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12/02/2007

Fala a Morte

Havia em Bagadad um negociante que enviou ao mercado um dos seus empregados e este, daí a pouco, voltou ofegante, trémulo, a dizer:
_ Estive agora no mercado, meu senhor, e alguém me atropelou subitamente. Virei-me e percebi que era a Morte. Ela olhou para mim e fez um gesto ameaçador. Empreste-me por favor o seu cavalo, pois quero fugir para Samarra, onde a Morte não me há-de encontrar.
O negociante emprestou o animal, e o empregado montou, escapando, em rápido galope, para a outra localidade.
Mal ele partiu, o negociante dirigiu-se, por sua vez, ao mercado e, vendo-me na multidão, aproximou-se e indagou:
_ Porque fizeste ao meu criado um gesto de ameaça, há pouco?
_ Não o ameacei, respondi. _ Mostrei-lhe apenas, com o meu gesto, a surpreza que me causava a sua presença em Bagadad, pois eu tinha um encontro marcado com ele, hoje à noite, em Samarra.
Somerset Maugham