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08/06/2010

Textos de Reflexão para 08 de Junho

Evangelho: Mt 5, 13-16

13 «Vós sois o sal da terra. Porém, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e ser calcado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas no candelabro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa. 16 Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.
Meditação:

Como posso, Senhor, ser sal da terra se tão mal consigo ‘temperar’ a minha própria vida? Olho para mim, nas minhas misérias e pouca coisa, e pasmo com a Tua confiança ao entregar-me almas para guiar! Não quero Senhor, ser guia cego que conduza outros ao precipício. Quero cumprir cabalmente a minha missão, seja ela qual for e quando for. Como é a Tua Vontade, quero, desejo ardentemente cumprir esse papel de guia. Ajuda-me, Senhor, que, eu, por mim, como muito bem sabes, nada posso. Que eu nunca me envaideça com os poucos ou muitos “êxitos” que a minha actuação possa alcançar, bem pelo contrário, que me convença – sempre – que é uma demonstração de que Tu te serves dos instrumentos mais débeis e estranhos. É a Tua Vontade. Serviam!

(ama, meditação sobre Mt 5, 13-16, Porto, 2008)

Tema: Ser sal da terra

Devemos ter uma iniciativa especial para promover esses pontos vitais de uma sociedade verdadeiramente humana: a família, o ensino, o respeito pela vida, a preocupação com obras com os mais débeis e necessitados... (…) Os católicos prestam um grande serviço à sociedade quando promovem, com uma iniciativa multiforme, uma cultura de raiz cristã que informe desde as leis até ao último costume popular.

(D. álvaro del portillo, carta, 1990) (citação ama)

FREI ANTÓNIO DAS CHAGAS

Frei António das Chagas ao encontro da alma russa

Poemas traduzidos em russo e editados na revista literária e artística

Acabam de ser editados em São Petersburgo, no volume XXI da revista literária e artística “Sfinx” (Esfinge), 13 poemas de Frei António das Chagas, poeta português do século XVII, traduzidos em Russo.
As traduções foram realizadas por Andrei Rodosski, poeta, filólogo e tradutor, professor da Faculdade de História e da Faculdade de Filologia da Universidade Estatal de São Petersburgo. Foi académico correspondente estrangeiro da extinta Academia Internacional da Cultura Portuguesa. Andrei Rodosski é especialista em poesia portuguesa do século XIX, tendo traduzido figuras tão essenciais da nossa cultura como Almeida Garrett e João de Deus. O seu interesse não se limita no entanto a essa época. Traduziu poesia de trovadores medievais galaico-portugueses, e autores do século XX e contemporâneos como Mário de Sá-Carneiro, Egito Gonçalves, Alexandre O´Neill, Fernando Guimarães, Pedro Tamen, Manuel Alegre, Vasco Graça Moura e Joaquim Pessoa, entre outros.
Frei António das Chagas, cujo nome secular era António da Fonseca Soares, foi uma figura extremamente contraditória, a um tempo militar, poeta e eclesiástico. Nascido na Vidigueira, no Alentejo, em 1631, no seio de uma família fidalga, não concluiu os estudos devido à morte do pai e ingressou no exército aos 18 anos, tendo combatido na Guerra da Restauração. Sabe-se que foi neste período que despertou para a poesia. Existe informação que permite descrever o soldado-poeta como homem dado a excessos de vária ordem, levando uma vida desregrada, sendo que, aos 22 anos, foi obrigado a fugir para o  Brasil para escapar à justiça, em virtude de, num duelo, ter causado a morte de um rival. Regressou a Portugal três anos depois e retomou a carreira das armas, tendo sido promovido a capitão em Setúbal, sinal de reconhecimento do seu valor. Contudo, aos 31 anos, abandonou a vida militar e tornou-se monge da Ordem de São Francisco em Évora, e dedicou o resto da sua vida à pregação da Fé e à penitência pelas faltas cometidas enquanto homem mundano. Foi um pregador ardente, apaixonado e empenhado, tendo viajado em pregação por todo o país e também à corte. Em 1680 passou a viver no Convento do Varatojo (Torres Vedras) que, por sua iniciativa, passou a Seminário Apostólico das Missões da Ordem dos Franciscanos. Em 1682, Frei António das Chagas fundou o Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes, em Setúbal, vindo a falecer nesse mesmo ano, no Varatojo.
Frei António das Chagas escreveu nos mais diversos estilos: romances, sonetos, glosas, madrigais, décimas e poemas heróicos, e também, na segunda fase da sua vida, sermões, elegias, cartas e cânticos espirituais, entre outros. Existe indicação de que, nesta segunda fase, desejava destruir os sonetos, romances e outra poesia da sua juventude. Podendo ser entendida como paradigma da sua época - século XVII, época do Barroco, período de ambiguidade entre fé e razão – a vida de Frei António das Chagas reflecte-se nas várias formas de que se reveste e nos temas de que é composta a sua obra. Os poemas escolhidos por Andrei Rodosski permitem aos leitores russos apreciar esta variedade formal e temática. Encontramos assim nesta selecção, por exemplo, a temática do desencanto com as coisas do mundo (soneto “À vaidade do mundo”), a dúvida e a devoção e exaltação religiosas (sonetos “Se sois riqueza, como estais despido?...”, “A Santa Maria Madalena”), a exortação à bondade (soneto “Et petrae scissae sunt”), assuntos de circunstância tratados de forma estilisticamente requintada (soneto “Ao cavalo do Conde do Sabugal, que fazia grandes curvetas”, em que os movimentos do cavalo são descritos recorrendo a referências musicais e sonoras, exemplo precursor da sinestesia interseccionista de Pessoa e Sá-Carneiro), a incessante procura (“Ao loureiro de João de Saldanha de Sousa, que está com as raízes fora da terra, sobre uma fonte”), a exaltação sensual da beleza feminina (“Romance de uma freira indo às Caldas”) e o conflito entre o espírito e os prazeres sensuais a que o poeta renunciara (romance “Ah, Francisca, vida minha!...”).
Famoso como poeta e também como pregador, Frei António das Chagas fascinou os homens do seu tempo e é capaz de fascinar hoje também – basta (re)descobri-lo. (A. L. Simões Gamboa, em São Petersburgo) (fonte: ECCLESIA)

 "Deus pede estrita conta de meu tempo.
 E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
 Mas, como dar, sem tempo, tanta conta.
 Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
 Para dar minha conta feita a tempo,
 O tempo me foi dado, e não fiz conta.
 Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
 Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.
 Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
 Não gasteis vosso tempo em passatempo.
 Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!
 Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
 Quando o tempo chegar, de prestar conta
 Chorarão, como eu, o não ter tempo..."
 
 "Frei António das Chagas" (Pelo século XVII (?!?)