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31/07/2010

Textos de Reflexão para 31 de Julho

Evangelho: Mt 14, 1-12

1 Naquele tempo, o tetrarca Herodes ouviu falar da fama de Jesus, 2 e disse aos seus cortesãos: «Este é João Baptista, que ressuscitou dos mortos, e por isso se operam por meio dele tantos milagres». 3 Porque Herodes tinha mandado prender João, e tinha-o algemado e metido no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe. 4 Porque João dizia-lhe: «Não te é lícito tê-la por mulher». 5 E, querendo matá-lo, teve medo do povo, porque este o considerava como um profeta. 6 Mas, no dia natalício de Herodes, a filha de Herodíades bailou no meio dos convivas e agradou a Herodes.7 Por isso ele prometeu-lhe com juramento dar-lhe tudo o que lhe pedisse.8 E ela, instigada por sua mãe, disse: «Dá-me aqui num prato a cabeça de João Baptista». 9 O rei entristeceu-se, mas, por causa do juramento e dos comensais, ordenou que lhe fosse entregue. 10 E mandou degolar João no cárcere. 11 A sua cabeça foi trazida num prato e dada à jovem, e ela levou-a à mãe. 12 Chegando os seus discípulos levaram o corpo e sepultaram-no; depois foram dar a notícia a Jesus.
Comentário:

Realmente de um homem perverso e mau pode esperar-se tudo. Os princípios, os sentimentos – quando os há – as regras mais elementares da decência e do decoro tudo pode ser relegado, num instante, para um plano inferior. Quem se rege apenas pelos seus instintos animalescos acaba por se tornar semelhante aos animais irracionais, não conseguindo distinguir o mal do bem, o que é justo e o que não o é. Não conhece barreiras nem se preocupa com critérios, os seus sentimentos são meras reacções físicas externas e não têm que ver com alguma preocupação interior.
São homens sem coração, capazes das maiores barbaridades, que, normalmente, tratam os outros com sumo desprezo, nada nem ninguém lhes importando a não ser a sua própria pessoa.
Atentemos bem em Herodes: nada o detém para lograr os seus objectivos, não exclui qualquer procedimento para atingir os seus fins.
Conhecemos alguém assim?
Rezamos por eles? 


(ama, comentário a Mt 14, 1-12, 2010.07.01

Tempo para recomeçar

Um tempo de descanso que permite recomeços sempre novos e reúne forças para outro ano de trabalho capaz de gerar, com criatividade, a construção do bem e da beleza

A história terá muito de realismo e alguma ficção. Conta, muito simplesmente, a "rotina" de um professor universitário. Ao longo de cada ano lectivo preparava aulas, reunia livros para as suas estantes já repletas, escrevia conferências e discursos. Na entrada de cada Verão eram bem visíveis as provas de um ano intenso de trabalho, ensino e investigação.

Antes das semanas de descanso, e contrariamente a qualquer estratégia mais ou menos previsível, não se preocupava em catalogar dossiers, agrupar temáticas estudadas ou ordenar arquivos. Porque a maioria dos papéis tinha por destino… a reciclagem! No ano seguinte era dever do "amigo do saber" iniciar novas procuras, reler fontes e reescrever planos de aulas ou palestras.

Moralismos à parte, serve a história para valorizar o tempo de férias como oportunidade para recomeçar, aperfeiçoar, recriar. Possível a partir de um tempo de paragem, de lazer, de estar com outros e com o Outro, sem temer a passagem das horas.

Um ciclo claramente experimentado por muitos "habitantes" da mobilidade humana, emigrantes ou imigrantes, que durante as férias têm a possibilidade de regressar à intimidade dos familiares, amigos e de todas as "coisas" da terra, pertença também da história de cada pessoa.

Entre nós, portugueses, essa experiência passa por estes dias. A chegada de quem está espalhado por muitas comunidades é uma oportunidade de encontro e lazer que se estende por todo o país.

Um tempo de descanso que permite recomeços sempre novos e reúne forças para outro ano de trabalho capaz de gerar, com criatividade, a construção do bem e da beleza. E quantas histórias de famílias migrantes não o demonstram!

Assim, as férias serão dias de desapego do acessório, de libertação do velho que permite a descoberta mais firme do essencial, da identidade. Para que o recomeço desponte como possibilidade de oferta pessoal na construção da felicidade comum.

Paulo Rocha (In ECCLESIA, 2010.07.20)

30/07/2010

Posição da Igreja para as eleições no Brasil

A Igreja, comprometida com o bem comum e a defesa irrestrita da dignidade e dos direitos humanos, apóia as iniciativas que contribuam para garanti-los a todos e denuncia distorções inaceitáveis presentes em vários programas, que como veremos ferem os princípios que norteiam a doutrina social cristã. O que está em jogo é uma visão da pessoa humana e da sociedade, solidária com a dignidade de todos, a favor da vida e aberta ao transcendente.

Para iluminar este processo eleitoral, a comunidade eclesial – que pela sua universalidade não pode se identificar com interesses particulares, partidários ou de determinado candidato/a – busca oferecer critérios de escolha e discernimento para as pessoas de boa vontade e cidadãos responsáveis. Também deseja que sejam votados candidatos coerentes com a defesa dos princípios éticos e cristãos.

Em consonância com estes mesmos princípios apresentamos as seguintes orientações e critérios:

Antes de tudo, é necessário “valorizar o voto” que decide a vida pública do nosso País e dos nossos Estados nos próximos anos. O meu voto é precioso! Não se compra! Nele se manifesta a minha liberdade e a minha decisão. Recentemente obtivemos a vitória do projeto de lei denominado “Ficha Limpa” que por decisão do TSE se aplicará nestas eleições. Cabe agora vigiar e cuidar para eliminar do pleito aqueles candidatos corruptos que contaminam o cenário político e destroem a democracia.

1.    O primeiro critério para votar em um candidato é a defesa da dignidade da Pessoa Humana e da Vida em todas as suas manifestações, desde a sua concepção até o seu fim natural com a morte. Rejeitamos veementemente toda forma de violência, bem como qualquer tipo de aborto, de exploração e mercado de menores, de eutanásia e qualquer forma de manipulação genética.

2.    O segundo critério é a defesa da Família na qual a pessoa cresce e se realiza. Por isso devem ser votados aqueles candidatos que incentivam, com propostas concretas, o desenvolvimento da família segundo o plano de Deus. Opõem-se ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à adoção de crianças por casais homoafetivos, à legalização da prostituição, das drogas e ao tráfico de mulheres.

3.    O terceiro critério é a liberdade de Educação pela qual os pais têm o direito de educar os filhos segundo a visão de vida que eles julguem mais adequada. Isso comporta uma luta pela qualidade da escola pública e pela defesa da escola particular, defendendo o ensino religioso confessional e plural, de acordo com o princípio constitucional da liberdade religiosa, reconhecido também no recente Acordo entre o Brasil e a Santa Sé.

4.    O quarto critério é o princípio da solidariedade, segundo o qual o Estado e as famílias devem ter uma particular atenção preferencial pelos pobres, àqueles que são excluídos e marginalizados. Deve-se garantir uma cidadania plena para todos/as, assegurando o pleno exercício dos direitos sociais: trabalho, moradia, saúde, educação e segurança.

5.    O quinto critério é o princípio de subsidiariedade, ou seja, haja autonomia e ação direta participativa dos grupos, associações e famílias fazendo o que podem realizar, sem interferências ou intromissões do Estado. Este deve apoiar e subsidiar, nunca abafar ou sufocar as liberdades e a criatividade das pessoas. Assim elas poderão exercer uma cidadania ativa e gestora.

6.    Enfim, diante de uma situação de violência generalizada, os candidatos devem, de forma concreta e decidida, comprometer-se na construção de uma Cultura da Paz em todos os níveis, particularmente na educação e na defesa da infância e da adolescência. 
Do ponto de vista prático nas paróquias e em nossas associações e movimentos, se dê grande importância a este momento eleitoral e se realizem debates sempre com vários candidatos de vários partidos, em vista da realização do bem comum. Durante os eventos promovidos pela diocese ou pelas paróquias nunca devem aparecer faixas, cartazes ou outro tipo de sinais que identifiquem e apóiem os candidatos.

O trabalho político, ao qual todos somos chamados, cada um segundo a sua maneira de ser, é uma forma de mostrar a incidência do Evangelho na vida concreta, visando à construção de uma sociedade justa, fraterna e equitativa. Em conseqüência haverá uma esperança real para tantas pessoas céticas, desnorteadas e confusas com a política atual. É uma grande oportunidade que os católicos e todas as pessoas de boa vontade não podem perder.

OS BISPOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
Regional LESTE 1 da CNBB

Textos de Reflexão para 30 de Julho

Evangelho: Mt 13, 54-58

.54 E, indo para a Sua terra, ensinava nas sinagogas, de modo que se admiravam e diziam: «Donde Lhe vem esta sabedoria e estes milagres? 55 Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama Sua mãe Maria, e Seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56 Suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde, pois, Lhe vêm todas estas coisas?». 57 E estavam perplexos a Seu respeito. Mas Jesus disse-lhes: «Não há profeta sem prestígio a não ser na sua terra e na sua casa». 58 E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.
Meditação:

Os outros, sempre os outros! Quero ser visto e aplaudido, admirado e invejado!
Porquê?
São, assim, as minhas obras tão extraordinárias?
         Dá-me, Senhor, a simplicidade e a modéstia que necessito para que faça o que devo com os olhos postos em Ti, que és Quem me deve interessar, que me veja. 


(ama, meditação sobre Mt 13, 54-58, 2010.05. 01)

29/07/2010

Textos de Reflexão 29 de Julho

Evangelho: Jo 11, 19-27

19 Muitos judeus tinham ido ter com Marta e Maria, para as consolarem pela morte de seu irmão. 20 Marta, pois, logo que ouviu que vinha Jesus, saiu-Lhe ao encontro; e Maria ficou sentada em casa.21 Marta disse então a Jesus: «Senhor, se estivesses cá, meu irmão não teria morrido. 22 Mas também sei agora que tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». 23 Jesus disse-lhe: «Teu irmão há de ressuscitar». 24 Marta disse-Lhe: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia».25 Jesus disse-lhe: «Eu sou a ressurreição e a vida; aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; 26 e todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá eternamente. Crês isto?». 27 Ela respondeu: «Sim, Senhor, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vieste a este mundo».

Comentário:

A ressurreição é um dos principais temas que mais nos ocupa o pensamento. Inúmeras perguntas e questões ficam sem uma resposta completa, decisiva, o que não admira porque se trata de um mistério, que a nossa inteligência não consegue decifrar plenamente. Só pela Fé chegamos a compreender que, sendo a nossa alma um espírito criado directamente por Deus, a sua habitação no nosso corpo é apenas temporária, isto é, enquanto tivermos vida.
Poder-se-ia dizer que a alma é a vida e, se assim é, esta não pode perecer, antes continua de forma misteriosa mas real, na eternidade. O homem, de facto, não é eterno, mas sim imortal. Perece na sua substância mortal mas vive no seu ser espiritual.
As afirmações de Jesus – como esta que claramente faz a Marta – são uma garantia de que assim é.
Quando, no final dos tempos, o nosso corpo voltar a reunir-se à nossa alma, terá, então, outras características e qualidades que agora não possui, acompanhando a alma na eternidade, no lugar e condições que o julgamento divino determinar logo após a morte terrena. (ama, comentário sobre Jo 11, 19-27, 2010.06.30)

Cruz 1

A Cruz não faz vítimas… faz santos! Não provoca caras tristes, mas rostos alegres.

(Salvatore Canals, Ascética Meditada, Éfeso, nr. 50)

28/07/2010

Textos de Reflexão para 28 de Julho

Evangelho: Mt 13, 44-46

44 «O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que, quando um homem o acha, esconde-o e, cheio de alegria pelo achado, vai e vende tudo o que tem e compra aquele campo. 45 O Reino dos Céus é também semelhante a um negociante que busca pérolas preciosas 46 e, tendo encontrado uma de grande preço, vai, vende tudo o que tem e a compra.

Meditação:

Há muito que encontrei o meu tesouro, a minha pérola!
Que tenho feito com eles?
Como tenho malbaratado essas riquezas!
Enterrando, tantas vezes, o tesouro!
Esperando “melhores dias”, ocasião “mais oportuna”.
Quanto desperdício!
Tanto bem desaproveitado!
Nunc coepi! Sim, agora, agora começo outra vez a fazer render essas dádivas que graciosamente recebi, sem ter trabalho, sem esforço da minha parte. Tudo me foi dado – a pérola, o tesouro – com imensa magnanimidade e graciosamente.
Nunc coepi! Quero começar agora mas, como sou fraco, e débil, e pusilânime, nada conseguirei sem a Tua ajuda.
Ajuda-me, Senhor, a ser reconhecido e a fazer render, como esperas e é Teu direito, quanto me deste. (AMA, meditação sobre Mt 13, 44-46, Julho 2008)

Alegria Cristã 1

A alegria da existência e da vida; a alegria do amor honesto e santificado; a alegria tranquilizadora da natureza e do silêncio; a alegria por vezes austera do trabalho esmerado; a alegria e satisfação do dever cumprido; a alegria transparente da pureza, do serviço, do saber compartilhar; a alegria exigente do sacrifício. O cristão poderá purificá-las, completá-las, sublimá-las: não pode desprezá-las. A alegria cristã supõe um homem capaz de alegrias naturais.

(paulo VI, Exortação Apostólica Gaudete in Domino, Roma, 1975.05.09)  

27/07/2010

A CRUZ TRIUNFO DO AMOR SOBRE O MAL 2

2 - O mundo necessita da cruz: esta não é simplesmente um símbolo privado de devoção, não é um distintivo que indica pertencer a um grupo qualquer na sociedade, e seu significado mais profundo nada tem a ver com alguma imposição forçada de um credo ou de uma filosofia. 
Ela fala de esperança, fala de amor, fala da vitória da não-violência sobre a opressão, fala de Deus que eleva os humildes, dá força aos fracos, faz superar as divisões e vencer o ódio com o amor. Um mundo sem cruz seria um mundo sem esperança, um mundo em que a tortura e a brutalidade continuariam desenfreadas, o fraco seria explorado e a ganância teria a última palavra.

(bento XVI, Missa em Nicósia, 2010.06.05) Fonte: zenit.org

Cruz 2

2 - O mundo necessita da cruz: esta não é simplesmente um símbolo privado de devoção, não é um distintivo que indica pertencer a um grupo qualquer na sociedade, e seu significado mais profundo nada tem a ver com alguma imposição forçada de um credo ou de uma filosofia. 
Ela fala de esperança, fala de amor, fala da vitória da não-violência sobre a opressão, fala de Deus que eleva os humildes, dá força aos fracos, faz superar as divisões e vencer o ódio com o amor. Um mundo sem cruz seria um mundo sem esperança, um mundo em que a tortura e a brutalidade continuariam desenfreadas, o fraco seria explorado e a ganância teria a última palavra.

(bento XVI, Missa em Nicósia, 2010.06.05) Fonte: zenit.org

GRATIDÃO 3

Sinal certo de grandeza espiritual, é saber deixar que se lhe digam coisas: recebê-las com alegria e agradecimento.

(S. Canals, Ascética Meditada, pg. 20)

Textos de Reflexão para 27 de Julho

Evangelho: Mt 13, 36-43

36 Então, despedido o povo, foi para casa, e chegaram-se a Ele os Seus discípulos, dizendo: «Explica-nos a parábola do joio no campo». 37 Ele respondeu: «O que semeia a boa semente é o Filho do Homem.38 O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do Maligno.39 O inimigo que o semeou é o demónio. O tempo da ceifa é o fim do mundo. Os ceifeiros são os anjos.40 De maneira que, assim como é colhido o joio e queimado no fogo, assim acontecerá no fim do mundo.41 O Filho do Homem enviará os Seus anjos e tirarão do Seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade, 42 e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes.43 Então resplandecerão os justos como o sol no reino de seu Pai. O que tem, ouvidos para ouvir, oiça.

Comentário:

A actualidade das palavras de Jesus
Olho para um escaparate onde estão expostas revistas aos olhos dos passantes. Publicações para crianças, jogos de palavras cruzadas e outros, revistas de figuras da “sociedade”, do mundo do espectáculo, jornais desportivos, revistas “só para homens” – pergunta-se: que homens? -, enfim, uma amálgama de páginas e páginas ali expostas como se tivessem sido despejadas de um saco ou atiradas com uma pá sem qualquer preocupação ou critério.
Olho, e vejo essa sementeira estranha, de sementes absolutamente estéreis que não vão produzir nada e algumas mais que, apesar da sua inutilidade, serão inócuas, e outras que são o autêntico joio de que nos fala o Evangelho, ali metidas, no meio das outras, as sugestivas porcarias das capas sugerindo a uma espreitadela rápida à imundície do interior. (ama, comentário sobre Mt 13, 36-43, 2010.06.29)

VIRTUDES 7

Tentar ser mais do que homem é conseguir as virtudes humanas e sobrenaturais para as quais estamos capacitados. Mas não é num aglomerado de qualidades pessoais o que faz o homem feliz. É antes uma síntese a que podemos chegar através da fidelidade, que quando entrelaçada na caridade – que é a forma de todas as virtudes -, na prudência – que é a sua condutora – e na humildade, que lhe serve de fundamento. A fidelidade é como que o coração de todas sãs virtudes. Por isso, ser fiel é um dever central entre todos os demais deveres, alento de toda a vida moral e fonte de plenitude.

(Javier Abad Goméz, Fidelidade, Quadrante, 1989, pg 43)

A propósito da entrevista de D. Carlos Azevedo

Caro António


D. Carlos Azevedo é uma voz sempre audível e não está só na procura de soluções em favor dos que precisam.
No espaço Católico, somos muitos, os disponíveis para contribuir com soluções para a sustentabilidade social e económica, justiça e paz. 
Sem criar conflito, temos capacidade mobilizadora para juntar vontades e consciencializar os crentes, e não só, que é possível superar a crise provocada pelo desregulamento financeiro que está a contribuir para aumento da pobreza. 

Um abraço.
Luís Plácido

25/07/2010

Textos de Reflexão para 26 de Julho

Evangelho: Mt 13, 16-17

Ditosos, porém, os vossos olhos, porque vêem e os vossos ouvidos, porque ouvem.17 Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram.

Meditação:

Eu, de facto, não Vos vejo como desejaria mas recebo-vos em Corpo, Alma e Divindade na Hóstia Consagrada.
Continuo a querer ver-vos – Vultum Tuum, Domine, requiram! – mas não desejo deixar de Vos receber.
Sei que quando finalmente Vos contemplar face a face tudo ficará satisfeito em mim e não terei mais necessidade de Vos comungar.
Mas, enquanto tal não depende do meu querer mas unicamente da Tua Vontade, o receber-te sim, está dentro das minhas capacidades e é o que quero, desejo e anseio, todos os dias que me concederes viver. (ama, meditação sobre Mt 13, 16-17, 2010.07.01)

VIRTUDES 6

Se queremos guardar a mais bela de todas as virtudes, que é a castidade, temos de saber que ela é uma rosa que somente floresce entre espinhos; e, por conseguinte, só a encontraremos, como todas as outras virtudes, numa pessoa mortificada.

(S. João Maria Vianey, Sermão sobre a penitência, colig. por ama)

Juíza recusa casamentos do mesmo sexo

BUENOS AIRES, 19 Jul. 10 (ACI) .- A juíza de paz de General Pico, Marta Covella, afirmou que "ainda que me custe o emprego, e ainda que me custe a vida", não casará casais do mesmo sexo; logo que isto fora aprovado pelo Senado na semana passada.

"Que me acusem do que queiram. Deus me diz uma coisa e eu a vou obedecer à risca, ainda que me custe o emprego, e ainda que me custe a vida, porque primeiro está o que Deus me diz", expressou. 

A juíza recordou suas raízes cristãs e afirmou que sabe o que Deus pensa. "Deus ama a toda as gentes mas não aprova as coisas más que as pessoas fazem. E uma relação entre homossexuais é uma coisa má diante dos olhos de Deus", indicou.  

24/07/2010

A propósito da entrevista do Revmº Senhor D. Carlos Azevedo

Estou convencido que durante muito tempo se vão multiplicar os dizeres, escritos e falados, sobre esta entrevista, achando uns que está muito bem, outros que se ficou aquém do que poderiam esperar e, outros, com mais ruído e virulência, manifestarão um incómodo que não conseguem disfarçar.
Sim, é verdade, as palavras do Senhor Bispo incomodam, diria eu, toda a gente.

Talvez na Igreja portuguesa haja quem pense que terá dito de mais; haverá católicos que talvez aduzam que, os Senhores Bispos, não se devem meter “nestas coisas”.

Outros desejariam que o Senhor D. Carlos tivesse marcado uma data, um local para dar início à enormíssima manifestação que desejam.
Por mim, estou muito contente e satisfeito com o que ouvi. Não houve uma escolha desmesuradamente cautelosa de palavras, não houve exaltação absolutamente nenhuma, não se viu, sequer, uma tomada de posição em nome de seja quem for. O Senhor D. Carlos Azevedo falou em nome próprio com a liberdade e o direito que é reconhecido a qualquer cidadão e com a justa medida que a sua experiência pastoral e profundo conhecimento da sociedade portuguesa lhe ditaram.

É verdade… lançou uma ideia para resolver alguns dos problemas mais prementes: o desconto voluntário de parte dos salários auferidos pelos políticos ou detentores de cargos públicos. Esta é uma sugestão do Senhor Bispo, não é uma recomendação da Igreja Católica Portuguesa.

Houve políticos, pelo menos um, que seraficamente adiantou uma citação evangélica: «não saiba a tua mão direita o que faz a esquerda». Esqueceu-se porém do contexto desta recomendação de Jesus Cristo. De facto Ele disse-o a propósito da esmola. (Mt 6, 2-3)

O Senhor Bispo não falou de esmolas, falou de justiça social que é algo completamente diferente.

Quem recebe proventos – salários ou pensões – que totalizam num mês aquilo que muitos portugueses não ganham em vários anos de trabalho, tem de concordar que se situa num patamar na escala social que a enormíssima maioria não conhece, ou sequer, sonha. Que esses proventos advêm de um trabalho de altíssima qualidade, em lugares de enorme responsabilidade… pode ser, à luz da lei, estará certo, mas nem por isso deixa de constituir uma desigualdade e um enormíssimo desrespeito para com a sociedade que servem ou serviram.
Também falou, o Senhor D. Carlos, sobre bancos e banqueiros. Existindo para ganhar dinheiro, obviamente, um banco não é uma instituição de misericórdia, fundamentalmente serve-se do dinheiro de uns a quem paga 1 para emprestar a outros de quem cobra 5, mas, de facto e como muito bem frisou, esse dinheiro não lhes pertence.

Porque é que estas coisas vêm à praça pública pela voz de um Bispo da Igreja Católica Portuguesa?

Porque o momento é gravíssimo, cresce diariamente o número de pessoas, famílias inteiras que mal vivem com o pouquíssimo que têm. A Igreja Católica Portuguesa que é o maior “benemérito” da nossa sociedade através das inúmeras obras de solidariedade social, institutos, hospitais, acções directas junto das populações numa lista interminável de apoios, subsídios, ajudas faz tudo isto com o dinheiro que os católicos portugueses lhe confiam, só que, agora, devido ao momento que vivemos, esses fundos não chegam para acudir ao número crescente dos que precisam.

Não vamos dissecar palavra por palavra o que o Senhor D. Carlos disse, estabelecendo comparações e aventando críticas.
Vamos fazer o que, no fim e ao cabo, pediu à sociedade portuguesa:
Vamos, todos, ajudar conforme pudermos e a nossa consciência nos dite!

Porto, 2010.07.24

Textos de Reflexão para 24 de Junho

Evangelho: Mt 13, 24-30

24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo.25 Porém, enquanto os homens dormiam, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e foi-se.26 Tendo crescido a erva e dado fruto, apareceu então o joio.27 Chegando os servos do pai de família, disseram-lhe: “Senhor, porventura não semeaste tu boa semente no teu campo? Donde veio, pois, o joio?”.28 Ele, respondeu-lhes: “Foi um inimigo que fez isto”. Os servos disseram-lhe: “Queres que vamos e o arranquemos?”.29 Ele respondeu-lhes: “Não, para que talvez não suceda que, arrancando o joio, arranqueis juntamente com ele o trigo.30 Deixai-os crescer juntos até à ceifa, e no tempo da ceifa direi aos ceifeiros: Colhei primeiramente o joio, e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro”».
Meditação:

Tenho esta noção meridiana que sou um dos campos onde o Senhor semeou a boa semente. E, também, tenho bem presente que, juntamente com o trigo esperado, nasceu e cresceu o joio dos meus defeitos e traições, das minhas faltas e indolências e, como consequência – tantas vezes – abafou o bom trigo que o Senhor espera mandar colher um dia para o guardar no Seu celeiro da eternidade.
E, agora, que faço? Sem me deter, corro em busca de auxílio, de ajuda de quem sabe muito bem como debelar esta “praga” do meu joio pessoal.
Na confidência com o meu amigo de confiança e, mais importante, no recolhimento do confessionário, hei-de abrir a minha alma expor o meu coração, mostrando sem medo e sem hesitações esse joio que estagna a minha vida de piedade, me impede de crescer. Forte, pujante, cheio de vida interior que se transforme em boas obras.
Assim, conseguirei, seguramente, arrancar esse joio, haste a haste, leve o tempo que levar, custe o que custar, até me parecer com esse campo fértil e pronto para a ceifa tal como o Senhor desejou que eu fosse, desde o princípio do mundo.

(AMA, Meditação, Mt 13, 24-43, Julho 2008)

Textos de Reflexão 25 de Julho

Evangelho: Lc 11, 1-13

1 Estando Ele a fazer oração em certo lugar, quando acabou, um dos Seus discípulos disse-Lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos». 2 Ele respondeu-lhes: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome. Venha o Teu reino. 3 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje 4 perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos ofendem; e não nos deixes cair em tentação». 5 Disse-lhes mais: «Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite para lhe dizer: Amigo, empresta-me três pães, 6 porque um meu amigo acaba de chegar a minha casa de uma viagem e não tenho nada que lhe dar; 7 e ele, respondendo lá de dentro, disser: Não me incomodes, a porta está agora fechada, os meus filhos e eu estamos deitados; não me posso levantar para tos dar ;8 digo-vos que, ainda que ele não se levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua impertinência se levantará e lhe dará tudo aquilo de que precisar. 9 Eu digo-vos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 10 Porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e ao que bate, se lhe abrirá. 11 «Qual de entre vós é o pai que, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, em vez de peixe, lhe dará uma serpente? 12 Ou, se lhe pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um escorpião? 13 Se pois vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que Lho pedirem».

Comentário:

Como Mestre autêntico, Jesus ensina como rezar. Talvez a nós, hoje, nos pareça desnecessária esta “aula” porque sabemos que rezar é falar com Deus. Mas os discípulos não, precisam de facto dessa “lição”, algo simples e, ao mesmo tempo, tão completo e profundo que abarque todas as necessidades que sentem.
Sabemos o Pai-Nosso e fazemos dele a nossa oração preferida, a mais comum, o que é normal, visto que foi o próprio Jesus quem no-la ensinou. Mas, já nos detivemos, com vagar e sossego, a meditar em cada frase, em cada palavra?
Grandes surpresas nos esperam quando o fizermos, quantas coisas novas descobriremos sempre que repetirmos a sua meditação. (ama, comentário sobre Lc 11, 1-4, 2010.06.29)

VIRTUDES 5

Se a virtude tivesse de ser imediatamente recompensada com um favor temporal, a virtude seria um bom negócio, a abstenção do pecado, um hábil empréstimo. Seria o fim de toda a moralidade: procuraríamos o bem-estar, nunca amaríamos o bem.

(Georges Chevrot, Jesus e a Samaritana, Éfeso, 1956, pg. 77)

Esperança e Critérios de Vida


Comissão Diocesana Justiça e Paz de Coimbra
1. Vivemos dias marcados pela dúvida e pela incerteza, que afectam os indivíduos e as instituições e perturbam sobremaneira as relações sociais e económicas e as decisões políticas. Em face deste espectro, que amarga a existência e tolhe a razão, a CDJP (Comissão Diocesana Justiça e Paz) de Coimbra julga oportuna uma palavra de esperança, fundamentada na fé em Jesus de Nazaré, que centrou a sua mensagem no convertei os vossos critérios de vida (Mc 1,15), na capacidade de superar as crises, que marcaram a nossa História colectiva, e na força transformadora dos valores éticos por que pugnamos e que tantos reclamam como essenciais à vida em sociedade.

Reconhecemos que a presente situação mundial é complexa e grave, marcada por uma crise, mais estrutural do que conjuntural, e por uma globalização económica e financeira desregulada, que inverte a ordem dos valores, ao colocar os interesses económicos e a especulação acima da dignidade e dos direitos das pessoas, com efeitos perversos sobre sociedades, indivíduos e decisores políticos.

As sociedades em geral – e a ocidental em particular – vivem demasiado centradas em interesses imediatos e egoístas, com a consequente perda do sentido do bem comum e de referenciais éticos estruturantes. Parece prevalecer o comodismo de quem desiste de construir o futuro, conformando-se, como agora nos referiu Bento XVI, com uma dinâmica social que “absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro”. É uma cultura do efémero, permeável à publicidade manipuladora, à corrupção sob múltiplas formas, ao endividamento irresponsável.

Portugal, em concreto, é um país que soma a esta cultura um conjunto de deficiências preocupantes, entre as quais se destacam:

- situação periférica e escassos recursos naturais nem sempre aproveitados da melhor forma;

- fraco desenvolvimento económico;

- população envelhecida e acentuada queda da natalidade;

- débil vontade na procura de qualidade e excelência individual, institucional e colectiva

- com demorada aplicação da Justiça,

- com níveis preocupantes de iliteracia e insucesso na Escola,

- com falta de equidade no acesso aos cuidados de Saúde, apesar dos padrões de qualidade reconhecidos internacionalmente;

- assimetria económica (a maior da União Europeia) em que quase dois milhões de pobres contrastam com titulares de remunerações ou prémios exorbitantes, sem relação com resultados das empresas, reformas escandalosas, com curtíssimas carreiras contributivas, e outras mordomias e benefícios, fruto, em grande parte dos casos, de clientelismo político-partidário;

- problemas graves, persistentes e estruturais, ao nível do emprego e das condições de trabalho, que remetem um número preocupante de concidadãos para a exclusão.

 Na génese desta situação encontram-se diversas razões, tais como:

- a inexistência de um projecto, ambicioso e inovador, para o desenvolvimento do país, que seja credível e mobilizador dos cidadãos na construção de novos paradigmas;

- a falta de lideranças credíveis empenhadas na prossecução dos princípios do Estado de Direito Social, sem submissão a conveniências eleitoralistas ou promoções pessoais;

- a existência de uma débil sociedade civil, demasiado acomodada nos seus “direitos” e reticente às mudanças;

- a incapacidade para alcançar consensos político-sociais suficientemente alargados, que possibilitem o empreendimento de reformas há muito diagnosticadas como essenciais para o desenvolvimento sustentado do país;

- o aproveitamento ineficiente dos fundos europeus e das comparticipações estatais e das oportunidades históricas que os mesmos constituíram;

- a conivência das elites financeiras que, displicentemente e escondendo a realidade, aliciaram os cidadãos com propostas de empréstimos ao consumo e nunca de poupanças,

- o desenvolvimento de uma economia paralela alimentada, por exemplo, por pequenos e grandes negócios que não pagam impostos ou pela conivência de quem não pede factura dos bens e serviços que compra,

- sintomas de uma corrupção sistémica que se estende desde os patamares mais elevados da administração até ao cidadão comum.

Acresce que a actual situação orçamental e o nível de endividamento ao estrangeiro são terreno fértil para crescente especulação financeira, o que coloca Portugal – a par com outros países – em graves dificuldades para alcançar maior credibilidade no concerto das nações e para conseguir empréstimos internacionais, a fim de fazer face ao pagamento da dívida e das despesas não cobertas pelas receitas fiscais. Basta lembrar que no Orçamento de Estado para 2010 as despesas dos juros eram já superiores a cinco mil milhões de euros.

 2. A situação acima referida condicionou as medidas políticas, necessárias e urgentes, que são do conhecimento público. Reconhecemos que, num contexto de interdependência e de globalização, controlado pela especulação financeira, essas decisões se tornam cada vez mais difíceis e complexas, parecendo-nos indispensável que sejam acompanhadas de uma procura activa de consensos.

De facto, o esforço de equilíbrio das finanças públicas deve manter-se associado à correcção das grandes desigualdades na repartição da riqueza e do rendimento. Assim, é fundamental que o Estado cumpra o seu papel na regulação social, em particular no combate à pobreza e na protecção dos desempregados. Além disso, na reorganização das empresas e das instituições, do sector público e do sector privado, importa promover maior rendibilidade dos bens e serviços e melhorar o grau de eficiência e eficácia humana, económica e energética.

Por exigência do bem comum, compete ainda aos que mais ganham, podem e sabem estar à altura da solidariedade e das responsabilidades que podem e devem assumir.

Portanto, exige-se que, em todas as medidas, o direito do pobre seja sempre o primeiro a ser salvaguardado, evitando a deterioração da já difícil situação em que se encontram os mais fragilizados.

3. A CDJP deseja, neste momento de desalento e de dúvidas, trazer uma palavra de esperança, pois acredita que os portugueses, tal como têm feito ao longo da sua História, saberão superar as dificuldades e assumir os sacrifícios, fazendo valer as suas energias e potencialidades.

Em nome da esperança, somos chamados hoje a um novo esforço que impõe mudanças radicais, a nível pessoal e colectivo. O futuro está também nas nossas mãos, e isso exige a generalização de um ambiente social de comportamentos éticos, que deve assentar:

- numa forte consciência de que todos temos alguma responsabilidade na actual situação, pois, “é por demais fácil alijar sobre os outros a responsabilidade das injustiças se se não dá conta ao mesmo tempo de como se tem parte nelas e de como a conversão pessoal é algo necessário, primeiro que tudo o mais” (OA 48);

- em novos estilos de vida, que alterem hábitos consolidados de consumismo, de falta de cidadania, de degradação da Natureza, de modo a garantir um desenvolvimento sustentável e a manutenção da Terra habitável pelas gerações futuras;

- “numa justa liberdade perante os bens materiais” (FC 37), nomeadamente perante o dinheiro, um instrumento para a nossa qualidade de vida e não um deus que nos escraviza e aliena;

- na disponibilidade para acolher o outro como companheiro na construção da sociedade, sem o hostilizar ou recear como um concorrente, enriquecendo-nos mutuamente com as diversidades individuais e grupais;

- numa confiança responsável na solidariedade, cimento estruturante da coesão social, inerente a uma cidadania comprometida e interventiva;

- em formas novas de organizar a sociedade, fundadas no serviço ao bem comum, a  começar pelas instituições, nacionais e internacionais, reguladoras dos mercados financeiros;

- na multiplicação de iniciativas inovadoras de quem acredita na nossa capacidade para encontrar soluções para grande parte das dificuldades que nos atingem;

- uma atenção séria para que os principais responsáveis da crise em que vivemos não sejam os primeiros beneficiários da mesma;

- na procura de um “desenvolvimento económico, social e político, autenticamente humano”, baseado no “princípio da gratuitidade como expressão de fraternidade” (CV 34).

Em nome da mesma esperança, decorrendo o Ano Europeu da Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social e vivendo o único tempo da História em que temos recursos mais do que suficientes, é imperativo combater estereótipos e preconceitos colectivos sobre a pobreza e cuidar de todos os habitantes da Terra “sem privilegiar nem excluir ninguém” (CA 31), por exigência

- da promoção da dignidade inviolável de cada pessoa,

- do destino universal dos bens, que “Deus criou para uso de todos” (GS 69) e

- da indispensável coesão social, pacificadora e geradora de uma justa equidade.

Sabemos que uma das principais causas da pobreza é o desemprego. Por isso, urge tomar medidas adequadas para que o emprego se torne, como é de facto, o factor mais decisivo na inclusão. Efectivamente, como diz Bento XVI, “a exclusão do trabalho por muito tempo ou então uma prolongada dependência da assistência pública ou privada corroem a liberdade e a criatividade da pessoa e as suas relações familiares e sociais, causando enormes sofrimentos a nível psicológico e espiritual”. E continua, recordando “a todos, sobretudo aos governantes que estão empenhados a dar um perfil renovado aos sistemas económicos e sociais do mundo, que o primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade: com efeito, o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida económico-social” (CV 25).

Neste contexto, é de condenar tanto quem contrata a recibo verde, com salários indignos, ou ilegalmente, como quem recusa propostas de emprego e continua a receber apoios sociais, bem como quem permanece “de baixa” sem estar doente.

4. A Comissão está convicta de que a crise, tendo sempre uma gravosa carga negativa, é ou pode ser uma oportunidade estimuladora de um mundo diferente, até porque na sociedade portuguesa há muitas pessoas e organizações que dão um testemunho de vida nesse sentido:

- cuidam fraternalmente dos outros, sobretudo dos mais frágeis, contribuindo activamente para a construção de uma sociedade mais justa e solidária,

- partilham gratuitamente saberes e competências técnicas e profissionais em apoio de pessoas e situações mais vulneráveis,

- acreditam na nossa capacidade de inovar e empenham-se em construir alternativas, por exemplo, reestruturando empresas ou ocupando novos nichos do mercado;

 - assumem o compromisso de ser agentes de uma História comum e com o seu testemunho de vida estimulam colegas e amigos,

- persistem mesmo perante fracassos ou falta de resultados imediatos, muitas vezes  servindo-se das dificuldades para descobrir caminhos novos.

O trabalho que temos pela frente começa no coração de cada um e concretiza-se nos vários espaços de influência e poder de que todos dispomos. Um trabalho que exige diálogo, projectos em comum, colaboração em rede. Se foi a “rede” que gerou esta crise é em “rede” que vamos vencê-la, tendo presente a sentença evangélica de que não é possível “colocar vinho novo em odres velhos”.

As comunidades eclesiais são especialmente chamadas

- a testemunhar os valores de “um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz” (GS 39) e a convicção de que “a «cidade do homem» não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres, mas antes e sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão” (CV 6),

- a ser voz das vítimas de injustiças silenciosas e silenciadas (cf. JM 20),

- a estimular espaços de debate e de consciencialização da gravidade da situação e da necessidade de uma conversão de mentalidades e atitudes.

Saibamos, pois, ser exigentes na ética, connosco e com os outros, e ser solidários com aqueles que necessitam. Sejamos os construtores do futuro, norteados pelo sentido de justiça e de paz que o Verbo de Deus inscreveu em cada um de nós.

“Soou a hora da acção. Estão em jogo a sobrevivência de tantas crianças inocentes, o acesso a uma condição humana de tantas famílias infelizes, a paz do mundo e o futuro da civilização. Que todos os homens e todos os povos assumam as suas responsabilidades” (PP 80).



Coimbra, Julho de 2010