensamentos e modos de ser dos outros. Uma verdadeira tolerância com as pessoas, acompanhada por um amor à verdade que não me permite dizer que está certo aquilo que está errado. Nisto há um grande paralelismo com o modo de funcionar dos Físicos. Buscamos a verdade, e fazemo-la passar pelo crivo da crítica construtiva, até ao extremo. Admitimos sempre alguém que pense de maneira diferente, mas tem de o fazer de uma forma congruente, sempre na busca do que é a verdade e não do ter ou não ter razão. Podia dar tantos exemplos!

Que proposta apresenta o Opus Dei para contrariar a evanescência espiritual das comunidades académicas - os pequenos centros de investigação, os grandes laboratórios? Pode um investigador ser santo?

Eu não falo em nome do Opus Dei, não tenho autoridade para isso. Mas o Opus Dei não apresenta mais soluções para os problemas da humanidade que a própria Igreja. Para responder a essa pergunta, é melhor ver o que o Papa disse na Alemanha há uns dias atrás:

    "Queridos amigos, o apóstolo São Paulo, em muitas das suas cartas, não tem receio de designar por «santos» os seus contemporâneos, os membros das comunidade locais. Aqui torna-se evidente que cada baptizado – ainda antes de poder realizar boas obras ou particulares acções – é santificado por Deus. No Baptismo, o Senhor acende, por assim dizer, uma luz na nossa vida, uma luz que o Catecismo chama a graça santificante. Quem conservar essa luz, quem viver na graça, é efectivamente santo. Queridos amigos, a imagem dos santos foi repetidamente objecto de caricatura e apresentada de modo distorcido, como se o ser santo significasse estar fora da realidade, ser ingénuo e viver sem alegria. Não é raro pensar-se que um santo seja apenas aquele que realiza acções ascéticas e morais de nível altíssimo, pelo que se pode certamente venerar mas nunca imitar na própria vida. Como é errada e desalentadora esta visão! Não há nenhum santo, à excepção da bem-aventurada Virgem Maria, que não tenha conhecido também o pecado e que não tenha caído alguma vez. Queridos amigos, Cristo não se interessa tanto de quantas vezes vacilastes e caístes na vida, como sobretudo de quantas vezes vos erguestes. Não exige acções extraordinárias, mas quer que a sua luz brilhe em vós. Não vos chama porque sois bons e perfeitos, mas porque Ele é bom e quer tornar-vos seus amigos. Sim, vós sois a luz do mundo, porque Jesus é a vossa luz. Sois cristãos, não porque realizais coisas singulares e extraordinárias, mas porque Ele, Cristo, é a vossa vida. Sois santos porque a Sua graça actua em vós." Isto aplica-se a qualquer cristão, e aos cientistas também.

Voltando às duas ruas - Fé e Ciência - tenham elas os nomes Opus Dei e Física do Estado Sólido, como determina cada uma o sentido da vida do Ricardo?

Eu não tenho uma vida esquizofrénica. Eu sou uma só pessoa que é cristã e cientista (e muitas coisas mais), em unidade de vida. Não deixo de ser Físico quando rezo nem deixo de ser cristão quando estou a investigar. Não há duas ruas. Há o meu caminho, a minha vocação, querida e amada por Deus, que inclui ser cristão e ser cientista, em perfeita unidade. Procuro que o meu trabalho seja oração, diálogo íntimo com Deus, imagem do que será no Céu, onde continuarei a ser Físico (e a maravilhar-me com as belezas da criação, nessa altura muito melhor compreendidas) e cristão (ou seja, apaixonado por Cristo).




Entrevista a Ricardo Ribeiro, físico e director da licenciatura em física da Universidade do Minho.






















M. Martinez, INFORMAÇÕES MUITO BREVES   [De vez em quando] 2011.11.08